O Céu Dourado
"- Ei, Black!
- Já falei para não me chamar assim, James. O que é?
O moreno apontou para um rapaz que segurava uma grande mala.
- Este é Remus Lupin. Parece que ele vai ficar no nosso dormitório.
- Ah. Sou Sirius. - falou, apontando para si e registrando mentalmente o quão incomuns eram os olhos do garoto.
Pareciam ouro, o mais puro ouro."
"Sentados na sombra de uma árvore, dois jovens repousavam. O moreno mantinha seus olhos no céu, enquanto o outro lia um livro.
- Remus - chamou Black, sem tirar seus olhos da imensidão azul.
O lobisomem levantou a cabeça.
- O que foi, Sirius? - seu tom era cansado, como o de um pai que responde a uma criança. Isso não desanimou o de olhos azuis.
- Você conhece alguma magia que nos faça voar?
Remus decididamente não tinha ouvido aquilo.
Ele não podia ser tão distraído!
- Sirius! Eu disse a você ontem! - ele respirou fundo e soltou. - Não há, além da vassoura, nenhum instrumento, feitiço ou poção que permita ao homem voar!
- E se nós inventá-
- Não, Sirius! Isso é impossível e, ainda que vocês consigam...
- Então HÁ uma maneira de conseguirmos!
- Não! - a persistência de Sirius irritava o lobisomem. - Isso vai contra centenas, milhares de leis bruxas!
- Hey, relaxa, Remus. - ele voltou a olhar para o céu.
- Afinal, pra quê você quer tanto voar?
Black parecia considerar a pergunta.
- Eu quero me sentir livre. Quero ver se consigo voar bem alto. Voar para esquecer de tudo. É um sonho meu. - Sirius sorriu. - E não há nenhuma lei que nos impeça de voar, certo?
Remus sorriu também. Eram sorrisos de dois amigos, de dois marotos.
Sirius voltou o olhar pro céu, e Remus não pôde evitar pensar que, embora o corpo de Sirius permanecesse no chão, aquele Black estava sempre voando. Voando com os braços abertos e os olhos azuis confundindo-se com a imensidão do céu. Para Remus, o céu existia nos olhos de Sirius; e o lobisomem, ao encará-los, podia entender porque Sirius queria tanto voar."
"- Que tinta eu uso, Sirius? - perguntou-lhe Peter, enquanto tentava fazer um trabalho de Transfiguração. - Vermelho ou...
- Ouro.
Ele próprio não soube o porquê de ter dito aquilo. Mas talvez fosse devido ao fato de que, naqueles tempos, ouro era a única coisa que ocupava a mente de Sirius Black. O ouro dos olhos tristes de quem ele chamava de amigo."
"Quando Remus mirou o céu e pareceu triste, James concluiu que era devido a lua cheia.
Mas o que entristeceu o garoto foi que, por mais que quisesse, Remus jamais alcançaria o céu. Tanto o que reinava sobre eles como o que residia nos olhos de um certo maroto."
"Certa vez, Peter comentara que gostaria de ter um diamante. Sirius tentou concordar, mas não conseguiu. Para seu terror, ultimamente sua única vontade era ouro. Querer diamantes talvez fosse o ideal e o melhor. Mas o que Sirius queria era ouro. E a vontade de ouro aumentava cada vez que ele tentava negar."
"Sem falar, Remus olhava as estrelas. Lembrou-se das vezes que, quando pequeno, tentava tocá-las. Era impossível, e era inútil. Mas Remus continuava tentando, com uma determinação que ele próprio sabia ser ridícula e patética. Sua situação não havia mudado muito. Mas, desta vez, era mais difícil e mais doloroso.
E não eram as estrelas, era o céu."
"- Sirius, o que você está fazendo? - indagou Remus. O amigo encontrava-se rindo muito em frente ao espelho. Deste, uma voz saía:
"James..."
- SIRIUS! - bradou o monitor. - Você está espionando o encontro deles?
- Que que tem? - perguntou o rapaz despreocupado. - É hilário. Vamos, ouça. - ele aproximou o espelho do amigo.
"James... seus olhos são como prata..."
Os dois começaram a rir.
- Prata? Cara, essa foi péssima! - gargalhou Remus, esquecendo-se de ralhar com o moreno.
- Nem me fala! Se os olhos do James são prata, os meus são céu! - ele piscou os olhos de maneira feminina, provocando mais risadas em Lupin.
- E os meus são ouro! - falou Remus, e Sirius nunca riu tanto na vida.
- Então, juntos, somos o céu dourado, cara! - riu ele, batendo nas costas do lobisomem."
Talvez eles fossem amigos. Talvez amantes. Acima de tudo, marotos. Mas eles também era, segundo Sirius, o céu dourado.
A junção do Céu e do Ouro. Algo que só ocorria quando Remus Lupin e Sirius Black estavam juntos: O Céu Dourado.
Seria a maior das maravilhas, o mais incrível dos milagres. Mas ainda assim, era um sonho.
E não é proibido sonhar. E o céu dourado era o mais fantástico deles.
Mas não deixa de ser um sonho. E nem todos se tornam realidade.
