- Saint Seiya pertence a Masami Kurumada.
- Nesta fic, o filme Prólogo do céu NÃO aconteceu. E nem vai acontecer.
- Os Cavaleiros de Ouro tiveram uma segunda chance de viver depois da batalha contra Hades.
Irmãos O'Connor
Inglaterra, Londres.
Ira acordou com alguém batendo insistentemente na porta do seu quarto.
- Entra... - Falou ainda sonolenta e deitada - Por deus, River! Alguém morreu? São seis da manhã! E eu nem...
- Olha isso aqui. - Cortou a frase da moça que não aparentava mais de 20 anos.
Ela ergueu o tronco e sentou-se quando ele lhe entregou algumas folhas de papel. Eram todas reportagens de sites de fofoca, esportes e de notícias em geral, mas ela nem precisou ler para saber do que se tratava cada uma delas; as fotos diziam e provavam tudo. Matt, o homem com quem se relacionava a quatro anos e, muito breve, seu marido, beijava uma mulher loira, alta e realmente muito bonita que Ira não conhecia. O coração dela congelou, acelerou, suas mãos começaram a tremer e seus olhos se encheram de lágrimas que logo escorreram. Ela não emitiu nenhum som, nada, apenas começou a chorar em silêncio e amassou todas aquelas reportagens que lhe partiam o coração, uma a uma. Aquilo doía mais que qualquer derrota, qualquer fracasso.
River ficou parado, com o olhar baixo e sem saber o que fazer ou o que falar. Já passara por algo parecido, mas sem os requintes de crueldade que envolviam a condição da sua amiga. Ira, sua irmã, era uma patinadora extremamente popular. Tornou-se a Queridinha da América depois de ganhar o campeonato nacional, ainda mais conhecida com o primeiro lugar no campeonato mundial e estourou no mundo todo com o ouro conquistado nas Olimpíadas de Inverno em Vancouver. Desde então ela se tornou uma celebridade, as pessoas a amavam, admiravam e queriam saber tudo sobre sua vida. Queriam ser como ela. E agora mesmo todos esses fãs, admiradores e simpatizantes estavam lendo aquilo. Seria o escândalo do momento pelos próximos dois meses, no mínimo.
- River... - Ela balbuciou, ainda com as folhas amassadas nas mãos e outras ao seu redor sobre a cama desarrumada - me deixe sozinha.
Ele assentiu e saiu comovido ao olha-la sentada na cama cercada daquela notícia avassaladora. Aquele seria um periodo turbulento, ele sabia. Podia até ouvir a horda de jornalistas que logo estaria cercando o hotel, e o segunto titulo mundial conquistado a menos de três dias não seria o assunto principal.
- Já posso até ouvir os comentários maldosos... - Desabafou enquanto andava pelo corredor até seu quarto - Que merda esse filho da puta foi fazer com a minha irmã!
River abriu e bateu a porta do quarto com violência e o som ecoou pelo corredor vazio.
Não muito longe dali...
Saori aproveitava sua primeira manhã sem se preocupar com a agenda de compromissos, pois a mesma estava vazia. E adorava quando isso acontecia. Ainda mais num lugar tão lindo como Londres. Olhou pela janela do bistrô o tempo chuvoso e aconchegante e agradeceu por estar usando galochas.
- Seu café, senhorita. - o simpático senhor colou a xicara na mesa.
- Muito Obrigado. - Sorriu-lhe, gentil.
Quem olhasse Saori naquela manhã diria que a jovem sentada naquele bistrô era ninguém além de uma outra pessoa muito parecida com ela. O camisão de jeans despojado dava um ar de quem pegara a camisa do namorado, pois parecia um pouco grande e ao mesmo tempo estranhamente sexy. Suas pernas estavam cobertas por uma calça legging preta que se escondia dentro a galocha vermelha. Gostava de estar sem seu vestido branco, sem o peso que carregava quando estava no santuário, mesmo que só por alguns dias. E sorriu quando um belo homem de terno lhe lançou um olhar sugestivo. Sentia-se bem; sentia-se comum.
Tomou seu café e resultou ler as notícias, afinal, não podia se alienar do mundo só porque viera ver uma amiga em londres. Tirou da bolsa Vouis Viutton um pequeno computador e colocou-o sobre a mesa. Começou pela parte de economia e passou para a as principais manchetes dos jornais mais lidos ao redor do mundo, até que um titulo lhe chamou atenção. Na primeira página do site do The Guardian havia uma foto de um rapaz que ela conhecia muito bem. E o título matéria quase jogou-a da cadeira direto pro chão: "Sucesso no esporte, fracasso no amor"
- Meus Deus... - Murmurou depois de ler uma, duas, três vezes - que filho da mãe!
Fechou o computador, jogou-o novamente dentro da bolsa e colocou algumas libras sobre a mesa para pagar o café e saiu correndo na direção do hotel de Ira, sem se preocupar com as possas de água ou com a chuva quem deixava-a encharcada. Tudo que conseguia pensar era no estado da amiga e em como Matt fora um completo idiota. Ela correu pelos quatro quarteirões que separavam o café do hotel e encontrou a portaria do prédio já tomada de jornalistas. Sem pensar duas vezes ela acenou para um segurança que a reconheceu como hospede e abriu caminho para que ela passasse, mesmo que com dificuldade, pelos repórteres. Terminado o empurra empurra ela agradeceu ao homem, entrou no elevador e apertou o décimo andar. E o elevador subia irritantemente devagar. Começou a bater o pé direito no chão, num sinal involuntário de impaciência e ansiedade. E quando a porta se abriu, Saori correu para fora e topou em cheio com um homem alto, bonito e nenhum pouco estranho aos olhos da moça.
- River! - Ela exclamou num misto de surpresa e alivio - Desculpe, eu estava tão apressada que nem te vi. - Concluiu sem graça.
Como era possível não ver um homem daqueles? River O'connor tinha dois metros de altura, era forte, loiro e tinha os olhos iguais ao da irmã: azuis. Seu rosto era bem quadrado e masculino, com feições fortes, determinadas e uma barba por fazer extremamente charmosa. Sobrancelhas angulosas e um lábio perfeito. Literalmente. Puxara o lado norte-americano da família, sem sombra de dúvidas. E Sem nem notar Saori estava corada, ainda sentada no chão, sem perceber que o loiro estendia a mão para ajuda-la a se levantar.
- Tudo bem. Imagino que tenha lido a notícia... - Suspirou ao colocar a mulher de cabelos lavanda de pé novamente.
- As notícias, você quis dizer. Está em todo o lugar. - Ela viu um River abatido e triste na sua frente, adjetivos que não combinavam nada com ele. - Não sei o dizer...
- Acredita que Matt não atende?! - Desabafou com raiva, mordendo o lábio inferior - liguei 40 vezes e nada! Aquele covarde! - ele elevou um pouco seu tom de voz - E o vestido... O vestido ficou pronto hoje.
O vestido. Saori se lembrava muitíssimo bem do bendito vestido. E de como fora um verdadeiro parto escolher o maldito modelo. E agora ele parecia inútil, pois Ira não era do tipo que perdoava, pelo contrário, era a pessoa mais irredutível e decidida que conhecia.
- Já mostrou a ela?
- Não. Guardei a caixa no meu quarto, está debaixo da cama. - Informou. - Preciso ir Saori, vou dar uma coletiva de imprensa no lugar da minha irmã. Alias, acho que vou aparecer no lugar dela por algum tempo, até tudo esfriar. Tente anima-la, por favor.
- Claro! E boa sorte. - Disse ao se despedir.
- Vou precisar mesmo, obrigado. - Completou antes que a porta do elevador se fechasse e River desaparecesse.
Atena respirou fundo, pelo menos 3 vezes, antes de começar sua caminhada até o quarto da amiga.
Ira O'Connor era uma uma pessoa pouquíssimo flexível, exigente consigo e com aqueles a sua volta, mas ainda sim conseguia manter a calma como ninguém, era paciente, fiel e bastante altruísta. E mesmo assim Saori tinha medo da reação, de como aquilo iria afetar a auto estima dela como mulher. Sabia que o perdão não era opção para Ira, pois ela não perdoava traição, ainda mais na proporção que a história estava tomando.
- Nem eu subiria no altar nas condições dela, não mesmo. - Saori admitiu em voz baixa entes de bater na porta do quarto 1007. - Ira! Sou eu, Saori! - Bateu na porta - Por favor, abra! Vim para ficar com você. - E bateu novamente quando não obteve resposta. Então ela olhou para a maçaneta e instintivamente girou; algo dizia que a porta estava aberta. E realmente estava. Coisa de Deusa? Talvez.
A porta se abriu sem nenhum ruido e a deusa entrou devagar, com o tapete do quarto ajudando a abafar seus passos. O quarto era bem fresco com duas janelas amplas ornadas com cortinas que desciam ate o chão e as paredes eram de um ameno tom pêssego. O tapete era fofinho e tão limpo que Saori tirou a galocha antes de continuar. Chegou na pequena sala atravessando o pequeno corredor e viu o par de patins da amiga na poltrona, as lâminas estavam cobertas pela proteção de borracha cor-de-rosa e pareciam ter sido limpos a pouco tempo. Do lado dos patins estava a pequena medalha de ouro, que parecia brilhar por conta Propriá. Ela sorriu involuntariamente e seu peito se encheu de orgulho pela amiga de infância, afinal, tinha ido até Londres só para vê-la competir após dois anos longe das competições de alto nível.
- Saori. - Uma voz pesada lhe chamou. - Que bom que veio... Obrigada.
- Ira... - Balbuciou Saori, chocada.
Era difícil acreditar, mas a amiga estava acabada. Ira era uma mulher bonita, ou melhor, quase uma boneca que patinava e falava. Saori sabia que ela puxara o lado irlandês da família com longos cabelos ruivos acobreados, rosto delicado, pele extremamente clara, maças do rosto levemente coradas e cílios grandes que faziam seus belos olhos azuis saltarem. Não era alta como o irmão, pelo contrário, e não tinha muito busto, mas seu corpo era bem esguio e seco com pernas torneadas graças ao esporte. As mãos eram magras, os dedos compridos e as unhas estavam pintadas de vermelho, como de costume. Mas hoje suas bochechas não estavam coradas, o cabelo todo desarrumado, seus olhos inchados e vermelhos nem pareciam mais azuis e ela estava bem mais pálida que o normal. A longa camisola branca que vestia dava-lhe uma aparecia quase fantasmagórica, pois todas as cortinas das janelas do quarto estava fechadas jogando a jovem na deu alguns passos em direção a amiga e viu que ela praticamente destruirá todos os objetos eletrônicos do quarto. Aquilo era assustador, parecia que Ira tinha descarregado sua raiva e frustração em tudo que estava ao seu alcance. O computador partido com o teclado de um lado e a tela do outro, o celular tinha o visor estraçalhado e estava desligado e o telefone fixo do quarto tinha sido arrancado e jogado do outro lado do cômodo.
- Estavam fazendo barulho e me incomodando. - Explicou antes de dar meio volta e se sentar na cama - Não sei o que fazer agora, Saori. Estou perdida.
A única reação de Saori foi adiantar seus passos e abraçar a ruiva com força e urgência. Esta, por sua vez, apenas envolveu a mulher de cabelos lavanda com seus braços finos de forma automática e sem força; sem muita vontade e emoção.
- Parece que algo se quebrou dentro de mim... Eu me sinto destruída, feia, errada, mas ao mesmo tempo sou incapaz de sentir qualquer coisa por alguém. - Tentou explicar - Queria nunca mais ver o Matt... Queria sumir... Sumir por algum tempo. Ir pra qualquer lugar onde ninguém pudesse-me achar e eu pudesse treinar em paz... Mas não creio que esse lugar exista, infelizmente. Atena afastou o corpo da amiga do seu e olhou-a de forma cálida. Ira sorriu pela primeira vez desde que acordara com aquela notícia desastrosa. Os braços de Saori ainda seguravam seus ombros de forma firme, porém gentil e terna. Ira sabia do segredo da amiga desde que estudaram juntas décadas atrás e quase tinha esquecido como Saori conseguia transmitir tanta calma e paz com apenas um toque.
- Você vai comigo para a Grécia. - Saori afirmou, como se a decisão já estivesse tomada - Vai ficar no santuário, onde poderá treinar sem problemas.
- Não seja boba, você não tem uma pista de gelo. - Ela sorriu discretamente, mas ainda sim sorriu - e eu preciso de muito mais que uma pista, você sabe.
- Posso não ter um pista, mas tenho um cavaleiro que vale por muitas, acredite. - Ela segurou uma risada ao imaginar a cara de Camus com o pedido - Além disso, tenho excelentes médicos e espaço de sobra.
- Agradeço, mas faltam 6 meses prós jogos olímpicos de inverno e eu preciso de uma pista onde o comité tenha acesso a mim. - Ela segurou as mãos de Saori, mas desta vez o gesto estava repleto de carinho de gratidão.
- Então você vai competir? - a mulher de cabelos lavanda parecia surpresa. - Quer dizer, Matt sempre foi contra o seu retorno ao exporte. Nunca gostou da atenção que você recebia.
- Ele não vai derrubar meu sonho, Saori. Ninguém vai. - Ela soltou as mãos da amiga, se levantou e abriu uma um pouco a cortina da janela - Posso nunca mais confiar ou amar alguém da forma que amei o Matt, mas eu ainda sei patinar. Não vou decepcionar meu país, minha família e aqueles que acreditam em mim. Eu vou ser bicampeã olímpica. - Declarou com convicção, frisando muito bem o vou. - Que o Matt se expluda junto com aquela loira. Deixei de fazer muita coisa na minha vida por causa dele e essa fase acabou hoje.
Eram bonitas palavras, mas Saori sabia que ela sofria e no fundo ainda amava o ex-noivo. Estava tudo ressente demais. As marcas apareceriam com o tempo e algumas talvez nunca sumissem, mas ela estaria lá para ajuda-la.
- Vamos fazer suas malas, Ira. - Ela ordenou - Você vai conhecer meu santuário. Sei que River pode cuidar da maioria dos compromissos.
- Quem sou eu para ir contra a vontade de um deus, Atena. - Ajoelhou-se num único joelho, num gesto semelhante ao que fazia no fim de sua apresentação para saudar a plateia.
- Você realmente me irrita quando faz isso! - Respondeu Saori, que já estava tirando as roupas da amiga do armário - Vamos logo, melhor pegarmos esse avião ainda hoje.
