É tudo da JK, eu só aceitei um desafio.
Resumo: O corpo docente de Hogwarts está desconfiando da natureza do relacionamento de Dumbledore e McGonagall. Afinal, o que há entre o diretor e a professora de Transfiguração?
Especulações
Quinta-feira.
É o primeiro dia das férias de verão e a escola está quase vazia. Todos os alunos já voltaram para suas casas e alguns professores já fizeram o mesmo, incluindo Aurora Sinistra e Septima Vector, que viajaram para a casa de suas respectivas famílias ainda naquele dia mesmo, assim como Charity Burbage, que passará as três semanas seguintes vivendo como trouxa num estudo aprofundado da convivência na comunidade não-mágica. Porém o que resta do corpo docente está na sala dos professores terminando seus relatórios de conclusão do ano letivo, adiantando planos de aulas ou elaborando o orçamento dos materiais a serem empregados no ano seguinte.
Hogwarts podia ser bem irritante quando estava pululando de alunos, mas quando estava semi-desabitada como agora era de uma quietude opressora, e até mesmo um pouquinho assustadora com seus muitos vãos escuros, rangidos e fantasmas atravessando as paredes [e pessoas] sem aviso prévio. Sendo assim, ainda era preferível trabalhar na companhia uns dos outros do que se isolar num canto qualquer, mesmo que isso significasse ter de se sentar ao lado daquele colega não tão agradável... O calor é irritante e eles estão entediados, o que cria uma camada invisível se silêncio aborrecido pela sala, cortada aqui e ali por suspiros de frustração.
A única pessoa aparentemente ociosa é Madame Pomfrey, com a mão no queixo e o cotovelo apoiado na mesa, observando preguiçosamente a paisagem lá fora através da janela. Nas férias era inútil ficar na enfermaria, uma vez não havia nenhum paciente. Então ela provavelmente teria bastante tempo livre.
O tempo está lentamente se fechando lá fora, formando nuvens cinza-escuro cada vez maiores no horizonte. Se não chover talvez ela até dê um passeio nos jardins mais tarde, assim como Dumbledore e McGonagall, que agora caminhavam de braços dados em volta do lago. Fato que por si só não é nada incomum: os dois estavam sempre andando por aí juntos, conversando sobre a escola, fazendo piadas sobre transfiguração que ninguém mais entendia, jogando xadrez um na sala do outro. Na verdade, não seria de se surpreender se qualquer hora dessas eles...
– Formam um bonito casal, vocês não acham? – comenta Pomona Sprout, que acabara de terminar seu gráfico comparativo das notas dos setimanistas desse ano com os do ano anterior, interrompendo a linha de raciocínio da colega.
– Quem? – indaga a enfermeira, acordando distraída de suas divagações. Só então ela nota que já não é a única observando a vista da janela.
– Albus e Minerva, é claro. Sempre me perguntei porque eles nunca ficaram juntos, mesmo se dando tão bem.
– Realmente seriam perfeitos um pro outro! – Poppy concorda, repentinamente muito animada com a conversa. Era o tipo de coisa que todo mundo já tinha pensado, mas ninguém se dera ao trabalho de pronunciar em voz alta. – Tenho certeza de que se gostam... Por que será que eles ainda não engrenaram um namoro?
– Mas isso é fácil de descobrir – comenta a professora Trelawney, que estava sentada de frente pra elas, emergindo dramaticamente por trás de um enorme, velho e muito gasto livro de quiromancia.
– Como, Sibyll? – pergunta a professora de Herbologia, mais por educação do que por curiosidade em si.
E essa era a chance que Trelawney aguardava para sacar seu baralho de tarô do bolso e espalhá-lo na mesa a sua frente. Então ela fecha os olhos por um longo momento, aparentando grande esforço mental, alisando as cinco cartas escolhidas aleatoriamente, e em seguida as posicionando viradas para baixo formando uma linha horizontal.
– Ah não, de novo com essa baboseira! – exclama Madame Hooch, momentaneamente se esquecendo do pedido de novas vassouras que estava redigindo para a direção da escola.
Mas Sibyll apenas lhe lança um olhar de desprezo em resposta e se inclina ainda mais sobre a mesa. Então as desvira uma por uma, fazendo questão de soltar uma exclamação de surpresa cada vez mais exagerada a cada carta. A primeira era um velho barbudo coberto por uma longa capa com um capuz ocultando parte do rosto e tendo um cajado na mão; a segunda, um casal despido e de mãos dadas trocando um olhar lascivo; a terceira, um esqueleto segurando uma foice em meio ao que parecia ser um cemitério abandonado; a quarta, uma horrível criatura vermelha, metade-homem-metade-bode, com chifres e cauda; e a última, uma mulher envolta por um manto, com uma coroa sobre a cabeça e segurando um imenso livro. A professora de Adivinhação ainda balançou a cabeça negativamente por um momento e murmurou algo para si mesma, apenas para aumentar o suspense, antes de explicar o que o jogo estava lhe revelando.
– Nós temos o Eremita, personificando Albus em sua inteligência e sabedoria, mas também faz referência a uma revelação importante. Então vem os Enamorados, que obviamente representam uma escolha amorosa. A Morte, hum, que simboliza mudanças inevitáveis. O Diabo, isso também não é bom... nessa posição invertida manifesta desordem, cegueira e fraqueza. E por fim a Sacerdotisa, que é essa figura maternal e muito culta, ou seja, Minerva.
– E o que isso tudo quer dizer? – Pomona incentiva, e dessa vez está definitivamente interessadíssima. Não importa o quanto absurdo seja, um bom jogo de tarô tem sempre seus atrativos. Principalmente para o público feminino.
Até mesmo o professor Flitwick, do alto de suas quatro almofadas sobre a cadeira, abandona seu relatório para acompanhar a conversa muito animada das colegas de trabalho.
– Que alguém vai morrer, eu suponho – zomba Rolanda, pingando sarcasmo.
Novamente Trelawney ignora as piadinhas e, expressando o máximo de dignidade e muito ereta em sua cadeira, atende sua platéia recém-adquirida, muito satisfeita com a atenção que estava recebendo.
– Albus está apaixonado por Minerva, mas esse sentimento não é recíproco. Temo que ele venha a se decepcionar caso se declare – faz uma curta pausa e suspira com desaprovação. – E isso certamente acarretará no fim do relacionamento deles.
– Pobrezinho... – Madame Pomfrey fala em tom piedoso.
– Poppy! – repreende a instrutora de vôo. – Você não está mesmo acreditando nessa bobagem toda, não é?
– E qual é a sua opinião, Rolanda? – rebate a professora de Adivinhação com desdém.
O único que ainda está realmente trabalhando (ou ao menos tentando) é Severus Snape, que faz questão de ignorar a discussão agitada a sua volta sobre a vida amorosa do diretor e da vice-diretora. Sua pena arranha com cada vez mais força o pergaminho e sua carranca está ainda pior que de costume.
– Não é óbvio? – Hooch espina o nariz num gesto arrogante antes de dar seu veredicto. – O Dumbledore é gay!
Os outros se entreolham, constrangidos. Ao contrário do que ela esperava, aparentemente ninguém compartilha sua opinião.
– Olhem só as roupas dele! – ela insiste ainda com mais ênfase. – Pensem bem, alguém aqui já o viu com uma mulher?
– Bom, talvez ele e Minerva já estejam juntos – opina Filius pela primeira vez e agora todos os rostos surpresos se viram pra ele.
Pomfrey e Sprout assentem e trocam sorrisinhos enquanto Trelawney embaralha as cartas novamente e volta a jogá-las, só que dessa vez em silêncio, como se esperasse do tarô uma confirmação do que acabara de ouvir.
– E por que não contariam pra ninguém se fosse assim? – rebate Rooch, incomodada. Não que a idéia em si fosse desagradável, pelo contrário, mas ficaria chateada se isso tivesse mesmo acontecido sem que ela soubesse. Era uma fofoca boa demais para se perder assim, sem motivo.
– Eu não sei – responde o baixinho, encolhendo os ombros. Acabara de perder grande parte da fé em sua própria teoria, que até então lhe parecia perfeitamente verossímil. – Minerva é sempre tão fechada. Não imagino ela comentando esse tipo de coisa.
– Pra mim não! – afirma Sprout.
– Nunquinha – concorda Poppy.
– E o que você acha, Severus? – o professor de Feitiços pergunta ao colega.
– Acho que vocês deveriam cuidar das próprias vidas – Snape responde secamente e volta novamente sua atenção para seu inventário dos ingredientes de poções, como se nunca tivesse sido chamado.
– Tá vendo? Ele deve estar defendendo o segredo do Dumbledore. Eu disse que o cara era gay!
– Rolanda, por favor! – falam Filius, Poppy e Pomona ao mesmo tempo.
A instrutora de vôo por sua vez dá um muxoxo e olha em volta procurando por apoio, mas só consegue ver Trelawney encarando fixamente a Roda da Fortuna que acabara de sacar de seu baralho e o professor de Poções, muito carrancudo, mais uma vez mergulhado em seus pergaminhos.
E a conversa morre por alguns instantes enquanto os outros quatro se perdem em pensamentos relacionados ao quem-sabe-casal de amigos. Mas madame Hooch a ressuscita em seguida, com sua nova [e mais aceitável] idéia:
– Aposto um galeão!
Os outros se entreolham novamente, dessa vez muito animados e sorridentes como se fossem os colegiais que costumam ensinar. E Snape bufa alto e começa a recolher suas coisas, desistindo enfim de trabalhar ali e se dispondo a terminar seus afazeres nas masmorras.
– Pois eu aceito a aposta – a vozinha de Flitwick responde prontamente.
– Também estamos dentro! – Pomona anuncia em conjunto com Madame Pomfrey.
– E você Sibyll, topa ou não topa? – pergunta Filius pressuroso. O pequeno professor já tinha em mente a idéia de mandar uma coruja para o resto do corpo docente pra perguntar se mais alguém ia querer participar da aposta.
Seria prudente perguntar a Hagrid? Ele nunca foi muito bom com segredos...
– Oh, mas não seria justo usar de minha visão mediúnica em nome do vil metal – se esquiva Trelawney, tentando parecer o máximo afetada possível por trás de seus imensos óculos. E quase todos ali muito educadamente fingem que acreditam.
– Ok, então você está fora – fala Rolanda, as duas mãos apoiadas atrás da cabeça, inclinando a cadeira pra trás e cruzando os pés por sobre a mesa. - Não esperava mesmo que você colocasse meio nuque furado nesse seu palpite.
– Certo, então nós ficamos aqui o verão todo pra ver quem ganha a aposta – Flitwick interrompe, com intuito de impedir uma briga e continuar o assunto mais interessante. – Creio que não será muito difícil descobrir.
E Snape sai batendo a porta ao mesmo tempo em que Sibyll desvira uma Torre com um gritinho de falso terror.
n/a: Esse é o primeiro desafio que aceito e estou animada. Com minha outra fic em andamento e minha demais atividades (pode não parecer, mas eu sou uma pessoa muito ocupada, tá?), vou fazer o possível pra postar logo. Mas não prometo nada.
E Uhura, obrigada por me instigar essa idéia.
Bjões e espero ansiosa por reviews!
