O Sumo Sacerdote
Sinopse: "Sasuke, você não tem escolha. A sua vida depende de mim, então faça o favor de ser gentil."
Sobre uma Sakura sem paciência e um Sasuke internado, teimoso e ranzinza. [SasuSaku] [two shot]
Capítulo 1 - Agulha
Ela caminhava a passos largos no corredor branco do hospital. Através das pequenas janelas nas portas dos quartos, podia ver os pacientes adormecidos em suas camas.
Chegou ao quarto 247 e hesitou antes de bater levemente com os nós dos dedos.
Ela havia recebido a notícia de que Sasuke estava hospitalizado naquela mesma manhã. Primeiro, ficara irritada com o burburinho e risadinhas das enfermeiras, até descobrir que comentavam sobre um "paciente muito lindo e mau humorado" e a descrição lhe soou estranhamente familiar.
Estava pronta para puxar a ficha do dito cujo com sua assistente quando foi chamada com urgência por um dos enfermeiros; o paciente em questão havia agressivamente exigido ser atendido pela diretora do hospital, Haruno Sakura.
Qual não foi sua surpresa ao descobrir que sua intuição estava correta.
Sasuke havia sido despachado pelo Hokage Kakashi para o time de patrulha da fronteira Norte por três anos, e desde então não havia sido autorizado a pisar em Konoha. Era uma punição branda por seus crimes como Nukenin, e ele ainda estava cumprindo pena. Sua repentina presença na Vila era uma incógnita.
Portanto, já havia algum tempo desde a última vez que havia visto o homem. Ainda assim, sentiu o coração palpitar ao saber da exigência, lembrando-se do temperamento autoritário e seco do Uchiha.
Sem esperar resposta de dentro do quarto, ela empurrou a maçaneta e entrou. A luz clara da manhã banhava o quarto branco, e o ar estava fresco. Era um dia agradável.
Ela parou em frente à cama, observando o moreno. Sasuke a fitou de volta. Ela não sabia ler suas expressões, ele permanecia um completo mistério para ela.
Não preciso muito para constatar: ele estava um caco. A Haruno já o havia visto em estados deploráveis, mas agora ele realmente havia ido além. Estava absurdamente abatido, pálido e o entorno dos olhos estava avermelhado e fundo. As veias do braço saltavam, roxas e a pele tinha um aspecto macilento.
Impressionava pensar que mesmo nesse estado sua beleza ainda tinha tal impacto sobre as enfermeiras que o atenderam.
"Oi, Sasuke." Ela o cumprimentou, hesitante e tímida. Não sabia muito o que dizer, ainda mais após tanto tempo. Queria ser simpática, apesar de saber da relutância do Uchiha em ser agradável com as pessoas em geral.
"Sakura." Um breve aceno de cabeça foi a resposta.
A voz saiu baixa, quase como um arranhão na garganta. Ele tinha os lábios secos e retraídos.
Do quanto ela tivera oportunidade de conhecê-lo nesses anos em que foram companheiros de time, sabia que ele odiava ficar preso a um lugar, ainda mais sob observação. Podia supor que, além do estado debilitado de saúde, estava extremamente ranzinza por estar hospitalizado.
Ela limpou a garganta, tentando quebrar o silêncio entre eles.
"Então... o que houve?" Ela tentou agir o mais normalmente possível. Queria ser profissional. "Parece que você não quis dar muita informação para minhas colegas enfermeiras."
"Hn."
Ele engolia em seco e tinha o olhar perdido, ocasionalmente o contrair de uma pontada de dor mudava seu semblante.
"Sua ficha está em branco. Sua última passagem por aqui foi há anos." Ela folheava os papéis antigos. "Vou te examinar enquanto você me conta o que houve, certo?"
Nenhuma resposta.
Ela se levantou, pegando o estetoscópio e se aproximando do Uchiha. Ele estava tenso. Ela encostou o aparelho, ouvindo seus batimentos, depois analisou suas pupilas com a lanterna, olhando tudo rápida e atentamente, enquanto ele permanecia impassível.
Quando fez menção de levantar a roupa hospitalar do moreno, ele segurou com força seu pulso, com a expressão dura, as veias da garganta saltando. Ela olhou para ele, estupefata.
"O que?!" Ela falou, incrédula. Ele aliviou a pressão e soltou seu braço, soltando junto a respiração que segurava. Parecia mais mau humorado ainda. "Sasuke, o que é isso? Eu estou tentando fazer o meu trabalho!"
Ele respirava fundo pelo nariz, com a cabeça baixa e segurando a camisola branca com força.
"Não entendo porque você mandou me chamar se não vai me deixar examina-lo." Ela estava possessa, arregalando os olhos verdes. "Já basta ter sido rude com Naomi-san! - Você sabe que ela ficou super assustada por você ter segurado o braço dela, certo?!" Estava quase colocando o dedo na cara dele. Ela respirou antes de continuar o sermão. "Ela até chorou na copa! E agora você- agora... você..."
Ela parou de falar lentamente, olhando para ele preocupada. Ele continuava a respirar muito fundo, com o corpo contraído, agarrando fortemente a camisola e na mesma posição, mas a encarava com olhos suplicantes e desesperados.
"Sakura..." ele soltou um suspiro de dor por entre o ranger de dentes. Não havia cor em seu rosto. "Eu vou morrer. "
—
Ela passou as mãos delicadas pelos cabelos rosa bagunçados. Seu corpo estava parado em frente à mesa do café, mas pela sua mente corriam milhões de pensamentos.
Ainda sentia o coração disparado do encontro com Sasuke no quarto de hospital. O moreno desmaiara de dor e ela fez um procedimento emergencial para reaviva-lo, restabelecendo seus batimentos cardíacos e regulando a atividade dos órgãos e a respiração. Não havia conseguido examina-lo até o momento, pois ele estava em estado crítico e exigia repouso.
Ela tomou um gole da bebida amarga, com os olhos perdidos no infinito da parede branca à sua frente. Iria voltar assim que possível e examina-lo. Sabia que ele estava escondendo algo, por orgulho talvez, mas era um idiota se isso significava seu fim.
Ela tomou o restante em um gole só, sentindo o líquido quente passando na garganta. Voltou determinada para o quarto.
Agora o ambiente estava escuro, as janelas fechadas. Ela ouvia o bipe das máquinas monitorando os sinais vitais. Entrou silenciosa no quarto, vendo-o dormir, parecendo realmente exausto. Virou-se para apoiar a ficha no balcão, e ao voltar-se, ele estava com os olhos abertos, vermelhos como sangue.
A visão do sharingan sempre lhe dava arrepios.
"Não precisa ativar esse negócio." Ela disse, mau humorada. "Não sou sua inimiga, apesar de você parecer achar."
Ele soltou um suspiro cansado e voltou os olhos ao normal. O Uchiha estava claramente num estado de alerta e stress crítico, provavelmente um pós-trauma.
"Além disso, se insistir em fazer isso, vai esgotar o pouco chakra que te resta, então seja prudente."
Ela se aproximou da cama, sentando pacientemente na cadeira ao lado. "Sasuke, não vou encostar em você - por enquanto. Então por favor, pode me dizer o que houve?"
Ele olhou pra ela por sob as pálpebras inchadas. "Eu fui atacado. " Piscou algumas vezes, e nada mais. A Haruno se perguntou se talvez ele achava que ela pudesse diagnosticar as pessoas através de um simples olhar - seria ótimo saber que ele a tinha em tão alta estima - mas não era bem assim que as coisas funcionavam.
"Atacado? Como? Você não parece ter nenhum machucado superficial."
"Não... eu não..." ele parecia fazer um grande esforço para pensar. Esfregou o rosto com as mãos, como se tentasse acordar. "Não me lembro ao certo. Eu fui... capturado em missão."
Ela se conteve para não deixar transparecer sua surpresa. Mas nunca imaginaria o Uchiha capturado.
"Eram muitos ninjas de Iwa... num ataque surpresa... ngh..." ele soltou um resmungo de dor, segurando a lateral do abdômen. "Estávamos em poucos, Jūugo saiu do controle..." ele parou para respirar.
Sakura sabia da situação decadente da equipe da patrulha norte. Basicamente se tratava do reformatório de Konoha, e o time Hebi havia sido enviado para a fronteira como punição, salvo Suigetsu que havia sido mandado de volta ao país de origem por ordem do Kage.
Nesse cenário, não parecia difícil estar em desvantagem, e Iwa tinha grande poderio militar, além de vantagem territorial. A fronteira norte era uma eterna linha de fogo.
"Eles tinham vindo atrás de mim especificamente. Tentamos segurar, mas não éramos o suficiente" lembrar da derrota o deixava enfezado. Ele respirava fundo pelo nariz entre as frases, sempre apertando o próprio corpo, talvez tentando conter a dor. "Perdemos. Eu fui nocauteado e aprisionado."
Ela não conseguia conter a surpresa tão evidentemente estampada em seu rosto.
Ele continuou, claramente à contragosto. "Fiquei em cativeiro, fui torturado. Fugi sozinho eventualmente." Sakura sabia o significado de "fugir sozinho": um passo em falso perto do Uchiha e ele havia rendido alguém, e depois matado todos os ninjas do esconderijo sem ser detectado.
"Certo..." ela disse, hesitante. "Se você fugiu, por que está aqui agora? Eu suponho que você não estava num estado crítico na época, o que me leva a acreditar que você piorou desde então, depois da fuga."
Ele nunca teria conseguido fugir se estivesse no estado em que se encontrava. Viu um meio sorriso aparecer no rosto dele por entre o semblante franzido de desconforto.
"Perspicaz." Ela corou diante do elogio. "Eu fui examinado por Karin quando voltei."
Ah claro. Karin. Sua pessoa favorita no mundo, porém ao contrário. Ela ainda se sentia enciumada ao ouvir o nome da kunoichi, mas tentava se acostumar com o fato de que ela e Sasuke não compartilhavam mais nenhum laço - a distância esfriara o relacionamento já conturbado e sofrido. Se ele quisesse ficar com a ruiva, era problema dele - ou assim ela gostaria de poder pensar.
"Mas ela não percebeu nada de errado." Sakura se sentiu vitoriosa diante da evidente falha da inimiga. Pelo pesar de seu tom de voz, ele parecia indisposto com a kunoichi diante do diagnóstico errôneo. "Sakura, alguns meses depois..."
Meses? Há quanto tempo isso havia acontecido?
"Eu estava assim." E puxou a camisola para cima, revelando o abdômen branco com uma gigantesca marca arroxeada que ia desde a virilha até abaixo do peito, marcando todo o lado direito do corpo, com manchas avermelhadas.
Sakura soltou um ganido de surpresa, levantando-se da cadeira. "Sasuke!" Ele continuava impassível, ainda respirando profundamente pelas narinas, fitando a médica e sua reação escandalosa. "Isso... isso está horrível. É uma infecção gigante! Há quanto tempo você está assim? Tem noção do perigo que corre?!"
"Começou há três meses. No começo era só um ponto." Ele disse, sério. Ela estava em choque. Sabia que homens eram negligentes com a própria saúde, ainda mais os que eram vaidosos e arrogantes como Sasuke. Mas três meses, com uma infecção quase generalizada? Era um recorde.
"Sasuke, eu preciso examina-lo agora. " Ela disse, claramente nervosa. Já que ele havia deliberadamente mostrado sua ferida após a relutância inicial, era hora de finalmente descobrir o que estava acontecendo.
Ele suspirou.
"Faça o que tiver que fazer."
E deitou a cabeça no travesseiro, fitando o teto imaculadamente branco antes de fechar os olhos e deixar os analgésicos, os calmantes e Sakura finalmente fazerem seu trabalho.
—
Ela pensou, mordiscando a ponta da caneta vermelha que usava para preencher seu relatório. A luz amarela sobre sua cabeça oscilava levemente, lançando sombras vivas na parede de sua sala particular no hospital.
Sobre a escrivaninha, a plaquinha escrita Haruno Sakura - Diretora Geral do Hospital de Konoha estava perdida em meio à pilhas de papéis e livros.
Sakura tinha uma missão: precisava diagnosticar Sasuke o mais rápido possível. Apesar de sua vasta experiência e conhecimento, ao examinar o Uchiha se viu encontrando falhas em todas as respostas que conseguia.
Se por um lado era capaz de diagnosticar a septicemia, não conseguia justificar as marcas avermelhadas do epitélio ou a hemostasia. Às vezes parecia se tratar de uma infecção gerada por uma incisão profunda, às vezes o resultado de um vírus. Sakura simplesmente não conseguia encontrar a fonte.
O mais preocupante agora era conter a inflamação dos tecidos para poder examina-lo propriamente.
Ela organizou a pilha de coisas na sua escrivaninha e olhou o relógio: duas e vinte da manhã.
Saiu no corredor. Todas as luzes estavam acesas, como sempre, já que o hospital funcionava ininterruptamente; mas as horas da madrugada traziam uma calmaria rara e bem recebida por Sakura. Ocasionalmente ouvia um gemido baixo ou o choro de algum paciente: hospitais não eram os lugares mais animadores do mundo, mas ela havia aprendido a aceitar as dores e as delícias de sua profissão.
Ela entrou no quarto sem bater, sabia que ele estaria acordado. Sasuke era um animal noturno, e mesmo quando dormia, poucas horas eram o suficiente para regular seu sono.
"Sakura." Ele disse, inexpressivo. Era estranho vê-lo ali sentado e quieto, com todos aqueles aparelhos e dutos entrando em suas veias. Sakura apostava que em dois ou três dias, a tortura de ficar preso ao quarto de hospital seria demais para o Uchiha e fugiria pela janela.
"Sasuke. Vamos dar um jeito na sua inflamação, certo?" Ele já não estava mais com dores, havia finalmente aceitado o analgésico intravenoso. "Você está inchado e os líquidos inflamatórios não me permitem fazer um diagnóstico preciso."
Ela se aproximou, e olhou para ele pedindo permissão para levantar a camisola, ao que ele cedeu. A mancha se espalhava, agora não mais tão lentamente, e já pegava parte do músculo peitoral e a lateral do dorso.
Soltou um suspiro. Ela se virou e remexeu nas gavetas de medicamentos ao lado. Ele apenas observava seus movimentos, atento, porém sem demonstrar nenhuma emoção.
Ela vasculhou um pouco e encontrou o que queria. A agulha de ponta comprida e fina brilhou sob a luz branca da lâmpada. Ela se virou e jurou ter visto um leve arregalar de olhos do Uchiha.
"Sasuke, vou aplicar uma dose de corticoide injetável. O efeito é muito mais rápido, o que é desejável já que não estamos com tempo sobrando." Ela encheu a seringa de líquido e deu dois petelecos, fazendo o conteúdo descer. "Agora, se você puder se virar..."
Silêncio.
"Sasuke? Eu preciso que você se vire de lado - lentamente por favor, para não causar dor. Vou aplicar nas suas nádegas, já que o tecido é mais... resistente." Ela sorriu com gentileza.
Viu o rubor cobrir-lhe a face branca e esperou.
"Isso é engraçado para você?" Ele disse secamente.
"N-não... eu realmente preciso aplicar esse remédio, Sasuke. Jamais faria nada para te zombar..." ela tratou de se justificar "...ainda mais nessa situação."
Ela esperou alguns segundos pela resposta. "Não seja ridícula. Não vou me virar." Ele desviou o olhar do dela. "Pode usar o meu braço." Ele disse, e estendeu seu braço único para ela.
"Sasuke, não posso aplicar essa dose, ainda mais no seu único braço. É nocivo e pode deixar sequelas." Ela explicou pacientemente. "Eu sei o que estou fazendo, então por favor..."
"Sakura. Não. Desista antes que eu perca a paciência." E olhou para ela com aqueles olhos fulminantes. "Não sei porque você tem que ser tão irritante."
Irritante. Esse adjetivo mexia com seu psicológico, ainda mais quando dito por ele.
Ora. Ele estava desafiando a autoridade dela como médica e profissional competente. Era uma afronta. E ele era um imbecil que queria morrer ou ficar sem nenhum dos braços.
Ela respirou fundo.
Ela gentilmente se aproximou da maca e se abaixou perto dele, como se estivesse falando com uma criança birrenta.
"Sasuke, você não tem escolha. A sua vida depende de mim, então faça o favor de ser gentil." Ficou extremamente séria e falou. "Vire-se agora, ou vou te dopar e chamar Naruto para assistir enquanto eu dou uma injeção na sua bunda."
"Tch." Ele bufou e virou-se de lado a contragosto. O mais puro amargor no seu semblante aristocrático enquanto ela puxava a camisola para cima, revelando seu glúteo musculoso.
"Bom garoto."
—
A água quente entrou no seu couro cabeludo e escorreu pelas costas, proporcionando a sensação de relaxamento que ela buscava. Ficou parada embaixo do chuveiro, sentindo a ducha bater nos seus ombros tensos.
Apesar da injeção ter melhorado o estado geral da inflamação, Sakura ainda não tinha um diagnóstico. Estava amenizando os sintomas, mas falhando em encontrar a causa.
Ela achou que era mais do que eu hora de voltar para casa ao assinar o nome de Sasuke no prontuário ao invés do seu, sinal evidente do seu cansaço. Fazer turnos de mais de 24h já era cansativo, mas o stress de lidar com Sasuke especificamente, a deixava física e emocionalmente esgotada.
Após o banho quente iria dormir, e amanhã estaria renovada para descobrir a moléstia de Sasuke.
Ela penteava os cabelos úmidos enrolada numa toalha branca e felpuda quando ouviu um toque na janela. Saiu do banheiro e deu um salto ao ver um Jounin parado no peitoril.
Ao abrir a janela, o homem educadamente se inclinou para dentro, sem entrar, e disse com certa urgência: "Senhorita Haruno, demandam sua presença imediatamente no hospital. O Uchiha está em estado crítico."
Notas finais:
E AE GENTEEE
Eu adoro ver o Sasuke levando pito.
É isto. Até breve.
