Disclaimer:"The Legend of Korra" e seus personagens não me pertencem, mas sim a Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino (aka "Bryke"). Os poemas, músicas ou citações usados nessa história não são de minha autoria e os créditos foram atribuídos. Esta fanfic foi feita por puro lazer, sem fins lucrativos.

(Mas esta fanfic, sim, me pertence. Hunf.)


Heiwa no Rakuen

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1.~ Hinansho

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"From the mountain peaks in the east,

The silvery moon has peeped out.

(…)"

"Dos picos das montanhas ao leste,

A lua prateada espiou.

(...)"

- De Tsangyang Gyatso,

O 6º Dalai Lama (1683–1706), em tradução livre.

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Korra já não dormia bem há semanas.

Toda noite, ela se via cercada por rostos mascarados e olhos amarelados, fumegantes em algum lugar escuro, sozinha. Não importava o quanto ela lutasse, suas mãos e pés eram atados, ela gritava de dor. Às vezes ela acordava naquele instante. Mas sempre – mesmo que já estivesse acordada – uma voz profunda, ameaçadora, ecoava em sua mente.

"Eu estou te preservando para o final."

Num tranco tão abrupto que a fez sentar na cama, Korra gritou. Podia sentir a mão gélida, porém estranhamente gentil, em sua mandíbula. Levantou-se, olhando pela janela. A lua minguante ainda estava alta no céu.

Um pesadelo. Aquela noite não havia sido diferente.

Levantou-se e fechou a janela. Mais uma vez, Korra agradecia por dormir em uma suíte. Quartos como aquele no Templo eram praticamente impossíveis, todavia, os guardas da Ordem do Lótus Branco, bem como Pema, convenceram Tenzin de que seria mais confortável e seguro para a Avatar ter seu próprio banheiro.

Ser a Avatar tinha seus benefícios.

Lavou o rosto e olhou-se no espelho. Olheiras escuras já se formavam abaixo de seus olhos, mas ela sabia que não conseguiria dormir novamente.

Já no quarto, ela afastou os pensamentos sobre perder sua dobra ou ter pesadelos e pulou a janela, se dirigindo à Arena de Treino de Dobra de Ar. O melhor a fazer seria ocupar a mente, e treinar dobra de ar estava se provando o mais indicado para ocupar a mente – apesar de ser indicada para esvaziá-la.

Riu ao perceber a ironia.

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Korra adentrou o quarto exausta.

O treinamento para o campeonato a esgotava. A confusão que ela própria provocara com Mako a esgotava. O treinamento de dobra de ar a esgotava. Lidar com Tarrlok a esgotava. A falta de sono adequado por tanto tempo a esgotava.

Ela marchou diretamente para seu banheiro, a fim de preparar um bom banho quente.

Apesar de ter se apaziguado naquela noite com Bolin, ainda não parecia suficiente. Quase brigara com seu mais novo rival, Tahno – em sua defesa, ele havia provocado.

Korra podia sentir o estresse emocional drenando suas energias. Pema havia lhe dito, há alguns dias, que ela parecia um tanto cansada mas isso não justificava o fato de ela estar arredia.

Mergulhou na banheira cheia de água quente, quase instantaneamente relaxando. Decidiu que naquela noite seria diferente. Após o encontro com Bolin, tomaria um banho quente e relaxante, colocaria uma das camisolas que Senna mandara em sua mala – Korra detestava camisolas, mas não iria doer tentar usar uma de vez em quando – e dormiria como uma pedra até a manhã seguinte. Sem pesadelos.

A garota da tribo da água acenou com a cabeça para o próprio espelho, decidida. Sem pesadelos.

"Eu vou te destruir,", ecoou em sua cabeça. Ela afundou a cabeça na banheira, afastando o eco. Sem pesadelos, tornava-se um mantra.

Talvez, ela até meditaria um pouco antes de dormir.

Só para garantir.

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Ouviu-se gritar. E dessa vez, agradeceu pelo grito, pois ele a havia tirado do pesadelo, que havia durado mais do que o usual.

Amon.

Korra suspirou. Aquela noite deveria ter sido diferente. Podia sentir a mão macia, podia ouvir a voz seca e impostada.

Sentia seus pelos do braço eriçados. Tremia.

Deitou-se ao contrário na cama, de modo que suas pernas ficassem mais próximas da janela e ela pudesse olhar a noite lá fora. Sentia-se sem forças. Não conseguia mais permanecer acordada. Queria dormir. Queria descansar. Mas não queria ter pesadelos.

Lá fora, ela podia ver a Estátua de Aang, brilhando. Imaginou se o seu antecessor alguma vez já havia se sentido assim. Se alguma vez ele havia tido pesadelos, tão assustadoramente reais que o mantivesse acordado por dias.

Se alguma vez, Aang tivesse sentido tanto medo.

Pois o que mais sentia nos últimos tempos era medo, admitia. Medo de perder sua habilidade de dobrar os elementos, de não ser capaz de proteger as pessoas, de falhar como Avatar, de ser pega e derrotada.

Medo de Amon.

Korra suspirou, resignada, levantando-se e vestindo-se com suas roupas habituais. Se ao menos pudesse ter contato com o Mundo Espiritual, poderia ter alguns conselhos, alguma ajuda. Alguma paz.

Algum descanso.

Sentou-se novamente na cama, assumindo uma posição de meditação. Ao invés de limpar a mente, ela pensou em sua vida. Seus pais, Katara, Republic City, Mako e Bolin, Tenzin... Amon.

Pensou também sobre seus sentimentos.

Desde muito criança, Korra sentia que às vezes as outras pessoas não conseguiam entendê-la. Alguns, como Tenzin e Katara, conseguiam acompanhar algumas linhas de raciocínio, aconselhar e até mesmo compartilhar algumas emoções.

Mas não conseguiam compreendê-la, a si por si própria, ao mesmo tempo pela Avatar. Não completamente. Pela segunda vez naquela noite, ela se perguntou se Aang já havia se sentido assim. Ponderou se era seu espírito de Avatar, que lhe trazia esses sentimentos, por vezes adventícios, mas ao mesmo tempo tão profundos.

A Avatar Korra se deitou novamente, abatida. Não adiantaria nada, agora. Estava cansada demais. Virou-se e esperou que caísse no sono. Mesmo que acordasse abruptamente em poucas horas, ao menos descansaria um pouco.

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O brilho do luar contrastava com o brilho artificial dos prédios da Republic City, refletidos na água da Baía de Yue.

Tudo parecia calmo, só o que se movimentava era a correnteza do mar. Korra se viu admirando a vista, ao perceber que o fazia do alto da estátua do Avatar Aang.

Mais precisamente, ela notou, do ombro do Avatar, onde estava sentada.

A jovem Avatar também observou o Templo de Ar. E notou que, apesar do Templo parecer exatamente igual, a cidade parecia diferente. Sem muitos prédios, nem muitas luzes. Parecia pequena. Nova.

Korra não soube dizer exatamente o porquê, mas ela viu sua atenção se voltar para uma montanha à sua esquerda, a oeste da cidade.

Em um segundo, ela se viu aproximar-se daquela montanha, mas ainda estava parada no lugar, e viu uma cachoeira alta logo à sua frente. A cachoeira dava origem a um grande lago tranquilo, em meio a uma porção de árvores altas, que formavam uma clareira. Parecia um tanto escondido, quase como se aquelas árvores tivessem sido colocadas ali propositalmente, com a intenção de formar uma barreira.

Korra achou o lugar muito bonito, mas não sentiu vontade de parar para admirá-lo. Sua visão focou-se para um ponto ao meio da queda da cachoeira. Não pensou muito – ela sempre fora de agir antes de pensar – e se aproximou, como se flutuasse, daquele local.

Logo viu que havia uma extensão de terra saindo da parede de pedra da cachoeira, não muito larga, camuflada, como se estivesse escondida. Um pensamento lhe ocorreu, mais como uma lembrança: aquela extensão fora feita por dobra de terra e colocada exatamente naquele ponto para que somente olhos muito atentos ou quem já a conhecesse antes a encontrasse.

Não teve dificuldades em seguir o caminho. Tão logo se viu atrás das águas da cachoeira, se viu adentrando uma pequena caverna. Não era muito espaçosa. Na verdade, precisou se abaixar logo no início do caminho e logo depois se ajoelhar para continuar.

Korra não sentiu receio. O que sentia se definia mais como nostalgia. Tudo o que compreendia era que seguiria caverna adentro. E assim o fez.

Logo, encontrou pequenas piscinas de pedra arredondadas, desajeitadamente empilhadas uma em cima da outra, como se formassem uma escada.

A garota se aproximou e percebeu que se tratava de pequenas fontes termais. A água quente da última piscina vazava uniformemente, como uma nascente de rio, até o fim da caverna e sumia pela terra.

Ao lado das piscinas havia, de fato, uma escada rústica, cujo fim desaparecia da visão dela naquela posição, também feita com dobra de terra. Korra subiu as escadas, sem pensar muito.

Ao final dos degraus atrapalhados ela se viu no lugar verdadeiramente mais lindo que já estivera.

Korra vislumbrou o lugar: as pequenas piscinas, ela viu, eram originadas de uma grande fonte termal, com águas tranquilas e escuras. Bem no meio da fonte, ligada por um caminho de terra cuidadosamente projetado, havia um chalé de madeira, que a Avatar imediatamente percebeu – ou se lembrou, não soube ao certo – que fora feito com muito zelo. Era de madeira, grande o suficiente para que duas pessoas se acomodassem se fossem íntimos. Era decorado com algo que parecia palha, num tom bege, quase amarelo, contrastando com a escuridão da madeira e do lago.

Ela observou que, apesar de escondido, aquele lugar recebia a luz da lua, pois havia um teto feito de plantas cobrindo o local. O teto possuía uma estrutura de troncos de madeira entrelaçados, cautelosamente instalados, e por cima deles vários tipos de plantas e terra, que faziam com que, quem visse aquele chão do lado de cima, não perceberia que havia um vale ali.

Korra seguiu um caminho ao redor do lago, onde se formava uma trilha que levava a um pequeno templo. Atrás do templo ela avistou o alto de um penhasco, aberto; o que contribuía para a iluminação do local.

Uma imagem nítida se formou na mente dela, como se fosse um mapa muito conhecido. Aquele lugar ficava ao topo de um penhasco, atrás de uma cachoeira, cuidadosamente escondido e disfarçado, como se alguém quisesse esconder aquele pequeno santuário.

A Avatar Korra definiu aquele lugar como um paraíso particular. Sentia um misto de saudade, felicidade e alívio.

Virou-se para entrar no chalé. Mas quando o fez, se viu novamente em frente à cachoeira. Depois, em frente à montanha. Sentou-se no ombro do Avatar Aang.

Abriu os olhos. Agora sentava em sua própria cama, em seu quarto, na Ilha do Tempo de Ar.

Korra sentiu-se suspirar devagar. Não havia dormido. Ou, se havia, não havia sido por mais de 20 minutos. Percebeu que estava sentada na cama.

A garota se animou instantaneamente. Tinha certeza de que quem havia mandado aquelas imagens para ela era o seu antecessor. E dessa vez, as imagens eram nítidas e completas. Seria aquilo o Mundo Espiritual? Aang queria lhe dizer alguma coisa. Seria aquele lugar uma passagem para o Mundo Espiritual?

Não importava.

Imediatamente, se levantou e pulou a janela. Não iria acordar Naga, iria sozinha. Não precisava pensar, sabia exatamente o que iria fazer.

Andou tranquilamente até uma parte mais baixa da ilha, onde pular no mar não faria tanto barulho nem atrairia tanta atenção. A água estava fria naquela noite, mas Korra não se importava. Na verdade, sentia um pouco de saudades das águas congelantes da Tribo do Sul.

Sem muito esforço, utilizou-se da dobra d'água para nadar até os limites da Republic City. Sabia que aquela montanha ainda fazia parte da cidade, apesar de estar no limite, e por isso, daquele lado, não era rigorosamente vigiada.

A Avatar sabia o caminho.

Rapidamente, utilizando-se de dobra de água e de Terra, chegou à cachoeira. Parecia um pouco diferente do que sua visão. As árvores em volta pareciam mais altas, o lago mais cheio. Não importava.

A garota subiu sem delongas na passagem escondida de terra, e se viu atrás da queda das águas, exatamente como há poucos minutos atrás. Não teve dificuldades em encontrar a caverna, que agora parecia um pouco maior.

Ao entrar no buraco escuro, ela tateou e sentiu uma barreira, que não havia sentido em sua visão. Uma espécie de pedra, talhada exatamente no formado da caverna que se fechava, tapava-a, camuflando-a ainda mais de olhares desatentos, não familiarizados.

Facilmente, ela afastou a pedra, adentrou o local e a reposicionou na passagem. Com os joelhos e os pés no chão, Korra engatinhou pela escuridão adentro até chegar nas piscinas quentes que marcavam o fim da caverna.

Lá estavam elas, exatamente como na visão.

Korra sentiu-se um tanto eufórica. Subiu a escada o mais rápido que pôde. Elas agora estavam mais deterioradas, como se alguém tivesse propositadamente as demolido. Ao final da quase inexistente escada ela se deparou com uma imitação do que era feito o teto: um emaranhado de troncos entrelaçados e folhas, que tapavam mais uma vez o caminho.

A garota se perguntou por que Aang se preocupara tanto assim com a proteção do local, como se fosse um segredo que jamais poderia ser revelado, enquanto movia aquele obstáculo calma e silenciosamente.

Sorriu consigo mesma ao emergir completamente da escada e tapar novamente a passagem. Uma breve olhada no local a deixou ainda mais feliz: parecia mais bonito do que se lembrava.

Agora, alguns arbustos e tapetes de grama ajudavam a decorar o local. O caminho que levava ao chalé continha algumas flores em suas laterais. Korra se perguntou se a Mestre Katara havia feito essa decoração – porque de alguma forma ela sabia que Katara conhecera o lugar.

Esse era mais um dos sentimentos que, ela acreditava, só os Avatares experimentavam: ela simplesmente sabia de algumas coisas.

O chalé não possuía porta. A única abertura servia de porta e janela. E Korra não se incomodou, não havia necessidade de portas num lugar privado como aquele.

Apesar de simples por fora, ele tinha outra atmosfera por dentro. Não havia muito espaço dentro dele, apenas o suficiente para uma espaçosa cama – incrivelmente moderna, ela notou – com tecidos macios e quentes, que lembravam muito os tecidos da Tribo da Água do Sul. Aproximando-se, Korra reconheceu o tecido como de pele de coala-lontra, um dos tecidos mais finos e considerados de bom gosto pelas duas Tribos de Água.

Sorriu abobalhada, imaginando como ela dormiria bem naquela cama. Jogou-se nela de uma vez. Como Aang previa aquilo – afinal, ele deveria ter arrumado isso há mais de 17 anos, pelo menos -, ela não sabia.

Revirando-se nas cobertas, ela observou o resto da parte de dentro do chalé. Até que era relativamente grande. Aconchegante, era como se alguém o tivesse decorado recentemente. Além da cama, ao lado dela havia uma pequena escrivaninha e uma cadeira. Ao lado da escrivaninha, um pequeno armário sem portas, onde Korra viu que havia alguns petiscos, ervas – provavelmente para chá – e alguns utensílios.

O que lhe chamou a atenção foram o bule e a xícara em cima da escrivaninha. A xícara parecia vazia, mas de dentro do bule saía um vapor, indicando que houvera água quente ali há pouco tempo.

Korra iria se perguntar se havia mais alguém ali. Mas não pôde completar nenhuma linha de pensamento, pois uma voz lhe interrompera, e a garota a reconheceu imediatamente.

- Avatar.

Foi naquele instante em que ela estremeceu.

Korra relutantemente olhou em direção à voz que lhe trazia tanto temor. Parado, em pé, obstruindo a única possibilidade de saída daquele cubículo, ele a encarava.

Amon.

Sua máscara parecia sorrir.

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Atenção: Possíveis Spoilers, fangirlismo e nonsense da autora, a seguir.

Eu estou morrendo de medo de fazer esta fanfic. Sério. Porque eu tenho essa mania, de começar uma história, mas do meio para o final eu simplesmente travo e não consigo continuar.

Mas eu não parava de imaginar cenas entre Amon e Korra. Eu precisava escrever algo. Até porque eu queria ver algo deles em português - btw, primeira Amorra em português do fanfiction . net , YEAH! Será que existe mais algum(a) Amorrian falante de português? ô.õ

Vou me esforçar para fazer o melhor que puder. Mas ainda estou com medo.

Eu sei que esse casal implora para que haja... hm, M-rating. Mas eu não sei se consigo escrever algo assim... Bom, o futuro dirá. Rated T por enquanto, por segurança.

Ainda não sei dizer se será canon ou AU. Se será Amorra ou Noarra. Bem, o tempo dirá.

Ah, sim, eu sei que o fandom em português está usando o termo Igualistas, mas eu não gosto. - hunf - Por isso, vou me aproveitar de que ainda não existe tradução oficial e utilizarei o termo Equilibradores. (Eu queria mesmo era usar "equalizadores", mas o termo em si foge do significado proposto.)

É isso.

Amorra S2

Pyoko-chan (Julho / 2012)

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EDIT: Ok, a dublagem oficial saiu. Sinceramente, algumas coisas me deixaram maravilhada. A maioria das vozes está perfeita. Azula como Korra, quem diria?! Lin e Lieutenant! Espíritos, eu consigo vê-los como um casal só por causa dos dubladores! *crazy shipper fangirl* Mas... Bolin como Ben10? Nah.

De qualquer forma, eu só estou editando isso aqui porque eu até pensei em mudar algumas coisas, deixar como na dublagem oficial - e até deixei por algumas semanas -, mas no final, desistí. Pelo menos quanto ao nome da cidade e o termo "dobra" (eles usam "dominação" na dublagem). Agora, quanto aos Igualitários/Equilibradores, sinceramente... eu quero Equalists (XD). Mas vou deixar em aberto, caso alguém queira se manifestar sobre qual termo prefere...

Ainda estou me decidindo entre T e M, quanto ao rating...

É isso.

(Outubro / 2012)