Promessas da Paixão pertence a Anna DePalo
CAPÍTULO UM
— Vou me casar com ele.
O homem errado.
Não, o homem certo, Lily se corrigiu, irritada por adotar por um breve momento, a perspectiva negativa de seu pai.
É verdade que não havia um sentimento profundo de certeza, de destino, mas ela disse a si mesma que parasse de ser estúpida.
Quantas vezes durante sua carreira de promotora de eventos as coisas tinham parecido fora do rumo antes de terminarem sem problema? Também vivera situações que pareciam perfeitas e terminaram em desastres totais.
Não, não havia como prever o futuro, decidiu ela, enquanto enfrentava o olhar incrédulo e aborrecido de seu pai.
Marcus Evans se levantou e bateu o punho na maciça escrivaninha de carvalho.
— Diabo, Lily! Você enlouqueceu? Amos Diggory é implacável na caça de fortuna. Você não receberá um tostão meu!
Seus lábios se fecharam com força, mas se recusou a permitir que o pai visse como tais palavras a feriam. Ela saíra do trabalho nesta segunda-feira, um de seus dias sem movimento, para encontrar o pai em sua biblioteca coberta de painéis de madeira na propriedade da família na exclusiva região de Mill Valley. Estava preparada para a batalha.
— Felizmente — respondeu — não precisamos de um tostão seu. Minha empresa, a Occasions by Design, está indo muito bem.
Sua reputação na Bay Área como promotora de eventos crescera nos últimos anos. Era chamada com regularidade por muitas anfitriãs da alta sociedade de São Francisco e por muitas organizações filantrópicas.
Seu pai correu a mão pelos cabelos grisalhos.
— Jamais entenderei o que você vê em Amos Diggory.
Tinham discutido o assunto antes, e cada vez com o mesmo resultado. De alguma forma, porém, agora que seu compromisso era uma realidade, ela esperara que fosse diferente.
Ao contrário de seu pai e outros como ele, o trabalho não era amante de Amos.
Ao contrário, ele fez dela uma prioridade.
— Amos me ama — disse simplesmente. As sobrancelhas do pai se contraíram.
— Ou sua conta bancária.
Ela cerrou os dentes. Seu pai sempre fora cauteloso, desconfiado mesmo, quando conhecia seus namorados. Supunha que fosse por ser ela herdeira e filha única. Mas, com Amos, a desconfiança inicial nunca desaparecera. É verdade que nunca havia chegado tão perto do altar com nenhum de seus namorados anteriores...
— Amos pelo menos tem um emprego? — continuou o pai. — Refresque minha memória, Lily. Ele está trabalhando em quê?
Seu pai sabia muito bem o que Amos fazia para ganhar dinheiro, mas Lily decidiu continuar o jogo dele.
— Amos é um consultor financeiro independente.
Ela acreditara, quando dera a informação pela primeira vez, meses atrás, que a profissão de Amos pelo menos teria a aprovação dó pai. Marcus Evans respeitava quem sabia ganhar dinheiro.
Mas a reação tinha sido de indiferença. E quando ela começara a insinuar que estava pensando em se casar com Amos, a reação foi totalmente negativa.
— Conversa fiada — disse o pai, repetindo o ceticismo de ocasiões anteriores. —
Um título falso para encobrir sua verdadeira atividade de caçador de herdeiras.
— A família de Amos sempre teve dinheiro!
Apesar de suas melhores intenções, estavam repetindo os argumentos de sempre, que nunca levaram a lugar algum. Sentiu uma dor de cabeça começando.
— Tinha dinheiro — rebateu o pai. — Ele finge cuidar do dinheiro de outras pessoas porque não tem nenhum.
Foi o bastante.
— Você é impossível! Só por que os Diggory não são tão ricos como foram no passado, acha que Amos é um caçador de fortunas!
Mesmo enquanto falava, arrependeu-se de recair numa forma de discussão que a fazia parecer uma adolescente quando lidava com o pai.
— Confie em mim neste assunto, Lily. Não há ninguém mais obstinado que uma pessoa que tenta manter sua posição econômica na vida para evitar um fracasso total.
Ambos haviam erguido as vozes e Lily desistiu de tentar fazer do anúncio de seu casamento uma ocasião alegre.
— Onde está a aliança? — perguntou o pai com rudeza, olhando a mão dela — Não a vejo.
— Ainda não tenho.
A expressão do pai disse tudo: Viu? De que outra prova você precisa?
— Oh, não, de jeito nenhum — disse ela, impedindo que ele desse voz a seus pensamentos. — Vamos comprar uma juntos.
— Com quê? — o pai perguntou intencionalmente. — Um empréstimo bancário?
Supunha que seu compromisso não seria realmente oficial até que tivesse uma aliança, mas se recusou a discutir a questão sob a visão de mero simbolismo do pai.
Uma batida soou, interrompendo a discussão e fazendo com que ambos se voltassem para a porta fechada da biblioteca.
— Entre — gritou o pai.
A porta se abriu e James Potter entrou.
Lily semicerrou os olhos.
James Potter. O braço direito de seu pai.
Se alguém tinha as credenciais perfeitas para ser seu marido, aos olhos do pai, era James.
Sentia profunda antipatia por ele desde que o conhecera dez anos antes, logo depois que James começara a trabalhar na Evans Real Estate Holdings.
A princípio, mal tomara conhecimento de sua existência, já que era apenas mais um recém-formado de Stanford, aprendendo os detalhes do negócio de administração de imóveis e subindo a escada corporativa.
Agora, com 35 anos, era mais patrão que empregado, especialmente depois que a avançada idade do pai exigira que este abrisse mão do controle do império familiar.
James era também uma lembrança constante de suas falhas como herdeira única do pai. Não demonstrara interesse pela empresa da família e, pelo contrário, montara seu próprio negócio assim que se formara na Califórnia University, em Berkeley.
Estava bem consciente de que seu campo de trabalho era considerado por muitos como frívolo, apenas atividade para uma debutante. E não tinha dúvidas de que James Potter partilhava dessa opinião.
Mas pelo menos ela tivera a coragem de construir o próprio negócio, em vez de usurpar o de outra pessoa.
Agora, observando o rosto de James Potter, notou que sua expressão era impassível. Era um mestre na arte de apresentar ao mundo o rosto de um jogador de pôquer. Isto é, quando não estava implicando com ela.
Com mais de l,90m de altura, tinha feições fortes, mais adequadas a um lutador de boxe do que a um modelo masculino. Mesmo assim, seu efeito sobre as mulheres era poderoso, como vira muitas vezes em numerosas ocasiões sociais ao longo dos anos.
Supunha que tinha alguma relação com seus penetrantes olhos escuros. Ou talvez com os cabelos negros ondulados cortados muito curtos. E, certamente, um corpo que demonstrava grande poder masculino mantido sob controle ajudava muito. Até ela o observara longamente em diversas ocasiões, antes de pôr em ordem sua mente descontrolada.
— Chegou na hora do show, James — disse ela.
James ergueu as sobrancelhas com pouco interesse enquanto fechava a porta.
Ela odiou o fato de seu pai parecer aliviado ao ver James ou, como secretamente gostava de chamá-lo, sr. Conserta-Tudo.
Agora James seria testemunha de mais uma batalha épica na família Evans.
Bem adequado, pensou ela, já que ele parecia ter um instinto que o levava a aparecer nos momentos-chave.
— Que show? Admito que estou curioso — disse James, sua voz mantendo o tom ameno e divertido que nunca deixava de irritá-la.
Seu pai bateu a mão na escrivaninha de novo.
— Minha filha decidiu se casar com o homem mais imprestável que conheço!
— Papai! — disse, indignada.
O olhar de James voltou-se para ela, que sentiu a tensão na sala aumentar consideravelmente.
— Quem é o sortudo?
Como se não pudesse adivinhar, pensou Lily. James se encontrara com Amos em duas ocasiões. Uma delas numa reunião social na casa dos pais e outra num encontro casual na abertura de uma galeria de arte.
Nas duas vezes, James estava desacompanhado, mas Lily não se deixara enganar. Tinha visto mulheres chegarem e saírem, principalmente saírem, uma vez que James parecia pouco inclinado a entregar sua grandeza a qualquer mulher por muito tempo.
Ergueu o queixo e encarou James. Apesar da inconveniente declaração do pai, não havia motivo para ficar na defensiva. Sentia-se muito bem com sua decisão.
— Amos Diggory — disse com ênfase.
James deu mais uns passos para dentro da biblioteca.
— Então, congratulações são devidas.
Ela notou que ele não disse que as estava oferecendo, apenas que era o que a etiqueta exigia, estava sendo polido.
O olhar de James percorreu-a e, apesar de estar vestida de modo apropriado, numa roupa Diane von Furstenberg da estação, sentiu como se estivesse numa exibição.
Sua pressão sanguínea subiu. Era mais um dos entreatos na sua interação com James. Suas conversações sempre tinham um subtexto do qual seu pai nada sabia.
— Dê os parabéns a ela, mas condolências a mim — resmungou o pai.
Os olhos de James focalizaram sua mão.
— Onde está a aliança?
Suas palavras foram um eco tão perfeito para as de Marcus Evans que ela cerrou os dentes.
— Você é exatamente como meu pai.
— E não há nada de errado nisso! — disse o pai. Ela manteve os olhos fixos nos de James, desafiando-o a fazer mais algum comentário.
Os lábios dele se moveram, quase como se estivesse pronto para dispersar a tensão na sala.
— Acho que agora você gostaria de jogar salgadinhos em mim, ou talvez me espetar com um garfo de sobremesa.
Lá vinha ele de novo com uma referência indireta, condescendente, a sua empresa de eventos, dita diretamente a ela, sem o conhecimento do pai. Deveria saber que James jamais deixaria de aceitar um desafio.
Sorriu levemente.
— Não me tente.
Voltando-se para o pai, decidiu mudar de tática.
— Sabe, você deveria estar feliz — disse. —Afinal, quanto mais cedo eu me casar, mais cedo poderá ter o neto de que fala tanto.
Admitiu para si mesma que a ocasião de seu noivado com Amos poderia ter uma leve e longínqua relação com o fato de que ela ansiava por um bebê.
Embora tivesse namorado bastante desde que fizera 20 anos, o homem certo nunca aparecera. Sua mãe entrara na menopausa prematuramente e ela não sabia quanto tempo lhe restava. Fizera um teste, claro, e embora ele tivesse indicado que seu suprimento de óvulos estava normal no momento, também sabia que a espera era um jogo com riscos crescentes.
Conversara com Amos sobre a questão da menopausa prematura e ele se mostrara entusiasmado com a perspectiva de começar uma família o mais cedo possível depois do casamento.
— Qualquer um, menos Amos Diggory — respondeu duramente o pai.
Compreendeu que o silêncio de James era uma concordância tácita com a declaração. Maldito.
Seu pai olhou de James para ela, a expressão ainda mais mal-humorada.
— Se vocês ao menos fossem amigos, poderia ter a esperança de que se casassem.
Lily respirou fundo.
Lá estava de novo, agora um jogo aberto, as palavras pronunciadas. Seu pai acabara revelando o que ela sempre suspeitara que fosse o desejo dele.
Com um olhar rápido, enviesado, notou que James continuava calmo.
A reação dele estava de acordo com sua postura habitual, era de enlouquecer.
Mas ainda esperava que o rubor de constrangimento desaparecesse de seu rosto.
Abriu a boca.
— Marcus — disse James com voz arrastada, antes que ela pudesse falar —, você sabe que Lily é muito...
Se ele dissesse frívola, jurou que lhe daria um chute na perna.
— ...braba para mim.
Ela fechou a boca de repente. Como poderia discutir quando estava pensando em agredi-lo?
Os olhos de James zombavam dela, como se soubesse o que estava planejando.
Voltou a atenção de novo para o pai.
Algumas vezes se sentia como se fosse apenas mais um dos muitos ativos no portfólio de Marcus Evans e, casando-se com Amos Diggory, ele consideraria que não estava recebendo o retorno que esperava.
Mesmo assim, continuou a lutar.
— Mamãe e eu vamos cuidar de tudo e comprar roupas.
As sobrancelhas do pai baixaram.
— Sua mãe já sabe disso tudo? Esperava que seu sorriso fosse bem alegre.
— Falei a ela dos meus planos antes de vir aqui, sim. Mas decidi enfrentar eu mesma o leão na toca.
O olhar do pai foi ameaçador.
— Espero vê-lo no casamento, mesmo que você não queira me levar ao altar.
As palavras tinham um tom de petulância, mas um fio de emoção corria sob elas, uma emoção que se recusou a analisar mais profundamente.
Voltou-se e, sem olhar James, saiu da biblioteca.
Ela era tudo o que ele desejava, mas no pacote errado.
James observou Lily Evans deixar a biblioteca, a cabeça alta, o vestido justo mostrando cada curva do belo corpo.
Os lábios dele se retorceram.
Era um belo pacote e sempre fora, desde que a vira pela primeira vez. Era, em partes iguais, herdeira voluntariosa, competente mulher de negócios, sexy e solteira.
Era também evidente que o desprezava. Se tivesse que adivinhar, diria que era porque ele a lembrava de todas as formas em que falhara como herdeira de Marcus Evans.
O fato de que ter recentemente se tornado presidente da Evans REH talvez fosse como passar sal nas feridas.
Seus laços com Marcus Evans e a Evans REH eram também o motivo por que Lily estava fora de seu alcance, lembrou a si mesmo. Ele não era do tipo de assumir compromissos e comprometimento era a única forma de relacionamento aceitável com a filha do patrão.
Naturalmente, agora que se tornara presidente da Evans REH, mais como um favor a Marcus do que qualquer outra coisa, Lily não era mais a filha do patrão, mas ele continuava relacionado com alguém que valorizava como um amigo, colega e mentor.
— Aquele canalha do Diggory — disse Marcus Evans, interrompendo seus pensamentos.
James encontrara Amos Diggory apenas duas vezes. Mas pudera avaliar o homem como um operador fluente em busca de sucesso.
Quando Amos lhe falara de suas habilidades como consultor financeiro, James ouvira meio desligado, pouco impressionado pelas técnicas de autopromoção, sem mencionar que estava satisfeito com seu corretor e gostava de ficar de olho no mercado ele mesmo.
No entanto, apesar da aparente cordialidade de vendedor, teve a impressão de que Amos não gostava muito dele, a julgar pela expressão de leve irritação que de vez em quando passava por seu rosto.
Amos obviamente o observara e havia chegado a uma conclusão de que não gostara: James era o sucessor indicado de Marcus Evans. O sucessor solteiro, sem compromisso, de seu futuro sogro.
Diggory, sem dúvida, considerara-o seu rival no controle do fluxo de dinheiro e possivelmente também de Lily.
Mas era evidente que Amos estava disposto a deixar de lado sentimentos pessoais no que se referia a possível ganho financeiro, isto é, conquistara mais um cliente.
E foi isso que o incomodara, pensou James. Não apenas por si mesmo, mas por Lily. Se Amos podia superar tudo isso para ganhar outro cliente, até onde iria para conquistar uma esposa rica?
Os olhos de James encontraram os de Marcus Evans.
— Cuide disso para mim.
Ele ficou tenso.
— O que está pedindo?
Tinha uma vaga ideia, mas queria que as coisas fossem ditas com clareza.
Marcus fez um gesto de indiferença.
— Quero dizer, descubra o que puder sobre Amos Diggory. Contrate o investigador que usamos para a Evans REH.
O olhar do homem mais velho ficou duro.
— Quero saber o que Amos Diggory está escondendo antes que se torne meu genro.
James ergueu as sobrancelhas, mas teve o cuidado de manter a expressão impassível.
— Tem motivos para acreditar que ele está escondendo alguma coisa?
Marcus olhou-o com firmeza.
— Não gosto do que sei sobre os Diggory. Conseguiram esconder sua decadência financeira por muito tempo. Subterfúgio é a moeda da família.
— Compreendo. Mas se Lily descobrir... Deixou a frase no ar. Apenas queria ter certeza de que o velho entendia as possíveis consequências de sua decisão. Marcus podia causar um dano irreparável a seu relacionamento com a filha se Lily descobrisse que tinham investigado a vida de Amos.
Quanto a seu relacionamento com Lily, bem, tinha certeza de que ficaria muito pior.
— Lily não precisa saber — disse Marcus bruscamente, seus olhos se tornando mais duros. —A menos que descubramos alguma coisa sobre Diggory. E, nesse caso, vale a pena o preço para salvá-la desse vendedor espertalhão.
James assentiu com a cabeça.
A verdade é que teria prazer em derrubar Amos Diggory se ele não fosse correto.
Deixou de lado o pensamento de que o custo para ele, de mandar investigar Amos, poderia ser alto demais...
Espero que gostem. Até o próximo capítulo.
