Sinopse: UA. Scorpius Malfoy ama sua filha de seis anos, Zoe, mas a vida que ele leva nunca foi adaptada para a presença de uma criança. Advogado cercado de "amigos" criminosos, era também incapaz de ficar sozinho por uma noite. Quando Zoe volta para Londres, cidade onde aos dezenove ele e Rose Weasley engravidaram, Scorpius sabe que não vai ser fácil misturar a vida dele com a da filha, ao mesmo tempo em que sente a necessidade de estar por perto e consertar alguns erros. Até onde os sacrifícios te levam?
Capítulo 1.: Clocks
'Confusion that never stops
Closing walls and ticking clocks...'
Ele acordou em mais um hotel e seu bom humor não tinha a ver com a mulher que acabava de afastar o lençol do corpo para caminhar até o banheiro, seminua.
Seu humor tinha a ver com o fato de que ia voltar para Londres. Depois de duas semanas cansativas vencendo inúmeros casos criminais fora do país, tudo o que ele merecia era o sossego que a terra da Rainha sabia oferecer a ele.
Levantou-se para começar a se vestir. Costumava usar ternos. Como se fosse um ritual, ajeitou as mangas da camisa branca e executou um perfeito nó com a gravata. Sorriu para o seu reflexo do espelho. Presenciou ótimas noites pelas redondezas do Tio Sam, apesar da correria que exigia em sua profissão. Com menos de trinta anos, ele chegou longe. Viajava para tantos países e podia aproveitar o melhor das mulheres de cada canto do mundo sem, é claro, precisar se comprometer com elas.
Se a doce Amanda quisesse vê-lo no dia seguinte, ele precisava apenas dizer com o sotaque que deixava pernas bambas:
– Vou voltar para a Inglaterra hoje. O que tivemos foi incrível – acrescentou. – Mas não posso ficar aqui. E acredite, Amanda – ele segurou o rosto da moça, dando-lhe um suave beijo nos lábios. – Tudo o que é bom não dura para sempre.
Sempre teve a pinta de cafajeste e todas as moças que passaram pelos feitiços charmosos dele, apenas tinham uma coisa a dizer sobre Scorpius Malfoy no dia seguinte:
Ele era um babaca.
– Direto para o aeroporto, sr. Malfoy? – quis confirmar o motorista quando Scorpius desceu para o saguão do hotel e o encontrou tomando café.
– Não – ele disse. – Quero passar em um lugar antes.
Parabéns pra você
Nessa data querida...
Subia os últimos degraus da escada quando ouviu a cantoria atrás da porta do apartamento 74. Tirou o embrulho do bolso interno do casaco. Observou o corredor enquanto se aproximava da porta e deu dois toques rápidos na madeira.
Não precisou esperar muito.
Sorriu e tirou os óculos escuros do rosto quando a figura da ex-namorada surgiu no buraco da porta. Ela tinha os cabelos ruivos e cacheados presos em um coque frouxo, o rosto cheio de sardinhas com a sombra de muitas risadas, mas quando reparou em quem era ali a sua frente o sorriso foi sumindo, para dar lugar a uma expressão surpresa.
Os dois não precisaram se incomodar com o silêncio entre eles porque uma voz histérica de menina ecoou todo o andar do prédio:
– Pai!
A garotinha quase derrubou Rose Weasley ao passar correndo por ela para abraçar a perna de Scorpius. Ele se agachou a altura da pequena Zoe para desajeitar o gorro rosa que ela usava mesmo quando estavam no calor de maio. Ela riu.
– E aí, coisinha? Você está gigante.
– Você veio bem na hora que a mamãe ia assoprar a velinha dela.
Zoe puxou o dedo de Scorpius para dentro da casa. Toda vez que se encontrava com a filha de seis anos, era como se o tempo que não se viam não existisse.
– Ela ficou falando o dia inteiro que você apareceria – contou Rose quando Zoe se debruçou na mesa onde um bolo de chocolate com milhares de confetes jogados sobre ele estava esperando para ser devorado. – Não acreditei.
– Eu estava passando os dias aqui – disse, olhando para ela. – Teria aparecido antes, mas...
– Muito ocupado, pra variar, não é?
Mas ela não estava brava. Rose não olhava para ele com ressentimento. Já brigaram demais durante uma vida inteira. Agora eles estavam na fase de trégua e contentamento. Scorpius era um cara ocupado, não podia ficar com a filha, mas aparecia quando podia. Rose não exigia nada dele, nunca exigiu. A escolha de assumir a filha foi do próprio Scorpius porque a oportunidade de fugir Rose lhe deu muitas vezes.
– Mãe, assopra logo a vela!
– Você quer assoprar comigo? – perguntou Rose para a filha.
– Quero!
– No três, então. Um, dois...
Zoe assoprou primeiro. Mas o fôlego dela ainda não era o suficiente para apagar a vela. Ela precisou de, pelo menos, três tentativas.
– Ela sempre faz isso – comentou Rose, rindo. – Praticamente baba no bolo inteiro quando vai assoprar uma vela. Quer um pedaço do bolo com baba de criança, também? – ofereceu a Scorpius enquanto Zoe olhava indignada para Rose.
– Eu não babo, mãe!
Scorpius observou pela janela da cozinha a rua movimentada de Nova York. Seu motorista estava esperando levá-lo ao aeroporto em meia hora. Uma, dependendo do trânsito. Rose seguiu o olhar de Scorpius e entendeu.
– Você precisa ir – adivinhou.
– Sim – ele disse. – Não posso perder o vôo. Só passei aqui para ver a Zoe e lhe dar isso...
– Não precisava – Rose disse diretamente quando Scorpius estendeu a ela o embrulho que segurava em mãos.
– Feliz aniversário.
– Não precisava – ela disse seriamente outra vez. – Pra falar a verdade, achava até que tinha esquecido.
– Papai, você tem um presente para mim também?
Olhou para os olhos esperançosos da filha, que diziam ser tão parecidos com os seus: cinzas, penetrantes. O nariz, entretanto, era igualzinho ao de Rose. A cor do cabelo era numa mistura ruiva com loiro, um loiro meio escuro. Não havia dúvidas de que ela era sua filha e que, há seis anos, Rose e eles já tiveram muitas noites juntos.
Tudo tinha mudado.
E Scorpius sabia muito pouco sobre a Zoe.
– Você não trouxe um presente para ela? – Rose disse imediatamente, alarmada, inconformada.
– É o seu aniversário, não o dela.
Zoe saiu da cozinha de braços cruzados e os lábios trêmulos.
– Eu... Zoe, querida... eu tenho um presente sim – falou depressa. Tateou os bolsos e só encontrou a carteira. Tirou alguns dólares americanos de dentro dela. – Que acha de eu dar cem dólares para você comprar o que você quiser? Bonecas e...
– Guarda isso, Scorpius – disse Rose cansada quando Zoe ignorou Scorpius.
– Você mimou ela. Está agora pedindo presentes.
– Você acha que é esse o problema? – ela perguntou franzindo a testa. – Você só aparece uma vez quando está por aqui, Scorpius, e quando aparece é por cinco minutos. Zoe ama a ideia de que você é o pai dela. Você podia fazer uma cartinha que ela ia adorar, isso não tem nada a ver com dinheiro.
A última coisa que ele queria era desapontar a filha, mas provavelmente ele tem feito isso todos os dias e não sabia o que fazer para mudar.
Rose disse baixinho:
– É melhor você ir.
Ele coçou a barba rala reparando que ela não abriu o presente dele e, preocupado, olhou para Zoe, sentada no sofá assistindo Frozen.
– Vejo vocês no Natal. Tchau, Zoe.
Quando ela não respondeu, Rose disse:
– Scorpius já está voltando pra Inglaterra, querida. Não vai se despedir dele?
– Tchau, pai – disse Zoe. Ela saiu do sofá, mas o abraço que deu na perna dele não foi caloroso como Scorpius gostaria que tivesse sido. Por que ele não tinha pensado em um presente para a própria filha?
– Bom voo – Rose desejou abrindo a porta para ele.
Ela ainda tinha a mesma genuinidade. Gostava disso em Rose. Ou talvez, muitas vezes, queria que Rose berrasse por ele não fazer parte da vida delas. Mas ela não berrava. Ela não ficava zangada. Ela estava conformada.
– Me liga se precisar de alguma coisa – ele pediu.
Ela assentiu, mas Rose nunca precisou dele. Nem mesmo dinheiro. Ela tinha um respeitado trabalho como curadora em museus e galerias de artes – um dos motivos por ter se mudado para os Estados Unidos quando Zoe tinha dois anos. O outro era porque ela tinha uma intriga muito forte com a própria família lá em Londres, por ter tido uma filha com Scorpius aos dezenove e se recusado a casar com ele. Saíra da Inglaterra para mudar a vida.
Ela parecia muito bem, seis anos depois. Scorpius reparou nas fotos pregadas pelos imãs da geladeira. Tinha um cara com ela em todas as fotos. Antes de ir embora só imaginou o que ele poderia ser, mas não perguntou.
Mais uma Rose/Scorpius começando, Universo Alternativo. Onde tudo isso vai chegar? Se quiserem mais é só pedir! Até o próximo :)
