Olá! Antes de qualquer coisa, devo dizer que essa é a minha primeira fic depois de muitos e muitos anos longe de escrever qualquer coisa séria. Então, espero que gostem. Vamos a algumas considerações iniciais! Teremos relações explícitas entre Harry Potter e Draco Malfoy, e presumo que se você chegou até aqui deve ser porque gosta do tema tanto quanto eu. São apenas dois capítulos, sendo que o segundo já está prontinho, esperando para ser postado! Boa leitura para quem se aventurar!

Título: Tanquam Ex Ungue Leonem (Tradução: Reconheço o Leão Pela Pata)

Sinopse: Ele teve certeza naquele momento: o coração de Potter podia ser vermelho e dourado até a última fibra. Mas sua alma era indubitavelmente tão verde quanto seus olhos.

Capítulo 01

Não havia, para Draco Malfoy, nenhuma razão plausível para estar naquela situação completamente descabida, além da óbvia selenidade que finalmente parecia alcançar quem quer que fosse o professor por trás daquele absurdo. Aparentemente os bruxos dos quais era cercado viviam apenas de dois extremos. Principalmente no que se referia a população de Hogwarts. Mais especificamente direcionado diretamente para grifinórios e sonserinos, e um pouco mais especificamente para Draco Malfoy e Harry Potter, como em breve seria constatado. Os dois extremos eram: ou se odiavam feroz e declaradamente, um tipo de ódio que ainda não sabia como não tinha culminado em incidentes envolvendo o cabo de uma firebolt e um canal estreito e bastante íntimo de um certo grifinório. Ou então eram atirados em uma espécie de hecatombe social onde Draco Malfoy se via obrigado a se atirar de bom grado em meio a uma multidão Grifinória e aparentemente achar aquilo tudo muito bom, obrigado.

No meio daquele salão principal lotado, Draco se deparou com a reconfortante realidade de que não era o único contrário àquele experimento social bolado por algum idealizador alcoolizado. O pós-guerra havia trazido consigo uma necessidade humana de reconciliação que, em sua opinião, dispensava um Harry Potter perfeitamente engravatado e absolutamente deslumbrante. Uma gravata verde e prata. Contrastava de um jeito pateticamente deslumbrante com seus olhos. Com o suéter em gola "V", a calça colada e os sapatos sociais, e a tentativa ridiculamente sexy de domar os cabelos rebeldes em um topete arrogante.

Draco agradeceu a Merlin e ao Chapéu Seletor por ter colocado aquele bastardo na Grifinória, pela primeira vez na vida. Como, pelas barbas de Merlin, iria resistir a aquilo por sete anos consecutivos perambulando displicentemente por seu salão comunal?

O mais irritante em Potter era a óbvia ignorância a respeito de sua própria condição física. A guerra o havia transformado e ele nem parecia se dar conta disso. Ele desfilava seu repentino poço de testosterona, com a barba por fazer e a autoridade no andar de quem havia comandado uma guerra inteira. Era difícil acreditar que o mongoloide do primeiro ano havia se transformado naquele projeto de sonserino enrustido. Ou podia ser apenas a imaginação tendenciosa de Draco – ele teria certeza disso se não fossem os suspiros e olhares das bruxas fêmeas em sua direção. Feromônios no ar.

Mas Draco sabia que não ficava nenhum pouco atrás. Seus cabelos platinados soltos sobre os olhos, incrivelmente cinzas, e a roupa que não muito diferia da de Potter e das dos demais bruxos, atraia olhares de todas as direções. Aparentemente seu estágio como Comensal da Morte vinha sendo superado pelos queridos colegas, e ultrapassava as barreiras de centenas de já adultos bruxos e bruxas. Da guerra à tensão sexual e afetiva, a relevância de problemas diários dos alunos de Hogwarts havia decaído bastante. Dumbledore ficaria orgulhoso.

Mas não fora de Dumbledore - obviamente - a ideia daquele evento social. Draco ajeitou a gravata vermelha e dourada no pescoço, retendo a vontade deselegante de afrouxar o nó. Não era porque estava fantasiado de grifinório que abandonaria seus bons costumes de um legitimo Malfoy. Concentrado, repassou na cabeça os eventos que os haviam levado até ali, enquanto tentava se convencer de que aquele show de horrores que agredia suas retinas não era na verdade uma festa de Halloween.

"Quando entrarem em seus quartos hoje, gravatas para os meninos e meninas estarão sobre a cama de cada aluno. A cor varia de acordo com a casa a qual cada um de vocês foi escolhido a representar essa noite." McGonagall parecia cada vez mais gagá a medida que explicava o magnifico projeto para aquela noite.

"Não foram escolhidos por acaso. Escolhemos para cada aluno, com uma ajuda muito conveniente do Chapéu Seletor, aquela casa que mais significa para cada um, além de suas próprias, é claro. É uma tentativa, que espero sinceramente não ser frustrada, de aproximar e unir os alunos de Hogwarts."

Ela fez uma pausa enquanto os estudantes trocavam olhares incertos entre si.

"Sonserinos serão grifinónios, corvinos serão lufanos, e assim sucessivamente, podem esperar por qualquer uma das casas! Todos no salão principal hoje, nos trajes designados!"

Draco tinha certeza de sua sorte grifinória. As risadas de Blaise e Pansy ecoavam em sua cabeça loira até agora. "Casa que mais significa" era a maior baboseira que já tinha ouvido na vida. Ele tinha uma certeza intuitivamente sonserina da pitada de sadismo naquelas escolhas ridículas.

Mas havia um ditado muito sábio que dizia que nada nunca estava tão ruim que não pudesse piorar.

"Se você não parar de devorar o Potter com os olhos, eu juro que vou vomitar." Blaise era tão compreensivo e sincero que doía.

"Você bem que podia calar essa boca e me arranjar alguma coisa bem cheia de álcool" Suspirou Malfoy, contrariado e com as mãos soterradas nos bolsos.

Blaise ofereceu seu próprio copo, num ato de generosidade completamente não convincente.

"Prefiro beijar a Pansy do que me contaminar com o que quer que esteja na sua saliva" Sorriu enviesado, arrancando uma risada de Pansy. "Vai saber por onde essa sua boca esteve."

"Engraçado, pra quem fantasia em dar uns pegas no Potter, eu não diria que você é a pessoa mais seletiva do universo."

Foi o suficiente para Draco resolver que se encarregar da própria bebida seria uma ótima ideia para aquela noite, e se retirou da presença de Blaise e Pansy sem pedir licença. Se serviu do ponche, devidamente batizado com firewhisky pelos sonserinos. Um costume de anos e embasado no desvio de caráter tão tipicamente sonserino, mas não por isso menos alvo de vista grossa por parte dos pseudo-responsáveis docentes de Hogwarts. Havia um acordo silencioso de que era apenas permitido para os alunos do sétimo ano, mas seria meio desnecessário dizer que aquela regra era tão séria quanto a que restringia o acesso à Floresta Proibida.

Um primeiro gole não foi suficientemente forte para preparar Draco para as emoções do pronunciamento seguinte de McGonagall.

"Atenção, por favor! Interrompo a diversão de vocês, pois mais uma surpresa os aguarda na noite de hoje."

Draco teve calafrios, e empurrou o firewhisky na garganta na esperança de que a porcentagem de álcool ali fizesse jus ao fígado resistente dos sonserinos.

"Visto que vocês tem sérias dificuldades para se misturar" Draco acompanhou o olhar da diretora pelo salão. Bolinhos humanos de grifinórios, sonserinos, corvinos e lufanos mantinham-se mais unidos do que nunca, numa confusão de cores engravatadas que não fazia o menor sentido. "Nós vamos dar um empurrãozinho para se aproximarem. A começar pelo membro de cada casa que representam essa noite que mais significa para vocês. Se a importância for correspondida na mesma intensidade, o cordão invisível que os unirá essa noite será forte na mesma proporção."

"Cordão?" Draco teria engasgado com a bebida, se não tivesse levado um tranco tão repentino que o fez largar o copo inteiro no chão.

E de repente, o salão principal pareceu pequeno para os alunos sendo arrastados pelo lugar, quase ignorando a lei física que dizia que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Draco quase perdeu as contas de em quantas pessoas trombou até chegar ao seu destino final.

"Seu objetivo: desfazer o enlace até o final da noite. Quanto mais se aproximarem, mais o cordão se estende, até se romper."

Draco não entendeu nada até encontrar Potter num choque tão violento, que quando sua testa bateu na dele, teve certeza absoluta que rachara a testa do idiota pela segunda vez na vida do grifinório.

Por reflexo, ambos pularam para trás. Frustrados, o laço invisível em seus pulsos era tão forte que Draco teve certeza de que teria uma necrose até o final da noite. Era tão apertado, e o comprimento do cordão era tão ridiculamente pequeno – se é que existia de fato – que seus pulsos pareciam colados um no outro. Potter parecia mais mongoloide do que nunca com aquela cara de idiota.

Burburinhos. Muitos. O salão em polvorosa parecia um misto de gente chocada, satisfeita e envergonhada.

"O castelo está todo liberado. Inclusive os salões comunais de cada casa. Se conheçam, troquem confidências, se aproximem. Até que o laço não seja mais necessário. Boa sorte!"

Os olhos da bruxa gagá – agora Draco tinha certeza de que ela era mesmo – brilharam de um jeito tão intenso que ela mais parecia possuída por Dumbledore ou coisa que o equivalha.

Draco olhou para o lado. Blaise atado em Ron Weasley. Pansy em um Lufano que Draco não fazia ideia da procedência. Ele riu, por um momento alheio da própria desgraça. Era hilário – com os outros.

"O que é tão engraçado pra você?" A voz de Potter soou tensa, desconfiada. E de perto assim parecia quase surreal.

Seus olhos pousaram sobre os dele. Ele tinha uma determinação tingida de verde e insuportável no olhar. Prata no verde, ironicamente a mistura mais toscamente sonserina do universo era o resultado daquela troca de olhares. Ele teve certeza naquele momento: o coração de Potter podia ser vermelho e dourado até a última fibra. Mas sua alma era indubitavelmente tão verde quanto seus olhos.

Harry olhou para os lados, em ligeira desorientação. Encontrou Hermione, com a gravata merecidamente azul, atada em Luna. Combinação óbvia.

Ela tinha as mãos nos lábios. Um gritinho sufocado e os olhos castanhos arregalados na direção de Harry. Depois Ron. Impossível saber se estava mais escandalizado com a própria situação, ou com a de Harry.

"Troquem confidências", as palavras da diretora voltaram em sua mente.

Claro.

"Olá, Draco. Minha tensão sexual em você é uma coisa tão absurda que esse cordão coloca em perigo os olhos de todos nesse salão."

Ele riu, dividindo a graça com Malfoy, sem nem tentar entender se ria de desespero ou de interesse pela oportunidade de se aproximar do loiro, sem que a intenção fosse afundar o nariz arrebitado dele.

"Eu me recuso." Draco murmurou, puxando os pulsos. "Que desgraça é essa? Você sonserino ainda desce, mas sugerir qualquer coisa grifinória em mim é coisa de gente que não bate bem."

Harry ergueu a sobrancelha.

"Sua preocupação é essa? Que diabos é aquilo de "que mais significa pra você?" Tipo a vontade de um Cruciatus e tudo mais?"

"Ela disse significante, não sentimentalmente positivo. Seu óculos está torto."

Harry apressou-se em ajeitá-los. O encontrão de ambos ainda latejava em sua testa, e ele pensava em meios daquele latejar se manter bem ali, na parte superior de seu corpo, muito obrigado.

Draco o arrastou sem mais nem menos, escolhendo uma cadeira qualquer.

"Bom, não podem nos manter presos pra sempre. Me passa uma coisa qualquer que tenha mais álcool do que qualquer coisa que você jamais ingeriu na vida, assim eu arranjo um motivo a mais pra vomitar em você além de repulsa."

A língua afiada de Malfoy era impressionante. E na imaginação de Harry, deliciosa.

"Não sou seu elfo doméstico." Murmurou. Mas visto que Malfoy pegara a única cadeira vaga perto da mesa, e deixara-o em pé perto da mesma, a ideia de se embebedar pareceu atrativa.

Serviu aos dois, com uma mão só e uma perícia surpreendente de apanhador mais jovem do século.

Mãos firmes. Draco mordeu os lábios. E bebeu calado durante a próxima hora, trocando olhares ameaçadores com Pansy e Blaise. Quem ousasse rir primeiro estava jurado com um soco na cara.

Ainda não havia nem sombra do efeito do álcool quando uma fincada aguda arrancou um sonoro "Ai!" de ambos ao mesmo tempo.

"Não puxa, Malfoy!" Contradizendo-se, o próprio Harry puxou o pulso, causando outra incomoda fincada.

"Não sou eu. Essa porcaria está ficando mais apertada, e acho que piora cada vez que tentamos puxar."

"Acho que não estamos agradando ninguém com nossa falta de progresso" Harry ponderou. "E eu não quero perder a mão por sua causa."

"E o que você sugere, Potter? Festa do pijama enquanto lemos nossos diários um para o outro?"

Harry rolou os olhos e bebericou o firewhisky, pousando o copo vazio sobre a mesa. "McGonagall disse que o castelo está liberado. Podemos dar uma volta por aí, não é todo dia que isso acontece."

"E como diabos isso vai servir pra nos tirar dessa situação?"

"Olha, ficar aqui sentados não vai exatamente ajudar" Harry ergueu os pulsos, já meio marcados e vermelhos.

Draco deu de ombros, erguendo-se com o copo na mão. "Nada de Salão Comunal, porque não sou obrigado a me enfiar no ninho de vocês. Fazemos assim: eu escolho um lugar no castelo que gosto, e depois você escolhe. Se até lá essa coisa não se desfazer, a gente discute sobre amputação."

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As masmorras eram frias e Harry desejou que a gravata verde se transformasse em um cachecol. Os passos de ambos pelos corredores de pedra eram cheios de tropeços e descompassados, devido a mobilidade reduzida de duas pessoas atadas.

Não agradava a Harry estar na sala de poções fora do estritamente exigido pela grade curricular, mas Malfoy parecia extremamente a vontade.

"Por que aqui?" Perguntou, acompanhando o loiro a esmo entre as carteiras, até que Malfoy se acomodasse sobre uma delas.

"É calmo, frio, silencioso. Um pouco aconchegante."

Harry não via como paredes rochosas, um vento gélido e um cheiro dos mais variados ingredientes impregnado no ar poderia ser remotamente aconchegante. Seu olhar vagou até os imensos armários que guardavam as poções recém-preparadas pelos alunos. Em dezenas de vidrinhos de cristal, ele reconheceu Amortentia, que eles mesmos haviam preparado na última aula de Slughorn.

"Sente cheiro de quê?" Perguntou sem pensar, ao ver que o olhar do sonserino o acompanhava. Teve certeza de que Draco não o responderia, diante do largo silencio que se abriu.

"Por que eu te diria?"

Harry tornou a erguer os pulsos, deixando escapar uma conotação de desespero para obter qualquer coisa que o livrasse daquela amarra.

"Bom... Algo parecido com papel queimado. Sangue. E um perfume meio amadeirado."

Harry ergueu as sobrancelhas e Draco calou-se diante do fato de que não tinha certeza se o perfume amadeirado vinha de Harry ou da poção.

"Não sei quem diabos te faz pensar nisso, mas a pessoa precisa mudar os hábitos de higiene urgentemente. Apesar de que o simples fato de você sentir alguma coisa já me surpreende."

Draco riu diante do auto insulto de Harry, mesmo que feito na mais completa ignorância. Ele sabia da procedência dos odores; de quando Harry o salvara de uma sala precisa em chamas. E das incontáveis vezes em que Potter parecia a pessoa mais propensa do mundo a estar sempre coberta de sangue – Malfoy sabia com orgulho que havia sido responsável por isso em algumas ocasiões.

"E você?" Devolveu a pergunta, genuinamente curioso.

"Cabo de firebolt, a madeira polida e bem cuidada. De roupa nova e... Sangue."

Draco riu. Parecia tão absurdo quanto seus próprios aromas, mas para Harry a ligação com a aristocracia das roupas caras de Malfoy, a rivalidade no campo de quadribol e uma memória vivida de um Sectumsempra e um sonserino coberto de sangue era óbvia.

"Não tem muita moral pra falar de mim."

Harry quase o mandou calar a boca, se a repentina proximidade em que se encontravam não tivesse feito o enlace em seus pulsos afrouxar muito discretamente. Os dois caíram em silêncio no momento em que se encararam. Draco prendeu a respiração, mas o perfume de Harry estava enraizado demais em sua memória para que ele pudesse afastá-lo.

"McGonagall disse que quanto maior a reciprocidade, maior a força do enlace." Harry vincou as sobrancelhas, como se aquilo lhe ocorresse pela primeira vez.

Ele estava perto, os olhos verdes intensos e o maxilar travado. Aquele maxilar largo, anguloso. Draco quase levou as mãos aos cabelos de puro desespero, mas ao invés disso levantou-se com muita elegância, empurrando Harry pelos ombros para trás. Não com brutalidade, mas com uma cautela quase cômica.

"Certo, gênio. Para onde vamos agora?"

Harry sorriu enviesado, quase travesso e Draco quase fraquejou. Aquela tensão era tão óbvia que ele mal podia acreditar na displicência dos atos de Potter. Ele não podia ser tão ingênuo.