Minha primeira short-fic... Não esperem muito ;;


O melhor lugar para se estar

Dezembro é um mês insuportável. Por que, me pergunta? Bem, em grande parte é pelas festas de fim de ano. Não consigo entender o porquê de todos fazerem tanta festa por causa do Natal! Sim, eu sou cristão... Ou pelo menos eu era... Na verdade nem sei mais! Bem, a religião de minha mãe era cristã logo eu tenho o mínimo de respeito pelas idéias, mesmo que não aceite grande parte delas.

Eu nunca comemorei essa data, a última vez que me lembro de ter tido uma ceia de Natal (com direito a presentes e pinheiro enfeitado) foi quando mama estava viva. Depois disso passei a morar com pessoas budistas durante grande parte da minha vida, logo eu não tinha com quem comemorar. Não que eu esteja reclamando, na verdade acabei me acostumando a passar essa data em branco. Por esse motivo me surpreendi com aquele pedido...

Eu estava no Japão me recuperando dos ferimentos causados por nossa última batalha. Só estávamos eu e ele na casa, não sei por que não havia voltado pra Sibéria antes, acho que não queria deixá-lo sozinho depois de tudo pelo que passou... Afinal ele é um dos meus melhores amigos. Eu tinha que ter certeza de que estava bem, era o mínimo que podia fazer depois de tudo que fez por mim...

Então, como dizia estávamos só nós dois na casa. Eu lia o jornal quando ele desceu e sentou-se ao meu lado me dando um bom dia sorridente, como eu percebi depois do tempo de convívio, ser seu costume fazer.

Ainda vestia pijamas (branco com listras inclinadas na cor verde) e pelo seu rosto devia ter acabado de acordar.

- Hyoga, o que vai fazer semana que vem?

- Hum? Nada por quê? – perguntei sem entender o motivo da pergunta.

- É Natal! Esqueceu? – ele continuava sorrindo e olhando pra mim.

- Ah, é mesmo... Eu nem me toquei nisso.

Não dei muita importância ao comentário e continuei minha leitura, mas Shun parecia estar inquieto ao meu lado. Olhei para ele novamente, sabia que ele ia dizer alguma coisa.

- Eu estava pensando... – ele dizia um pouco sem jeito – Se você não gostaria de passar o Natal aqui, eu ia tentar cozinhar alguma coisa... Isso é claro se você não tiver algum lugar pra ir!

Ele não olhou pra mim em momento algum, parecia até estar escondendo seu rosto de mim. Mas eu podia ver sua face ficando ligeiramente vermelha.

Por que ele tinha tido essa reação? Eu também me pergunto...

Mas pior foi a minha própria reação! Não é nenhum pedido de outro mundo, ele estava apenas me convidando a passar o natal com ele, mas algo dentro de mim pareceu explodir! Meu estômago se revirou umas três vezes antes de eu ter coragem de responder que não poderia aceitar, pois eu iria visitar o "túmulo" de minha mãe. Isso era mentira, eu não preciso de datas para visitá-la, vou quando bem entendo. Não sei por que menti, seria tão ruim assim ter aceitado?

Bem, é por isso que estou aqui hoje. Véspera de natal, os aldeões estão cada um em suas casas comemorando com suas famílias, acho que a minha é a única que não tem pisca-pisca no telhado ou pequenos duendes espalhados no jardim coberto de gelo. Na TV passam apenas comerciais de gente feliz, abraçando uns aos outros. Crianças desembrulhando pacotes maiores que si próprias e mesas com as mais variadas receitas tradicionais.

Desisto de assistir a televisão, pego meu casaco mais grosso e saio na noite gelada da Sibéria. Já que eu havia dito que iria lá para ver minha mãe, então resolvi ir de verdade. Mas antes que pudesse por um pé fora da aldeia alguém chamou meu nome. Era um de meus vizinhos, Alec. Um homem jovem e simpático. Devia ter uns 30 anos. Tinha os olhos e os cabelos castanhos claro e estava com a barba por fazer. Parei esperando ele se aproximar.

- Feliz Natal Hyoga!

- Feliz natal Alec, o que faz aqui fora nesse frio?

- Ah, meu sobrinho. Ele estava brincando com uma bola no terraço e ela acabou voando, eu vim buscar. - E só então eu vi o brinquedo apertado contra seu corpo – E você, está sozinho? Se quiser vai ser muito bem vindo lá em casa, está a família toda lá!

- Ah, muito obrigado, mas não tenho esse direito. Tenho que recusar.

- Entendo que não se sinta a vontade, mas... Você não tem ninguém no Japão com quem queira estar? Um rapaz como você deve ter muito amigos!

"Alguém com quem eu queira estar? Talvez..."

Uma voz feminina chamou Alec, ele me desejou boas festas e voltou para sua casa me deixando com uma vontade enorme de me afogar por ter pensado em Shun naquele momento. Talvez ele não estivesse tão acostumado com a solidão como eu, o que estava fazendo e o que estava pensando naquele momento? Por que eu não conseguia parar de pensar nele? Por que sentia tanta vontade de correr até o Japão e...

"E o que Hyoga? Para de pensar besteira!"

Não queria mais ir até minha mãe, perdi completamente o animo! Ela entenderia... Eu poderia vê-la outro dia... Voltei pra casa sem acender as luzes e me atirei na cama sem tirar nem uma peça de roupa. O relógio digital me dizia que faltavam 2 horas para a meia-noite, com o fuso-horário deveriam faltar umas 4 ou 5 horas no Japão. Tentei pensar em alguma coisa para pegar no sono, mas na minha mente eu só via ele... Senti meu coração apertar desconfortavelmente. Ouvia as risadas nas casas da vizinhança e me senti solitário como há muito tempo não sentia.

Entendi então porque eu tinha ficado no Japão durante todo aquele tempo, mesmo eu já tendo me recuperado. Não foi por pena de Shun ficar sozinho, mas sim por que eu não queria ficar sozinho. Eu queria estar com ele, ele me fazia bem... Sempre fez, como não percebi antes? Ele sempre me fez companhia, sempre ficou do meu lado e quando ele me pede a mesma coisa eu fujo...

Foi medo então que senti naquela hora? Medo de admitir pra mim mesmo que eu queria aceitar o pedido dele, queria passar a noite inteira ao seu lado sem mais ninguém por perto.

Os mais diversos e absurdos pensamentos passaram por minha cabeça e antes que me desse conta já era o começo de um novo dia. Olhei pela janela do meu quarto, a neve caia fina e eu pude ver as pessoas se abraçando dentro de suas casas, exatamente como nos comerciais da tevê. Será que ele me deixaria abraçá-lo daquele jeito?

Decidi deixar o medo pra trás, na pior das hipóteses ele acharia apenas que eu me empolguei demais. Não queria estar ali sozinho, era com Shun quem eu queria estar!

Corri o mais rápido que pude até o aeroporto mais próximo, por sorte um vôo estava partindo àquela hora. Comprei a passagem e embarquei. Fiquei o tempo todo pensando se não teria sido mais fácil e econômico ter usado meu cosmo para chegar ao Japão, mas Atena nos proibiu de usar nossos poderes quando não estamos em batalha.

Aterrissei às quinze para meia-noite. Não ia dar tempo de chegar! Peguei o primeiro táxi que encontrei em direção à mansão, mas me lembrei de uma coisa muito importante antes: O presente! Não poderia chegar lá de mãos abanando! Pedi ao motorista para parar em uma lojinha de rua, uma das poucas que estava aberta àquela hora.

Finalmente cheguei em casa, já haviam se passado quase dez minutos depois da meia-noite. A sala estava escura feito breu, acendi as luzes e comecei a procurar por Shun. Na cozinha estavam os restos de seu jantar e apenas um prato e um copo, ambos vazios. Subi as escadas e fui procurá-lo no quarto, também não estava lá. Ouvi um ruído vindo da sala de TV que ficava num outro corredor, fui até lá e encontrei a televisão ligada em um desenho animado que mostrava uma rena de nariz exageradamente vermelho. No sofá estava ele, deitado... Caído no sono, o controle remoto ainda em sua mão. Desliguei o aparelho e me ajoelhei perto de seu rosto tirando um fio de cabelo que estava grudado em seus lábios. Ele notou minha presença e abriu os olhos sonolento. Quando notou que era eu ajoelhado arregalou os olhos e sentou depressa no sofá ajeitando os cabelos.

- O que está fazendo aqui Hyoga? Não devia estar na Sibéria visitando sua mãe?

- Eu estava, mas percebi que preferia estar aqui. Desculpe ter chegado tarde... – Sentei-me ao lado dele colocando uma sacola da cor vinho em suas pernas. – Não deu tempo de embrulhar.

Pensei ter visto seus olhos brilharem ao ver o urso branco de pelúcia que comprei. Talvez tenha sido impressão, mas seu sorriso foi verdadeiro... Como eu gosto daquele sorriso...

- Desculpe ter comprado um presente tão bobo, mas eu estava correndo pra chegar aqui... Não tive tempo de procurar nada melhor...

- Ele é lindo! Eu adorei, obrigado!

E então o que eu esperava aconteceu, ele pulou em meus braços me abraçando com força. Abaixei o rosto sentindo o cheiro de seus cabelos e passei as mãos por suas costas retribuindo o gesto.

- Eu também comprei uma coisa pra você! – ele afastou um pouco o corpo do meu, mas seus braços continuavam envoltos no meu pescoço. – Vou pegar... Fique aq...

Shun tentou se levantar, mas eu o puxei. Não queria que ele fosse nem por um segundo. Dessa vez fui eu quem o abraçou.

- Depois... Por enquanto estar assim com você já é mais que suficiente...

FIM