Capítulo 1 – Dividindo Tristezas.

"Todos ali em volta de minha mãe, por que vieram se quando ela estava em perfeitas condições eles nunca apareceram pra lhe dizer um "oi" ou até mesmo um "bom dia". Muitos dos que estavam presentes, eu nunca tinha vista na vida, apenas sabia que eram amigos de papai, os executivos da empresa com suas respectivas esposas. Perguntava-me os que eles faziam aqui, já que nunca foram de ligar pra minha família, nunca apareceram em casa pra uma visita descontraída, a não ser quando tinha jantares que papai oferecia, e que sempre acabavam com todo mundo indo embora um pouco alegrinhos. Mamãe sempre dizia que não se importava com aquilo, que ela não sentia falta de nada, pois o que ela mais precisava estava na sua frente, então ela me abraçava bem forte como se nada pudesse nos atingir ou nos separar. Mas ela estava enganada, olhando ela ali deitada em seu caixão percebia como estava pálida e magra, mas mesmo assim continuava linda e com sua expressão cativante.

O Padre finalmente acabou de falar ficando em um silencio mortal, isso me tirou do meu devaneio, então eu percebi que aquilo não era um sonho mais sim realidade, que eu não iria acorda gritando e minha mãe não viria correndo me abraçar e dizer que fora apenas um pesadelo. Isso não iria acontecer e me doía tanto ver minha mãe sendo enterrada, uma dor que nem conseguia descrever. Todos os que estavam presente vieram me dar os pêsames e dizer que sentiam muito e eu apenas dizia obrigada ou apenas sorria, pois a dor era tão grande que não sabia por mais quanto tempo conseguiria ficar ali. Minha vontade era de sumir, ir pra qualquer lugar onde eu não lembrasse que um dia fui muito feliz ao lado de minha mãe, mas que não a veria nunca mais. Todos começaram a ir embora, ate papai se foi e me deixou com minhas amigas e o chofer pra me levar quando quisesse, Lily e Antonia ficaram comigo até eu conseguir me acalmar um pouco, mas elas tinham que ir embora, as mães de ambas já tinha ligado muito preocupado com elas. Elas tentaram-me convencer a ir embora também pois um cemitério não é um lugar muito agradável de se ficar.

— Obrigado meninas, mas eu preciso ficar aqui mais um pouco, vocês me entendem né?

—Claro que sim Mily- disse Antonia.

Elas me deram um abraço coletivo bem forte, como sempre fazíamos quando uma dês nós estava muito triste. Então pedi a Nondas para levar elas pra casa. Nondas era meu chofer, mas primeiramente meu amigo. Sempre trabalhou pra minha família e quando era pequena ele sempre brincava comigo, não tenho uma recordação de minha infância que ele não esteja presente. Ele a princípio não queria me deixar ali, pois já estava escurecendo. Então falei pra ele que iria embora de taxi, pra ele não se preocupar. Depois de protestar por mais ou menos meia hora ele foi embora com as meninas.

Eu apenas sentei em cima do túmulo de minha mãe e chorei, mas chorei tanto que pensei que iria secar por dentro, tava parecendo uma mangueira ligada. E é onde estou agora, a dor que sinto é tão grande e como não tenho forças pra falar ou pra me expressar o único jeito de me expressar foi escrevendo, eu sei que um caderno de poemas e pensamentos não é o melhor lugar de se escrever essas coisa, mas foi o único que encontrei. Agora já é de noite e vejo o carro de Nondas chegando, vou-me esconder, pois não quero ver mais ninguém e nem sair de perto de minha mãe."

Emily saiu de cima do túmulo que estava e começou a engatinhar pelos túmulos sem ser vista, Nondas viu que não tinha mais ninguém no cemitério a não ser o zelador. Pediu informações ao senhor e este lhe respondeu que já tinha saído um taxi dali a poucos instantes. Então Nondas foi em embora achando que quem tinha pedido o taxi fosse Emily, mas não era, foi uma família que estava ali visitando túmulos de parentes.

A noite já tinha caído por completo, o cemitério estava tão escuro quanto se pode imaginar, Emily vendo que agora já não tinha mais perigo voltou a andar normalmente. Só que já não conseguia mais encontrar o túmulo de sua mãe, tropeçou e caiu umas três ou quatro vezes em lápides mais baixas que as outras. Não dava pra enxergar muita coisa, a única luz que se tinha era do céu estrelado e da grande lua cheia. Ma isso não ajudava muito, pois só dava pra ver os contornos das lápides o que lhe provocou alguns arrepios, pois o cenário se tornava muito frio e assustador. Emily tentou por horas achar o túmulo de sua mãe, mas foi inútil. Pegara o celular pra usar como se fosse lanterna, mas isso não foi muito eficiente e pra ajudar a bateria tinha acabado. Se conformando que já não tinha mais nada pra fazer a não ser esperar o dia clarear pra poder sair dali.

Se sentou em túmulo grande que achou por ali e começou a observar as estrelas, a Lua e se lembrou do que sua mãe sempre dissera sobre a lua.

— A minha pequena, a lua não é apenas um meteoro ou algo do gênero, ela é uma coisa mágica que aparece todas as noites pra nos mostrar que algo de bom pode acontecer com um novo amanhecer.

E assim Emily começou a lembrar dos momentos vividos com sua mãe, sua infância, tudo os mais, pois sua mãe ao contrario do pai estava sempre do seu lado, até mesmo quando ela brigava com alguma colega na escola. Sua mãe sempre sabia o que dizer mesmo sendo o que ela não queria ouvir. Emily era muito apegada a mãe e não aceitava que ela tinha morrido por uma doença que os médicos não conheciam, era algo novo na medicina como disseram.

E as lagrimas começaram a cair novamente, e ela não conseguia reprimi-las, então ficou ali chorando até chegar à exaustão. Fechou os olhos e ficou ali no frio e escuro cemitério em um silencioso choro, pois já não tinha mais forças pra soluçar. O vento provocava sons estranhos, mas nem isso Emily notou, pois já não se importava com mais nada.

O vento agora já estava mais forte. Emily gostava disso, era como se ele lhe fizesse um carinho, então lembrou de um dos pensamentos que sua mãe uma vez lhe escrevera em seu caderno:

"Minha pequena, sempre estarei com você, se não for pessoalmente, estarei em seu coração. E se um dia sentires um vento lhe roçar o rosto, não se assuste, pois sou que estou ao seu lado lhe dando forças pra se levantar e seguir em frente. Lembre-se sempre que você sempre será minha estrelinha mais brilhante".

Emily pensando nisso, ainda não tinha percebido que uma doce melodia a envolvia, não estava muito longe, e era cantada por um garoto. A música começou a ficar mais alta, foi então que Emily notou que não estava sozinha como pensava, e começou a prestar atenção na música.

Enquanto a chuva molha meu rosto

Ela esconde a minha lágrima

Que insiste em encontrar o chão .

Enquanto o frio toma meu corpo

Eu aprendi sem a gramática

Que saudade não tem tradução.

Eu preciso tanto de você

O seu amor é o que me faz viver

E me conhece como a própria mão

Cada medo do meu coração.

Hoje pensei tanto em nós dois

O que não podia deixa pra depois

E eu vim aqui só pra dizer

Eu não existo sem você!!

E de repente só se ouvia o ritmo da música tocada a violão, um ritmo tão gosto, que acalmava Emily. A música parecia ser cantada pra ela, pois era como ela estava se sentindo, tinha ficado ali pois não via como iria continuar a viver sem sua mãe.

—Como você está?- dissera o garoto provocando em Emily um susto.

—Eu não sei- respondera Emily, a música a acalmou mas não diminuiu seu sofrimento.—Quem canta essa musica?Nunca a ouvi em lugar algum.

O garoto riu.

—Nem poderia ter ouvido, essa música acabei de compor -Isso deixou Emily impressionada- escutei você chorando, parecia que sofria tanto que acabou me contagiando.

—Então quer dizer que meu sofrimento é inspiração pra você?- dissera uma Emily começando a ficar nervosa.

Ele rira novamente.

— Não, você entendeu mal. O que eu disse foi que ao ver o quanto você estava sofrendo, comecei a ficar triste também e de repente me veio essa letra na minha cabeça. Então comecei a cantar a extravasar essa tristeza.

Se fosse em qualquer outro momento Emily teria ficado roxa de vergonha, mas ali nada mais lhe importava, tentou ver o rosto do garota a sua frente, mas nada via a não ser o vulto.

— O que você faz aqui?- ela perguntara.

— Eu sempre venho aqui, só aqui eu posso ficar longe daquela selva de pedras da qual eu vivo. Posso ser eu mesmo sem envergonhar ninguém, sem precisar fazer o que não gosto.

— Selva de pedras?- "Que garoto mais estranho"...pensara Emily

— É assim que chamo a sociedade em que vivo meu colégio pra ser mais explicito.

— Mas por que esse nome?o que ele tem haver com seu colégio?

— Garota para pra pensar. Olha a sociedade em que vivemos, uns querendo ferra o outro. E muitas vezes temos que aparentar ser algo que não somos para ser aceito nessa sociedade que todos dizer ser "perfeita". – ele a assustara com seu tom de voz elevado.

— Entendo. Pelo menos acho que entendo.

Ele riu, mas dessa vez foi um riso tão gostoso.

"É a terceira vez que ele ri de mim, o que ele pensa que é, não respeita o sofrimento dos outros?...não não...ele fez uma música...ele respeita...ela é fofo.." e derrepente Emily caira no riso também , seus pensamentos tão confusos, nunca fora assim, sempre sabia o que fazer e o que pensar. Mas esse garoto era tão estranho mas lhe dava curiosidade, queria saber mais sobre ele.

— E você o que faz aqui?- Perguntou ele de repente.

— Minha mãe faleceu, e foi enterrada hoje. Ainda não tive coragem de ir embora, não tenho vontade fazer nada, queria ficar aqui como se eu estivesse a esperando vir me buscar. – Emily não entendia o por que estava falando tudo aquilo pra um completo estranho, mas isso não lhe incomodou nem um pouco.

— Pois saiba que ela não virá, pois foi a hora dela descansar, deixe a ir em paz.E tenho certeza que ela não gostaria de saber que a filha que ela tanto cuidou está em cima de um frio túmulo a esta hora da noite chorando feito uma mangueira ligada. Correndo o risco de pegar uma gripe ou sei lá o que pois começou a garoar. – Ele acabara de lhe tacar um balde de água fria.

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? O QUE SABE SOBRE MINHA MÃE OU SOBRE MIM? NADA!!!! ENTÃO NÃO FIQUE FALANDO COISAS QUE NÃO SABE!!!.- pronto estourou.

Ele apenas ficou em silêncio esperando ela termina.

— Você tem razão, não sei nada de você ou sua mãe, mas mãe tem em todo lugar e são todas iguais. E mãe nenhuma gostaria de ver seu filho na chuva, no cemitério, no frio e pronto a pegar uma gripe.

— Me desculpe- novamente ele estava certo, sua mãe não gostaria de vê-la ali naquele estado. E de repente começou a chorar novamente lembrando de sua mãe. O garoto se assustou quando escutou que ela começava a chorar novamente.

— Me desculpe se falei algo, não era minha intenção te fazer chorar, eu apenas queria te tirar dessa chuva. – e então olhou em volta, e pra sua decepção viu que não tinha lugar algum que pudessem se abrigar.

— Ho! Não! É que me lembrei de minha mãe, dos nossos momentos e que você tem razão, ela não gostaria nem um pouco de me ver nesse estado. - e começou a chorar novamente.

O garoto sentou ao seu lado e a abraçou, Emily em outro momento teria dado um escândalo ou encheria o garoto de tapas, mas não, ali o que ela precisa era de um colo, alguém que a ninasse assim como sua mãe fazia quando ela estava no fundo do poço. E ele ficou ali abraçando- a como se ela fosse uma garotinha de cinco anos que acaba de perde sua boneca favorita.

—Tome- disse ele- Quero que fique com isso.

Acabara de lhe entregar uma das correntinhas que usava.

— Mas por que esta me dando isso?Tem outra igual?- perguntou um Emily chorosa.

— Pra falar a verdade não,são dois cordões, um sol e uma lua,quero que fique com uma a Lua, pra sempre que estiver triste lembrar-se que tanto a lua como o sol são sozinhos, mas nem por isso deixam de fazer o importante trabalho que eles têm e de brilharem. Mesmo que muitas vezes ninguém repare nisso.

— Muito obrigado, sabe de uma coisa, minha mãe era apaixonada pela lua, ela acreditava que a lua ..

— Era mais que um simples meteoro e sim algo mágico que aparece todas as noites? - terminou ele.

—Sim, isso mesmo. Mas como sabe?- "Como ele poderia saber uma coisa dessas?"..pensara Emily.

— Minha irmã pensava a mesma coisa, ela passa noites admirando a lua, e muitas vezes fazíamos pipoca só pra ficar sentados vendo a lua. Ela tinha uma mente tão sonhadora. Foi ela que me deu esse par de correntes. Ela falava que eu era como a lua, cheio de fases- e ele rio se lembrando de sua irmã. Fazia tempo que não recordava os tempos vividos com ela.

— E onde ela esta?- perguntou Emily

— Minha irmã sofreu um acidente de carro junto com minha mãe, minha mãe sobreviveu, mas minha irmã não. Ficou em coma por um mês, quando acordo fiquei tão feliz, pois tínhamos brigado antes dela sair com minha mãe. Quando ela acordou eu lhe pedi perdão por tudo que fiz e sabe o que ela respondeu?.

Emily esperou ele continuar, e ficaram em silêncio, ela percebeu que estava sendo duro pra ele falar disso, assim com era duro falar de sua mãe. Ele estava com a voz embargada e a respiração um pouco mais acelerada.

— Ela disse: " Minha lua, sabia que iria brilhar pra mim de novo, ai eu respondi, assim como você meu sol " , então ela me abraçou e ficamos ali abraçados até que ela se foi.

Era engraçado pensar que ela estava ali, em cima de um túmulo, nos braços de um desconhecido dividindo tristezas que nunca tinham sido colocadas pra fora.

E ficaram ali por mais um bom tempo. De repente ele levanta, pega o celular e faz uma ligação. Vira-se pra Emily e diz:

— Chamei um táxi pra vim te pegar. Seu pai deve estar preocupado, já é muito tarde.

— Meu pai não liga pra mim, nunca ligou. Não deve ter notado que eu não estou em casa.

O garoto ficou quieto por uns minutos pensando.

— Mas mesmo assim, você já pegou chuva demais, e com certeza deve ter alguém preocupado com você. E a propósito seu táxi já chegou. – Falou ele olhando pro portão do cemitério.

Ele a levou até o portão e parou ali. Ela virou pra trás, quando percebeu que ele não vinha junto.

— Você não vem?

— Não, eu moro aqui perto, não se preocupe.

— Ta, boa noite e...- a voz falhara- muito obrigado por tudo.

— Não deixe de brilhar- ele apenas respondeu.

Emily entrou no táxi, que estava um bocado longe demais do portão em sua opinião, deu de cara com um taxista com uma cara de quem queria estar bem longe dali. Disse-lhe o endereço de casa, e quando olhou pra traz já não tinha mais ninguém no portão.

No caminho de casa foi pensando em tudo que tinha acontecido, desde o enterro de sua mãe ate agora. Ficou relembrando tudo que o garoto disse, e percebeu o quanto fora mal educado com ele, pois nem o nome dele ela tinha perguntado, ficou pior ainda quando se lembrou que tinha gritado com ele. Mas ele ao contrário dela, foi tão gentil consolando-a e ainda lhe presenteara com um cordão que lhe tinha muito valor sentimental, sendo que um dia fora de sua irmã.

Mal percebeu que já estava em frente de casa, e que um Nondas muito nervoso escancarava a porta do táxi, fazendo o taxista ficar nervoso.

— Emily Lumi Castanhani, onde diabos você se meteu? Eu já estava ligando pra polícia- dizia ele, tão preocupado- você quase me matou do coração garota.

Emily nada escutava, se deixou levar por Nondas pra dentro de casa, depois que ele havia pago o táxi. Quando eles entraram na casa veio D. Nina, a governanta da casa, mas que sempre fora muito atenciosa com Emily.

— Miu Deus Santo, graças, finalmente a bambina retornari.- disse D. Nina um pouco mais aliviada. – Deixe que cuido dela agora Nondas.

— Acho que ela está com febre, apesar da roupa molhada, ela esta muito quente. – disse Nondas.

D. Nina colocou a mão em sua testa e viu que ela realmente estava ardendo de febre.

— Nondas, ande logo, leve-a para cima, vamos, vamos!!- dizia ela nervosa.

— Não!!, D. Nina onde está mamãe? Eu não sei por que. Mas quero vê-la, ela já dormiu?- Emily queria ver sua mãe, queria abraça-la.

D. Nina e Nondas se olharam.

— Eu acho melhor leva-la loga pro hospital Nina- disse Nondas- veja, ela está delirando!!.

— Não, leve-a para cima e chame marta pra me ajudar.

Enquanto isso D. Nina foi para o banheiro, encheu a banheira de água morna, e com a ajuda de Marta conseguiu despir e dar banho em uma Emily muito nervosa e reclamona, pois queria porque queria ir ver sua mãe. D. Nina e Marta davam todo tipo de desculpa pra acalmar Emily.

Quando o banho acabou, Emily estava exausta e deixou D. Nina lhe colocar na cama, comeu toda a sopa que ela lhe deu e foi dormi.

Depois que Emily finalmente se acalmou D. Nina foi falar com Nondas.

— Ela já está dormindo, como um anjinho. – disse ela sorrindo.

— Você não acha que é nada de grave né Nina?- Nondas estava preocupado.

— Deve ser por causa da chuva, amanhã ela vai estar bem melhor. Você verá.

— Tomara Nina. Onde está Marta?

— Ela foi se deitar levou um escorregão no banheiro tentando segurar Emily, coitada deve ter doido- mas os dois caíram na risada.

E foram se deitar também. Pois todos tiveram um dia muito exaustivo.