Desde que Carter foi para África a minha vida se tornou muito difícil. Trabalhar, cuidar de um filho, ser mãe e pai ao mesmo tempo não é nada que se aprenda da noite pro dia. Eu sinto tanta saudade dele, mas quando ele me escreve ou nos falamos por telefone parece tão distante e frio comigo, parece que se esconde de mim. O meu maior medo nisso tudo é que lá ele retorne com seus vícios e que todo o trabalho que tivemos nesses cinco anos de casado vá por água abaixo.
E além de mim, David, nosso filho, está morrendo de saudades do pai e me pergunta todo dia por ele. Por mais que eu explique todos os dias que o pai dele está na África a trabalho nos últimos 8 meses ele não consegue entender. Mas eu também não podia obrigá-lo, ele só tem cinco anos e é muito apegado ao pai.
São exatamente 1 da manhã e eu estou aqui tentando dormir, mas eu sei que é em vão. Ele domina meus pensamentos. Pergunto o que ele estaria fazendo agora e pergunto se estaria pensando em mim. Nós estávamos tão bem e até agora não consigo entender o por que da partida dele. Com esses pensamentos eu choro até cair num sono profundo.
Dia Seguinte
- Mamãe!! Mamãe!! - chama David pulando na minha cama.
- O que foi querido? - eu disse puxando-o e colocando-o em meu colo. - O que meu príncipe tem?
- Sonhei com papai!
- Foi?! E foi um sonho bom? - eu perguntei afagando os cabelos dele
- Vai voltar!!
Eu podia ver a alegria dele ao "falar" aquelas duas palavras, seus olhinhos brilhavam como dois diamantes. Senti as lágrimas subirem no meu rosto, mas as segurei. Não queria chorar na frente dele, queria aparentar ser forte, mas sei que a saudade estava me matando.
- Ele vai querido, vai sim e vai ser em breve.
O menino sorriu para mim e eu olhei ao relégio. Eram 6 da manhã e eu precisava estar no trabalho em duas horas. Dei banho em David e o seu café deixando ele vendo tv no quarto enquanto tomava banho. Me arrumei rapidamente pegando David e deixando-o na creche. Olhei para o relógio antes de sair da creche e percebi que iria chegar atrasada mais uma vez no ER. Droga! - pensei - A Kerry iria me matar. Dirigi o mais rápido que pude e cheguei no ER apenas 10 minutos atrasada, sendo que pra Kerry isso equivaleria a 2 horas.
- Hei Abby! - ouvi Susan gritar meu nome.
- Oi Sue... A Kerry percebeu o meu atraso?
- Não... Ela ainda não chegou.
- Graças a Deus... David estava manhoso pra se ajeitar hoje e ai demoramos para sair de casa e acabamos nos atrasando.
- Eu entendo que está sendo difícil pra você ter essas responsabilidades todas sozinha.
- Difícil está mesmo... Sabe Sue, tenho medo de estar sendo uma mãe ruim, de não dar a atenção e o amor que meu filho precisa.
- Abby, você está sendo a melhor mãe que eu já vi! Faz de tudo pro seu filho, é uma ótima médica, David é um menino maravilhoso e te ama muito.
- Eu o amo também... As vezes saio cansada daqui, querendo cair na cama e dormir, mas basta eu ver o meu príncipe me dar aquele sorriso que eu acho energia e fico um tempo com ele.
- Então não se preocupe a toa.
- Eu não vou, mas às vezes me bate uma insegurança...
- Isso é normal... Então... notícias do Carter?
- Nenhuma... Faz duas semanas que ele me ligou, mas nós nos falamos por 20 minutos no máximo. Ele parece meio atordoado, tenho medo que tenha acontecido alguma coisa com ele lá.
- Fique tranquila, você sabe que ele nunca foi muito de falar dos problemas dele.
- É, mas se eu que sou casada com ele a cinco anos não posso saber dos problemas dele e tentar ajudá-lo, quem pode fazer isso?
- Fique tranquila, ele está bem, e quando ele voltar vamos ter uma Abby com um humor bem melhor, mais alegre...
- O que você está insinuando?
- Nada... Só que esta abstinência sexual está te matando...
- Susan!
- Não venha dizer que não... Fazem 8 meses que ele foi embora... A não ser que você...
- HEY! Fazem 8 meses sim! Eu não fiz nada de errado!
- E se tivesse feito eu não contaria...
- Mas você é boba Susan!
- Boba pode até ser, mas não sou burra. E sou mulher, sei dessas coisas..Esse seu mal-humor nos últimos meses...- ela sorriu maliciosamente pra mim. Na verdade eu não podia negar. Estava sentindo muita falta dele. Em todos os sentidos. Como amigo, como pai do meu filho, como colega de trabalho e principalmente como homem, como meu marido.
- Eu vou trabalhar que eu ganho mais, Susan.- eu tratei de sair dali rápido. Não queria descobrir que tudo o que ela dizia era a verdade, apensar de no fundo, saber que era.
Eu entrei pelo corredor, procurando serviço. Que marasmo!
Meses Depois...
O ER naquela manhã estava uma confusão. Paciente para tudo quanto é lado e como sempre muita gente sem nada pra fazer na recepção. Eu caminhei até aquela muvuca toda tomando um enorme susto ao ver que quem havia causado aquilo tudo não era nada mais nada nada menos do que Carter.
Eu o vi por entre a cabeça das pessoas que não me deixavam o ver inteiramente. eu vi o cabelo dele antes de ser empurrada e quase cair na frente de todo mundo. Lógico! Pra que deixariam a mulher dele o ver primeiro do que médico infermeiras curiosos?!?!
Resolvi deixar que aquele caos passasse para eu falar com ele. Debrucei-me contra a balcão e esperei as pessoas sairem de cima. Foi quando eu escutei a voz dele, ainda com alguém na minha frente, me impossibilitando de ve-lo.
A pessoa que falava com ele não era do hospital muito menos era daqui, tinha um sotaque francês ou qualquer um parecido. O que eu não esperava era que eles fossem se despedir com um beijo! Quem ela pensa que é? Alias quem eles pensam que são? Eu comecei a sentir a raiva tomar conta de mim.
Eu fui pra cima da multidão, empurrando e pedindo licença pra alguns. Quando estava livre de todos eles, vi um Carter empolgado beijando-a profundamente. Eu cruzei os braços e esperei que ele me olhasse.
Ele se separou dela levando-a até a porta do ER. Quando ele voltou para a recepção nossos olhos se "bateram de frente". Eu percebi que ele tomou um susto. Nenhum de nós dois falou nada por algum tempo. Ele começou:
- Abby...
- Não comece abrir a boca se você não quer um barraco no nosso local de trabalho- eu estava quase desmaiando de tão atordoada. Eu relamente não conseguiria conversar civilizadamente agora. Se é que pudesse houver conversa civilizada nessa situação.
- Eu só...- eu o interrompi de novo. - Não me Venha com essa cara deslavada pra cima de mim!
- Abby...
- Cala a boca! - eu não aguentei e explodi - em casa nós conversamos...- eu achei que daria o fim da conversa ali.
- Eu não vou pra casa...
- Bom se você não vai eu não posso fazer nada, mas eu não quero conversar esse tipo de coisa aqui no County, se quiser conversar comigo fazemos isso depois e em outro lugar.
- Eu posso ver David?
- É seu filho... Infelismente não posso mudar isso...
- Desculpa... - eu ainda o ouvi dizer enquanto eu entrava novamente no hospital.
Horas Depois
Meu plantão havia terminado a 45 minutos mas eu estava presa no hospotal graças a enorme quantidade de vítimas que havia chegado 1 hora antes. Por sorte, até então, eu não tinha precisado atender nenhum paciente com ele. Mas tudo o que é bom dura pouco.
Devido a uma briga de gangs houve um paciente esfaqueado e eu tive que atender este paciente com ele. Eu evitava olhar para ele e só tratava de falar do paciente. Acho que os enfermeiros que estavam na sala perceberam isso, mas eu não ligo. Ele é que devia estar envergonhado, pois foi ele que apareceu com outra mulher aqui e a beijou na frente de todo mundo, ao contrario de mim que fiquei quase 1 ano sofrendo, gastando lamentações, orações, lágrimas e o pior alimentando um amor que agora era uma desilusão. Atendemos o paciente rapidamente ficando a sós na sala novamente. O silêncio reinava e isso estava deixando um clima chato.
- Seu filho está com saudades...- eu não poda deixar barato e além do mais eu precisava fazer com que ele visse David. Eu sabia que ele sentia muita falta do pai.
- Eu vou vê-lo, só queria falar com você sobre uma coisa.
- Fale...
- Se enquanto eu tiver vivendo fora de casa eu posso levá-lo pra passar um dia na casa onde estou...
Eu estava chocada, não consegui acreditar no que ele dizia. Respirei fundo para não meter a mão na cara dele e disse:
- Primeiro temos que contar a ele que você está saindo de casa, que você tem outra pessoa... Não quero confundir a cabecinha de um menino de 5 anos!
- É, você tem razão...- ele baixou a cabeça. É lógico que eu tinha razão!
- Você tá bem?- ele perguntou, vendo que eu tremia da cabeça aos pés. Bem? Ele realmente tinha coragem de perguntar isso?
- É lógico que eu não estou bem!!! - eu gritei e ele se calou.
Eu respirei fundo e continuei:
- O que mais me magoa não é o fato de ter sido trocada, apesar disso doer quando se ama alguém, mas o que mais me machuca é saber que você não me falou logo, ficou me dando esperanças. Você tem noção do que é passar quase um ano vivendo uma ilusão? Sinceramente eu preferia que tivesse me ligado e me dito: "Olha Abby não dá mais, tenho alguém..."
- Eu sei, desculpa...- ele permanecia com a cabeça abaixada.
- Desculpa não resolver muita coisa, Carter...- eu sai e o deixou com seus pensamentos. Era melhor não "colocar mais lenha na fogueira". Eu estava me sentindo como se tivesse levado uma surra. Meu corpo dolorido, a cabeça estourando.
Eu me esforço ao máximo pra tirar aquilo das minhas idéias, mas eu não consigo e é inevitável que eu comece a chorar feito uma desesperada quando me vejo sozinha, numa sala vazia.
Eu sei que chorar não vai adiantar a situação, mas eu precisava desabafar de alguma forma o que estava sentindo. Eu enxuguei minhas lágrimas e saí do ER indo pegar David na creche. Eu precisava contar a historia a ele antes que eu me magoasse mais com a situação.
Eu desci do carro não totalmente recuperada do choque. Minha cabeça estava me matando e meus olhos inchados denunciavam o meu desespero.
Fui até a classe dele vendo deitado num berço, quase pegando no sono. Ele estava tão foto, tão lindo. Pra falar a verdade, estava a cara do pai...
A professora se aproximou de mim com as coisas dele, percebendo minha expressão.
- Aconteceu alguma coisa Sra. Carter? - Ao ouvir aquele nome senti a dor dominar meu espírito.
- Só alguns problemas que ainda não resolvi.
- Tudo bem... Aqui estão as coisas dele.
- Obrigada e até amanha.
- Até amanha
Eu fui até o berço e o peguei, tentando não disperta-lo. Em vão. Ele abriu os olhinhos pra mim, passando a mão pelo meu rosto.
- Oi, mamãe!- ele se levantou, agarando meu pescoço enqaunto eu saia dali.
- Oi, bebe!- eu dei um beijo nos lábio dele.
- Pra casa? - ele perguntou enquanto eu prendia-o em sua cadeirinha.
- Sim, nós vamos pra casa... Vamos jantar, tomar banhinho e dormir.
- Brincar!!!
- Também...
Meu cansaço tomava conta de mim, a cabeça ainda dolorida, mas tudo amenisava quando ele estava na minha frente.
Nós chegamos em casa e eu vi a secretária piscando. Nem olhei pra ela e fui dar banho do David.
Eu terminei de dar banho nele, dei o seu jantar e o coloquei para dormir. Ele quis brincar , mas antes mesmo que pegasse os brinquedo começou a bocejar e ficar manhoso. Ele sempre fazia isso quando estava com sono. Depois de cuidar dele resolvi cuidar de mim um pouquinho e tomei um longo banho. Quando eu terminei meu celular tocou. Graças a Deus era Susan e não ele.
- Oi...- eu percebi a voz dela tensa.
- Oi - eu não estava diferente.
- Você está bem?- eu pude sentir as minhas lágrimas voltarem a correr. Disfarcei, não queria que ela me "visse" assim.
- To, sim...Ia dormir agora mesmo...- eu fiz um som e ela "matou" na hora o meu desespero.
- Abby, Abby...você não me engana! Desabafa, vai!
- Então tá... Eu estou péssima, com vontade de matar aquele desgraçado! Susan eu perdi horas, dias, noites, meses pensando nele! Alimentando um amor, fazendo preces para que ele estivesse bem, fiquei cuidando do nosso filho sozinha, sofri por ele, para agora uma mulher como essa tomar ele de mim? Quem ele pensa que eu sou? Um objeto? E o pior é que eu ainda o amo muito mesmo.
- Eu sei disso tudo, amiga...Não sei nem o que te dizer...Sei lá...Eu também to muito puta da vida com ele, Abby. Você não sabe o quanto!- ela disse, num tom de raiva.
- Mas eu não posso fazer nada, não é?
- Bom não pode mesmo, mas eu te garanto que ele vai quebrar a cara... Isso não tem cara de ser sério, muito menos verdadeiro.
- Pois que ele seja feliz! Infelismente eu tenho laços com ele ainda e não posso me desfazer deles e nem quero. Meu filho é a coisa mais preciosa que eu tenho.
- Você já falou com ele?- Susan me perguntou, me fazendo lembrar da dura conversar que eu teria de ter com David na manhã seguinte.
- Não, vou fazer isso amanhã...
- Bom, tenha calma pra falar com ele, ok? E se precisar de ajuda, sabe onde ligar...
- Brigada, Susie...boa noite..- eu desliguei o telefone assim que a ouvi se despedir de mim.
Eu me joguei na cama sentindo minha cabeça pesar. Em poucos minutos eu cai num sono profundo, já havia chorado muito por ele e não queria mais isso.
Manhã Seguinte...
Eu estava brincando na sala com David quando disse:
- Querido, mamãe quer falar com você...
- Mamãe!
- Sim, sim...é um assunto muito sério e você terá que ser um homenzinho pra entender, certo?- eu o sentei no sofá e olhei seriamente para ele. Me sentia péssima tendo que falar com uma criança desse jeito...mas não tinha remédio. Vi que elke se ajeitou no sofa e acenou com a cabeça.
- O papai voltou- eu vi a expressão dele se iluminar.Péssima frase pra começar essa conversar. Devia ter começado pelo fim, assim não lhe daria falsas esperanças.
- Papai!!
- Mas tem uma outra coisa que meu bebe precisa entender e eu sei que vai entender. Você é o homenzinho da mamãe e sei que vai entender.
Ele me olhou nos olhos.
- Mamãe e o papai não vão mais ficar juntos...
Eu o vi fechar a cara tentando assimilar o que eu tinha faldo.
- Como assim?
- O papai não vai mais morar com a gente- eu afaguei os cabelos dele, tentando encontrar forças pra continuar a falar.
- Por que?- ai a pergunta que eu tanto temia.
- Bom querido, aconteceram muitas coisas entre eu e o papai e aí nós sentamos e conversamos, achando que a melhor solução seria ficarmos separados.
Os olhinhos dele se encheram de lágrimas e meu coração ficou apertadinho.
- David, querido, mas eu e seu pai ainda te amamos muito... Você sempre será nosso bebê.
- Eu não quero ser o bebê de vocês assim!- ele começou a ficar manhoso e a gritar- eu não quero isso! Eu quero o papai, agora!!
- Filho, calma...você vai ver o papai hoje...só quero que você tente entender a mamãe..- eu estava perdida...o que eu devia fazer agora?
- Não, eu não quero ver ele! Nem você! - ele correu pra escada e eu fui atrás dele. Consegui alcança-lo perto do quarto dele.
- Eu não quero falar com você, mãe!- ele bateu a porta do quarto na minha cara.
- David!!! David!!! - eu disse batendo a porta do quarto
- Sai daqui!
Eu fui até a sala pegando o telefone e disquei pra Carter.
- Alô?
- Carter? Estou tendo problemas com David
A voz dele parecia ofegante e eu já podia imaginar o que ele devia estar fazendo. Respirei fundo e tentei deixar de pensar nisso, ouvindo até a respiração daquela vadia.
- Depois eu falo com ele, Abby...- ele parecia apressado para continuar o que estava fazendo.
Meu ódio era tanto que desliguei o telefone rapidamente
Eu fui até o quarto dele e abri a porta. Ele estava deitado na cama chorando eu sentei ao lado dele e acariciei seus cabelos.
- David...
- Por que você e o papai estão se separando?! Eu não sou o bebê de vocês mais...
Eu fiquei sem saber o que fazer então resolvi contar a verdade apesar de saber que podia estragar mais as coisas.
- Papai tem outra pessoa...
Os olhinhus dele se estatelaram em trsiteza.
- Não é verdade, mãe! Papai ama você, mãe!- ela arrastava as palavras chorosas.
- Eu sei, bebê, mas papai conheceu outra pessoa na viagem...e agora ele gosta dessa moça...
- Mas eu não quero ela!!!
- Shh... - eu disse o abraçando delicadamente. - Seu pai te ama muito e nada vai mudar isso.
- Se ele não ama minha mãe, não me ama!!!
- Não querido. Ele te ama e isso nunca vai mudar
- Vai, sim, mãe! Eu não quero que ele fique com outra pessoa que não seja você!!!!- eu não podia conter o meu choro. Era impulsivo. Me partia o coraçao ver meu neném falando daquele jeito.
- Hoje nós vamos conversar com ele, certo? Vocês vão conversar e ele vai te explicar tudinho...- eu tentei acalmar ele.
- Por que ele não veio hoje? Onde ele está agora?
- Ele não veio porque está trabalhando querido. - eu estava mentindo mais uma vez para meu filho e eu odiava isso, mas não podia simplismente chegar para meu filho de 5 anos de idade e dizer que o pai dele não veio vê-lo porque estava transando com aquela vagabunda. Eu olhei para ele e enxuguei as lágrimas dele dizendo:
- Não chore meu bebê... Seu pai lhe ama e ele vai te dizer isso hoje... Agora vamos se arrumar para ir para a creche?
- Eu não quero ir! -ele voltou a ficar emburrado e olhou para o lado da parede.
- David, eu preciso trabalhar!- eu tentei puxá -lo, mas ele parecia pesar 100Kg quando queria.
- Não quero mamãe...
- Se você não for seu pai não vem lhe ver...
Ele olhou para mim.
- Ele vem mesmo?
- Vem sim querido...
- Tá bom, então...eu vou,...mas o papai tem que vir, ok?- ele me fez prometer.
- Sim, eu prometo.
- Então vamos!- eu o levantei, faznedo - tomar banho e pondo o uniforme para ia pra creche. Levei-o até la e depois de um pouco de manha, ele ficou bem. Fui correndo pro County, chegando atrasada pela 2a vez consecutiva.
- Abby você está atrasada! - disse Kerry assim que cheguei.
- Desculpe, tive alguns sérios problemas com meu filho hoje.
- Está bem, mas e o Carter? Também está atrasado.
- Dele eu não sei... Não estamos mais juntos Kerry.
- Desculpe.
- Tudo bem, não há porque
Eu fui até a SDM sem antes deixar de passar pelo quadro de médicos. Maldição! O nome dele estava lá, e de acordo com o quadro, já deveria ter chego há pelo menos duas horas...Deve estar "muito ocupado". Que raiva! Que ódio!
Voltei a recepção pegando alguma fichas e atendendo-as sem demora. Quando volto para a recepção para apagar os nomes dos pacientes que eu havia dado alta percebo que ele entra no ER. Com certeza estivera muito ocupado nesse tempo. Ele recebe uma bronca de Kerry e vai para a SDM se trocar. Quando ele volta vai até a mim e diz:
- Está tudo bem com David?
- Agora sim...muito obrigada pela ajuda- eu digo me virando de costas, e saindo para outro lugar. O vejo correndo atrás de mim. Que ódio!
- Escuta aqui...- opa! Era impressão minha ou ele estava sendo grosso comingo?
- Olha lá como fala comigo, Carter.
- Desculpe... - ele disse passando as mão pelo cabelo. - Agora o que aconteceu?
- Ele não gostou do fato de você não ir vê-lo, de você não morar mais lá em casa e de você ter outra pessoa.
- Você contou tudo a ele?! - ele disse espantado.
- Claro que sim! Não ia mentir para o meu filho!
- Você é louca? Você não tinha esse direito! EU ia contar pra ele?- ele começiou a desparar contra mim.
- Cala boca, carter!- eu já podia sentir o choro me invadir- era o seu DEVER conversar com o seu filho. Se não foi, eu como uma mãe decente, o fiz!
Ele olhava, me condenando com o olhar.
- Como a gente se engana com as pessoas...- ele balançaca a cabeça, como que não acreditando.
- Eu que o diga...
Eu disse pra ele com desprezo e continuei:
- E por favor, hoje a noite vai ver o seu filho, porque eu prometi a ele que você ia.
- Tudo bem... Eu vou...
- Obrigada.
- Espero que ele não esteja com raiva de mim.
- Não pessa o impossivel
- Eu juro que se você fez a minha caveira pra ele- ele colou o dedo no meu rosto. Como ele ousa???
- Por Deus Carter...no que você se transformou?- eu olhei incrédula pra ele. Não parecia mesma pessoa. A pessoa boa e generosa por quem eu me apaixonei.
Ele virou as costas e foi embora.
Horas Depois...
Eu estava brincando com David quando alguém tocou a campainha. Eu abri e era ele.
- Entra. Ele esta ali na sala brincando.
Eu o vi caminhar sobre o tapete da sala, deparando com David virado de costas para ele. Indo mais adiante, ele agachou e colocou a mão no ombro do menino.
- David?- eu não vi nenhuma reação do meu filho- ei! É o papai!- ele tentava se fazer presente na sala, em vão. eu vi, então, que teria que agir.
- Filho?- finalmente ele olhou pra trás. Os olhinhos dele encontraram os meus, ignorando a presença de Carter - seu pai chegou e quer falar com você.
- Não quero falar com ele!
Senti os olhos de Carter me fuzilar.
- Querido, seu pai vai lhe explicar tudo.
- Não quero! Ele não me ama.
Carter voltou a me olhar "daquele" jeito.
- David- eu pensei que sendo mais enérgica com ele, adiantaria. Em vão! Efeito contrário!
- Eu não quero! E você não vai me obrigar!- ele levantou e começou a gritar comigo ignorando carter totalmente. Ele fazia com Carter o que eu queria fazer e não podia.
- Escuta!- pela 1a vez Carter reagiu- olha como fala com a sua mãe, entendeu?- ele apontou o dedo para o rosto do menino.
- Não gosto de você!
- David! - ele gritou com o menino - Sente aqui agora! - ele ordenou para que a criança que foi até mim e começou a chorar. Ele nunca havia gritado tanto assim com o menino. Eu me abaxei e disse:
- Querido, ouça o seu pai direitinho. É a única coisa que a mamãe te pede.
Ele acenou e sentou no sofá, me puxando junto.
Carter abaixou perto dele falando mais calmo, após eu dar um olhar a ele e pedir pra ele "pegar leve".
- Vamos conversar a sós, ok? Só você e eu...Papo de pai pra filho...conversa de homem, certo?- ele afagou os cabelos de David. Agora sim, esse é o Carter que eu conheço...
- Não! Mamãe fica!- ele emburrou de novo.
Ele se aconchegou no meu colo.
- Está bem, sua mãe fica.
Eu o coloquei de frente para o pai.
- David...
O menino escutava as palavras de Carter obrigado. Não parecia prestar a mínima atenção, mas eu sabia que ele estava escutando e eu rezava pra que ele entendesse.
- O papai conheceu outra pessoa... E descobriu que não ama mais sua mãe- nessa hora eu quase morri. Tive que segurar as lágrimas. Não me ama mais. Aquela frase cortou meu coração e eu desviei o olhar para que não me encontrasse como dele.
- Como, pai?- David pele primeira vez teve uma reação- você ama a mamãe sim!
- Meu filho, entenda por favor... Eu e sua mãe não podemos viver infelizes.
- Não entendo! Não entendo!!
- Querido por favor... - eu disse o abraçando. - Seu pai precisa viver a vida dele e a mamãe a dela, mas vamos sempre estar do seu lado, não importa o que acontecer.
- Tá...acabou?- ele cruzou os braços de frente pra nós dois. Carter ficou mudo, baixando a cabeça- eu vou pro meu quarto!- eu o vi correr pra escada e escutamos a porta do quarto batendo.
Meus olhos marejados fugiram do olhar dele.
- Bom, vou indo...qualquer coisa me liga- ele foi indo em direção a porta da sala enquanto eu tentava enxugar as lágrimas.
- Tudo bem, eu vou dar um tempo a ele.
- Vê se não o mima demais.
- Por favor me poupe dos seus comentários. Eu passei quase um ano sendo mãe e pai dele... Não me cobre nada, não tem esse direito.
- Não quero discutir.
- Nem eu!
- Boa Noite!
- Boa!
Assim que ele passou a porta eu não resisti. Chorei por 10 minutos sem parar. O que tinha acontecido na minha vida? De uma hora pra outra ela tinha virado de cabeça pra baixo e eu já não tinha mais controle algum sobre o que eu sentia. Eu só tinha certeza do meu amor por ele e da minha tristeza por ele não me amar mais.
Eu fiz alguma coisa pro David comer e subi até seu quarto.
Abby: Querido?
Ele olhou para mim e eu percebi os olhinhos inchados dele. Senti meu coração apertar.
Abby: Trouxe biscoitinhos de chocolate e leite para você. Quer comer?
David: Sim.
Eu sabia que se tinha algo que o fizesse feliz era biscoitinho de chocolate com leite morno.
Eu me sentei ao seu lado ajeitando a bandeja em cima da cama.
- Mããããe- eu conhecia aquele jeitinhu dele, manhoso- posso dormir com você hoje?- ele me olhou com aqueles olhinhos que eu babava.
- Sim, mas só hoje, tá bem?- eu não podia deixar ele se acostumar com isso, mas abriria uma exceção. Nós dois estávamos carentes hoje.
Ele terminou de comer e eu o ajeite pra dormir. Peguei o travesseiro dele e o edredom, levando tudo para o meu quarto.
Manhã Seguinte...
Alguém tocava a campainha. Quando eu atendi percebi que era Carter.
- Bom Dia Abby...
- Bom Dia...
- Será que eu podia ver David?
- Claro... Ele está tomando café.
Ele entrou em casa vendo o menino comendo.
- Ei aí, garotão? Vamos dar um volta?- ele estava empolgado. David nem olhou para ele e ele já deu aquele olhar fulminante pra mim. O que ele queria? Achou que viria aqui como se nada tivesse acontecido e tudo bem
- Vem, vamos...Vamos tomar um sorvete, ir a um parque...vai ser divertido! - nossa! Comprar o garoto dom sorvete? Que decadência.
O menino olhou finalmente para ele.
- Se a mamãe for eu vou.
Não acreditei no que ouvi. Meu próprio filho pedindo uma coisa dessas. Eu tratei de dizer:
- Não posso meu bebê, Mamãe tem que trabalhar, mas vá com seu pai e se divirta. A muito tempo que vocês não se vêm e não se divertem juntos.
- Tá bom...
Carter sorriu para o menino e disse:
- Ótimo! Trago ele as 8 ok?
- Certo.
David levantou-se da cadeira me abraçou e me beijou.
- Te amo bebê. - eu disse dando um selinho nele.
- Também mamãe.
As horas passaram vagarosamente. Na verdade eu não trabahei pois aquele era o dia da minha folga. Fiquei em casa me empanturrando de doces, assistindo TV. Sai pra caminhar no bairro. Corri alguns Km´s e voltei pra casa quando começou a escurecer. Olhei no relógio e era 8:15...Droga. Corri o mais rápido que pude, chegando na rua da minha casa ensopada de suor e morta de cansaço. Eu vi o carro deleparado atrás do meu, com os vidros fechados. A porta do motorista estava pra rua e eu fui desse lado. Bati no vidro e ele logo desceu a janela coberta com insu-film.
- Você e esses atrasos, hein?- ele desceu, abrindo a porta de trás. Eu pude notar que ela estava no banco do passageiro, mas nem ousei olhar pra lá.
- Desculpe, eu sai um pouco e acabei me atrasando.
- Tudo bem.
David saiu do carro e pulou no meu colo me dando um beijo.
- Oi mamãe... Morri de saudades...
- Eu também bebê...
- Se despeça do seu pai e vamos subir.
Ele deu tchau para o pai e nós subimos.
- E como foi seu dia?
-Uma bosta!- ele disse, jogando as coisas no chão da sala.
- David!- eu o repreendi pelo palavrão- mas por que foi ruim?
- Mãe! Aquela mulher é uma chata! Ela não come, não fala. Fica só enfiando a língua na boca do papai...e passando a mão nele...é nojento!- ele relatou, com a expressão igual a quando eu o fazia comer sopa.
Eu não podia acreditar que ele havia presenciado aquilo. Senti uma raiva tomar conta de mim, mas me controlei e disse:
- Querido, seu pai está com aquela moça agora, você precisa se acostumar.
- Mas eu não quero!
- Você vai se acostumar... Vai ver...
Ele me olhava com aquele olhar raivoso de novo. Eu não podia deixar que isso acontecesse de novo. Eu não ia ter o ódio do meu filho por culpa dele. Não mesmo.
Eu não sabia o que pensar ou o que lhe dizer. A minha dor era tão forte quanto a dele. Ele tinha a sensação de quem perdia um pai e eu, o homem que eu amava.
- David, olhe para a mamãe.
Ele me olhou.
- Fique calmo querido, você não é obrigada a fazer nada que não queira, mas ele é seu pai e isso não pode mudar.
- Eu sei, mas...
- Eu sei que é difícil para você, mas tente fazer o possível para entender seu pai, eu sei que você consegue fazer isso meu bem.
- Tá, mãe...mas eu não gosto dela...E eu não quero mais ficar com ela, mãe...- ele começou a chorar de novo.
- Tá bom, tudo bem- eu tinha que fazer algo pra conforta-lo de imediato. Depois eu pensaria em como ia me resolver com o Carter.
- Vá colocar suas coisas no quarto e dessa pra jantar- eu tinha certeza de que ele falaria que já tinha jantado.
- Tá bem...- ele me surpreendeu.
Ele subiu e desceu do quarto sem demora.
- Hoje vou fazer seu prto predileto. Macarrão com queijo! - eu disse a ele que sorriu e foi brincar na sala enquanto eu fazia o jantar.
Alguns Dias Depois...
