Convite inesperado

O ensolarado dia de verão americano atraía milhares de pessoas as ruas, além do fato de ser 4 de julho, o dia da independência. Juliet sempre assistiu os desfiles desde pequena, sua mãe, que era trouxa, adorava levá-la, e acabou por se tornar costume todos os anos ir a Constitution Avenue assistir ao espetáculo.

Ela encarava o espelho, sorridente, por finalmente ter um descanso do intenso trabalho no departamento de aurores. Mergulhou o dedo na tinta branca, para fazer as estrelas da bandeira americana que havia pintado em seu rosto.

- Minha querida, você está pronta? - o senhor Michael Hemlock gritou da sala.

- Quase, pai, só mais dois minutos - ela se apressou em terminar de pintar as estrelas.

- Eu não sei porque você insiste em não usar magia nisso!

- Pai, você sabe muito bem que eu faço isso pela mamãe - ela saiu do banheiro. - Eu gosto de lembrar quando ela pintava o meu rosto - sorriu.

Só haviam duas pessoas em todo mundo que conseguiam fazer Juliet ser verdadeiramente carinhosa, sua mãe, que havia falecido dois anos atrás, e seu pai, um auror aposentado que tinha muito orgulho da filha.

- Então, vamos? - Michael levantou da poltrona e foi levar sua caneca até a cozinha, mas o pio de uma coruja o fez parar no caminho.

Juliet pegou a carta e a coruja não esperou por resposta, alçou voo. Ela pensou que fosse alguma carta da sua tia, e arregalou os olhos ao ver o nome do remetente escrito com uma inconfundível caligrafia.

- De quem é essa carta? Por que está tão espantada? - alguns segundos depois, Michael fez a mesma cara de espanto ao olhar o que a filha tinha em mãos.

Juliet se recompôs e abriu a carta. Tentou imaginar o que aquela pessoa ia querer com ela, não conseguiu chegar a uma conclusão.

"Prezada senhorita Hemlock,

Creio que já esteja ciente dos acontecimentos do ano passado. Sim, eu receio em afirmar que Lord Voldemort retornou. Queria ressaltar que sua fama como auror percorreu grande parte do mundo, e por isso venho recorrer a você. Sei que tem muitos motivos para entrar na guerra contra Voldemort, então se estiver disposta a se juntar a nós, seria uma grande honra. Estarei a espera de sua carta.

P.S.: a propósito, feliz dia da independência.

Sinceramente, Albus Dumbledore."

Assim que acabou de ler, ela encostou a carta no peito, em choque. Estaria mesmo aquilo acontecendo? O bruxo mais brilhante dos últimos tempos estava a convidando para lutar numa guerra? Ela não conseguia acreditar.

- O que ele diz aí? - Michael estava preocupado com a falta de reação da filha.

Ela simplesmente entregou a carta nas mãos dele, ainda sem qualquer reação. Olhou de canto de olho o pai ficando surpreso a cada linha que lia.

- Pelas barbas de Merlin! - ele levou as mãos a boca, completamente chocado com o conteúdo da carta. - Você pensa em aceitar, Juliet?

- Mas é claro! Por que eu não aceitaria depois de tudo que esse verme fez para nós?

- Juliet, minha filha, você é uma excelente auror, eu não posso negar. Mas se você pensa que pode enfrenter aquele homem... - ela o interrompeu berrando.

- Você está insinuando que eu não tenho capacidade, pai? Em dois anos acabei com mais da metade dos bruxos das trevas do país sozinha!

- Eu sei, querida, mas eu não quero te perder. Eu me sinto seguro com você sendo auror, sei que é mais poderosa do que esses bruxos que enfrenta. Mas por favor, não estamos falando de qualquer um! - Michael já estava em prantos.

- Pai, exatamente por isso que eu preciso aceitar. Ele não é qualquer um, ele é o culpado por nós estarmos sem a mamãe agora - ela estava com lágrimas nos olhos - ele é um monstro, e se nós nos acovardarmos diante dele, nunca estaremos livres. Eu estou disposta a sacrificar a minha vida em troca de um mundo sem ele. - Ao terminar de falar abraçou o pai.

- Eu te amo, Juliet. Se eu te perder eu... - novamente ela o interrompeu.

- Você não vai me perder, pai. Eu sempre vou estar do seu lado, de uma maneira ou de outra. Por favor, confie em mim, deixe-me ir. - Ela disse isso com a intenção de mostrar o quão a opinião dele era importante, mas obviamente ele sabia que ela iria com ou sem a permissão dele. Era uma bruxa de 27 anos, podia fazer o que bem quisesse.

Michael apenas balançou a cabeça em um sim, desfez o abraço e enxugou as lágrimas, depois seguiu em direção a porta e saiu sem dizer nada. Juliet sabia que não daria para os dois irem ao desfile agora, depois de tudo que acontecera, então pegou um pergaminho e uma pena, e começou a escrever para Dumbledore.

"Querido Dumbledore,

Me sinto muito honrada em receber tal convite de um bruxo tão brilhante como o senhor. Sem a menor sombra de dúvidas, tudo que eu mais quero nesse mundo é lutar contra Voldemort. Partirei imediatamente para Londres assim que obter uma resposta a esta carta. Estarei a espera.

Juliet."

Assim que terminou de escrever enrolou o pergaminho, prendeu-o com uma fita vermelha e colocou no bico de sua coruja.

- Minnie, leve esta carta até Albus Dumbledore. Se estiver muito cansada no trajeto pode parar para se alimentar, seja lá qual for sua necessidade. Mas por favor, seja o mais rápida que puder. - A coruja parecia ter entendido o recado, e saiu voando velozmente pela janela.

Juliet não conseguia se acalmar diante de tamanha ansiedade para chegar em Londres. Há tanto tempo esperava a chance de participar diretamente na guerra contra Voldemort, e finalmente essa chance chegara. Depois de alguns minutos parada em frente a janela, batucando os dedos na mesa, a espera de Minnie, se tocou que levaria muito mais tempo para obter alguma resposta. Procurou alguma para se distrair, e optou por arrumar as malas, que não era lá uma boa distração, já que a faria ficar mais ansiosa do que já estava.


- Albus, eu entendo que queira mais bruxos ao nosso lado, concordo plenamente que precisamos de mais aliados. Mas colocar essa garotinha inexperiente que mal conhecemos em Hogwarts para estar entre os principais membros da Ordem me faz achar que não passa de um velho senil. - Severus disse, impaciente, como se Dumbledore fosse apenas uma criança inocente que não conseguia aceitar o que era certo, e continuava com a mesma opinião errônea.

- Severus, você pode falar tudo da menina, menos que ela seja experiente. É uma bruxa brilhante, em dois anos foi mais eficiente do que a metade dos aurores são em toda sua carreira. E quanto ao fato de não a conhecermos bem, acho que isso não se aplica muito bem a mim. Procurei me informar de tudo que estivesse disponível sobre ela, e sei que é excelente bruxa e mais que isso, tem todos os motivos para acabar com Voldermort. Partidários dele mataram sua mãe há dois anos atrás, motivo de ter se tornado a auror tão brilhante que é hoje. E você sabe muito bem que a minha sanidade está ótima. - Albus disse e Severus bufou, sabendo que não adiantaria mais argumentar.

- Tudo bem, mas depois não diga que eu não avisei. Algo não me cheira muito bem nessa garota...

- Eu quero que vá buscá-la em Washington assim que eu receber a resposta dela. Eu sei que ela vai aceitar. - Dumbledore encarou Snape receoso de sua reação.

- Mas o que? Ah, me poupe Albus, ela tem 27 anos, será que não sabe aparatar? - Ele estava pasmo com o que Dumbledore estava pedindo.

- Não seja tolo, Severus, quero que a leve para o Largo Grimmauld, ela ficará hospedada lá até o começo do ano letivo.

- Mas por que eu? - Ele estava totalmente inconformado com o que teria que fazer.

- Porque eu sei que os dois se darão muito bem. - Dumbledore deu um sorrisinho, levantou da cadeira e saiu da sala.

"Mas ele só pode estar brincando comigo!" - Snape pensou e saiu raivoso da sala.


Cinco dias se passaram, Dumbledore recebera a carta de Juliet e disse que dia 9 um membro da Ordem iria buscá-la. Pois bem, o dia havia chegado, e ela mal conseguia comer de tanta ansiedade.

- Filha, você quer desmaiar ao aparatar? Coma! - Michael disse ao observar a filha brincando com as Waffles em seu prato.

- Ah pai, eu não estou com fo... - alguém bateu com força na porta interrompendo a fala de Juliet.

- É ele, pai! - ela pulou da cadeira e abraçou Michael forte. - Eu vou indo, vou escrever sempre para você, eu prometo, te amo! - Ela colocou as malas que encolhera no bolso dos jeans e correu para atender a porta.

Ao abrir deu de cara com um bruxo carrancudo, de cabelos oleosos e pele pálida, que aparentava ter em torno dos 40 anos, bufando.

- Severus? - Ela sorriu ironicamente.

- Não creio que tenha lhe dado permissão para me chamar pelo primeiro nome, senhorita Hemlock. - Ele observou a bruxa a sua frente, com olhos verdes tão belos que o lembrou Lily Potter, cabelos negros e lisos que iam até sua cintura, e trajava roupas incomuns para uma bruxa, uma blusa preta de seda e uma calça jeans. Sem dúvidas era atraente, mas com certeza estúpida, pensou ele.

- Sim, me desculpe, Snape. - Ela sorriu mais ainda, pensando em como seria divertido atormentá-lo durante sua estadia em Londres.

- O que está esperando? Vamos, não tenho tempo para bancar a babá. - Ele disse e logo ela fechou a porta e o seguiu pelo corredor.

Era um bruxo bastante peculiar e muito interessante, pensava ela. Reservado, sério, mas parecia ser bem idiota.

"É Severus, parece que sei o que vai me divertir em Londres..." - Ela deu um sorrisinho macabro.

Os dois chegaram em um beco deserto, onde aparatariam.

- Me dê seu braço. - Ele pediu impaciente com a mulher a sua frente.

- Com prazer. - Ela esticou o braço.

"Vamos ver se vai continuar por muito tempo com esse joguinho idiota, Hemlock." - Ele pensou e segurou o braço dela, cada vez mais irritado com a sua ousadia.

Os dois aparataram em frente ao Largo Grimmauld, onde já era noite, e Snape a entregou um papel onde estava escrito o endereço da sede.

- Vamos, leia.

Ela leu o papel que fez a casa número 12 se tornar visível para ela. Os dois entraram, Juliet estava encantada com o requinte do lugar, mas com certeza precisava de alguma limpeza. Um quadro de uma mulher louca começou a gritar xingamentos a ela, o que a fez ficar encantada.

- Não ligue para isso, continue andando. - Severus a fez voltar a andar.

- Está brincando? Eu achei o máximo! Onde eu posso comprar um para a minha casa? - Juliet perguntou com os olhos brilhando.

Severus a encarou como se ela tivesse sérios problemas mentais, e prefiriu ignorar a pergunta. Os dois chegaram na cozinha, e haviam apenas dois homens na mesa, um com uma longa barba branca que Juliet deduziu ser Dumbledore e um que a observava misterioso no outro extremo da mesa.

- Juliet, minha querida! - O homem de barba branca levantou e deu um abraço nela. - Essa aqui é a sede da Ordem da Fênix, casa do nosso querido Sirius - o homem sentado acenou com a cabeça e Snape revirou os olhos - espero que sinta-se em casa. Se me der licença, preciso ter uma conversa a sós com Severus, mas logo estarei de volta.

Os dois deixaram apenas Juliet e o homem misterioso que se chamava Sirius. Ele quebrou o silêncio constragedor depois de alguns minutos.

- Então, Juliet, bonito nome você tem - ela sorriu - se quiser pode levar as suas malas até o seu quarto. É só subir as escadas, o segundo a direita.

- Ah, obrigada. - Ela saiu da cozinha e quando chegou no andar superior ouviu alguns gritos abafados vindos de uma porta.

- Eu disse que ela é louca, Albus! Ela queria um quadro da mãe de Sirius! O que se pode esperar de alguém como ela? - Snape andava de um lado para o outro pela sala, completamente irritado, enquanto Dumbledore apenas o observava calmamente, com um sorrisinho.

- Eu disse que os dois se dariam bem. - Ele respondeu e foi em direção a porta, como se fosse sair, então Juliet saiu rapidamente e entrou no quarto em que ficaria hospedada.

- Louca, é? Você ainda não viu nada, Severus Snape, me aguarde. - Ela disse para si mesma e deu um sorriso macabro.


N/A: eu não demorei nadinha para começar outra estória, não é? Já estava morrendo de saudades de escrever. Acho que vocês perceberam que essa história vai ser bem diferente da outra, espero que vocês tem gostado do primeiro capítulo. Não se esqueçam de deixar review pessoal, Amy;*