O tempo passara. Sinto a luz incidir-me nas pálpebras e sei que amanhecera, embora não conseguisse dizer a hora ao certo. Desperto sobressaltada e entreabro os olhos, procurando adaptar-me à luminosidade que me envolvia naquele momento e distinguir qualquer coisa, qualquer elemento que me fizesse compreender que local era aquele em que me parecia encontrar. Sinto o pânico toldar-me a mente, momentos depois de me aperceber que de nada me recordava. Imagens confusas difundiam-se por entre as minhas memórias, impedindo-me de distinguir a realidade e compreender o que acontecera. Respiro fundo e contemplo aquela estranha sala uma vez mais, analisando cada detalhe com mais atenção. Desgastadas e cinzentas paredes delineavam uma espécie de caminho, conduzindo-nos a um outro compartimento, este preenchido por máquinas e peças antigas, deterioradas pelo uso.
"Talvez alguma destas peças se revelem úteis?…" – pondero para mim mesma, desejando encontrar uma saída o mais depressa possível. Prossigo com a minha exploração mas sou surpreendida por uma espécie de ruído. Olho em diante, e apercebo-me da existência de uma câmara, posicionada à beira de um altifalante. O ruído cessa e é substituído por uma voz mecânica:
- Dentro de 15 minutos será ativado um incinerador….Utiliza a razão e encontrarás uma saída. O tempo urge. Não o desperdices. Qualquer que seja o teu destino, a tua vida não será em vão.
-O tempo urge…? – O receio apodera-se de mim fazendo o meu coração parar por meio segundo para depois começar a bater desenfreadamente. Fecho os olhos na esperança de encontrar uma resposta mas tudo se torna enevoado, como se a razão me tivesse abandonado. A razão…Utiliza a razão, não tinha a voz referido algo assim? Dirijo-me, talvez por instinto ou apenas por mero desespero, ao conjunto de máquinas que pouco se distanciam de mim e deparo-me com uma luz verde, proveniente de um dos mecanismos ali presentes. Aproximo-me e observo atentamente, verificando, para minha surpresa, que aquela não se tratava de uma máquina qualquer. Ali encontrava-se um modelo robótico, de suaves feições femininas e acabamento complexo.
- Um robot? – Movida pela curiosidade, desloco o braço na sua direção, procurando qualquer tipo de dispositivo que o permitisse acionar.
- Incinerador ativado dentro de 6 minutos… Restam apenas 6 minutos… Uma voz familiar ecoa-me nos meus ouvidos, interrompendo-me a procura e incentivando-me a apressar e a focar novamente na figura quase humana que diante de mim se encontrava. A seu lado, apenas uma folha branca com uma espécie de código inscrito nas suas margens. Reflito brevemente e localizo um dos monitores. Digito os valores fornecidos pelo papel e o ecrã ilumina-se, nele presentes pequenas letras que formavam a palavra ativado.
- Ainda temos tempo… Depressa. Temos de sair daqui! – A robot desperta e abre os seus grandes olhos azuis, emoldurados por longas e compridas pestanas, tão reais que a um verdadeiro ser humano pareciam pertencer.
-Funcionou? – murmuro ainda perplexa pelos últimos acontecimentos –Como?
-Não há tempo para questões…Temos de ir! – E com isto, segura-me no braço e apressa-se para o monitor que acabara de ligar. Digita mais uma série de números e desta vez, uma porta abre-se, escondida num dos recantos da sala.
- Restam 20 segundos…19,18,17,16
- Depressa! – exclamo, ouvindo a voz do altifalante, esperando eu, pela última vez.
-10, 9, 8,7… - Corro o mais rapidamente que consigo mas há muito que a força me havia abandonado. Apenas alguns segundos para alcançar a porta, apenas alguns segundos que determinariam a nossa vida.
