Nota: Os personagens de Saint Seiya não me pertencem, pertencem ao mestre Masami Kurumada e empresas licenciadas.
Nota 2: Antes de qualquer coisa, queria dizer que essa fic é um presente p/a uma amiga muito querida que faz aniversário amanhã:
Sah Rebelde!
Vi no seu profile que você gosta de ganhar presentes... rsrs
Como eu ia ignorar algo do tipo? Ainda mais vindo de uma pessoinha tão fofa?
Também vi que você faz uso de diminutivos... XD
Espero que goste!
FELIZ ANIVERSÁRIO!
Águia sem Asas
Capítulo I: Asas cortadas
Eu posso sentir o ar, a poeira que se levanta da arena. Passos que se aproximam à surdina. A respiração ofegante daquele que caiu. Quase sinto o seu murmúrio de dor a adentrar minha pele, meu punho cerrado que o acertou. Eu quase nunca erro não é? Quase sempre sei exatamente o que estou fazendo. Sei de minha força e da minha chance de vencer o oponente, mas isso não quer dizer que o subestimo. Eu nunca subestimo quem quer que seja e essa é a chave das minhas vitórias. Ponderação, determinação, respeito às regras, força, tudo isso faz de mim o que sou: Uma amazona.
A Amazona de Águia.
Sim, eu tenho asas, mas... Posso tocar os céus? Tocar o infinito azul que me cerca? Sentir a brisa suave do vento em meio ao meu vôo rasante?
Não.
Minhas asas estão cortadas.
Como assim cortadas? Eu tenho a força física de dez homens... Posso fazer um rasgo no chão com apenas um pontapé. Meus punhos podem pulverizar uma rocha dura. Como alguém assim não pode simplesmente voar?
É simples: Abra suas asas e alce vôo!
Mas... e se suas asas tivessem sido arrancadas fisicamente de si há muitos anos, e tudo o que tivesse restado fossem as marcas de onde elas deveriam estar?
Em suas costas tudo o que havia restado eram as cicatrizes de suas belas asas destroçadas...
"Uma amazona deve cobrir seu rosto e ocultar sua feminilidade... Só assim será capaz de alcançar um pé de igualdade com o sexo oposto...".
Será?
Essa era a lei!
Uma amazona abdica de sua vida em prol do destino que escolheu: O de guerreira. Uma guerreira não tem rosto, não tem sentimentos, dor, limitações. Não é mais uma mulher. Uma mulher chora, teme, anseia, mas uma amazona não. Uma amazona é um soldado e soldados não choram não é? Não temem e tão pouco anseiam diante da frente de batalha.
Seu destino é lutar e vencer ou então perecer em mãos inimigas.
Mas e quando se trata de uma luta interna? Algo que se digladia dentro de si e que lhe rasga por dentro? Como derrotar um inimigo invisível que assola sua alma e seu coração? Não devia ter um coração não é? A não ser que fosse para bombear sangue em suas veias, para fazer funcionar a maquina de matar que havia se tornado, mas... Tinha. Tinha um coração que ansiava, doía e sangrava. Um coração humano e não uma 'peça' que servia para fazer todo um maquinário funcionar.
Ele era o coração de uma mulher...
Ainda era uma mulher, por mais que tivesse sido forçada a esquecer-se disso. Aquela mulher tinha limitações, desejos, dúvidas, anseios. Ela tinha vontade de chorar, mas não podia. Não na frente daqueles a quem deveria mostrar-se inabalavelmente indestrutível.
Aquela mulher, aquele fragmento que restara de fragilidade, desejava ser protegida e acolhida. Sentia-se tão só às vezes, como se tudo ali lhe fosse hostil e frio como placas de gelo que jamais derreteriam, nem mesmo sob o calor daquele sol escaldante.
-Marin...
Calor... Finalmente sentia calor. Era isso o que aquela voz grave e conhecida lhe proporcionava. Voltou-se para trás se deparando com a única pessoa, que lhe dirigia uma cálida fagulha de afeto naquele lugar: Aiolia, o Cavaleiro dourado de Leão.
A sua presença era como a claridade vespertina e gentil do sol, que adentrava sua janela após um longo dia de treino. Trazia-lhe tranqüilidade, como se lhe dissesse que tudo estava bem e que amanhã seria mais um dia como qualquer outro, e que iria suportar todos os solavancos que viriam com ele. O calor de seu olhar lhe transmitia uma sensação de proteção e lhe fortalecia.
Os olhos atentos do Leão a perscrutaram em silencio, antes de se aproximar.
-Está tudo bem com você? –indagou por fim num tom educado, porem claro de preocupação. Ainda se recordava nitidamente do acontecido mais cedo.
-Está, está sim, obrigada Aiolia; Marin respondeu de imediato fitando-o diretamente nos olhos.
-Essa é a ultima vez que Shina a trata dessa forma hostil; disse-lhe Aiolia e havia firmeza em sua voz, uma certeza irrevogável. –Da próxima vez, você querendo ou não irei informar isso ao Grande Mestre.
Marin suspirou e desviou o olhar. Se não fosse pela intervenção de Aiolia mais cedo, poderia ter se dado muito mal. Mais uma vez Shina e os seus seguidores – um bando de fracotes medíocres – faziam questão de hostilizá-la com suas represálias, com o fim de lhe deixar bem claro que não era bem vinda ali. Como se não soubesse disso.
-Não consigo entender o porquê dessa perseguição sem justificativa que Shina faz contra você; Aiolia continuou como se estivesse dentro da mente da amazona e visse suas divagações.
-E acha que eu consigo? –Marin se voltou para o cavaleiro. De fato, nada havia feito contra a Amazona de Cobra.
-Da próxima vez ela será punida; Aiolia respondeu sério. –E acredite, não será a primeira vez que algum cavaleiro ou amazona se utiliza de métodos ou comportamentos escusos e com isso acaba sendo banido do Santuário.
-Fala da tal de Gisty? –Marin indagou curiosa. Já havia ouvido falar sobre a tal amazona banida.
-Ouvi dizer que era amiga da Shina; Aiolia esboçou um meio sorriso sarcástico. –Espero que Shina não deseje fazer uma visita permanente a sua velha amiga a onde quer que ela esteja; ele completou.
-Obrigada Aiolia; Marin esboçou um terno sorriso por debaixo da máscara que teria encantado o cavaleiro.
-Disponha; ele sorriu e aquilo era injusto, afinal, a amazona pode contemplar plenamente o belo sorriso que moldou seus lábios bem feitos. –Quer caminhar um pouco? –ele indagou apontando a orla da praia que se estendia ao longe na saída do vilarejo.
-Quero; Marin respondeu depois de dar uma rápida olhadela pelas casas simples e de telhado de sapé. Não estava a fim de ir para casa. Não ainda.
Em silencio, amazona e cavaleiro caminharam por longos minutos.
A tarde estava fresca e seus pés afundavam na areia fofa e branca da praia. Nem ao menos saberiam dizer por quanto tempo andaram. Precisava de companhia aquela tarde e tinha a dele, uma silenciosa companhia, mas que a fazia sentir-se bem. Era calorosa e terna, mesmo que muda. Depois daquela conversa inicial nada mais havia sido dito e apenas caminharam sem um rumo especifico.
Sentia-se tão bem quando estava com ele. Ele não a tratava de forma diferente por ser uma amazona ou uma estrangeira, mas lhe tratava diferente por ser uma mulher. Sair em sua defesa aquela tarde e 'salvá-la' das garras afiadas e do preconceito de Shina, havia sido uma prova disso. Sabia do seu potencial, de sua força e a respeitava por isso, mas isso não queria dizer que ficaria imóvel ao ver um massacre como o que Shina pretendia fazer. A Amazona de Cobra não estava sozinha, tinha até mesmo platéia, platéia essa que facilmente adentraria aquele show e faria parte dele.
Aiolia simplesmente lhe oferecia o que ninguém mais ali lhe oferecia: sua amizade, sua proteção e o seu calor. Sentia-se protegida e aquecida pela presença do leão dourado. Ele era o seu único e verdadeiro amigo ali.
Após um convite mudo, sem nem mesmo uma troca de olhares, ambos se sentaram sobre a areia. Ali tudo era calmo, tranqüilo, somente as ondas quebrando contra a encosta rochosa. Em pouco tempo toda Atenas seria coberta pelo manto do crepúsculo. O sol se ia e a lua viria, pálida e fria.
-Daria tudo pra sentir aquele ricochetear sobre o meu corpo; Aiolia murmurou enquanto seus olhos jaziam fixos nos movimentos hipnotizantes das ondas.
-Eu também; Marin sussurrou em resposta.
-Mas não podemos não é? –Aiolia se voltou para a amazona e viu seu reflexo reluzir sobre a máscara de prata que a cobria.
-Não, não podemos; ela murmurou tristemente. –Aliás, nem deveríamos estar aqui. Você tem um templo a proteger e eu...; Marin ponderou. –Eu tenho que ser uma amazona não é?
-E isso quer dizer? –Aiolia arqueou a sobrancelha.
-Quer dizer que não tenho o direito de me sentir como estou me sentindo agora; Marin ponderou novamente diante do olhar curioso do cavaleiro e então continuou. –Fraca e desprotegida. Eu não devia aceitar a sua proteção, devia aprender a me defender sozinha. É isso o que é ser uma amazona não? Ser alguém forte e destemida que não precise da ajuda de ninguém. Sabe o quanto sou grata a você, mas simplesmente não posso mais me sentir assim Aiolia. Uma amazona não se sente assim; ela completou amargurada.
-Eu também não deveria me sentir inferiorizado e com vergonha de ser tachado como "o irmão do traidor" como todos ditam, mas eu me sinto; ele respondeu com seriedade.
-Eu não acredito nisso, no seu irmão, ele não iria...
-Por favor, não quero falar sobre ele agora; Aiolia pediu e Marin se conteve desviando o olhar.
-Me desculpe; ela sussurrou em resposta.
-Não há o que desculpar. Fui eu quem tocou no assunto, além do que, ouço a mesma coisa todos os dias. É difícil não perceber os olhares indagadores e os dedos em riste que ainda me apontam depois de todos esses anos. Enfim, mas deixemos esse assunto pra lá, afinal, estávamos falando sobre você, não é mesmo? –ele completou.
-Está certo; Marin assentiu. Sabia o quanto aquele assunto era doloroso pra ele, da mesma forma que sabia que aquilo que falavam sobre o antigo Cavaleiro de Sagitário não podia ser verdade. –Mas quanto a mim, eu tenho que aprender a ser uma amazona de verdade Aiolia.
-E o que seria uma amazona de verdade? Você é forte, determinada e capaz, não vejo onde há algo que a desmereça em ser uma amazona. Você é uma amazona como poucas Marin; Aiolia completou sincero.
-Não sou não; ela murmurou mais uma vez amargurada. –Eu sou fraca Aiolia, por isso precisei de você hoje. Eu não sou temida como a Shina, eu...; ela ponderou sentindo um bolo se formar em sua garganta. –Eu ainda me perco em sentimentos mundanos que só servem para enfraquecer um guerreiro. Eu tenho medo e vontade de chorar às vezes.
-E quem não tem? Quem não tem temores e incertezas na vida? Isso é parte do sermos humanos Marin; Aiolia ponderou indulgente. –Não somos deuses e mais, até mesmo eles não são intocáveis.
-Está justificando a minha fraqueza? –a ruiva sorriu com tristeza.
-Não é uma fraqueza fraquejar de vez em quando; ele respondeu. –Quem é que não precisa de um abraço de vez em quando? De um apoio pra não desabar no abismo escuro que nos cerca?
Ele sorriu e Marin se perdeu momentaneamente naquele sorriso tão espontâneo, tão límpido. O leão não lhe mostrava as presas afiadas como fazia questão de mostrar para os demais que ali viviam. Para si, ele era apenas o que realmente era: Aiolia.
-E se eu te dissesse que preciso desse apoio agora? –ela indagou.
-Eu te daria o meu, se você assim desejasse; respondeu Aiolia.
-Eu quero.
A sua resposta soou de uma forma quase inaudível, mas suficientemente alta e nítida para que o cavaleiro a ouvisse.
Realmente era fraca; ela pensou ao ser ver completamente envolta pelo calor dos braços dele. Sem resistência, sem ao menos pestanejar ou analisar se aquilo era uma atitude sã e correta em suas condições de amazona e cavaleiro. Tinham regras a seguir.
Aiolia a abraçou inicialmente com um quase temor, como se a pudesse ferir, macular, mas tão logo a envolveu completamente entre os braços. Era um abraço quase que possessivo e digno de sua personalidade forte. Suas mãos grandes vagaram sutilmente sobre as costas delicadas da amazona numa caricia tímida e despretensiosa. Queria confortá-la e dizer a ela que podia contar consigo, hoje, amanhã e sempre. Era abraço entre amigos e precisava daquele abraço tanto quanto ela.
Marin deslizou ambas as mãos sobre o peito largo e musculoso do cavaleiro indo deter-se em seus ombros. Podia ouvir o coração dele batendo compassado e calmo. Aquilo lhe aquietava a alma como se fosse uma bela canção. Deixando de uma vez por todas para trás qualquer regra ou lei imposta a ambos, a amazona repousou a cabeça sobre o peito forte do leão e aconchegou-se no seu calor.
Aiolia a apertou ainda mais pra junto de si. Ela parecia tão frágil, tão desprotegida. Sabia que não o era, mas ainda sim tinha aquela necessidade louca de protegê-la. Num lapso de loucura e atrevimento talvez, ele levou uma das mãos aos sedosos e flamejantes cabelos dela. Afagou-os com delicadeza ouvindo-a suspirar contra o seu peito.
O cheiro dela era tão bom, tão doce...
Ela cheirava a flores e era tão delicada quanto. Tal constatação, entretanto, o fez atrever-se ainda mais. Aproximou o rosto da curva suave e pálida do pescoço da amazona, para então aspirar longamente o seu perfume. Ele era atordoante, atordoantemente doce e viciante.
Jamais haviam estado tão perto como agora e estava adorando aquele contato, aquele perfume doce, e aquele calor terno que ela emanava.
Marin arrepiou-se inteira com aquele gesto, mas não mais do que quando sentiu os lábios cálidos e úmidos dele roçarem sua pele. Aiolia roçou a pele alva de seu pescoço mais uma vez temeroso, incapaz de completar o ato em si: beijar aquela tez pálida. Era como se ela ansiasse por um toque seu.
Aquela sensação era estranha, nova, como se borboletas revoassem em seu estômago. E ela a atingiu com tamanha intensidade que a amazona não conteve um fraco gemido.
-Marin...
Aquele hálito quente em seu pescoço, somado aquele sussurro grave a fez finalmente despertar.
Aquilo não era certo.
Suas mãos deslizaram sobre os braços musculosos e rijos para então os afastarem de si. Fitou-o em silencio por longos instantes. Seus olhos verdes feito duas esmeraldas, tão intensos. Seus cabelos levemente dourados e sua tez bronzeada. Ele era másculo, belo, e era se como se só agora percebesse isso. Ele era um homem e ela uma mulher.
Mais uma vez aquele bolo, aquele nó, subia até sua garganta. Porque estava sentindo aquilo? Não podia, mas...
Aiolia tocou sutilmente em seu rosto. Como odiava aquela maldita máscara! Ela lhe impedia de ver o quão belo devia ser aquele rosto e qual seria a cor de seus olhos tristes. O frio do metal se alternava com a suavidade cálida da pele da amazona e seus dedos jaziam exatamente ali: na junção entre o metal e sua pele de seda. Como queria poder livrá-la daquele pedaço de metal...
-Eu preciso ir Aiolia...
Foi tudo o que a amazona disse antes de se desvencilhar de seu toque e correr para longe dali.
Continua...
N/A: Bom, eu sempre quis escrever algo sobre o Aiolia e a Marin, exatamente por conta desse episódio em que ele a 'salva' da Shina, aí surgiu a idéia pra essa fic. Acho que esse chove num molha dos dois sempre foi algo frustrante, pelo menos pras 'fãs' de Saint Seiya, que queriam um bom romancezinho entre o casal. Não me lembro bem de como tudo aconteceu no anime, porque faz muito tempo que assisti, então pode ser que eu acabe invertendo a ordem de algum fato, mas garanto que isso não terá importância para o decorrer dessa história, em que pretendo jogar o açúcar que o Kurumada não jogou em cima do casal... rsrs
Adoro esse casal!
Um grande bju e um forte abraço a todos!
Ah e claro...
Feliz Aniversário Sah!
Espero que tenha curtido o primeiro cap!
