2º Capítulo – The Pain

Observações importantes: Esta é a 4ª temporada na minha versão, a partir do 2°capítulo. Lembrem-se: No 1° capítulo Brennan e Booth foram para Londres. Lá Booth conheceu a inspetora Kate Pritchard, da Scotland Yard e ficou visivelmente atraído por ela, o que não parece ter incomodado sua parceria que recebeu as investidas de Dr. Ian Wexler, também um antropólogo forense, numa boa. O assassinato deste, no entanto, joga para escanteio toda essa história frívola e faz a dupla tentar solucionar o caso. O episódio termina com Booth e Brennan voltando para os Estados Unidos e é aí que continua a partir do 2º capítulo que será postado aqui. Ângela e Hodgins também terminaram seu relacionamento, abalados com a volta do ex-marido da moça. Cam dormiu com ele, o que não foi suficiente para dar segurança a Hodgins sobre seus sentimentos.

SINOPSE: Um corpo é encontrado, queimado, as vísceras ao redor, no alto de um prédio comercial de Washington. O mesmo padrão de Max Keenan. Brennan e Booth investigam e ela têm que lidar com o maior desafio de sua vida.

Booth olhava, atento, a tela de computador. Em alguns momentos digitava, em outros lia. Seu sorriso maroto denunciava que sua pesquisa não era profissional.
Era um novato na era digital e não possuía mãos tão hábeis na digitação, mas ia se virando como podia para se fazer entender.
Havia criado uma conta de e-mail há um certo tempo, mas sua falta de uso o fizera ser cancelado. Brennan insistia para que ele se mantivesse atualizado com o mundo da informática, sua vida poderia ser mais prática.
Praticidade ou não, o que percebia era que na Internet podia falar coisas que talvez não conseguisse pessoalmente. E manter contato com uma inglesa há quilômetros de distância em tempo real o fazia pensar: Santa Internet!
O programa era um comunicador instantâneo que Brennan o apresentou certa vez, o mesmo que ela usava para suas conferências com a equipe do Jeffersonian quando estava fora.
O celular vibrou sobre a mesa fazendo-o acordar da distração.
A voz grave do chefe parecia um eco no minúsculo aparelho. Booth ficou tão pálido quanto um morto.
___Sim, entendo...
A janela de conversação tremeu no monitor.
___Onde, senhor?
Booth engoliu em seco. Desligou o celular e digitou uma despedida rápida para a Drª Kate Pritchard. Olhou vagamente para a janela de seu escritório, ainda preso à cadeira, enquanto o computador desligava. A luz artificial da cidade entrava pelas frestas da persiana.
O relógio da parede marcava 7:45 pm e seu tic-tac martelava seqüencialmente parecendo socar seu estômago.

***

Tum-tum-tum. A porta do apartamento da parceira era tão dura e oca quanto o que ele ia dizer a ela. Bateu novamente.
___Temperance?- chamou.
Tirou o celular do bolso e chamou. Lá dentro o telefone de Bones vibrou em cima da mesa da sala.
Booth teve um mau pressentimento e com violência arrombou a porta.
A sala tinha as luzes apagadas e era mal iluminada por um fraco abajur. Sentiu um forte cheiro de velas e rosas. Sacou a arma. Seu faro policial andava aguçado e ele não queria marcar bobeira.
Esgueirando-se pelas paredes caminhou lentamente até o banheiro, o primeiro cômodo antes do corredor. Tudo estava numa estranha penumbra. Alguns pingos rubros sobre o vidro do lavatório o deixaram alarmado. O chão também estava molhado.
Saiu, passou pela cozinha americana e viu alguns botões de rosa estatelados sobre a mesa.
___Droga – murmurou.
Havia uma faca de serra sobre a bancada de mármore, mas estava limpa.
Mais líquido rubro no corredor escuro. Booth suava por baixo do terno preto. Molhou os lábios com a língua e forçou a porta do quarto de Brennan. Abriu e o cheiro forte de rosas irritou seu nariz. Conteve um espirro.
Em frações de segundos seus olhos assimilaram a visão geral do ambiente. Estava iluminado somente por velas e a cama impecavelmente arrumada denunciava a ausência da parceira.
Seus ouvidos de policial captaram uma música longínqua, como um rádio de pilha ou um MP4 sem caixa de som.
Caminhou na direção daquele som e descobriu uma porta ao lado do enorme guarda-roupa, propositalmente escondida. Abaixo dela uma luz dançante revelava mais velas no interior.
Empurrou cuidadosamente, olhando com cautela. Era um segundo banheiro. Tão minúsculo quanto o primeiro, porém, mais privado. Havia uma cortina de plástico transparente e ele pôde vislumbrar uma parte do que seria uma banheira de madeira. De madeira? Ofurô, concluiu. A música vinha deste local e ele percebeu a silhueta imóvel de alguém atrás da cortina. A afastou vagarosamente e a cena que viu o fez gelar até à alma. Foram segundos, mas o cérebro trabalha rápido.
Brennan estava dentro da banheira coberta por um líquido grosso e vermelho. Seu pescoço também estava encarnado e sua cabeça pendia para trás. Nos ouvidos tinha fones de ouvido ligados a um MP3 pendurado em um suporte de plástico, preso no azulejo.
___Bones! – chamou – Bones!
Continuou segurando a arma e sacudiu a moça com violência.
Bones parecia acordar de um transe e assustou-se com a presença de Booth.
___Booth? – ela murmurou, piscando.
Franziu o cenho e se mexeu na banheira.
___O que está fazendo aqui? – ela passou a mão nos cabelos e tirou os fones de ouvido.
___O que está fazendo, Bones? O que é este líquido cor de sangue?
Booth guardou arma e sentou no vaso sanitário visivelmente cansado. Respirou aliviado ao ver que a irritação de Bones transpirava vida.
___Hunft... – ela encostou o pescoço na borda da banheira onde repousava antes da intromissão de Booth. – Eu... isso aqui foi uma idéia da Ângela... para eu relaxar.
Booth riu nervosamente.
___Isso tudo são essências e óleos misturados na água. Dão essa coloração vermelha para amaciar a pele.
___E as rosas...- ele apontou para as pétalas que boiavam.
Brennan ficou sem graça como quando se é pego fazendo algo infantil. O sorriso divertido e ao mesmo tempo surpreso de Booth faziam-na se sentir desconcertada.
___Não é tão estranho quanto tomar cerveja em um chapéu adaptado...- reclamou desviando o olhar.
Booth a olhava e parecia não dar atenção à brincadeira. Sua expressão fechou-se.
___Eu vim aqui porque o que tinha para falar... – hesitou - era urgente.
___Imagino que por telefone não seria possível. – desdenhou ela, encarando-o.
___Bones... – sua voz saiu embargada, quase afetuosa – Encontraram um corpo...
Booth olhou para os dedos que brigavam entre si, fitando-a logo em seguida.
___Amarrado...carbonizado...as vísceras...no chão...
Ele viu os olhos azuis de Brennan umedecerem.
___No alto de um prédio comercial, agora à noite.
Booth gemeu:
___Eu sinto muito.
Bones ficou encarando-o. Não entendia. O pai estava preso...mas, como?

***

___Como? Booth?- Brennan murmurava nervosamente no carro.
___Ok, eu entro em contato daqui a pouco, estou dirigindo.
Booth desligou o celular. A sirene ligada, o carro em alta velocidade.
___Ele deve ter fugido, Booth, ou então pode ser outra pessoa. As gangues têm métodos similares de executar suas vítimas, não tem?
Brennan estava com o olhar assustado. Seus olhos ficavam mais claros quando estava triste ou preocupada, Booth já notara.
___Sim, Bones. É possível que seja o serviço de outro, vamos chegar e verificar o corpo, certo? – ele olhou para ela tentando passar calma.
Ao chegarem na frente do prédio, outros carros da polícia já estavam estacionados. Um furgão com o logo do Jeffersonian estava parado ali também. Brennan entendera que enquanto Booth estava em sua casa, sua equipe já fazia o trabalho.
Mal estacionaram, Brennan abriu a porta e saltou do veículo. Abriu a porta de trás para pegar seus utensílios no banco traseiro.
Havia vários policiais e uma pequena equipe forense analisava o corpo à distância, na certa esperavam a presença da antropóloga.
___O que temos aqui? – Brennan perguntou aproximando-se do corpo. Uma fumaça escassa saía do mesmo.
___Boa noite, Drª. Brennan. Ele já deve estar aqui há horas, dado seu estado. O fogo o consumiu por muito tempo, já é possível perceber perda considerável de massa, levada em cinzas pelo vento. – falou um rapaz raquítico e desengonçado.
Realmente o corpo estava em estado deplorável. O que antes fora pele era agora uma crosta carbonizada que esfarelava ao mais leve toque. O cheiro de carne queimada era insuportável.
___É homem ou mulher? – Booth perguntou com um lenço na boca.
___Homem, provavelmente. Meia idade, suponho, mas temos que levá-lo para o Jeffersonian logo.
Enquanto os peritos recolhiam os últimos materiais e se preparava para retirar o corpo, Booth recebeu uma ligação. Bones observou-o enquanto tirava as luvas.
__Tem certeza? Certo. Obrigado.
Olhou para Brennan.
___Seu pai fugiu da prisão hoje de manhã.
Os lábios da antropóloga se abriram e seus olhos expressavam derrota. Booth pressionou os lábios, incrédulo.

***

Brennan não escondia a frustração. Ficara feliz ao saber que Max deixara-se prender por ela, por Russ. Queria fazer as coisas certas, ou melhor, do jeito que as considerava certas.
___Eu não entendo... – balançou a cabeça. – Como ele pode ter fugido? Por quê, Booth?
Seus olhos penetravam Booth com uma intensidade desesperadora enquanto ele dirigia.
___Nós temos que averiguar, Bones. Acho que você poderia ir para casa descansar e dar uma olhada na sua secretária eletrônica para ver se ele deixara alguma mensagem.
___Qualquer mensagem que ele tenha me deixado, Booth, está naquele corpo. Os ossos, eles me dirão alguma coisa. Eu vou pra lá, não vou pra casa. – ela falou decidida.
Ao chegarem no instituto, Brennan viu Ângela e esta correu ao seu encontro, antes que pudesse se aproximar do local onde o corpo era examinado por Camille e Hodgins.
___Vocês estão aqui...
___Brennan. – Ângela interrompeu-a.
Booth notou algo estranho em Ângela que segurou a antropóloga pelos ombros.
___Quero falar com vocês, venham comigo.
Brennan foi arrastada pela amiga seguida por Booth.
No corredor de acesso lateral, Ângela sentou Brennan em um banco. Booth observava com desconfiança.
___O que foi, Angie?
A moça sentou-se ao lado de Brennan e olhando para Booth disse:
___Nós já sabemos a identidade do morto. – ela encarou Brennan.
___Já? – Booth pareceu surpreso.
Os olhos de Ângela estavam marejados quando esta enfiou a mão em um dos bolsos do jaleco azul. Colocou a mão cerrada na palma da mão de Temperance que não entendia nada.
___O quê...
Brennan sentiu algo gelado em sua mão e ao abrir sentiu seu coração palpitar. Booth olhou sério para Ângela que chorava baixinho.
___O que é isso? – indagou Booth ajoelhando-se ao lado de Brennan para observar.
Ele percebeu que Brennan olhava fixamente para um pingente em forma de coração preso a uma corrente pousada em sua mão delicada. Seus olhos de céu liberaram uma lágrima que caiu sobre a mão do agente quando este se adiantou em abrir a jóia. Dentro havia uma foto quase minúscula de um Max Keenan jovem, uma mulher bonita e um casal de crianças. Booth sentiu o coração falhar e olhou para Brennan. Ela o encarava com suas enormes burcas azuis e úmidas. Lágrimas desesperadas começaram a jorrar de seus olhos, como se ela acordasse de um transe repentino.
___Não... – sua voz saiu débil.
Booth apertou sua mão enquanto Ângela tinha as suas em sua boca.
__Não... – o choro agora era forte, sentido, desesperado.
Booth a tomou nos braços e recebeu sua chuva de lágrimas no peito. Seus olhos marejaram também diante da dor da parceira. Brennan chorava como uma criança, uma criança que nunca mais veria o pai.