QUANDO O REI RETORNA

Capítulo 01

O Dia Em Que o Rei Chegou

Era natal em Storybrook. A neve caía alva do lado de fora, escondida pela noite, enquanto as famílias se reuniam para os tradicionais jantares. Na casa da família Mills não era diferente. Regina nunca dera a Henry um jantar realmente apropriado e este ano quisera compensar. Para tanto, chamara Mary e David, além de Gold e Belle. Era uma boa oportunidade também para estar com Emma, em especial depois que a Salvadora e a Rainha haviam assmido estar em um relacionamento amoroso.

De início, havia sido um pequeno choque para a família, mas agora estavam aprendendo a se acostumar e o jantar era uma oportunidade perfeita para mostrar que não havia nada de errado em seu amor, que poderiam ser felizes juntas.

Quando todos já haviam comido bastante, Regina deixou a sala de jantar e foi até a cozinha para pegar a sobremesa trazida por Mary: uma maravilhosa torta de frutas vermelhas.

Enquanto ela não estava, a campainha da casa tocou. Henry olhou para Emma, não estavam esperando ninguém. Escutou mais uma vez o som. O garoto então se levantou da mesa e foi até a porta, abrindo-a. Um senhor, já de idade, estava parado na entrada, ele parecia ser um mendigo e estar sentindo frio.

- Uma ajuda para um homem faminto - ele pediu.

Henry, com o seu coração mole, sorriu e, sabendo ter mais que o suficiente, disse:

- Temos bastante comida, senhor. Se puder esperar aqui, vou lhe trazer alguma coisa.

Com essas palavras, o garoto entrou em casa. O que ele não esperava era que o homem o seguisse e fosse imediatamente para a sala de jantar. Parado, todos o encaravam, mas poucos ali o reconheciam. Snow se levantou da mesa imediatamente, Gold se preparava para a necessidade de usar magia, o silêncio tomou conta do local. Mas apenas quando Regina voltou feliz, a situação estava completa. A torta que trazia em mãos caiu no chão, o sorriso morreu em seus lábios e a mulher tremia, lívida como se estivesse vendo um fantasma.

Emma levantou de seu assento no mesmo instante, já imaginando se tratar de um possível vilão:

- Quem é você e o que faz aqui? Responda agora ou verá as consequências!

- Não há necessidade para isso, criança - o homem falou muito calmamente.

Mary parecia que começaria a chorar a qualquer instante. Andou até o homem e o tocou no rosto, emocionada.

- Pai! - Ela disse e o abraçou.

- Você está morto! - Regina falava em uma mistura de ódio e medo, sua voz tremia. - Eu vi o seu corpo!

- Você viu, minha cara esposa, o corpo de um coitado muito parecido comigo - ele explicou. - Seu capacho não me matou naquela noite por muito pouco e eu fugi do reino. Agora é a hora de retornar e reclamar tudo o que é meu.

Emma olhava confusa, de Snow para Regina, para Gold e voltava a olhar em sequência. Não sabia se abaixava as mãos ou se atacava. Então aquele seria seu avô? Mas nem o conhecia e Regina parecia a mais aterrorizada de todos. Por que seria? O que realmente acontecera na Floresta Encantada? Eram tantas perguntas em sua cabeça, que a loira continuava na mesma posição, com a boca aberta, como se fosse uma boneca. David aproximou-se da filha e a fez abaixar os braços. Enquanto isso, a muito custo, Regina erguia um dedo de forma ameaçadora:

- Saia já da minha casa, suma da minha frente! - Ela disse.

- Regina! - Mary reclamou. - Por favor!

- Não se preocupe, minha filha, eu não vou a lugar algum - Leopold falava muito tranquilo, sempre sorrindo. - Minha esposa, esta aqui é a minha casa agora. Nós ainda somos casados.

Emma estava disposta a conhecer bem o avô e dar uma oportunidade, mas quando ouviu a forma que o velho falou com sua mulher, a loira se posicionou ao lado de Regina de braços cruzados:

- Olha, vovô, acho que o senhor se perdeu no tempo e está totalmente por fora. Homens não mandam mais em mulheres e elas não são propriedade de ninguém. Sugiro que faça o que a moça diz e vá embora daqui, estamos jantando.

- Emma, isso não é jeito de falar com o seu avô! - Mary ficava furiosa pela forma como todos estavam agindo, afinal aquele era o seu pai, o bom Rei Leopold. - Será que não podemos só sentar e comer a... - Ela ia dizer torta, mas viu o doce no chão. - Só sentar e agir como pessoas civilizadas - E se voltava para a madrasta. - Por favor, Regina, você me deve isso.

A Rainha estava tensa, Emma e Henry a olhavam esperando por uma reação. Finalmente ela falou após um cansado suspiro:

- Certo, é seu pai. Vamos todos tentar - dito isso, foi a primeira a voltar a sentar à mesa.

Emma ignorou a forma como a mãe falara, estava nervosa e atônita pela situação. Tomou seu lugar ao lado de Regina, queria estar o mais perto possível para qualquer inconveniência.

- Então... O que o senhor tem feito e aonde estava? - Foi a primeira a questionar o homem, sem rodeios.

- Ora, querida – ele era bastante simpático -, eu vim para Storybrook com a segunda maldição. Antes disso, estava viajando por outros reinos. Porém, quando soube que minha família havia retornado para meu antigo castelo, prontamente fui para a Floresta Encantada, mas não tive tempo de me apresentar. Depois foram tantos problemas, decidi esperar e agora me pareceu adequado.

Embora estivesse sendo agradável, Regina ainda parecia muito incomodada. Henry também notava e queria analisar a situação de forma mais detida:

- Então o senhor vai morar com Mary, digo Snow, digo, minha avó?

- Este rapaz, quem é? - Leopold perguntou olhando bem para o garoto que lhe falava.

- Ele é seu bisneto, pai - Mary respondeu com alegria. - Filho de Emma, minha filha.

- Meu filho – a Rainha cortou a enteada, caso pudesse tentar omitir tal detalhe.

- Na verdade, eu tenho duas mães, Emma e Regina - o garoto falava com orgulho. – Emma é minha mãe biológica, mas foi Regina quem me criou.

- Sua bisavó é sua mãe? – O Rei tentava entender e ria. - Isso faz me mim o seu pai?

- Já chega - Gold se irritava. - Isso é uma ofensa à memória do meu filho. Estou indo.

Gold se levantou e Belle o seguiu pedindo desculpas pela grosseiria e qualquer outro inconveniente. Henry correu atrás do avô e este lhe disse, já na porta de casa, poucas palavras:

- Se este homem tentar qualquer coisa contra qualquer de suas mães, me avise. Eu não confio nele.

Então foi embora.

- Aquele era... Rumpelstiltskin. O filho dele é pai do meu bisneto? - Leopold recapitulava.

Regina se levantou da mesa furiosa, deixando a sala e indo para a cozinha. Ela precisava de ar, precisava conseguir assimilar tudo aquilo. Emma já estava perdida com a quantidade de informações naquela conversa. Com a reação da Rainha, também levantou e foi atrás da mulher:

- Ei! - Segurou na mão dela já junto ao balcão do centro. - Eu já percebi que ele é um babaca. Eu estou aqui para você e não sairei do seu lado. Não vou permitir que nada te aconteça

- Oh, Emma... - Ela falou abatida, olhando para a loira. - Você não pode parar a roda dos eventos em curso.

Dito isso, deixou a cozinha, pois sabia que aquela era a sua casa e que ainda faltava algumas atitudes a serem tomadas e que não poderia simplesmente delegar. Mary e David já se arrumavam para sair levando o pequeno Neal.

- O senhor não vai com eles? - Henry perguntou e a filha parecia compartilhar do questionamento.

- Não, não, meu jovem - Leopold respondeu da forma mais natural do mundo. - Eu vou ficar aqui, com a minha esposa.

- Pai, o senhor está realmente bem com o que aconteceu? - Mary se sentia constrangida de perguntar, mas era no mínimo incomum tal postura.

- Regina mudou muito, pelo que eu soube. Eu posso perdoá-la por tudo que me fez se foi necessário para que se tornasse a pessoa maravilhosa que é agora - ele falava sorrindo e olhando para a mulher.

Emma arregalou os olhos e depois ergueu uma sobrancelha com o discurso:

- Esposa? Ela não é mais sua esposa. E eu moro neste casa também, bem como Henry - Falava se impondo, não ia deixar o velho se apossar de tudo como estava pensando. - Acho melhor ficar com sua filha.

Mas a própria Regina se aproximou e colocou uma mão no ombro da loira, como pedindo para que ela se afastasse e não participasse daquele problema que era apenas dela.

- Pode ficar o quanto quiser, Leopold – a Rainha disse.

Resolvido este impasse sem que a morena permitisse maiores questionamentos, Mary e David também deixaram a casa, indo para o carro. Tão logo a porta se fechou, ela continuou:

- Você dormirá no quarto de visitas, Emma dormirá comigo no quarto principal.

- Não - ele riu como se fosse algo óbvio, se aproximando da mulher. - Eu dormirei com você no quarto principal. Eu sou o Rei, você é a Rainha e minha esposa, nada mais natural.

Com estas palavras, ele passou as mãos na cintura dela, ao que Regina quis recuar, mas seu corpo não se moveu, ficando apenas muito rígido, tenso, com as lembranças antigas daquele toque. Ela então disse:

- Certo, Emma fica no quarto de visitas.

Ela sabia que tinha um dever a cumprir, aquele mesmo dever antigo que a fizera casar e ao qual fora fiel por quase dez anos. Matara-o, ou ao menos acreditava que havia matado, sua primeira grande vítima, sua maior maldade que lhe dera o nome de Rainha Má. Esta seria a sua chance de pagar por tudo, finalmente expiar, seria recomeçar daquele dia, daquele ponto. Talvez precisasse disto e apenas disto para ficar completa.

Henry não sabia o que falar nem o que fazer. Ao ver o Rei tocando a cintura da mãe, uma raiva o invadiu e o garoto ia abrir a boca quando Emma o freou:

- Sinto, vovô, mas vai ficar para a próxima. Eu estou menstruada e passo mal nestes dias, precisarei de uma companhia feminina para me ajudar com compressas e analgésicos - Falou puxando Regina e a arrastando escada acima. - Preciso de absorventes, Regina, os meus acabaram.

Deixou o velho no andar de baixo e foi falando com a morena em direção ao quarto no andar de cima. Antes que pudesse impedir Emma, esta já a trazia para dentro da suíte principal. Regina não acreditava no que a outra havia feito. Fechou a porta com cuidado ao passar e, se certificando que ninguém as ouvia, disse num tom urgente:

- Está louca? Você não pode negar algo a um Rei!

Emma imediatamente empurrou a Rainha contra a porta e a beijou com ternura:

- Aquele lá não é Rei. Ele não é nada para mim e eu já não gosto dele - tocou no rosto da mulher com carinho. - Eu não vou permitir que ele te toque, este velho decrépito. E se alguém aqui tem você, sou eu.

- Oh, Emma... -Regina falou com tristeza, tocando o rosto da loira após o beijo. - Você poderia até estar certa, porém, ele não deixa de ser o meu marido e eu tenho um dever a cumprir.

Dito isso, colocava a mão na maçaneta da porta e acrescentava com pesar:

- Por favor, vá dormir em seu quarto essa noite. Deixe que eu lido com a situação.

- Não! – A resposta foi imediata. Puxou a morena de volta e fechou a porta mais uma vez. - Você é minha namorada, eu não vou permitir que isso aconteça. E eu já inventei a desculpa, você irá ficar aqui comigo. Não deixarei ir a lugar algum - abraçou a outra com força para que não conseguisse sair dali.

- Por favor, Emma! - Regina pedia já com os olhos vermelhos, desvencilhando-se dos braços antes que fosse impossível reunir forças para sair. - Não torne isso pior do que já é, por favor, faça o que eu estou pedindo.

Voltava-se para a Salvadora e agora as lágrimas desciam pelo seu rosto. Doía, estava morta por dentro, mas não havia mais nada que pudesse pedir exceto isso. Emma apertava a morena ainda mais, as lágrimas escorrendo no rosto. Até que o abraço foi morrendo e a loira foi soltando Regina.

- Eu não concordo nem aceito. Você acha que deve ir, tudo bem. Mas as coisas não ficarão assim.

A Rainha não tinha nem ao menos coragem de olhar para a outra. Passou as mãos no próprio rosto, se recompôs, como era especialista em fazer, e saiu do quarto, indo para o andar de baixo com um sorriso artificial, cuidadosamente planejado e treinado por muitos anos:

- O quarto está pronto.

Leopold sorriu de volta, estendendo a ela um braço como um cavalheiro, ao que ela aceitou. Ele então a levou para o quarto e fecharam a porta. Regina sequer olhou para a loira quando passaram por ela, ou não conseguiria continuar.

Emma, por sua vez, foi arrasada para seu quarto e Henry a seguiu entrando também.

- Nós vamos dar um jeito, mãe - falou envolvendo-a.

- Isso não vai ficar assim, Henry. Não mesmo.

Precisando pensar rápido, a Salvadora pegou o telefone e ligou para uma das pessoas que menos gostaria de ter qualquer contato:

- Robin, é Emma. Preciso falar com você pessoalmente com urgência. Irei até o acampamento.

O homem, sem nada entender, aceitou e os dois desligaram.

- Garoto, fique em casa. Qualquer coisa me ligue.

E assim, Emma saiu e foi encontrar com o ladrão no meio da floresta, onde ficava o acampamento dos Merry Men.

Robin já estava esperando próximo a estrada, acompanhado de Zelena, com quem havia chegado a termos depois do nascimento do bebê, e os dois filhos, quando a loira chegou. Era tarde e já se prepararam para ir dormir, mas ele a levou para a sua tenda, onde entraram sozinhos.

- Emma, aconteceu alguma coisa? Você me parecia preocupada ao telefone – ele perguntou.

Ela contou a Robin tudo que aconteceu de forma breve, deixando o homem indignado.

- E ele a obrigou a se deitar com ele. Henry está arrasado em casa. Eu não sei mais o que fazer.

- Nós temos que parar isso! - Robin falou de imediato. - Regina não deve ficar se sujeitando a ele apenas por ser marido dela. Mas precisamos de ajuda. Ela mal fala comigo e, eu sei que vocês são amigas, mas ele é seu avô. Não, precisamos de mais gente que saiba com o que estamos lidando.

Esta era a hora de deixar as diferenças de lado. Apertou a mão do rapaz e balançou a cabeça de forma positiva.

- Gold. Ele saberá como devemos agir. E... Tem outra pessoa. Sidney. Sidney o matou na época. Ele poderá nos ajudar – ela teve a ideia.

- Vá para a casa de Gold, eu vou falar com Sidney e nos encontramos na loja de penhores - Robin falou.

Já estava tudo praticamente acertado. Emma fez como combinado, ligando para Gold no caminho para o carro. Se encontrou com o homem na loja e logo depois Robin chegava acompanhado de Sidney.

- Acredito que já esteja a par da situação, Sidney. Precisamos agir rápido - a loira falou preocupada.

- Essa é a aliança mais estranha que já vi em minha vida - disse o ladrão.

- Eu concordo - falou Gold. - Mas Emma está certa, Leopold não pode mais fazer o que quiser.

- O que você pretende fazer, Swan? - Sidney perguntou. - Regina não vai parar com o Rei.

- Espelho, Sombria, Rumpelstiltskin e um ladrão arqueiro? Vamos sequestra-lo, é claro! – Ela falou como se fosse óbvio. - Até ele entender que as coisas aqui em Storybrooke funcionam de uma forma completamente diferente da Floresta Encantada. Ele não vai mandar aqui.

Gold riu do entusiamo.

- E como você planeja acertar isso com a sua mãe depois, Swan? - Ele perguntou.

- Eu conheço Regina - Sidney começou. - Se você tentar qualquer coisa contra Leopold fora dos planos dela, ela não vai ficar feliz. É bem capaz dela ainda ir resgatá-lo e se voltar contra todos nós. Ela precisa dele vivo, com ela, ou morto, não um meio termo.

- Então o que você sugere, grande Gênio da Lâmpada? Ou a gente rapta ele ou mata, não consigo pensar em sentar com o meu vovô pra dialogar e mandar ele cair fora - falava já irritada com os marmanjos.

- Nós poderíamos sim tentar conversar - Robin levantou.

- E dizer que você esteve comendo a esposa dele nesses últimos anos? - Gold foi irônico. - Ele já acredita que ela o traiu com o Espelho, seria muito bom falar que ela dormiu com a cidade toda.

- Matamos o rei - Sidney pontuou o que parecia ser o claro. - Não é como se eu nunca tivesse feito isso. Mas já digo que, dessa vez, eu não vou ajudar. Regina não merece minha ajuda.

- Ah, você vai ajudar sim, você fez parte desta bagunça – ela disse de forma ameaçadora. – Mas eu mato o Rei.

Os olhos de Emma brilharam, um brilho sombrio e negro. A escuridão em seu peito parecia falar mais alto, as trevas desejavam agir e ela não se importava com isso, desde que fizesse por um motivo justificado. Assim como matara Cruella para salvar Henry, faria o mesmo por Regina num piscar de olhos.

- Se você fizer isso, ela vai se culpar pelo resto da vida - Robin disse.

- Está pronta de verdade para esse sacrifício, Swan? - Gold perguntou.

O celular de Emma tocou antes que ela pudesse dizer mais qualquer coisa. Henry mandou uma mensagem dizendo "Acho que tem algo errado, fico ouvindo batidas contra a parede vindas do quarto de minha mãe, estou preocupado". Foi o empurrão que ela precisava para externar seu pensamento:

- Estou pronta para o que for preciso. Melhor adiantarmos.

- Miss Swan, vá para casa, cheque se está tudo bem, mas não tome nenhuma atitude precipitada - Gold a instruiu.

- Amanhã de manhã estarei indo falar com Leopold - Sidney se prontificou.

- Emma, se precisar de qualquer coisa, me ligue - Robin falou.

Terminado o conluio, a Salvadora foi o mais rápido possível para casa. Ao entrar, o fez com cuidado para que não escutassem. Enviou uma mensagem para Henry avisando que já havia chegado e foi para perto do quarto de Regina, tentar entender exatamente o que estava acontecendo.

A porta da suíte principal estava selada com magia tão forte que demoraria até para Gold conseguir desfazer. Do lado de dentro, o som de algo batendo de forma constante na parede, algo duro como um móvel, talvez a cama. Então parou. Ficou tudo muito silencioso, até que uma voz quebrou o silêncio:

- Você esteve maravilhosa, querida esposa, minha Rainha.

Então Emma compreendia o que se passava ali dentro. O que mais poderia lhe partir o coração: Ver sua namorada sendo obrigada a fazer algo que a envergonhava. Respirou bem fundo e bateu na porta com a mão pesada:

- Henry está passando mal. Está comigo no quarto. Quando puder por favor venha vê-lo. Ele quer ficar com você.

Com estas palavras, sabia que seria o suficiente para Regina encontra-la no quarto de visitas. A porta do quarto logo se abriu, mas não era a morena quem o fazia. Ainda que Emma olhasse para dentro, não veria a Rainha, ela estava escondida no banheiro, tomada pela raiva e impotência, impedida de sair do quarto pelo marido. Leopold falava à neta:

- A Rainha está indisposta. Eu sugiro que você cuide de seu filho, minha criança. Ele precisa de uma mãe, já tem você e apenas você.

Invadida de ódio e com os punhos cerrados, Emma tomou ar e ficou fitando aquele homem maldito. Não conseguia ver sua amada. Deu as costas e saiu pisando fundo em direção a seu quarto em silêncio. Iria matá-lo, nem que isso custasse sua própria vida. Entrou em seu cômodo e apenas chorou por Regina, pelo miserável que estava com ela, por não poder salvá-la.

A noite prosseguiu quieta e silenciosa. Já era bem tarde quando a porta do quarto de Henry foi aberta. A morena entrou na ponta dos pés, subiu na cama e abraçou o filho com tanta força que ele achou que seus ossos fossem se partir.

- Está tudo bem, mãe, eu estou bem - ele pediu preocupado. - Fique aqui.

Henry levantou da cama e foi até o quarto de Emma. Acordou a loira já falando:

- Minha mãe está no meu quarto, vá lá agora antes que ela fuja.

Emma, que estivera dormindo um sono leve, em sobreaviso, levantou em um pulo e foi quase voando até o quarto de Henry, ficando o garoto no quarto dela. A loira entrou e abraçou Regina sobre a cama com força, já chorando, colocando o rosto da namorada em seu pescoço.

- Eu te amo. Eu te amo tanto. Isso não vai ficar assim, eu te juro.

Enquanto era abraçada por Emma, a Rainha também estava em prantos, apertando-a forte em seus braços.

- Por favor, por favor – ela implorava, finalmente conseguindo se afastar um pouco, a olhava muito séria. - Ele não pode saber, ele não pode nos ver. Emma, ele vai te matar se descobrir, como ele ia matar Sidney quando achou que estávamos tendo um caso. Não se deixe enganar pelo que Mary fala – e se levantou. - Eu tenho que voltar.

- Não, Regina, você não está entendendo - Emma parou de chorar e disse muito séria, se levantando para ir atrás da outra. - Isso que está acontecendo irá terminar. Custe o que custar - Olhava para a namorada e segurava seus braços. - Fique. Ele não saberá que está comigo.

- Não, Emma, não! É perigoso!

Repetia em sua mente como ficara presa, toda a raiva do Rei quando ele encontrou o espelho que havia ganho de presente. Não queria isso para Emma.

- Eu te peço, eu te imploro, por favor, não faça o que quer que esteja pensando. Ele é seu avô, é pai de Mary Margaret, é meu marido. Eu dei a ele quase dez anos de minha vida para que eu pudesse ser rainha. Eu vou continuar e fazer valer a morte de Daniel, vou fazer valer ter tentado matá-lo.

Dito isso, nem ela mais aguentava e, para conseguir parar de chorar, saiu do quarto do filho, voltando para o próprio quarto e trancando a porta magicamente.

- Regina...

Emma chamou uma última vez sem sucesso, a mulher saindo e indo para o calabouço que o seu quarto se tornara. A loira ficou desolada, sem poder fazer mais naquele momento. Passou o resto da noite sem conseguir dormir, planejando o que poderia fazer no dia seguinte.