Título: Coisas que perdemos pelo caminho

Resumo: Eles se conhecem em uma situação pouco convencional. Ela se interessa por ele. Ele pensa que não a merece. # As vidas de um policial e de uma estudante se cruzam numa história de amor permeada por obstáculos, perdas, aprendizado e perdão.

Capítulo 1

"Toma cuidado Bella", minha amiga Rose diz quando me dirijo à porta do apartamento que dividimos. "Você sabe que por aqui está muito violento", ela se refere à região onde moramos em Seattle. E é verdade, há uma onda de assaltos, crimes sexuais e assassinatos que cresce ultimamente. Isso está, todo mundo acredita, relacionado ao aumento do tráfico de drogas na região.

"Claro, Rose. Eu ficarei atenta", sorrio em resposta. Como filha de um policial aposentado, eu aprendi a me defender quando era mais nova. Meu pai, Charlie, sempre fez questão de me ensinar autodefesa. E eu ando com spray de pimenta na bolsa, também.

"Até mais tarde", eu digo e saio em direção ao metrô. É o meu meio de transporte até a universidade, onde curso o segundo semestre do meu mestrado em Literatura Inglesa.

O trajeto é tranquilo e quando estou quase entrando na sala de aula, meu celular toca. Charlie. Eu atendo e ele diz que quer apenas saber como estou. Ele me verifica frequentemente, preocupado com sua filha sozinha na cidade grande. Eu nasci e cresci em Forks, uma pequena cidade do estado de Washington, localizada a cerca de 4 horas de distância de Seattle. Mesmo aos 24 anos de idade, ainda sou sua menininha.

"Você e Rose se cuidem", ele pede antes de desligar.

Após a aula, eu saio com alguns colegas para um bar nas proximidades da universidade. Mesmo quando queremos nos distrair e esquecer a pressão dos estudos, acabamos falando sobre nossas pesquisas mais do que qualquer outro assunto.

"Nós viermos aqui pra relaxar e esquecer tudo isso, meninas", Garret diz. Ele faz doutorado na mesma área que eu e quase todos nós que estamos aqui: Ângela, Ben, Demitri, Kate, Paul, Seth, Leah e Emily.

Todos nós concordamos e tentamos conversar sobre nada de muita importância. No início da noite eu me despeço deles. Quando saio da estação de metrô, as ruas já estão bem escuras, iluminadas apenas pelas lâmpadas dos postes e estabelecimentos ao redor. Caminho rapidamente em direção ao meu apartamento.

Quando estou há três quarteirões de distância, sinto meu corpo sendo empurrado bruscamente para o lado direito. Eu sinto que vou cair, mas mãos pesadas me seguram. Tudo acontece muito rapidamente. Eu percebo que fui arrastada para um beco. Eu tento me livrar de quem me segura, tentando fazer os movimentos que aprendi para me defender, mas logo sinto outra pessoa, que também me mantem sob seu domínio. Eu consigo ver um deles agora. Ele puxa minha mochila enquanto grita, pedindo meu dinheiro e celular. Eu continuo tentando me soltar e gritar, mas o homem que está atrás me cala com sua mão. Eu estou assustada, não consigo reagir o suficiente para me libertar. Eu só quero que eles me soltem. Levem a mochila. Eu não me importo. Eu só quero essas mãos longe de mim.

Eu tento me acalmar e me concentrar. Ouço o barulho dos carros, mas parece tão longe. A cidade movimentada e ninguém vê o que está acontecendo? Os dois homens que me seguram estão conversando. Eu me esforço para entender.

"Vamos logo, cara. A polícia tá dando volta por aí", um deles fala.

"É um desperdício deixar essa gostosa aqui", o outro retruca e começa a me apalpar. Parece que meu sangue escorre pelo corpo e um medo absurdo me invade.

Oh, Deus! Não! Por favor, não!

Eu começo a chorar e tento gritar ao mesmo tempo, me remexendo para me soltar. Eles me seguram e ainda continuam tampando minha boca. Eles me empurram em direção ao muro na lateral do beco e um deles tenta desabotoar minha camisa. O pânico aumenta e eu fecho meus olhos, querendo que isso seja um pesadelo.

Por favor, não! Alguém me ajude!

Acho que minutos ou apenas segundos se passam e minhas preces são atendidas. Eu escuto sirenes de um carro de polícia e, ao mesmo tempo, os homens tentam me levar mais pra frente no beco. Eles discutem entre si e eu ouço outras vozes. Policiais!

Um dos homens me solta e sai correndo. O outro, em seguida, me joga com força contra a parede, me fazendo bater a cabeça e cair no chão.

"Vá atrás deles", eu escuto ao longe. Ouço passos ao meu lado. Pessoas correndo. Está tudo escuro. Minha cabeça dói. Dói muito.

"Ei, moça", uma voz suave diz e eu sinto o toque de alguém em meus braços. Eu me afasto instintivamente, mesmo sem enxergar nada.

"Ei. Ei. Tudo bem", a voz diz, me soltando. "Está tudo bem. Meu nome é Edward Masen e eu sou policial. Eu não vou te machucar".

Oh.

"Você está bem? Consegue abrir os olhos?", ele pergunta. "Você bateu a cabeça e eu preciso saber se você está bem", ele conclui. Em seguida, eu o escuto falar com o que imagino ser o rádio. Ele pede uma ambulância.

Eu tento abrir os olhos e tudo dói. A cabeça, meus braços, meu peito. Tudo. Aos poucos eu começo a perceber tudo ao meu redor. O beco. O muro. Um rosto. Está escuro, mas eu vejo dois lindos olhos verdes me encarando.

"Aí está você", ele diz em tom gentil. "Não precisa chorar", acrescenta. "Você está bem. Você está segura agora", ele toca meu braço com cuidado.

Eu nem percebi que estava chorando agora. Dessa vez eu não recuo ao seu toque.

Meus olhos se fecham de novo. Eu não consigo abri-los. Tão cansada. Ele permanece falando comigo, o que me faz sentir um pouco mais calma.

"Ei. Você deve ficar acordada até os paramédicos chegarem", o policial diz. "Abra seus olhos, por favor, senhorita...?"

Eu faço o que ele pede. "Be-Bella".

"Bella", ele repete. "Aguente só mais um pouco. Eles já estão chegando".

"Filhos da mãe!", outra voz grita, parecendo se aproximar e me deixando tensa.

"Porra, Emmett", o policial de olhos verdes sussurra alto. "Abaixe o tom".

"Eles conseguiram escapar", o outro resmunga. "Mas eu peguei a placa do carro no qual eles fugiram e já passei para a central".

"Bom".

"Ela está bem?", o outro homem pergunta. Eu viro meu rosto devagar, para vê-lo. É um policial também. É alto e muito, muito forte. "Eu sou Emmett, parceiro do Edward".

Eu pisco.

"Eu sinto muito pelo que você passou. Espero que eles não tenham tido tempo...", ele não precisa concluir.

"Não", o policial de olhos...Edward. Isso, Edward. Ele responde irritado ao que me parece.

A ambulância finalmente chega e os policiais se afastam para que eu possa ser atendida. Eu gostaria de agradecê-los. Logo estou em uma maca, sendo carregada até a ambulância. Respondo às perguntas dos paramédicos e quando chegamos ao hospital eles me examinam, me medicam e eu aguardo por Rose, meu contato para emergências.

Eles não me deixam voltar para casa essa noite por causa da pancada na cabeça. Fora isso, estou bem fisicamente. Só tenho alguns arranhões e marcas de mãos nos meus braços, que ficarão rochas em breve, eu aposto. Eu fico cada vez mais sonolenta por causa dos medicamentos para dor e eles finalmente me deixam dormir. Antes disso, Rose diz que um dos policiais esteve no hospital para saber do meu estado e disse que eu devo ir à delegacia assim que estiver em condições, para dar meu depoimento.

Então, eu adormeço entre sonhos com um policial de olhos verdes e homens maus me levando para longe.

-EB-

Dias depois, estou na delegacia, sentada com Rose ao meu lado. Aguardo os policiais que me socorreram no dia do ataque e o chefe deles, um tal de Aro. Eu já estou bem melhor, a cabeça quase não dói mais. Há apenas algumas contusões em meus braços principalmente, devido à força com a qual me seguraram.

Os policiais finalmente chegam e meu olhar vai logo para Edward, o policial que ficou comigo enquanto estava no chão. Ele me encara também, até que seu parceiro fala.

"Olá Isabella. Como está?", ele se aproxima e estende a mão. "Eu sou Emmett, caso você não se lembre", ele diz sorrindo. "E você é?", ele olha para Rose.

Ela se apresenta e ele só tem olhos para ela. Enquanto eles conversam, meu olhar se volta para Edward de novo. Ele continua me fitando.

"Oi", ele quebra o silêncio.

"Oi", eu respondo. "Edward".

O chefe deles chega nesse momento e eu sou levada para dar meu depoimento. Informo meu nome, idade e outros dados pessoais. Passo a próxima hora contando tudo o que me lembro e descrevo os homens que me atacaram. Eu me sinto envergonhada e irritada ao ter que relembrar e contar sobre a tentativa de abuso. Nesse momento, Edward me dá um copo d'água. Eu continuo depois de uns minutos.

Antes de ir embora, eu agradeço à Emmett e Edward por terem chegado antes que o pior acontecesse.

Emmet acena e Edward responde verbalmente. "Só estávamos fazendo nosso trabalho".

Seu tom e as palavras me pegam de surpresa. Ele foi tão gentil comigo e agora...é claro que é o trabalho dele, mas ele não precisa responder assim. Ele foi brusco ao falar, não parece em nada com o homem gentil que esteve comigo naquele dia. Eu me seguro para não chorar ou gritar com ele. Ainda estou emocionalmente abalada. Qualquer coisa mexe comigo.

"Se vocês fizessem o trabalho de vocês corretamente, ela nem teria sido atacada. Porque esses caras já deveriam estar presos há muito tempo", Rose retruca irritada com Edward. Emmett pede desculpas e diz que ela tem razão.

Eu caminho em direção à saída, querendo voltar para a segurança do meu quarto logo. Sem ter que pensar mais em nada disso. Nem naqueles homens. E nem nesse policial de comportamento contraditório.

-EB-

Uma semana depois eu começo a voltar às minhas atividades normais. Volto para a universidade e saio pelo bairro para fazer compras. O medo está sempre comigo. Eu ando olhando para todos os lados e o spray de pimenta fica em minha mão, não mais dentro da bolsa.

Quando chego em casa no fim da tarde, vejo Rose toda arrumada para sair.

"Está linda, Rose. Tem encontro com alguém?", pergunto sorrindo.

"Menina! Você não vai acreditar. Aquele policial pediu meu telefone quando estávamos na delegacia semana passada. Mas achei que não daria em nada. Mas ele me ligou hoje e vamos nos encontrar", ela revela animada.

Policial? Qual deles?

"Co-...Quem?", eu questiono.

"Emmett, é claro. Aquele deus grego".

"Oh. Emmett. Bom. Ele é legal. Eu acho", digo.

O telefone dela apita. "É ele. Vou descer. Você ficará bem sozinha?"

"Não se preocupe, Rose. Ficarei bem. Vou fazer meus trabalhos atrasados. Aproveite o encontro", a abraço e ela sai.

Antes de me dedicar aos estudos, ligo para meu pai e para minha mãe. Ambos ficaram muito preocupados com o que aconteceu. Meu pai veio de Forks para me ver pessoalmente e voltou ontem à tarde. Eu sei que ele gostaria que eu voltasse para Forks, para sua casa de preferência. Mas ele não expressou esse desejo porque sabe o quanto que quero continuar estudando e vivendo aqui.

-EB-

O próximo mês passa rapidamente e, aos poucos, eu consigo sair sem estar completamente apreensiva. Sei que a probabilidade de algo assim acontecer de novo é a mesma de qualquer outro cidadão da cidade. E, além do mais, estou tomando lições de autodefesa novamente – por insistência de Charlie e Rose. E confesso isso tem em ajudado a sentir mais segura agora. Eu era mais nova quando tive essas lições da primeira vez e deixei de lado depois de um tempo. Agora, pretendo treinar constantemente.

"Bella", a voz de Rose me tira de dentro da minha própria mente. "Era o Emmett no telefone. Nós vamos sair hoje à noite e encontrar com o irmão dele, Jasper, e sua namorada. Venha com a gente?".

Hum.

Ela e Emmett estão namorando agora. Desde o primeiro dia em que eles saíram juntos, não se desgrudam mais. Eu tive a oportunidade de encontrá-lo algumas vezes e ele realmente parece ser um cara decente.

"E então, Bella? Vamos, por favor. Eu vou conhecer o irmão dele. Quero alguém para me apoiar".

"Tudo bem, Rose", eu não posso negar quando ela pede assim.

"Além disso, eu posso dizer que um certo policial de olhos verdes estará lá", ela pisca em minha direção e volta para seu quarto.

Oh. Edward.

Ela percebeu que ele mexeu comigo. Apesar de vê-lo apenas duas vezes e em circunstâncias nada normais, eu não consigo tirá-lo da cabeça. Não que eu comente sobre ele com Rose, mas ela me conhece. Deve ter percebido.

Eu suspiro e abro meu guarda-roupa, tentando escolher algo para vestir hoje à noite. Volto para minha amiga e pergunto aonde vamos.

"Em um bar com música ao vivo. Um conhecido de Jasper toca lá. Pode vestir algo casual", ela sugere.

Eu aceno e volto ao meu quarto. Hum, o que eu devo usar? Um vestido? Não! Está fazendo frio à noite. Depois de olhar minhas roupas por um tempo, eu escolho uma calça jeans escura que, segundo Rose, valoriza minhas pernas e bumbum. Uma camisa de seda azul, com decote moderado, e uma jaqueta completam o look.

Horas mais tarde estamos prontas quando Emmett vem nos buscar.

"Bella", ele me abraça. "Você está linda. Como vão as coisas?"

"Olá, Emmett. Obrigada. Estou bem e você?"

Nós conversamos enquanto Rose vem de seu quarto. Eles se beijam brevemente, me fazendo desviar o olhar.

"Vamos?", Rose fala.

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Quando chegamos ao bar, que é bem agradável por sinal, eu estou ansiosa e apreensiva para ver Edward. Será que ele vai me ignorar? Vai ser grosso como da última vez? Ou será o meu policial gentil?

Emmett nos apresenta seu irmão e a namorada: Jasper e Alice. Eu gosto deles imediatamente. Jasper é mais quieto que seu irmão, o que também contrasta com a personalidade da namorada, que é muito falante e agitada. Alice é uma graça e logo estamos as três mulheres conversando como se fossemos amigas há anos.

Pouco depois um homem se aproxima da nossa mesa. Peter, o amigo de Jasper. Ele nos apresenta. Enquanto ele beija minha bochecha, eu avisto um borrão bronze entrar no local. Meu coração dispara e eu confirmo que é Edward. Peter esta falando comigo, mas meus olhos estão no homem ruivo, que acaba de olhar em nossa direção.

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Oi pessoal.

Finalmente, depois de alguns meses, estou de volta com uma nova fic :)

Eu pretendo postar um capítulo por semana. No decorrer da história, posso começar a postar mais vezes ;)

Espero que gostem e eu ficarei feliz em ler seus comentários a respeito desse primeiro capítulo.

***Uma observação sobre o título: é o mesmo de um filme do ano de 2007, mas o enredo é diferente. Eu escolhi esse título porque ele sempre me tocou de alguma forma e tem um certo significado pessoal pra mim, que não tem relação direto com o filme (que é, basicamente, sobre uma mulher que perde o marido e estabelece uma relação de dependência com um antigo amigo do marido). Enfim, "Coisas que perdemos pelo caminho" é uma frase que se referir a muitas coisas e eu acho que cabe perfeitamente para essa história.

Abraços e que todos tenham uma ótima semana!

T. Darcy