Controle remoto
Tudo é tão distante. Até nos atingir.
Rua vazia. Lua apagada. Sapatos gastos produzindo ruídos indesejáveis contra o chão. Sola gasta, céu frio, avenida perdida e pessoa conturbada.
Cabelos loiros sujos caindo sobre a face feminina e líquidos transparentes transbordando de seus olhos castanhos.
Castanhos. Vazios.
Até a lua parecia mais iluminada.
Mão gélida na soleira da porta. Uma mão só. Sangue seco nas roupas esfarrapadas. Riso. Riso sem graça. Riso feio.
A porta estava destruída pela metade.
Onde fora seu lar?
Fios de cabelo entre suas pernas. Fios por todo seu corpo.
Fios de cor diferente.
Fios rosa.
Fios de uma cabeça vazia.
Uma cabeça decepada.
Tremedeira em sua pele. Mágoa em seu coração. Ódio em sua mente. Desespero em seu interior.
Fora isso, tudo estava morto.
Morto como ele.
Como todos.
Como eles.
Como ela, numa certa hora que viria.
Controle, controle, controle, controle, perdido. Distante. Seu porto seguro. Os braços ao seu redor. Os risos em seus lábios. Os gritos de perdão. Os rugidos de vitória.
Tão distante.
Tão, tão distante.
Tudo é efêmero. Agora não.
