N/A: Esta fic desconsidera a diferença de idades entre Sirius Black e Narcissa Malfoy. Aqui, eles terão a mesma idade e não os cinco anos de diferença.

Before the "Goodbye"

A noite estava escura. O vento soprava lá fora de maneira amena, o seu jeito manso fazia as folhas roçarem umas nas outras, originando um burburinho que me despertou. Ali estava eu, deitada na minha cama de dossel com o meu marido de décadas. Virei-me deparando-me com a sua face, apercebendo-me que era bela, o seu jeito altivo e superior desaparecera, dando lugar a um homem sereno e em paz consigo próprio. Coloquei-lhe a mão sobre o ombro, sentido a sua pele por debaixo dos meus dedos e arrepiei-me quando um suspiro se abateu sobre ele, vendo os seus cabelos brilharem na penumbra e o seu peito musculado indo e vindo com serenidade.

As pessoas perguntavam-me como conseguia eu ficar com aquele homem, odioso e hipócrita, mas essas pessoas não o conheciam, não o viam da maneira que eu via, não compreendiam o significado de ser um Malfoy.

Levantei-me, lentamente, a camisa de noite prateada resplandeceu com os meus movimentos. Olhei em volta, o quarto parecia-me mais pequeno que o habitual. A cama e o armário arcaico pareciam ter perdido o brilho e o resplendor de outros tempos. A carpete verde e cinza estava puída e gasta, e as cortinas já não apresentavam nem o vigor nem a leveza minimamente apreciáveis. Em passos pequenos, dirigi-me, descalça, até à porta à minha direita, era velha e o seu verniz gasto, em algumas partes notavam-se baixos-relevos marcados pela magia. Toquei-lhes, senti a sua história e a sua profundidade, lembrei-me de Belatrix, de uma discussão que tínhamos tido. Há alguns anos, uma coruja apareceu numa madrugada quente de primavera com uma carta, informando-me que o Lord das Trevas tinha aparecido no Ministérios e comunicando-me que não havia conseguido uma tal de profecia.

Estava preocupada, mas o desespero não me levava a nada, afastei-me, nesse momento, o vislumbre de um nome à muito não pronunciado naquela família, remeteu-me de novo para a carta. Lucius comunica-me a morte do padrinho do Eleito, Sirius Black. O choque foi demais para mim, as pernas cederam, a visão ficou turva, senti meu corpo desfalecer… e as lágrimas, as lágrimas escorriam-me pesarosamente, salgadas, enaltecendo assim os velhos tempos de Hogwarts.

Eu via-o, alto e belo, sempre com o Potter e o Lupim, brincando com uma maçã e apreciando as moças que por eles passavam. sempre que o via, o meu rosto permanecia opaco, mas no meu interior sentia uma explosão. Desejava-o, bem no fundo.

As memórias abateram-se sobre mim e reprimi um grito,Lucius contou-me o mais importante, havia sido Bellatrix quem o matára. Vislumbrei um passportout com uma foto minha e de Bellatrix, senti um choque eléctrico percorrer-me o corpo, a raiva apoderou-se de mim, senti o mundo a desabar, agarrei na moldura estilhaçando-a na porta.

- Sua vaca imunda! – gritei para o ar de louca que fazia transparecer na foto. tinha sempre ficado acima de mim em tudo, escola, namorados, amigos... E agora levava-me o meu amor, o uníco homem a quem tinha aberto o meu coração. Um ranger vindo do andar de baixo chamou-me à atenção. Era Bella, tinhamos combinado de ir tomar chá á Knockturn Alley.

Desci as escadas rapidamente até à sala, Bella estáva sublime, com sempre, o ar de louca escondido na face de mulher decente.

- Expelliarmus! – a sua varinha voou pela sala indo aterrar metros atrás de mim. Atirei a minha para junto dessa e corri para Bellatrix, a loucura presente nos meus actos ainda hoje me consome, agarrei-a pelos cabelos, gritando-lhe impropérios. sem nada com que se defender, subjuguei-a em poucos minutos e ainda me lembro de termos caido sobre a mesa de cristal estilhaçando-a. Bella gritava, vermelha de raiva, enquanto eu a empurrava para fora da sala, fora do hall, fora da minha propriedade. Eu e Lucius havíamos esquecido este incidente, e eu prometi nunca mais pensar em Sirius Black.

Haviam passado três anos, um ano desde a batalha de Hogwarts. Hoje em dia, ainda me pergunto como teria ele escapado das garras do Ministério. Kingsley havia ilibado Lucius de algumas penas, pagando algumas multas e permanecendo algum tempo em Azkaban..

Mas assim tinha sido. Nunca tinha visto a minha família tão em paz. E Draco? Oh, Draco casou-se com Astoria Greengrass, uma moça decente, de raizes mágicas muito antigas. Tudo corria bem!

Lembrei-me que ainda estava a tocar na porta de mogno, fria ao toque e corri a sua superfície até atingir a maçaneta, rodando-a. Abri a porta, o mármore reluziu enquanto uma frincha de luz foi projectada para o chão. Os meus pés percorriam a superficie vitrea. Com suavidade, de maneira cuidadosa para não acordar Lucius. Pequei na varinha, que tinha deixado em cima do espoditor onde me debruçava todas as noites para me pentear, e liguei as luzes. Afastei a cadeira do expositor e vislumbrei-me no espelho. Alta, magra, de traços agudos e bela, não havia como negar, estava lá… Apenas Lucius parecia não notar.

Soltei o cabelo, os meus fios loiros caíram delicadamente sobre as minhas costas, despi a camisa de noite. Senti o frio, apressei-me a fechar a porta, que inocentemente havia deixado aberta. Mal a porta encostou, o ar ficou mais quente. Voltei-me de costas para o espelho e percorri a casa de banho. Ampla, com retalhos em branco e bastante simples. Um jacuzi de porcelana repousava numas escadinhas de mármore branco, perto de algumas torneiras com diversos feitios. Coloquei a minha mão sobre a torneira que sabia ser da água quente. Deixei-a aberta e precipitei-me sobre a torneira de espuma, abri e senti a neve, branca e leve, passar-me por entre os dedos.

Recolhi uma toalha, apressebi-me que era a de Lucius, senti o seu toque, o seu cheiro do seu aftershave, e a sua aspereza. Era como meu marido, bela, bem arranjada, mas áspera ao toque.

Entrei para o banho, convicta que iria relaxar e esquecer os problemas, afinal, a vida era agora bem mais fácil, o mundo para mim e Lucius. O que estava a correr mal? Seria eu o problema? A verdade é que me sentia sozinha, já ninguém me tocava como Sirius… Mas não, Sirius era um assunto morto. Mas... as suas mãos robustas a percorrerem-me o corpo e a suavidade das suas palavras turvava-me a visão.

Barta!

Comecei a ensaboar-me lentamente, relembrando os velhos tempos na casa dos Black, os almoços e as tardes de sexo aos domingos, nunca pensando que podiam acabar num instante. Olhei em volta, um friozinho desagradável percorreu-me a espinha naquele exacto momento, olhei para o espelho embaciado devido ao calor.

Comecei a chorar, sempre tinha esperado reencontrá-lo, abraçá-lo. Era angustiante a perda, sentia-me desprotegida, desesperada. Nunca mais recuperei daquilo que teria sido o meu Happly Ever After (1) … Olhei de novo para o espelho, e ainda hoje não sei o que esperava ver naquele momento. Subitamente, palavras começaram a percorrer a superfície vítrea numa caligrafia bonita e arranjada. [i]"O amor está a um passo de distância, SB".[/i]

Sufoquei um grito, senti um aperto no coração. Fechei os olhos tentando apagar aquela imagem da minha cabeça, mas em vão.

Reabri os olhos, um clarão enorme inundou-me. Quando me afeiçoei à luz, olhei em volta e vi que estava no quarto. Tinha sonhado, mas fora tão real, uma parte de mim acordou desiludida, mesmo sabendo que o que tinha visto era impossível. Sentia a necessidade de recorrer a algo mais, algo subrenatural, algo que me fizesse abraçar a vida… Levantei-me. calcei uns chinelos de quarto e percorri o aposento até à porta de saída. Levei a mão à porta, mas algo me deteve. Corri até ao quarto de banho, tudo impecável como na noite passada, olhei para banheira e vi, a mesma toalha que tinha deixado nos degraus do jacuzi. O meu coração gelou por momentos. Era verdade, eu tinha visto as palavras, peguei na toalha, precisava de acreditar. Senti-a, era real. Não aguentei, um súbito soluço meu fez-se ouvir no quarto.

- Querida – chamou Lucius – disses-te alguma coisa? Assustaste-me, já para não falar que me acordaste.

- Não, Lucius, não foi nada, desculpa…

- Porque não relaxas num banho quente?

- É, talvez seja o melhor…

Liguei as torneiras e chamei Lucius:

- Fazes-me companhia? – perguntei inocentemente.

- Daqui a pouco.

Dito isto, saiu fechando a porta e levando o frio que se fazia sentir.

- Sirius... - murmurei.

Despi-me serenamente e precipitei-me para a água quente. Deixei-me repousar por uns momentos. Não me sentia assim há muitos anos. Subitamente senti uma força a puxar-me para o topo, como quando agarramos alguém que se esta a afogar. Senti duas mãos fortes tocarem-me os ombros, abri os olhos. Lucius contemplava-me de forma raivosa e escrupulosa. Apercebi-me de imediato que me tinha ouvido pronunciar o nome de Sirius.

- Lucius, não!

As suas mãos apertavam-me o pescoço, empurrando-me para dentro de água, tentei gritar em auxílio, esperneei com todas as minhas forças para me libertar, mas só conseguia ver a chama a romper por entre as pupilas de Lucius. O meu corpo deixou de me obedecer, ficando hirto, senti-me perder os sentidos enquanto me apercebia que a água me entrava para os pulmões. a minha vista foi ficando desfocada, até se tornar uma sombra.

[center]*[/center]

Abri os olhos. Estava deitada num soalho frio, revestido de azulejos cinza. Apoiei-me nos braços e vi que me encontrava com um vestido branco, decotado, com uma pequena racha. O mesmo que tinha levado ao baile de finalistas de Hogwarts, no meu sétimo ano. O meu cabelo estava arranjado, levemente ondulado e com todo o seu esplendor, um colar de pérolas precipitava-se para o chão. Levantei-me, vi que trazia os mesmos scarpins dessa mesma noite, olhei em volta e percebi onde estava. No Great Hall, em Hogwarts.

Não, mas não podia ser. Estava em minha casa, em Malfoy Manor, com a pessoa que eu amava, Lucius Malfoy. Levantei-me, sem dúvida que não podia estar em Hogwarts, a não ser que... Oh, Lucius nunca seria capaz de fazer isso. Mas então como, como era possível encontrar-me naquele lugar tão especial e tão familiar?

Talvez tivesse sido isso mesmo, num ímpeto de raiva Lucius descontrolara-se e afogara-me!

Apercebi-me, aos poucos, que só podia ser isso, mas recusava-me a acreditar que aquele homem que tanto me tinha amado, fosse capaz de semelhante atrocidade.

Voltei a olhar o salão, cada vez mais me convencia que era Hogwarts. Estava decorado como no meu baile de finalistas, lembrei-me do que aquilo representava. O baile de finalistas foi a primeira vez que beijei Sirius após a saída dele da casa dos Black, um ano antes.

O nosso caso tinha começado de forma muito carnal, nas reuniões de família. Ele odiava-me e o sentimento era reciproco. no entanto, o que parecia ser uma relação de inimigos, tornou-se num amor forte, mas fugaz. Alguns meses depois, ele saiu de casa. So o vi no recomeço das aulas do ano seguinte. Ainda aí, eu era Slytherin e ele Gryffindor, duas casas completamente antagónicas. Nunca mais falámos ou estivemos justos. Nem sequer nos esbarrávamos à saída. Até ao baile de finalista.

Tínhamos ido cada um com o seu par, mas no meio da festa, saí e fui dar uma volta pelos campos. Vi-o ao longe, de smoking, sozinho...

Virei costas, mas algo me parou. Olhei de novo e cruzei o olhar com o seu. Chamou-me, fui ter com ele e não dissemos nada durante algum tempo.

- Narcissa, desculpa.

Naquele momento, senti vontade de lhe pregar um estalo por tudo o que me fizera sofrer, por me ter deixado à mercê de uma família como a nossa. Mas depois pensei, tinha sido um relacionamento efémero, sem emoção nem sentimento, um amor triste e carnal. No entanto, uma parte do meu coração ansiava por aquele toque tão delicado que era dele, ou o do seu beijo.

Os meus punhos alcançaram o seu peito, as lágrimas escorriam, e a voz faltava-me.

- Porquê?

O meu "Porquê" era uma conclusão de tudo o que eu sentia... Porque me deixaste? Porque foste embora? Porque nunca mais me falaste? Porque é que o nosso amor não resultou?

Nunca me respondeu. Olhou-me nos olhos e beijou-me, o beijo mais sincero que já tinha recebido.

Antes de voltarmos para dentro, a música tocava e nós dançávamos ao seu som, lá fora, nos jardins. Passado algum tempo fui para dentro. Lucius, o meu par, apareceu-me pouco depois e levou-me embora, nunca mais vi Sirius mas o seu amor ainda me perseguia.

Olhei, de novo, para o salão, as mesas tinham desaparecido, dando espaço para bastante gente, mas vi que estava vazio. Uma valsa começou a tocar ao de leve… Ah, a música com Sirius. Fechei os olhos, tentando-me lembrar dos passos, a música aumentava à medida que as memórias inundavam a minha mente. Um, dois, três, um, dois, três… Passo a passo, dancei como nunca, soltando-me para alguém que eu nunca conhecera. Subitamente as palmas percorriam o salão, gelei! O bater vigoroso daquelas mãos, único.

Abri lentamente os olhos, não podia acreditar, era impossível.

Sirius Black, com o seu smoking do baile, parecendo mais novo do que alguma vez, o cabelo preto, os olhos cinzentos… Um sonho, o meu conto de fadas! Apercebi-me, este era o destino, podíamos não ter sido felizes enquanto vivíamos, mas na morte... não havia limite.

Ele aproximava-se, o sorriso matreiro que tão bem conhecia patente nas belas faces. Abraçou-me, senti o seu toque pela primeira vez em anos. Foi como se todo o mal, Voldemort, Death Eaters, tudo se tivesse apagado. Foi um momento de amor, de juras eternas e momentos felizes. À medida que dançávamos, outros pares apareciam do nada, juntando-se a nós num frenezim que me fez lembrar os tempos de escola.

Sentia-me tão bem nos seus braços, o seu olhar forte e penetrante fazia a minha tez corar. Ele cruzou o seu olhar com o meu à medida que dançávamos, um sorriso espontâneo apareceu nos seus lábios.

Coloquei a minha cabeça sobre o seu pescoço, sentido a sua pulsação. Foi a minha forma de comprovar se estava a sonhar. Uma lágrima escorreu-me pela cara, molhando o seu smoking.

- Narcissa, que se passa? – perguntou-me, a sua voz fez-me estremecer.

- Nada, é so que... senti tanto a tua falta.

- Oh, minha querida, quem me dera que tivesse sido diferente.

- Não, foste cobarde e deixaste-me. – acusei-o, sentindo a raiva e o desespero a brotarem de mim.

Dançámos mais alguns momentos, olhei-o, o seu olhar estava triste. Senti uma leve culpa, afinal, eu também tinha desaparecido.

- Desculpa. – pedi.

- Não, não peças, a culpa foi minha... Se eu pudesse voltar fazer alguma coisa, eu fazia!

- Fica comigo... é tudo o que eu quero.

- Nem tudo é tão fácil, Narcissa. Mas vem, deixa-me mostrar-te uma coisa.

Parámos, os casais desvanesceram, as luzes apagaram e o chão escapou-me. Senti-me descer para o desconhecido com meu amor, com seus dedos entrelaçados nos meus. Sentei-me em algo mole, reconheci como sendo o colchão de Sirius, no seu quarto, na mansão dos Black. A verdade é que ele odiava aquele lugar, mas tinha sido ali que tudo tinha começado.

- É verdade ou estou a sonhar? – disse, querendo tirar a dúvida.

- Meu amor, este sou eu e essa és tu, que mais queres? Só existimos nós... Para toda a eternidade.

- Sirius...

- Não digas nada, aprecia o momento, sente as recordações...

A verdade é que eu sentia-as a brotar de mim como se eu fosse uma fonte. E de mim brotava o amor, as histórias mais belas de serem partilhadas.

Ficámos assim durante alguns minutos, ou horas, não sei, foi um momento de reencontro silencioso. As muitas frases que ficaram por dizer tinham estado sempre lá, guardadas pelos dois. Lembro-me de dizer "não" a mim mesma, de não acreditar, fechei os olhos durante alguns minutos na esperança de acordar. Mas será que era isso mesmo que eu queria? Acordar daquele sonho tão lindo?

Quando finalmente falámos, Sirius pareceu sorrir de alguma coisa.

- Como foi morrer? – perguntou-me Sirius.

- Morrer? Mais rápido e mais fácil do que cair no sono.

Idiota, ser estrangulada e afogada pelo próprio marido era uma forma muito indolor de se morrer, não haja dúvida.

- E tu?

- Simples, na verdade, bastante monótono. Num segundo estáva lá, no departamento dos Mistérios, noutro, estava neste turbilhão de memórias e sonhos.

- Ainda bem. – escapou-me.

- Não percebi o que disses-te.

- Ainda bem que não sofres-te, que estás bem, que te posso tocar!

- Podes, apartir de hoje, podes sempre!

Senti um arrapio quando ele se aproximou, pegou-me nas mãos, sorriu e beijou-me.

- É isto a morte?

- Isto é a tua morte, os teus desejos, as tuas memórias...

- E que sonho ou memória me vais mostrar a seguir?

- Uma bastante hilariante! – confidenciou-me.

- O teu sentido de humor tem vindo a ser intorpecido desde que morreste.

- És um amor! - exclamou ironicamente.

Demos as mãos e, então, o chão desapareceu de novo.