Uhura estava lendo o livro de Tranfiguração pela centésima vez. Pearll estava com os pés cruzados sobre a mesinha de centro (de novo) e comendo um Sapo de Chocolate. Ambas estavam acomodadas na Sala Comunal da Grifinória com a mesma expressão chateada. Pearll estava mais sentada com as costas do que com a parte que deveria, então coube somente a Uhura a despencar de lado no sofá, desanimada. Deu-se um tempinho até que as duas alunas confessassem ao mesmo tempo e com o mesmo tom de voz arrastado:
- Tédio...
Uhura continuou:
- Sem treino de quadribol...
- É...
- Sem inspiração para escrever...
- É...
- Sem celular...
- Droga.
- Sem MP3...
- Droga.
- Sem iPod...
- Droga!
- Sem tarefas...
- Disso eu não consigo reclamar.
- Pelo menos teríamos o que fazer.
- Dispenso. Especialmente se for aquelas gigantes do Snape ou da tia Minnie.
Uhura riu um pouquinho ao ouvir o apelido.
- A professora McGonagall ficou louca quando você a chamou assim, lembra?
- Claro. Fui eu que tive minhas orelhas ardendo depois daquela aula. - Pearll sorriu suave e maliciosamente emseguida. - Mas valeu a pena. Eu pessoalmente gostei da reação dela.
- Você adora infernizá-la quando dá, não é? - Uhura indagou sorrindo com um quê de "Você não tem jeito", os colovelos sendo postos na almofada do sofá e o rosto sendo apoiado nas mãos.
- É. É o meu jeito de mostrar que gosto dela. - e deu uma grande bocanhada no que restara do Sapo de Chocolate, lambendo os dedos e os beiços depois. - Assim como você participa das minhas tramóias e ao mesmo tempo tenta ser uma boa aluna.
- Você está com a boca suja.
- Mas eu não falei nenhum palavrão.
- Eu me referi ao chocolate.
- Ah.
- Toma aqui. - Uhura falou, jogando um lenço creme que tirara do bolso do casaco. Pearll apanhou-o no ar energicamente e usou-o sobre a boca. - O mais engraçado é o contraste que há entre o Dumbledore e ela, não? Estava pensando nisso agora, já que ambos entendem de Transfiguração...
- ... e são "melhores amigos". - completou Pearll tirando o lenço da frente e revelando um sorriso que ia de orelha a orelha.
As duas jovens riram não muito inocentes.
- Fico imaginando como eles estão.
- Não está pensando em nada indecente, está? Acho que você está andando demais comigo.
- Eu não estava pensando até você comentar, Pe!
- Ah, como eu gostaria de ser a tia Minnie...!
- Ano...
Aquela não fora a voz de nenhuma das duas. Era um tanto infantil e decididamente nova, que nunca haviam escutado pelo menos não claramente. Ambas viraram as cabeças na direção da saída do Salão Comunal. Alguns passos a frente do fundo do quadro recepcionista estava uma garota corada segurando dois pergaminhos enrolados nas mãos. Olhava para Uhura e Pearll com visível constrangimento talvez por timidez ou por ter ouvido justamente o fim da conversa das duas.
- B-Bem... - continuou a estranha. - o professor de Poções pediu para entregar as tarefas atrasadas de vocês... Desculpa, eu sou uma novata, hum... Quem é Pearll?
- Eu! - respondeu a própria com animação renovada e erguendo a mão, a pose ainda desleixada. - Valeu. - agradeceu quando recebeu o pergaminho.
- Obrigada - também agradeceu Uhura, ajeitando-se no sofá enquanto recebia a tarefa dela. - Aluna nova no meio do ano? Isso é algo raro.
- Não tão raro quanto este "T" que recebi. Droga, dessa vez eu realmente achei que poderia enrolar o Snape um pouquinho.
- Vai precisar de ajuda para acompanhar o ritmo.
- Já sei disso faz tempo. Se bem que na aula de voo eu não estou tão ruim.
- Estou falando com a guria, Pe! - retrucou Uhura, rindo-se quase gentilmente.
- Ah, desculpa aí. A propósito - e Pearll se sentou mais ereta pela dor na coluna ter começado - diga, qual é o seu nome, garotinha?
Balançando o corpo com timidez, ela respondeu:
- Ariana McGonagall.
Nem Uhura e tampouco Pearll puderam conter o grito e o pulo súbito para fora dos assentos.
- QUÊ?!
