Sinopse: [Tradução] As palavras de Sakura morrem em sua garganta quando os olhos do homem se abrem, e as íris vermelhas mais frias que já viu encontram as dela. Ela é atingida por uma onda aterrorizante de certeza sobre duas coisas naquele momento - que ela conhece esses olhos melhor do que qualquer outra e que, se ele quisesse, esse homem poderia parar seu coração com apenas um olhar.

Shipper: IndraSakuSasu

Autora: KuriQuinn

Tradutora: Juuh Haruno

Classificação: M-Rated

Disclaimer: Naruto e nem a história me pertencem, sou apenas a tradutora autorizada.


PARTE I

Como médica, Sakura provavelmente está mais preparada para os vários sintomas da gravidez do que uma mulher normal. Estudou a teoria, administrou cuidados pré e pós-natais e trouxe mais do que alguns bebês. A princípio, foi apenas sob o olhar atento de sua mentora, mas conforme ela e Sasuke viajavam para aldeias mais remotas, isso acabou se tornando um risco ocupacional.

Então, seu próprio primeiro trimestre foi exatamente do jeito que esperava - na verdade foi até um pouco mais fácil.

O enjoo matinal não era tão ruim quanto temia - na verdade, não era de fato um enjoo matinal, mas sim um "enjoo em momentos aleatórios". Mesmo assim, foi bem mais suave do que qualquer outra coisa que esperava. Foram apenas duas o número de manhãs que passou com o rosto enterrado em um arbusto próximo, enquanto Sasuke segura seu cabelo.

Havia também algumas de suas comidas favoritas que nem consegue pensar sem sentir náuseas. Outras ainda causam seus desejos bizarros e desesperados que nunca experimentou antes (tomates! Nenhuma quantidade de tomates era suficientes para aplacar sua fome desesperada!). Também tinha que fazer xixi com muito mais frequência, o que fazia com que Sasuke se divertisse e se resignasse, dependendo do quanto atrasaria seus planos de viagem. E por último, pelos bons deuses, umas irritantes e inconvenientes espinhas tinham nascido em seu rosto!

Mas o que definitivamente não esperava eram os sonhos.

De seus estudos e conversas com outras mulheres grávidas, antecipou o os enjoos, o desconforto e até mesmo um violento impulso sexual. Mas o que acabara experimentando nos dias após confirmar sua condição era sombrio, assustador e até mesmo um pouco deprimente.

No início, seus sonhos tinham um tema recorrente. Sempre que fechava os olhos, se via caminhando pela praia. A maré está sempre baixa, deixando uma vastidão estéril de areia com poças rasas de água. O céu é sempre cinzento e sinuoso, cercado por penhascos à distância. Os detalhes neste lugar são impressionante, apesar do fato de que ela nunca visitou esta praia. E nem passou muito tempo em qualquer outra praia, na verdade.

Konoha não tem litoral, e até mesmo suas experiências durante a guerra não lhe deram muito tempo para aproveitar o litoral. Em sua viagem Sasuke, ocasionalmente foram para lugares como Kumo, onde as praias são mais comuns, mas nunca com propósito de recreação expressa.

Apesar disso, a praia estéril de seus sonhos parecia tão familiar e amada quanto as florestas e vales da Aldeia da Folha. Por qualquer motivo, experimentava uma sensação de total segurança durante as suas viagens no sonho, o que a deixava desconcertada e confusa ao acordar.

O padrão continuou por várias noites sem qualquer alteração, até o retorno de sua jornada à Tsuki. Naquela noite, eles não tiveram escolha a não ser se deitar em uma caverna na floresta para evitar uma tempestade.

Desde que contou a Sasuke sobre sua gravidez, pararam de acampar para dormir do lado de fora, sempre se recolhiam nas Aldeias próximas. Sakura assegurou-lhe que, neste momento, não importava onde parassem para descansar, mas ele tinha sido inflexível. Dormiam acampados na floresta somente quando não havia absolutamente nenhuma outra opção.

Ela estava tentando não achar sua superproteção atraente, mas estaria mentindo se dissesse que não esperou a vida inteira por isso.

Apesar da segurança de suas proteções defensivas, Sasuke insistiu em pegar o primeiro turno da vigia - o que ambos sabem significa que ele realmente não pretendia fechar os olhos naquela noite - e Sakura estava simplesmente cansada demais para discutir. Espera que isso levasse a um sono totalmente sem sonhos, mas ainda assim, com quase nenhuma transição, estava de volta à praia dos sonhos.

Só que havia algo diferente desta vez.

眠り

Uma forma escura aparece nas dunas de areia no horizonte. Ela não consegue entender exatamente o que é a forma, mas conforme se aproxima, percebe que é um ser humano.

"Hey!", chama. "Você está bem?"

Ela começa a correr, lutando contra a instável e úmida areia, automaticamente levado a mão ao seu kit médico - apenas para descobrir que não está lá. Mas não deixa que isso a detenha, no entanto, e depois do que parece ser uma eternidade, desliza até parar na frente da pessoa.

É um homem, percebe, baseado nas dimensões do corpo, e está gravemente ferido.

Ele está de bruços e, a julgar pela falta de movimento, não respirava. Quando estendeu a mão para tocar a pele úmida e verificar seu pulso, não sentiu nenhuma mísera pulsação. As partes de sua epiderme não cobertas pelo manto branco ensopado eram uma massa de queimaduras de segundo e terceiro grau, entrecruzando-se como raízes vermelhas e sinuosas de uma árvore. Já tinha visto isso antes em vítimas de eletrocução, exceto que, pelo que podia ver, não havia ferimentos de saída ou de entrada em seu corpo. Era como se um relâmpago tivesse passado pela superfície de sua pele.

Ou… ou canalizado através de seus pontos de chakra.

Estende a mão para sentir o pulso em seu pescoço, mas vê que, em vez disso, sua gentilmente bate nas bochechas do homem, tentando acordá-lo. Um buraco se forma em seu estômago, e ela pretende canalizar seu próprio chakra para o pobre homem, na esperança de impulsionar seu coração e seus pulmões de volta ao normal.

Mas isso não acontece.

Suas mãos continuam tateando o homem em busca de sinais de vida, e quando ela se concentra, alcançando o interior, não consegue sentir nada de seu chakra. Como último recurso, pensa no estilo de cura usado por ninjas novatos e tenta encaixar os dedos no selo do Boi, mas eles não cooperam.

O que…

Olha em consideração para suas mãos confusas e, tardiamente, percebe que não se parecem com as dela. Essas são mais pálidas e mais delicadas, com nenhuma de suas cicatrizes dos treinamento que conseguiu antes de despertar o Selo Yin.

E, mais importante, nenhum brilho revelador de energia de cura.

Não!

O horror de ser despojada da capacidade de salvar este homem a atinge como um soco no estômago, mas ao invés de enlouquecer com isso, empurrou a constatação para fora de sua mente. Ainda poderia ter uma chance de salvá-lo, mesmo que não conseguisse fazer isso da maneira mais rápida!

Seu corpo pareceu estar cooperando com isso, pelo menos, mas é quase como se estivesse lutando através da areia movediça. Seus membros eram pesados e tudo parecia estar acontecendo com atraso.

Com firmeza, mas gentilmente, ela o vira, pretendendo iniciar compressões em seu coração -

Apenas para recuar em choque.

Por baixo da pele inchada e cheia de veias está Sasuke.

Sakura acorda de repente, seu corpo inteiro vindo à consciência. O suor escorre de sua testa e ela sente como se tivesse corrido uma maratona.

"Sakura?"

Seu marido é uma sombra sem traços no escuro.

"Você estava em uma praia", sussurra sem preâmbulos, a voz tremendo. "Você estava inconsciente, e eu não podia ... Eu queria curar você, mas não consegui. E então ei te virei e acho que você estava morto, mas não havia… eu não pude… "

"Foi um sonho", Sasuke garante. Quando vê que seu corpo permanece rígido e agitado, estende o braço e cobre o rosto dela com a mão, passando o polegar pela maçã do rosto delicado.

Sakura suspira, apoiando-se em seu toque, e a rigidez de sua espinha diminui um pouco. "Eu sei que foi. Mas só que era ... muito real."

"Seus sentidos estão intensificados agora", informa em voz baixa. "Sua mente provavelmente está atraindo muito mais memórias sensíveis."

"Eu sei disso", protesta, sorrindo ligeiramente para o fato de que Sasuke estava citando informações que leu de um livro de gravidez que ela pegou na última aldeia. Nunca tinha visto-o ler, mas se lembrava daquela sentença exata.

'Não estou interessado em livros de bebês' o caramba, seu grande bobão!

"E você também sabe que estou bem", Sasuke continua. Pela carranca que detectou em sua voz, tinha a leve suspeita de que ele notou seu sorriso. "Assim como você."

"Além de estar casada com um senhor sabe-tudo, estou maravilhosamente bem", murmurou, enrolando-se na frente dele.

"Hm"

Sente os dedos dele no seu cabelo, indo para frente e para trás em um ritmo reconfortante. O sono se apodera dela, introduzido pela sensação calmante dos dedos roçando seu crânio.

Sakura se obriga a voltar para a consciência plena.

"Espere!"

Ele congela. "O que?"

"Eu tenho que fazer xixi", anuncia, se empurrando para longe dele.

"Claro que sim", suspira, soltando-a.

Quando finalmente volta para a caverna, encontra Sasuke adormecido. Suspeita que ele só pretendia fechar os olhos por um segundo, mas depois de passar tantos dias sem dormir com mais frequência nas últimas semanas estava tendo seu preço. Estava preocupa com a possibilidade dele pretender manter essa tendência até que estivessem de volta em segurança em Konoha - o que poderia acontecer daqui a alguns meses.

Por esta razão, escolhe não acordá-lo.

As armadilhas serão suficientes.

Recuperou seu lugar ao lado dele, se aproximando e se encaixando de modo que suas costas estivessem encaixadas contra o peito dele. Ainda dormindo, ele passou o braço pela cintura dela, abraçando-a e Sakura sorri para a escuridão. Ele costumava segurá-la assim quando eram crianças também ... embora naquela época, ele preferisse engolir kunai do que admitir isso.

Às vezes, em missões fora, seu esquadrão genin tinha que dormir no meio de floresta. Kakashi sempre ficava com o primeiro turno - como Sasuke faz agora, não tendo a intenção de acordar nenhum deles para pegar o segundo - e os três acabavam se amontoando como filhotes. Geralmente, estavam tão exaustos que ninguém tinha energia para reclamar dos arranjos para dormir. Sakura acabaria imprensada entre os dois garotos para minimizar qualquer derramamento de sangue - Naruto murmurando em seu sono de um lado, e Sasuke se enrolado protetoramente no outro.

Mas às vezes, muito raramente, ele acabava deitando contra ela, o braço pendurado sobre seus quadris, respirando contra a parte de trás do seu pescoço.

Nunca dormiu bem naquelas noites, muito chocada e satisfeita para fazer qualquer coisa além de se maravilhar com a proximidade dele. Ele acordava antes de todo mundo, e ela o sentia recuar como se estivesse queimado, e então seu calor desapareceria.

Sakura nunca mencionou isso em horas de vigília porque sabia que ele ficaria envergonhado. Ele também nunca disse nada, embora soubesse que estava acordada. Kakashi olhou consciente por baixo de sua máscara, mas agia como se não tivesse notado nada disso.

Agora, porém, não tem problemas para voltar a dormir dentro do abraço de Sasuke, e felizmente, não houve mais sonhos naquela noite. Quando os primeiros raios de sol da manhã espreitam em seu abrigo, em vez de fingir que não passou a noite em volta dela, Sasuke esconde seu rosto em seu ombro e ignorou suas tentativas de persuadi-lo ... até que ela trapaceou um pouco, mergulhando sob suas cobertas e usando lábios e língua em seu argumento mais convincente. O som de seus gritos estrangulados e ofegantes, maldições ecoando nas paredes úmidas da caverna compensaram completamente a tentativa de olhar reprovador que lhe deu logo depois.

"Nós não deveríamos estar chamando a atenção para nós mesmos", lembrou.

"Então você deve aprender a ser mais silencioso", respondeu, limpando a boca. Quando rosnou para ela e a agarrou, tentando puxá-la para baixo dele, a kunoichi dança para fora do seu caminho e canta: "Venha! Nós vamos nos atrasar."

O resto da manhã progride da maneira usual conforme viajavam pela floresta até o próximo destino. Era tranquilo, o que era a norma - ela e Sasuke nem sempre falam enquanto viajam, existindo em um silêncio que é mais uma perfeita dinâmica de companheirismo do que uma necessidade de evitar possíveis ameaças. Um momento para reflexão ou para apenas estar juntos.

Embora hoje, seus pensamentos geralmente pacíficos são obscurecidos pela análise de seu sonho. Está incomodando-a, ao contrário da maioria dos sonhos, que se retiraria imediatamente para seu subconsciente. Supõe que é porque se lembrava de seu desamparo, um estado que ela evitou ativamente desde que era uma adolescente.

Se Sasuke percebe sua preocupação, não diz nada. Até que lhe forneça a informação, ele não vai bisbilhotar. Então, decide não dizer nada porque se já parece ridículo em sua cabeça, imagine então em voz alta.

Após algumas horas chegam à uma balsa noturna que, ao que parece, não é nada gentil com seu estômago enjoado. Ela passa a maior parte da viagem pulando para o lado do barco, ou enrolada em posição fetal em sua cabine. Apenas quando estão se aproximando de seu destino, a exaustão finalmente permite que ceda ao sono.

Ela se encontra de volta na praia, ajoelhada na frente de um Sasuke inconsciente.

Só que não é Sasuke , percebe em alívio. Suas feições são mais delicadas, e seu cabelo é mais leve - apesar de estar muito encharcado - e muito mais longo.

Os instintos de médica já incitaram suas mãos a procurar sinais de vida. Ele não estava respirando e não conseguiu detectar um batimento cardíaco. A julgar pelas queimaduras e hematomas, diria que ele sofreu tanto eletrocussão quanto trauma maciço, como se milhares de punhos tivessem afundado nele.

Por uma fração de segundo, tentou curá-lo antes de lembrar que aqui - onde quer que seja aqui - não tinha tal habilidade. Soltando alguns palavrões, reorganiza seu corpo para que ele esteja de costas e se prepara para reiniciar seu coração manualmente.

Pelo menos ... Sakura acha que é ela quem decide fazer isso. O corpo que ela habita neste mundo de sonhos parece ter uma mente própria.

Pressionando o calcanhar de sua mão no centro de seu peito, começa a contar em voz alta, observando seu peito a cada compressão. Depois de um minuto, se inclina para verificar as vias aéreas, inclinando a cabeça para trás e erguendo o queixo.

Ainda não há indicação de respiração, então aperta o nariz dele, cobrindo sua boca com a dela e respirando por ele. Com o canto do olho, vê seu peito subir e sente suas esperanças se elevarem com isso.

Isso é bom, pelo menos, sem perfurações ou obstruções.

Mas quando se afasta, ele não continua sozinho.

Com mais alguns palavrões, reinicia as compressões.

"Não ... se atreva ... a morrer ...", ordenou a cada prensa para baixo.

Você não é… ele… mas… eu… não…deixarei… você! Sha… na… ro!

O ciclo de compressões e respirações continuou quase sem fim. Foi muito além do ponto em que teria continuado para qualquer outra pessoa, mas não pôde se arriscar. Se essa pessoa era parecida com Sasuke, então sobreviveria. Ele tem que viver.

Mais uma vez, a sensação avassaladora de tentar correr na areia movediça estava de volta, este corpo do sonho que possuia já se afastando em derrota, mas ela recoloca as mãos emprestadas no lugar, rosnando e xingando enquanto lutava para frente novamente, forçando-se contra sua própria barreira do sonho e o peito dele.

Quando se afasta de seus lábios mais uma vez, preparando-se para impulsionar seu peito, o corpo do estranho se contorce e sua boca se abre em um suspiro.

"Oh, graças a Deus!" Ela chora, sentando em suas coxas para lhe dar espaço. "Você esta bem. Apenas fique deitado e tente respirar, ok? Você me assustou por um... "

As palavras de Sakura morrem em sua garganta quando os olhos do homem se abrem, e as íris mais frias e vermelhas que já viu encontram as dela. Ela é atingida por uma onda de aterrorizante certeza sobre duas coisas naquele momento - que conhece esses olhos melhor do que qualquer outra pessoa e que, se quisesse, esse homem poderia parar seu coração apenas com um olhar.

Ela acorda com um grito de surpresa.

"O que? O que houve?!"

Sasuke se ajoelha ao lado dela, a mão em seu braço, olhando com uma expressão de preocupação.

"Era você", engasga, pensamentos rodando muito rapidamente em seu cérebro para fazer qualquer sentido. Suas palavras saiam confusas. "Era você e não era... mas eram seus olhos. E você estava inconsciente, mas eu te salvei, eu acho, mas foi... foi como naquele dia, e eu pensei em você... Eu pensei que ele iria..."

"Devagar", Sasuke instrui. "Comece do início."

Ela respira fundo, estremecendo, esforçando-se para permanecer calma enquanto relata cuidadosamente tudo. Conta a ele sobre os estranhos sonhos que tem tido, como eles eram iguais no começo, mas que agora de alguma forma pareciam...

"Uma continuação?", sugeriu.

A médica acena com a cabeça pois era o melhor termo que conseguiu pensar para descrever a situação. "Não sei o que isso significa."

Sasuke franze a testa.

"Eu quero que me diga se isso acontecer de novo", diz a ela finalmente.

"Como isso ajudaria?", pergunta.

"Eu não sei", responde. "Mas me sentiria melhor se souber o que está acontecendo."

Sakura sabe que seu marido não aprecia a ideia de um obstáculo ou oponente com o qual não podesse lutar. Talvez ele ache que quanto mais informações conseguisse obter de seus sonhos, mais provavelmente seria capaz de ajudá-la. Também sabia como ele era compulsivo sobre essas coisas, se fixando nisso até que houvesse algum tipo de resolução - o que pode não ocorrer.

A rosada oferece ao esposo um sorriso brilhante. "Tenho certeza que não é nada. Estou me adiantando, fazendo alarde de nada, do jeito que faço de vez em quando. Eu vou ficar bem."

Sasuke franze a testa como se não acreditasse completamente nela, mas acena com a cabeça rigidamente.

E parece que ela está certa, de qualquer forma. Nas próximas noites, seus sonhos mais uma vez não passam de impressões fugazes. Experimenta impressões de rostos, momentos no tempo, mas não interações surpreendentes com o homem cujo Sharingan é uma cópia exata do seu marido.

Parece que seu subconsciente recuou um pouco, e ela está decidida a esquecer os estranhos sonhos relacionados à gravidez, afinal.

Mas então eles começam de novo.

O homem com o rosto de Sasuke - Mas diferente. É diferente! - é incapaz de se mover ou falar. Seus olhos horríveis se desvanecem em um preto no mesmo momento em que ela fica consciente de estar de volta ao seu sonho, indicando que ele está muito enfraquecido para fazer qualquer coisa. Ainda assim, continua encarando-a com desconfiança, como se esperasse que Sakura fosse pular em cima dele e o sufocar, ou algo assim.

"Estou aqui para ajudá-lo", diz baixinho, odiando o tom de voz - e o fato de sua voz ser mais suave do que deveria ser. "Não há necessidade de se preocupar. Estou aqui por você."

Se possível, a desconfiança em seu olhar, que não abandonou-a nem por um instante, aumentou ainda mais.

Se acha que olhar para mim vai me assustar, você vai se surpreender. Eu já vi coisas muito piores.

Curiosamente, a imagem que imediatamente vem à sua mente não é o olhar arrepiante do marido quando estava enlouquecido, mas o rosto de um estranho se contorcendo em um grunhido. O homem é completamente irreconhecível, mas a raiva feia faz seu corpo tremer reflexivamente. Contudo, não há tempo para contemplar quem ele é ou o que isso significa, não com um paciente para cuidar.

Seus olhos percorrem seu corpo, observando o estranho - mas familiar! - manto branco de colarinho alto, verificando os sintomas e fazendo um diagnóstico mental.

Esgotamento de chakra e exaustão aguda. O que quer que tenha lhe acontecido, ele enfraqueceu-se completamente até acabar em desvantagem.

Havia duas hipóteses: ou ele teve seu chakra drenado, ou realmente conseguiu usar quase todo seu armazenamento. É algo que nunca tinha ouvido falar - o chakra está tão ligado à força vital de uma pessoa que, mesmo quando severamente enfraquecidos, não podemos realmente usar todo o armazenamento.

Parece que seu misterioso paciente chegou bem perto.

Sakura não tinha ideia de como deveria ajudá-lo sem suas habilidades de cura, e com mãos que não necessariamente faziam o que queria fazer. Parecia ter o poder de influenciar medidas rudimentares de salvamento de vidas - habilidades que qualquer um pode ter -, mas não seu próprio conhecimento duramente conquistado. Olhando ao redor da praia, não vê nada que possa ser usado como um elixir ou bálsamo curativo. Teria que se aventurar além da costa, para ver se havia uma floresta ou campo nas proximidades.

Um pequeno e persistente pensamento no fundo de sua mente dizia-lhe para fugir. Sem suas habilidades, não seria capaz de resistir a ele se a avaliação de sua condição estivesse errada. Quem quer que este homem fosse, com certeza era perigoso.

Mas ele também era importante, algo no fundo dela sabia disso, embora não tivesse como explicar a certeza. Teve que se concentrar em lutar contra o impulso de fugir.

Isso não importa. Eu sou uma médica e tenho que ajudar meu paciente ... de alguma forma.

Fazê-lo na praia seria difícil. Por um momento se entrete com a ideia de levá-lo para algum lugar mais seguro, mas como rapidamente descobre, não tem força para fazê-lo. O homem é alto e, em circunstâncias normais, provavelmente pesado - como peso morto encharcado, seria ainda pior.

Além disso, levá-lo a qualquer lugar poderia atrair atenção, e isso poderia ser perigoso para os dois. Onde quer que estejam agora, este lugar é estranho para ela - possivelmente para ele também. Precisa pensar em algo e logo.

Algo no fundo de sua mente a alertava que seria muito ruim se algum deles fosse encontrado aqui.

Sakura acorda na manhã seguinte franzindo a testa para o teto de seus aposentos temporários, pensando nos cálculos necessários para uma mulher de força média conseguir mover um homem ferido do tamanho e peso de seu marido.

E possivelmente estudar um pouco sobre as técnicas de sonhos lúcidos, pois a ideia de ser uma observadora paralisada em sua mente já estava tornando-se irritante.

Uma vez que que consegue a resposta para o primeiro problema, permanece quieta, confusa sobre onde viu as roupas do homem antes. Ela e Sasuke viajaram tão amplamente e em tão pouco tempo que viram vários estilos estranhos de roupas. Talvez suas memórias fossem sobre isso?

Estava a beira de uma resposta quando percebe uma mão sob o cós de sua calça.

"Oh, você acha que está sendo sorrateiro, não é?",desafia de brincadeira, e então ri quando os dedos longos abrem suas pernas.

Todos os pensamentos de seu paciente inconsciente desaparecem quando encontra algo muito melhor para se concentrar.

Mais sonhos seguem, noite após noite, mas agora, ela os espera.

Às vezes, não está ao lado de seu paciente misterioso, em vez disso rasteja por uma área arborizada sobre as mãos e joelhos, reunindo ervas e frutos em seu avental. Às vezes está em um rio, enchendo as cascas de água e tentando - sem sucesso - pegar peixes sem nenhuma ferramenta além de suas mãos.

Outras vezes, está com ele, inclinando-se devotadamente ao seu lado, pressionando água potável entre os lábios e esmagando a comida em porções bem pequenas. Seu paciente aceita a ajuda, o tempo todo encarando-a ressentido. Muitas vezes, quando ela faz algo que não gosta, ele faz um barulho ameaçador, como um rosnado baixo em sua garganta.

Ele ainda é incapaz de falar, então não pode perguntar seu nome.

Durante as horas de vigília, Sakura se encontra pesquisando procedimentos, estudando os poucos pergaminhos médicos que trouxe consigo ou perguntando aos curandeiros locais sobre seus remédios tradicionais. Precisa de cada centímetro de sua concentração em seus sonhos para conseguir forçar até mesmo a menor das mudanças, como pegar uma certa erva ou moer raízes em pó.

Sasuke continua ignorante de sua vigília noturna e, embora não esteja exatamente escondendo as coisas dele, está feliz por isso. Ele se preocuparia desnecessariamente, e embora tivesse escondido bem dela até agora, sabia que já estava muito ansioso com isso. Então, quando ele perguntava sobre seus sonhos, lhe dizia que nada de novo aconteceu.

Não era realmente uma mentira, era apenas ... não uma completamente verdade.

Mas não achava que ele aceitaria tranquilamente que se preocupasse tanto com um produto de sua imaginação, especialmente quando o homem de cara azeda em sua paisagem de praia começou a se infiltrar em suas veias.

"Espero que você não seja muito apegado ao seu cabelo", diz ao homem inválido certo dia – ou era noite? – enquanto olha desgostosa os tufos molhados e enrolados espalhados ao redor da cabeça dele. "Está começando a atrair piolhos. E você não quer isso – eu sei, por experiência própria, como é difícil se livrar deles depois de tê-los."

Espere o quê?

Agora ficou assustada. Sakura nunca teve piolhos - sua mãe cuidava muito bem para evitar isso - e, apesar de divagar, a autoridade absoluta em sua voz era inquestionável. É como se as palavras fossem fornecidas de algum outro lugar.

Os olhos de seu paciente se estreitam ligeiramente, mas tomou sua falta de grunhidos como permissão e cuidadosamente cortou o cabelo na altura dos ombros.

"Pronto. Não ficou tão ruim, eu acho – mas claro, eu tenho uma certa prática. Tive que cuidar eu mesma dos meus cabelos com uma certa frequência."

Está se referindo à sua tendência fastidiosa de manter o cabelo cortado enquanto viajava com Sasuke, mas essa não é a imagem que vem à mente. Em vez disso, tem visões de um quarto frio e escuro, dedos trêmulos e um espelho equilibrado na frente dela enquanto tenta uniformizar as camadas.

Há algo indistinto e estranho sobre o rosto naquele espelho, no entanto.

Isso acontece às vezes. Imagens e idéias vindo a ela enquanto trabalha nele. Nunca encontrou sentido nisso e passou a considerá-los como peculiaridades de sua psique.

Ou como uma consequência da quietude.

O silêncio constante de seu paciente lembra-lhe claramente como Sasuke era quando eram crianças. Mas enquanto agora está próxima o suficiente do marido para achar seus silêncios sociáveis, essa pessoa diante de si era uma história totalmente diferente. O silêncio prolongado estava deixando-a louca, e ela se vê caindo em seu hábito de infância de divagar.

Não apenas divagar, na verdade. As coisas que saem de sua boca fazem sua cabeça girar. São as palavras completamente confusas e sem sentido que caracterizam os sonhos - coisas que fazem perfeito sentido agora, mas que sabe que não significarão nada para ela ao acordar.

"Suponho que você deve pensar que eu não tenho muito o que fazer além de estar aqui", disse ao homem uma vez, ajustando a pequena fogueira que criou ao lado deles. A madeira que escolheu não produzia muita fumaça, mas o calor era reconfortante - e mantinha o calor do corpo constante. "Acho que você estaria certo. De onde eu venho, minha existência não é muito mais do que uma lembrança tardia. Meu pai ... bem, é importante. Ele governa sobre esta terra. Mas minha mãe era uma esposa menor que disse a todos que eu seria um menino... "

Sakura franze a testa para isso, pois não é verdade, e ainda assim a história sai de sua língua com a absoluta convicção da verdade.

"- Quando viram que eu não era, meu pai não ficou nada feliz. Ele a matou, e apenas porque os padres disseram que seria amaldiçoado se derramasse seu próprio sangue que eu não fui morta junto com ela."

A história faz seu estômago revirar, sua raiva de primeira mão se misturando com a tristeza de segunda mão.

"Todo mundo diz que eu pareço com a minha mãe, e é por isso que meu pai não se importa muito comigo", continuou com naturalidade. "Minha irmã mais velha, porém, ele a ama. Eu... eu também a amaria, acho, se ela me desse permissão", abaixa a cabeça, sentindo-se envergonhada por admitir isso em voz alta. Era como se nunca tivesse falado em voz alta antes. "Mas ela é tão ocupada, não tem tempo. Papai enviou para tantos tutores e instrutores para ensina-la, então nunca está por perto. Veja, ela é a única que vai conseguir um casamento vantajoso um dia e tornar nosso país forte novamente. Então, ela tem que ser bem instruída. Minha irmã diz que é uma perda de tempo, pois é tão bonita e eu acho que ela está certa. Os homens olham uma vez para seu rosto e se apaixonam imediatamente."

A rosada suspira melancolicamente e o mais ínfimo pedaço de ciúme se infiltra em suas palavras.

"Ela tem tudo. Eu desejo… eu desejo que pudesse ter…", interrompe sua sentença e balança a cabeça. "Deixa pra lá, não é importante. E tudo isso deve ser chato para você, certo?

Sorri gentilmente para seu paciente e fica surpresa ao descobrir que ele está ouvindo-a o tempo todo com uma expressão concentrada. Na verdade, a menos que esteja muito enganada, há algo mais enterrado nas linhas de seu rosto.

Leva um momento para perceber que é empatia.

"Alguma vez você já sonhou em ser outra pessoa?" Sakura pergunta, olhando para cima do romance de mau gosto que já leu três vezes. É um total fracasso no trabalho de manter sua mente fora dos sonhos, especialmente tendo em conta este último desenvolvimento, onde ela aparentemente inventou uma outra vida inteira para si mesma. Decide desistir do livro.

Eles estão desfrutando de um raro momento de inatividade, um dia não passado viajando ou vasculhando aldeias para obter informações sobre distúrbios locais. Do outro lado da clareira, Sasuke está cuidadosamente lubrificando e limpando sua katana, boca e sobrancelhas juntas em concentração.

"Sasuke?"

"Hm?"

"Eu perguntei se você já sonhou em ser outra pessoa? Quero dizer, da perspectiva de alguém que não era você ", esclarece.

"Não."

"Oh". Faz uma pausa. "Nunca?"

"A maioria dos meus sonhos são memórias. E sou sempre eu mesmo ", responde distraidamente.

"Oh"

Ela poupa um breve segundo para refletir sobre a triste verdade de que - com uma vida como a de Sasuke, duvida que seu subconsciente fosse um retiro da realidade - e tenta voltar ao seu livro, mas o texto está se misturando. Seu interesse já vago se foi, então o coloca para baixo.

"Estou entediada. Podemos dar uma volta ou algo assim?"

"Nós andamos todos os dias."

"Eu sei disso , mas normalmente é para ir do Ponto A ao Ponto B. Eu quis dizer, vamos apenas dar um passeio. Aproveite a natureza... O outono é tão bonito e não vamos nos divertir muito quando o inverno chegar. E não teremos muito tempo sozinhos, apenas nós dois, na primavera."

"―Hm. Bem. Deixe-me terminar isso."

"Eu também estava pensando em parar na capital depois de tudo. Eles têm uma biblioteca lá e eu quero ver algumas coisas. Sei que você odeia grandes cidades, mas levará apenas alguns dias.

"Mm-hm."

Sakura franze a testa em sua direção, tentando discernir se está seriamente prestando atenção nela ou não. Quando ele continua a limpar detritos invisíveis da lâmina de sua espada, percebe que nada do que acabaram de discutir penetrou no em qualquer pensamento que estivesse preso.

Hora de uma distração, então.

Com movimentos rápidos, se levanta e se alonga. Quando ele parece não notar sua movimentação, Sakura desabotoa os ganchos de sua túnica, depois o sutiã, e os puxa pela cabeça.

"Eu acho que meus seios aumentaram um pouco desde que fiquei grávida", diz, seu tom de voz um pouco mais alto do que antes. "O que você acha?"

Ele nem sequer olha para cima. "Talvez."

"Desculpe-me se eu não confiar em sua avaliação - você nem está olhando para mim."

Sasuke solta um suspiro irritado, lança um breve olhar em sua direção volta ao trabalho. "Sim, estão maiores."

Sakura levanta uma sobrancelha para sua reação, mentalmente contando os segundos, e é recompensada quando o pano em sua mão cai de repente e ele lentamente olha para cima novamente, completamente confuso.

Aqui vamos nós.

Ainda assim, ela finge não notar e dá uma voltinha para examinar seu traseiro também. "Acho que aqui também aumentou um pouco. Nós temos uma fita métrica em algum lugar no nosso kit, certo? Vou tirar essa duvida agora, já que não há mais nada para fazer e você está tão ocupado. "

Ela se afasta, indo em direção às malas.

Há um barulho de metal e o farfalhar de um manto, e então um braço a agarra pela cintura por trás.

"Você não tem que recorrer a truques óbvios para chamar minha atenção", murmura baixinho em seu ouvido, e ela estremece ao sentir sua respiração na pele sob sua orelha.

"Aparentemente, eu preciso sim", brinca. "Além disso, meus truques nunca funcionaram quando éramos mais jovens. Vou considerar isso uma recompensa."

"Então você aceita favores sexuais agora?"

"Quem disse alguma coisa sobre favores sexuais?" murmurou inocentemente. "Eu só estou encontrando maneiras de me ocupar enquanto você está claramente desinteressado -"

"Você sempre foi uma péssima mentirosa", diz interrompendo-a, e começa a despir os dois das roupas que ainda separavam seus corpos.

Seus sonhos retornam aos vislumbres obscuros e fugazes nas noites seguintes e, por um longo tempo, ela mal interagiu com seu paciente misterioso. Às vezes, ainda sonhava em vasculhar a floresta em busca de coisas para ajudá-lo, mas com cada vez mais frequência, começou a ver coisas mais sombrias e perturbadoras.

Às vezes, seu sono é violado por coisas absolutamente perturbadoras.

De vez em quando, sente frio, tremendo convulsivamente em um quarto frio. Está exausta, mas não dorme, os olhos focalizados na lua enquanto espera pela manhã. Outras vezes - e isso é ainda mais preocupante - sente o impacto familiar de punhos contra o rosto, a voz de um homem exigindo saber por onde andava todos os dias. Ela se encolhe, lágrimas e sangue escorrendo pelo rosto, insistindo que não ia a lugar algum, e torcendo para que a mentira não fosse detectável.

Esses breves vislumbres sempre deixam Sakura irritada ao acordar, a sensação de desamparo como um gosto amargo na parte de trás de sua boca. Desde que Sasuke se recusa a lutar com ela desde que engravidou, passava aquelas manhãs treinando obstinadamente através de seus movimentos de taijutsu ou esmagando pedregulhos em pó. Estas eram suas únicas saídas pois, em seus sonhos, era enlouquecedoramente plácida.

Na próxima vez que se encontra com o paciente misterioso, ela sorri através das contusões no rosto, mesmo que seja a última coisa que queria fazer. Está com raiva e quer encontrar o bastardo que fez isso, mostrar a eles exatamente do que é capaz, mas esse corpo do sonho não a deixa fazer nada. Em vez disso, seu "eu" sorri, fingindo que não sente dor toda vez que se mexe.

O ato não é convincente - este homem é tão observador quanto Sasuke -, mas Sakura duvida que vá tecer comentários sobre isso, dada a sua reticência (real ou reforçada por sua deficiência).

É por isso que quase tem um ataque cardíaco quando uma voz seca e rouca quebra o silêncio habitual.

"Onde você conseguiu essas contusões?"

Ela, na verdade, fisicamente estremece, olhando em volta para ver se alguém os está observando. Demora um tempo absurdamente longo para perceber que seu paciente misterioso foi quem falou.

"Você acabou de ..." olha para ele com admiração.

Ele volta a encara-la, ostensivamente furioso; e conhecendo bem esse olhar tão bem como conhecia, tinha a sensação de que está mais irritado consigo mesmo por falar do que pelo estado de seu rosto.

"Você é capaz de falar?", pergunta, com o coração acelerando, esperando que agora algumas perguntas pudessem ser respondidas. A questão é hesitante, no entanto, com medo.

Mas ele simplesmente vira a cabeça para um lado. "Tch ."

Sakura não pode deixar de sorrir com isso. Definitivamente conhece bem esse tipo de comportamento. Seu corpo do sonho parece reconhecê-lo também, pois se sente relaxada.

"Suponho que você precisou usar toda sua força para me perguntar isso?", refletiu levemente. "Eu aprecio isso, mas não se preocupe comigo enquanto suas feridas forem muito piores. Sou muito desajeitada, estou sempre batendo nas coisas. Eu caí as escadas esta manhã", sente uma risada nervosa subir por sua garganta, enquanto interiormente ferve pela mentira. "Há uma razão pela qual ninguém quer me ensinar shamisen. Eu provavelmente colocaria o olho de alguém para fora! "

Mas o homem exala uma aura de desinteresse agora e ela suspira.

Deveria ter perguntado o nome dele.

Sua dinâmica silenciosa continua através de cenários que dançam através de sua mente adormecida - dela esfregando suavemente pomadas curativas em sua pele, trazendo-lhe roupas para substituir suas vestes enlouquecedoramente familiares.

Continua a experimentar as cenas enigmáticas, alimentadas pela violência também.

Alguém puxando seu cabelo, uma risada alta e zombeteira de uma linda mulher de pele de marfim. Irmã mais velha , sua mente grita. Aconchegada no chão, segurando as costelas quando alguém a chuta, desagradado mais uma vez por algo que ela fez ou deixou de fazer. E então o irreconhecível, o rosto de olhos afiados novamente. Pai .

Grita consigo mesma para se levantar e se defender, mas seu corpo nunca ouve. No momento em que consegue erguer a mão para bloquear um golpe, é tarde demais, e sente as costelas se partirem.

O tempo passa e, mais tarde, ela se encontra deitada em um quarto estéril, pessoas cuidando dela e falando em voz baixa. Tem a sensação de que está se recuperando de algo – uma lesão, provavelmente - mas esse conhecimento não consegue ultrapassar a sensação fervorosa de inquietação que sente.

Se ela está ferida e acamada, quem está cuidando de seu paciente?

Parece uma eternidade antes que sonhe com a praia novamente, e um forte alívio a atinge no dia em que se encontra vagando pelo banco de areia úmido novamente... até chegar ao local na costa onde ela esteve cuidando de seu misterioso inválido, só para descobrir que ele já não está lá.

Choque e descrença a encheram, competindo com a culpa de que sua lesão a impediu de checá-lo por tanto tempo. E se algum animal selvagem tivesse ido até ali por coincidência aqui e o tivesse atacado? E se alguém o encontrasse aqui, pensasse que ele era um espião estrangeiro e o levasse embora?

Ou pior.

Eu tenho que encontrá-lo!

Ela faz um catálogo de possíveis lugares que alguém poderia se refugiar, vira-se para a floresta, onde muitas vezes procurava ervas medicinais e congela.

Os olhos negros a encaravam, uma sinistra estrela vermelha de seis pontas no centro, paralisada em sua intensidade. Seu queixo cai em estado de choque, mas antes que possa dizer qualquer coisa, ele a agarra pela garganta.

"Nn-gh!"

Agarra fracamente a mão dele, unhas arranhando em desespero contra sua pele enquanto ele a levanta do chão. Seus pés balançam inutilmente no ar e seus pulmões se contraem em sua necessidade de ar. Confusão e desalento a enchem.

"Por que?", engasga com lágrimas escorrendo pelo rosto.

"Não sou fraco", diz a ela com frieza, sua voz já não estava mais áspera, mas ainda baixa o suficiente para fazê-la tremer. "Eu não pedi sua ajuda e não lhe devo nada."

Ela choraminga.

"Saiba que a sua morte significaria muito pouco para mim", continua, cerrando ainda mais a mão em seu pescoço. Aqueles olhos horríveis brilharam e Sakura soube que está prestes a morrer.

Duas emoções - totalmente contraditórias – guerreavam pela supremacia.

A primeira - alívio - não pertencia a ela, e Sakura sabe disso. Finalmente percebeu que estava experimentando a vida de outra pessoa. Alguém que enfrentava essa morte iminente com uma sensação de alívio, porque seria um final mais rápido do que aquele que sua família abusiva está lentamente levando-a.

A segunda - um medo crasso e instintivo - é dela, mesmo quando é reduzido a pensamentos posteriores e impotência por sua consciência onírica. Ela sabe que está sonhando, sabe que isso não é real, mas e se algo acontecer? Dizem que se você morrer em um sonho, seu corpo também morre, e não podia deixar isso acontecer!

O bebê!

E então ela lutou.

Sakura se esforça para lutar, ignorando o atoleiro mental e físico, as manchas contra os olhos e a queimação em seus pulmões. Afundou as unhas na carne de suas mãos, chutando os pés inutilmente nele e o encara furiosamente pela sua ousadia.

Talvez um pouco da de sua raiva seja visível, porque algo brilha em seu olhar. Sua mão aperta novamente e ela se prepara para o final, sabendo o que vai acontecer, apesar de seu desespero para sobreviver –

Apenas para, no minuto seguinte, se encontrar caída no chão e com as vias aéreas miraculosamente livre novamente.

Balançando a cabeça para afastar a tontura que veio com as golfadas de ar, vira os olhos para cima e o encontra está se afastando dela. Demora alguns segundos mais para entender que fora poupada. Não sabe qual dos sentimentos prevalece em seu interior: o alívio ou o desapontamento.

"Espere..." sussurra, suas cordas vocais doendo após quase serem esmagadas. "Por que ... o que ... quem é você?"

Ele faz uma pausa, mas não se vira, dando-lhe a sensação de que poderia matá-la no fim das contas. Mas então…

"Eu me chamo Indra", responde em voz baixa, sua voz quase inaudível sobre o ruído de ondas distantes.

Um raio de luz azul o envolve e, subitamente, ele se vai.

"Indra."

Sasuke repete o nome lentamente, verbalizando as sílabas como se a palavra fosse completamente estranha para ele. Há uma calma enganosa em sua voz, como se estivesse colocando cada fragmento de sua considerável concentração em não reagir à história de Sakura.

"É ... não é exatamente um nome comum, não é?", Sakura murmura timidamente, agarrando-se àquele pequeno fragmento de esperança que se enraizou desde que acordou em um suor aterrorizado.

"Não."

Eles se olham em profundo silêncio. Nenhum dos dois sabe bem o que fazer com esse novo desenvolvimento.

"Você ..." começa, então faz uma pausa, pois a pergunta é totalmente ridícula e não há nenhuma maneira possível de... E ainda assim: "Você tem alguma lembrança sobre isso?"

Ela não sabe exatamente o que Sasuke viu ou experimentou quando interagiu com o Sábio dos Seis Caminhos, se a transferência de seu chakra também significou uma transferência de memórias. Não era um momento que debatessem com muita frequência.

"Não. O que quer que eu tenha conhecido naquele dia desapareceu rapidamente da minha memória", Sasuke diz em voz baixa.

"Oh" suspira, envolvendo os braços em volta de si mesma. "Então, por que estou sonhando com isso? Se alguém deveria estar sonhando com você – seu eu do passado – esse alguém deveria ser você. Ou até mesmo Naruto. A menos que -" hesita, lançando um olhar questionador para o marido. "Talvez seja a minha vida passada?"

"Então, por que você está passando por isso apenas agora, depois de tudo que vimos?", ele contrapõe, a calma de antes dando lugar a algo mordaz.

"Eu não sei", admite. "Sinto que isso é algo que o Sábio dos Seis Caminhos deveria ter mencionado quando todos nos conhecemos. Mas o que mais poderia ser? É como se eu fosse ela , Sasuke.

Os olhos de Sasuke se estreitam em contemplação, a mandíbula cerrada e Sakura jura que pode ouvi-lo ranger os dentes. Estende o braço - é instintivo querer consolá-lo, mesmo que ela fosse a pessoa confusa no momento - e coloca a mão suavemente em seu ombro. A outra automaticamente cobre o estômago ainda liso.

Os olhos de Sasuke seguem o movimento e depois voltam para o rosto dela.

"Os sonhos não começaram até que você descobriu que estava grávida", diz em voz baixa.

"É possível", concorda.

"Essa é a conexão", reflete, quase para si mesmo, olhando para o horizonte como se estivesse vendo algo que ela não podia. "Ele é o ancestral dos Uchiha ... você está carregando a próxima geração ... tem que ter algo a ver com isso."

"Você realmente acha isso?" Sakura pergunta. A ideia é inquietante.

"Você tem alguma outra explicação?", Ele responde, quase severo. A calma de mais cedo começou a corroer-se.

"Bem, não, mas não podemos simplesmente tirar conclusões precipitadas", argumentou. "Talvez seja só… talvez todas as mulheres do seu clã tenham sonhos assim. Ou… ou talvez apenas mulheres que estão prestes a dar à luz a alguém da linhagem de Indra. Ou..."

"Ou talvez isso esteja acontecendo porque eu sou a reencarnação de Indra", interrompe Sasuke, passando a mão pelo rosto em agitação. Seu olho direito pisca brevemente entre vermelho e preto. "Claro, nunca saberemos com certeza e não há ninguém para perguntar porque -"

"Sasuke, pare", o interrompe, segurando sua mão. Ela aperta, tentando transmitir alguma sensação de calma, apesar do fato de que seu pânico óbvio a assusta. Nunca o viu perder a compostura assim, e seu instinto imediato é acabar com isso. "Não é algo que valha a pena ser analisado. São apenas sonhos. Sonhos que podem nem ser reais, e provavelmente são apenas a minha mente juntando um monte de informações. Você sabe, fatos estranhos quem conheço sobre nós dois e talvez um pouco do enredo daquele romance horrível que eu estava lendo. Se isso ajudar, vou parar de ler."

"Sakura -"

"Não vamos nos preocupar muito com comentários indesejados de pessoas mortas, ok?", faz uma careta logo em seguida. "E essa é uma frase que eu nunca pensei que diria."

O olhar que Sasuke lhe dá é uma perfeita mistura de assombro e incredulidade.

"Você está lidando com isso notavelmente bem", diz, soando quase acusador.

Sakura joga o cabelo para o lado. "Eu te disse, não disse? O dia em que conhecemos o Sábio dos Seis Caminhos? Nada mais me surpreenderá novamente depois daquilo."

"Se depender de mim, não vai mesmo", ele friamente. "- Tem certeza de que não conhece nenhum medicamento para dormir que você possa usar? Apenas para parar com esses sonhos até sabermos mais sobre eles.

"Nada que não prejudicaria o bebê", confidencia. "Relaxe, querido. Tenho certeza de que tudo isso é apenas uma grande coincidência. Estamos lendo muito sobre esse tema."

"Eu terei que cuidar de você melhor. Até que haja uma maneira de protegê-la disso, preciso saber tudo o que você vê ".

Sakura bufa com isso. "Certo, e o que exatamente você vai fazer, abrir meus olhos quando achar que estou tendo um pesadelo e usar o ... Sharingan ... para ... Ehhh!" Ela vê a mudança sutil em sua expressão. "Você é realmente pen- não! Não, não, não ! Você não vai fazer isso!"

"Eu não ia. Eu estava apenas ... considerando a possibilidade."

"Bem, então considere a possibilidade de eu quebrar o seu nariz!"

"… Usar o Sharingan dessa maneira não seria possível de qualquer maneira."

"Possível ou impossível, isso nunca vai acontecer! Você me prometa isso agora, ou eu vou te socar tão forte que perder um braço vai parecer uma picada de abelha! "

A pele de Sasuke fica um pouco mais pálida e ele concorda.

つづく


眠り - Dormir

夢 - Um Sonho

つづく- Algo como 'continua' ou 'seguinte'

Caso estejam se perguntando o que esses kanjis significavam, aí está. A KuriQuinn usa esses termos para separar o sonho da realidade, como devem ter percebido. Se bem me lembro ela usa outros ao longo da história, mas pode deixar que eu coloco o significado de todos para vocês.

Considerem esse capítulo um presente de natal hahaha. Gente, essa é uma das melhores fanfics que eu já li e, definitivamente, a melhor IndraSaku de todaaas! Foi por isso que eu fiquei tão ansiosa para traduzir, mesmo ela sendo trabalhosa (são apenas 8 capítulos, mas cada um deles tem 8 mil palavras aproximadamente. Foram literalmente 25 páginas no word de cada um deles com a letra no tamanho 11)

Bem, sobre as outras fics: eu vou ver se posto amanhã o último capítulo da NejiSaku Hidden Green Behind Silver. A partir de então, vou traduzir apenas essa e a "Consequences of Saving a Life" até terminá-las, mas já estou com outras duas fics na lista de tradução.

Bem, se vocês gostaram dessa história e quiserem ser avisados quando novos capítulos saírem, sigam ou favoritem-na. Podem fazer o mesmo com o meu perfil se quiserem saber quando eu postar novas histórias. Ahh, e comentários são sempre bem-vindos .