Ah gente! eu SEMPRE quis fazer uma adaptação sabe? mas nunca tinha achada um livro que ainda não tinha sido lido por, tipo, todo mundo.
Mas aí veio a Ella! e PUXA é uma história MUITO fofa! parece um conto de fadas elaborado!
Bem, aproveitem!
Kiss
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A tonta da fada Lucinda não queria jogar uma maldição sobre mim. Ela queria me conceder um dom. Ao me ver chorando inconsolável, durante a minha primeira hora de vida, minhas lágrimas lhe serviram de inspiração. Balançando a cabeça amavelmente para minha mãe, a fada tocou meu nariz.
- O dom que eu lhe concedo é a obediência. Sakura será sempre obediente. Agora, pare de chorar, menina.
Eu parei.
Meu pai estava longe numa viagem de negócios, como sempre, mas nossa cozinheira, Tsunade, estava lá. Tsunade e minha mãe ficaram horrorizadas e, por mais que explicassem, não conseguiam fazer Lucinda entender que havia feito uma coisa terrível contra mim. Eu bem posso imaginar a discussão: as sardas de Tsunade mais evidentes do que nunca, seus cabelos loiros grisalhos descabelados e seu queixo duplo tremendo de raiva; minha mãe imóvel e profundamente emocionada, com seus cachos rosas ainda úmidos do trabalho de parto, o sorriso fugindo de seus olhos.
Não consigo imaginar Lucinda. Não sei como era.
Ela não desfez o encanto.
A primeira vez que me dei conta dele, foi no dia do meu aniversário de cinco anos. Lembro-me perfeitamente daquele dia, talvez por Tsunade ter contado esta história tantas vezes.
- Para o seu aniversário - disse ela - fiz um lindo bolo. Seis camadas.
Bertha, nossa governanta, havia confeccionado um vestido longo para mim.
- Azul como a meia-noite, com uma faixa branca. Você era pequena para sua idade, parecia uma boneca de porcelana, com uma fita branca no cabelo rosa e as bochechas coradas de tanta animação.
No meio da mesa havia um vaso cheio de flores que Nathan, nosso criado, havia colhido.
Todos nós sentamos ao redor da mesa (meu pai tinha viaja do novamente). Eu estava animadíssima. Tinha visto Tsunade assar o bolo, Bertha costurar o vestido e Nathan colher as flores.
Tsunade cortou o bolo. Quando me deu o meu pedaço, disse sem pensar:
- Coma.
A primeira mordida foi deliciosa. Comi o bolo, toda contente e Tsunade cortou outra fatia. Esta já foi mais difícil de comer. Quando acabou, ninguém me ofereceu outro pedaço, mas sabia que tinha que continuar comendo. Enfiei o garfo diretamente no bolo.
- Sakura, o que você está fazendo? - minha mãe perguntou.
- Porquinha - Tsunade riu.- É o aniversário dela, lady. Deixe que coma o quanto quiser - Tsunade colocou outra fatia no meu prato.
Eu me senti enjoada e atemorizada. Por que não conseguia parar de comer?
Engolir era uma luta. Cada mordida pesava na minha língua e parecia uma massa grudenta de cola que eu lutava para fazer descer. Comecei a chorar enquanto comia.
Minha mãe foi a primeira a perceber.
- Pare de comer, Sakura - ordenou. Eu parei.
Qualquer pessoa podia me controlar com uma ordem. Tinha que ser um comando direto, tipo "Ponha o xale", ou
"Você tem que ir para a cama agora". Se fosse um desejo, ou pedido, não fazia efeito. Eu podia ignorar "Eu queria que você pusesse o xale", ou "Por que você não vai para a cama agora?". Mas contra uma ordem, era impotente.
Se alguém me mandasse pular num pé só por um dia e meio, eu teria que obedecer. E pular num pé só não era a pior ordem que poderia ser dada. Se você me ordenasse que cortasse a cabeça fora, eu teria que obedecer.
Eu corria perigo a cada momento.
À medida que fui crescendo, fui aprendendo a retardar minha obediência, mas cada momento me custava muito - em falta de ar, náusea, tonteira, e outros sérios desconfortos. Não conseguia nunca retardar o cumprimento da ordem por muito tempo. Mesmo poucos minutos significavam uma luta desesperada.
Eu tinha uma fada madrinha, e minha mãe lhe pediu que me tirasse a maldição. Mas minha fada madrinha disse que Lucinda era a única que poderia desfazer o feitiço. Porém, avisou que o encanto poderia se quebrar algum dia sem a ajuda de Lucinda.
Mas eu não sabia como. E nem sabia quem era a minha fada madrinha.
Em vez de me tornar uma pessoa dócil, o feitiço de Lucinda fez de mim uma pessoa rebelde. Ou, talvez, esta fosse mesmo a minha natureza.
Minha mãe raramente insistia para que eu fizesse algo. Meu pai me via raramente, não sabia nada a respeito do feitiço, e não me dava muitas ordens. Tsunade era mandona, dava ordens quase com tanta freqüência quanto respirava. Ordens gentis ou ordens para-o-seu-próprio-bem. "Agasalhe-se, Sakura." Ou "Segure esta tigela enquanto eu bato os ovos, querida".
Eu não gostava dessas ordens, por mais inofensivas que elas fossem. Segurava a tigela, mas saía andando e Tsunade tinha que me seguir pela cozinha. Ela me chamava de espertinha e tentava me pegar com instruções mais específicas, e eu encontrava novas maneiras de escapar. Geralmente, era um grande esforço conse guir que nós duas fizéssemos alguma coisa juntas, minha mãe achava graça e a cada vez instigava uma de nós.
Tudo terminava bem - eu decidia fazer o que Tsunade queria, ou Tsunade trocava sua ordem por um pedido.
Quando ela, sem querer, me dava uma ordem que eu não queria, eu perguntava:
- Tenho mesmo que fazer isto? E ela reconsiderava.
Quando estava com oito anos, tive uma amiga, Pamela, filha de uma de nossas criadas. Um dia eu e Pamela estávamos na cozinha, vendo Tsunade fazer marzipam. Tsunade me mandou ir à despensa pegar mais amêndoas. Eu voltei com apenas duas. Ela então me mandou voltar com instruções mais exatas, que segui à risca, embora tentasse frustrar seus verdadeiros desejos.
Mais tarde, quando Pamela e eu fomos ao jardim para devo rar o doce, ela me perguntou por que não havia feito logo o que Tsunade queria que fizesse.
- Detesto quando ela fica mandona - respondi. Pamela disse presunçosamente:
- Eu sempre obedeço aos mais velhos.
- Isto é porque você não é obrigada.
- Sou, sim, se não obedecer o meu pai me bate.
- Não é a mesma coisa. Eu estou sob um encanto - eu gos tava da importância das palavras. Encantos eram raros. Lucinda era a única fada precipitada o bastante para lançá-los sobre alguém.
- Como a Bela Adormecida?
- Com a diferença de que não terei que dormir por cem anos.
- Qual é o seu encanto?
Contei a ela.
- Se alguém lhe der uma ordem, você vai ter que obedecer? Inclusive eu?
Confirmei com a cabeça.
- Posso experimentar?
- Não - eu não havia previsto esta situação. Mudei de assun to. - Vamos apostar uma corrida até o portão.
- Está bem, mas eu ordeno que você perca.
- Então eu não quero apostar corrida.
- Eu ordeno que você aposte corrida comigo, e ordeno que você perca.
Nós corremos. Eu perdi.
Fomos apanhar frutas silvestres. Tive que dar a Pamela as mais doces e maduras. Brincamos de princesas e ogros. Tive que ser o ogro.
Uma hora depois da minha confissão, acertei um soco nela. Pamela gritou, e escorreu sangue de seu nariz.
Nossa amizade terminou naquele dia. Minha mãe arrumou um novo emprego para a mãe de Pamela longe de Frell, nossa cidade.
Depois de me punir por ter usado o punho, minha mãe me deu uma de suas raras ordens: nunca contar a ninguém sobre o meu feitiço. Mas eu não contaria mesmo. Havia aprendido a ser cautelosa.
Quando estava com quase quinze anos, eu e minha mãe pega mos um forte resfriado. Tsunade nos medicou com sua sopa cura dora, feita com cenoura, alho-poró, aipo, e fios de cabelo de rabo de unicórnio. A sopa estava deliciosa, mas tanto eu quanto minha mãe detestamos olhar para aqueles longos fios branco-amarelados flutuando com os legumes.
Como meu pai estava longe de Frell, tomamos a sopa senta das na cama de minha mãe. Se ele estivesse em casa, nem entra ria no quarto dela. Meu pai não gostava que eu ficasse em nenhum lugar perto dele, atrapalhando, como ele dizia.
Tomei minha sopa com os fios de cabelo dentro porque Tsunade me ordenou, embora tenha feito caretas para a sopa e para Tsunade quando ela se virou para sair.
- Vou esperar a minha sopa esfriar - disse minha mãe. Então, depois que Tsunade saiu, ela retirou os fios, tomou a sopa, e os colocou de volta na tigela vazia.
No dia seguinte eu estava bem e minha mãe estava muito pior. Muito doente para comer ou beber qualquer coisa. Ela disse que sentia uma faca em sua garganta e uma estaca batendo em sua cabeça.
Para fazê-la sentir-se melhor, pus compressas frias em sua testa e lhe contei histórias. Eram histórias antigas e conhecidas sobre fadas que eu ia mudando aqui e ali, mas às vezes eu conse guia fazer minha mãe rir. E seu riso se transformava em tosse.
Antes que Tsunade me mandasse ir para cama, minha mãe me beijou.
- Boa noite. Amo você, preciosa.
Estas foram suas últimas palavras para mim. Enquanto eu saía do quarto, ouvi as últimas palavras de minha mãe para Tsunade.
- Não estou muito doente. Não mande chamar Sir Kakashi.- Sir Kakashi era meu pai.
Na manhã seguinte, ela estava acordada, porém, sonhando. Com os olhos arregalados, conversava com cortesãos invisíveis e puxava nervosamente seu colar de prata. Para Tsunade e para mim, que estávamos ali com ela no quarto, não falava nada.
Nathan, o criado, trouxe o médico, que me afastou.
Nosso hall de entrada estava vazio. Segui para a escada em espiral e desci, me lembrando das vezes em que eu e minha mãe havíamos escorregado pelo corrimão.
Não fazíamos isto quando havia gente por perto.
- Nós temos que manter a classe - ela me sussurrava e, en tão, descia a escada de um jeito todo majestoso. E eu a imitava, lutando contra meu jeito desengonçado, contente em fazer parte da brincadeira.
Mas quando estávamos sozinhas, preferíamos escorregar e ir gritando até lá embaixo. E subíamos de volta correndo para dar mais outra escorregada, e mais uma terceira, e mais uma quarta.
Quando eu chegava no final da escada, abria a pesada porta de entrada e corria para o sol lá fora.
Era uma longa caminhada até o antigo castelo, mas eu que ria fazer um pedido, e queria que este pedido fosse feito no lugar em que ele tivesse mais chance de ser atendido.
O castelo fora abandonado quando o rei Fugaku ainda era um menino, embora houvesse sido reaberto para ocasiões espe ciais, bailes privados, casamentos, e coisas do gênero. Mesmo assim, Bertha dizia que era assombrado e Nathan dizia que esta va infestado de ratos. As plantas dos jardins tinham crescido muito, mas Bertha jurava que as árvores-vela tinham poder.
Fui direto para o bosque das velas. As árvores-vela eram pe quenas árvores que tinham sido podadas e amarradas com arames para fazer com que elas crescessem em forma de candelabros.
Para fazer um pedido você precisa ter argumentos para a negociação. Fechei meus olhos e pensei:
- Se a minha mãe ficar boa logo, eu serei boa, não serei ape nas obediente. Eu me empenharei mais em não ser desengonça da e não implicarei tanto com a Tsudade.
Não pedi pela vida de minha mãe, porque não acreditava que ela estivesse correndo risco de morte.
