Os personagens não são de minha autoria.
HÁ SPOILERS ATÉ O QUARTO LIVRO"
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Entre dragões e lobos.
Capítulo 1. Neve
Neve.
Neve, era tudo que Arya podia pensar durante a viagem até o norte de Westeros. Ansiava pelas estradas e as árvores cobertas de gelo, e quando os primeiros vestígios do frio e apareceram, não pode evitar as lembranças de um passado distante, era como se pudesse ouvir seus passos por entre a floresta correndo com Bran e Sansa, as bolas de neve que jogavam um no outro, cada parte do Norte lhe trazia recordações dolorosas. Passara anos tentando esquecer quem era e de onde vinha, e agora estava ali, a caminho de se encontrar com o Príncipe Prometido.
A união dos Dragões, era como o povo chamava, Daenerys Targaryen, A Não Queimada, estava prestes à unir suas forças com o Último Targaryen, o Príncipe de Gelo e Fogo, Jon Snow. Snow, Arya tentava se lembrar todas às vezes, que ele não era mais bastardo de Winterfell, não era mais patrulheiro, nem aquele irmão que um dia havia lhe dado uma espada tão fina quanto ela um dia fora, Jon era filho de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen e ela não era ninguém. Mesmo após ter deixado os Homens Sem Rosto, para ser leal à Daenerys, nunca soube realmente por que não conseguiu matá-la, mas sabia que não importava o quanto fugisse, o que procurava não estava em Braavos, muito menos em Meereen, queria vingança. Agora era Jeyne, parte da Guarda da Mãe dos Dragões.
Quando pararam para descansar, afastou-se dos outros para perto do riacho mais próximo, frustração e saudade misturavam-se dentro dela. Ansiava pelo Norte, esperando se sentir em casa, entretanto, não havia nada além de neve e lembranças. Não havia nada naquele lugar que pertencesse à ela, sentiu-se tola ao ter imaginado que de algum modo poderia encontrar Nymeria. Não era mais Arya Stark e cada vez que chegava mais perto do que um dia fora sua casa tinha certeza disso. "Um lobo não sobrevive sem um bando". Não era mais uma Stark, não era ninguém.
Pode ver através das árvores, as primeiras torres de Winterfell, havia ainda resquícios da destruição assoladora que passara por lá, mas o castelo estava sendo reconstruído aos poucos, sentiu seu estômago revirar ao ver no alto da entrada, a bandeira com um lobo feroz balançando ao vento, desviou os olhos tristemente.
Estavam todos esperando por Daenerys, desconhecidos, a maior parte homens. Arya segurou mais firme a o cabo da espada e se aproximou mais da rainha, a mulher sorriu para ela, os homens se ajoelharam, em sinal de respeito e lealdade. Arya mordeu os lábios ansiosa para Daenerys pedir que se levantassem, entre eles, havia um que estava a frente de todos com vestes escuras, a morena instantaneamente, abaixou sua armadura para que não vissem seu rosto, e, quando eles se levantaram, Arya sentiu a necessidade de fugir ou correr até Jon Snow e envolvê-lo em um abraço. Havia mudado fisicamente, tinha um olhar mais maduro, o que a fez se lembrar do pai, uma cicatriz atravessava uma das maçãs do rosto. Todo esse tempo, sempre desejou reencontrá-lo, e agora que havia conseguido tal coisa, não conseguia fazer com que suas pernas se mexessem. Jon não é mais meu irmão. Jon Snow, é apenas uma lembrança.
Lembrança, assim como tudo que ela amava, Jon seria apenas isso. Os olhos começavam a ficar embaçados pelas lágrimas. Estava chorando, só percebeu isso quando já estava dentro de Winterfell, sem a armadura.
Quando teve permissão, Arya saiu o mais rápido possível da festa feita para "Os últimos dragões", sentiu uma mistura de raiva e admiração ao ver Jon sendo coroado ao lado de Daenerys, só naquele momento percebeu o por que de todo o Norte jurar lealdade à alguém que até pouco tempo era um simples bastardo, Jon era um verdadeiro rei, inspirava confiança e justiça. Ele e Daenerys tomariam o trono de ferro, esmagariam o que sobrara dos Lannisters, era isso o que Arya desejava até então, mas naquele momento se sentiu vazia como nunca havia se sentido antes, nem mesmo com a morte do pai e da mãe, nem mesmo quando se separou de Nimerya, havia algo desconcertante no modo como a rainha dos dragões olhava para o Senhor de Winterfell. Saiu esbarrando em camponeses e soldados, apenas um lugar poderia silenciar todas as suas dores e dúvidas.
Quanto mais descia, mais o frio arrepiava sua pele, era como emergir depois de muito tempo debaixo d'água. As criptas de Winterfell era um dos lugares que Arya mais gostava quando criança, nunca teve medo, nem mesmo quando Jon e Robb tentavam assustá-la, Arya não temia os mortos, tinha um singelo respeito por tudo que estava ali, desejara um dia quando criança, ter sua própria imagem feita de pedra, com uma bela espada sobre o colo, mas isso foi antes, antes de ser Nan, Cat, Beth e Jeyne.
-O inverno está chegando. –sussurrou para si mesma, em seu inconsciente pode ouvir a voz do pai repetindo o lema, como tantas vezes havia feito.
-O inverno já chegou. –Arya arrancou rapidamente a espada das vestes alarmada com o estranho. –Me desculpe. - o homem se aproximou mais e a luz das chamas iluminou o rosto com uma cicatriz atravessando uma parte da face, o estômago da garota revirou em constrangimento e raiva de si mesma. Arya ajoelhou-se diante de Jon, em sinal de desculpas e respeito. Tentou se desculpar, mas parecia haver uma corda envolta de sua garganta que a impedia de dizer qualquer coisa. –Permita-me ajudá-la, senhorita. –Jon ergueu os braços para ajudá-la a se levantar, mas Arya se afastou educadamente.
-Não sou senhorita. –mordeu os lábios em arrependimento, não deveria se comportar assim, estava diante de seu rei e não de seu irmão mais velho. Apesar disso, havia algo dentro da garota que insistia em querer testá-lo e provocá-lo de todas as formas.
Estremeceu com a risada cortante do homem, isso não havia mudado, pensou que nunca mais ouviria o riso de Jon, mas ali estava, aquilo a aqueceu por dentro.
-Qual é o seu nome? –perguntou Jon em tom divertido.
-Sou parte da guarda real da Rainha dos Dragões, meu nome não tem importância. -Ele a fitou como se estivesse achando aquilo imensamente engraçado. –Me desculpe, vou deixá-lo sozinho, Vossa Graça. –tentou seguir em direção a saída das criptas mas o homem a impediu de continuar, mesmo através do tecido grosso que vestia, Arya sentiu o calor dos dedos de Jon em seu braço. Sentiu a necessidade de abraçá-lo, mas então recuou novamente, com medo. Medo de Jon não aceitá-la, não gostar do que ela havia se tornado, medo de perdê-lo novamente, isso não suportaria.
-Vossa Graça, acho que nunca vou me acostumar com todos me chamando assim. –sorriu melancolicamente. –Me diga seu nome, garota.
-Não lhe chamo de Vossa Graça ou coisa parecida, e você, não pergunta mais meu nome. –Jon assentiu, sorrindo. Mesmo cada parte dela sinalizando de que aquilo era um erro, Arya se aproximou. -Deveria estar lá em cima festejando. -o rapaz caminhou até o túmulo de uma mulher esculpida em pedra com rosas em torno da cabeça. –Não há nada para festejar.
-É claro que há, esmagou os Boltons com sua tropa em menos de dois dias, Winterfell está sendo reconstruída, você e Daenerys conquistarão Westeros juntos, os Lannisters e o resto pagarão pelo que fizeram.
-Fala como um verdadeiro soldado. –Arya sorriu ao comentário, mas abaixou o rosto ao notar que Jon a fitava com uma expressão séria. –Pode estar certa, mas existem coisas que um trono de ferro não trará de volta pra mim. –A garota congelou, mordeu o lábio inferior com tanta força que sentiu o gosto do sangue na boca. –Winterfell não pertence a mim, minha irmã Sansa deveria ocupar este lugar. –Jon parou por um momento e garota notou que os olhos escureceram e os ombros do rapaz enrijeceram-se. –Ou até mesmo Arya. – por um breve momento Arya viu Jon Snow parado diante dela. –É melhor subirmos.
Caminharam em silêncio até chegarem ao pátio de lutas do castelo, de lá, podia-se ouvir os gritos embriagado de homens e uma canção alegre ecoando no salão.
-Lute comigo. –propôs desafiadora, Jon a encarou com um pouco de receio e diversão.
-Não acho que seja uma boa ideia, garota. –disse virando as costas para a irritação crescente de Arya.
-Está com medo ou apenas não que lutar comigo por que não sou um homem? –provocou aborrecida. Jon a fitou por um momento tão desafiador quanto ela, eram dois lobos esticando perigosamente os limites um do outro. Jon pegou sua espada e a garota sorriu em resposta. Lembrou-se das vezes em que fugia das aulas de bordado para assistir ele e Robb lutando, tinha um desejo secreto de querer lutar com eles desde criança. Jon se aproximou com a espada em mãos e Arya recuou. –Aqui, não. Na floresta. –Entre os lobos, Jon.
Arya correu até sentir o cheiro de terra molhada e musgo, os galhos arranhavam seu rosto, se sentia como uma loba em liberdade. Ouvia os passos de dele atrás de si, e então silêncio, virou-se em defensiva ao notar a presença do rapaz, aço contra aço, o barulho das espadas chocando-se era canção para os ouvidos de ambos, os passos eram sincronizados, golpes fortes contra golpes bem orquestrados, uma dançarina de água contra o dragão, gelo contra fogo, ambos misturavam-se entre neve, árvores e suor. Um longo uivo ecoou pela floresta. Arya sentiu Jon pressionar a espada em seu peito.
-Luta bem, mas ainda é uma garota de verão. Renda-se. –Arya sorriu com a provocação.
-Ainda não. –afastou a espada dele com a sua antes que Jon terminasse seu golpe, tentou ganhar espaço e quando conseguiu tê-lo, sentiu a espada que tinha em mãos ser arremessada para longe, desviou rapidamente da espada de Jon, mais rápida que uma lebre. Puxou a faca que guardava nas vestes e pressionou contra o pescoço do rapaz. –Luta bem, mas até mesmo um dragão pode ser encurralado, Jon. –revidou com uma risada de felicidade, Arya sentia-se em casa novamente. O rapaz nada respondeu, sentiu algo novo com a aproximação repentina de seus corpos, afastou-se ao perceber o que estava fazendo. Jon se virou para fitá-la e Arya abaixou o rosto constrangida.
-Não, olhe para mim. –Aquele tom não era de Jon Snow, era de um rei dando uma ordem, me arrisquei demais, agora está na hora de pagar por isso. Arya tentou fugir, mas Jon a prensou contra uma árvore, e forçou-a a fitá-lo nos olhos. Cinza contra cinza, lobo contra lobo. –Você não é uma criança de verão. –sua voz saíra tremida, Arya não queria olhar para ele, não estava preparada ainda.
-Vamos voltar a lutar, senhor! –respondeu rapidamente.
–Acho que estou bêbado, não pode ser...você, seus olhos eles me lembram...não me torture dessa maneira me diga seu nome, seu verdadeiro nome. –Os olhos de ambos estavam marejados, Arya segurou o choro preso na garganta o quanto pode, tinha medo de descobrir que não havia mais lugar para ela na vida dele como um rei.
-A luta...
–Responda! –o rosto do rapaz estava úmido pelas lágrimas e Arya não pode mais mentir, não para ele.
-Jon. –não deteve mais o choro, apenas se segurou contra o corpo dele e deixou que as lágrimas surgissem. –Vamos lá, Jon, a luta ainda não terminou ou vai me dizer que se esqueceu com qual lado da espada se espeta. –Jon soltou o ar dos pulmões em um misto de alegria e angústia, envolveu o rosto da garota com as mãos e beijou-lhe os olhos, a testa e as bochechas.
-Não sabe o quanto eu procurei por você, não imagina o quanto eu pensei em você e senti sua falta todos esses anos, Arya. Você é tudo o que eu tenho, enquanto estiver vivo, vou estar onde estiver. Nunca mais vou deixar você, irmãzinha, nunca mais. –Jon a tirou do chão e a envolveu em um abraço caloroso. Arya tinha um grande sorriso nos lábios, havia neve por toda parte.
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