Era como no jogo de Roleta Russa.

Só que havia alguém no meio da roda.

A arma de fogo foi substituída pela varinha.

E a bala transformou-se em palavras.

- Avada Kedavra. – gritou.

Eu fechei os olhos, porque nós éramos os participantes.

Parado no meio da roda, ele girava. O sorriso de satisfação cobria seu rosto. Os olhos frios nos analisavam e viam o medo.

Ele sempre conseguia sentir nosso medo.

Parou na direção de Gina e estendeu à mão, a varinha mirava-lhe o peito. Vi Rony tentando se soltar, remexendo-se, apavorado. O comensal que o segurava aplicou um golpe em sua cabeça, fazendo com que fosse ao chão. Ajoelhado e com os ombros caídos, Rony levantou o rosto e eu pude ver o terror em seus olhos.

- Avada Kedavra. – gritou Voldemort.

Segurei minha respiração e senti meu corpo tremer, mas não fechei os olhos. Meu coração batia desesperadamente. Eu rezava em pensamento, pedia ajuda. Gritava por alguém. Mas nada acontecia.

Era um jogo onde sua vida era o preço. E ela era lançada quando a Roleta, parada no meio da roda, girava.

Gina se encolheu esperando pelo baque do feitiço, mas nada aconteceu. Nada a atingiu. Nenhum feitiço saiu da varinha de Voldemort.

Vi ela respirar fundo e depois as lágrimas deram vazão. Ela chorava. Por alivio? Decepção? Bem, eu não sabia. Provavelmente os dois, a sorte estava ao lado dela, mas a decepção era evidente. Talvez não quisesse estar viva e assim ter que assistir a inevitável morte de seus amigos.

A risada fria e seca de Tom encheu o ambiente. Ele brincava com a varinha entre seus dedos ao começar a girar entre nós novamente.

- Ainda não chegou sua vez, traidora de sangue. – falou em voz alta. Parado de costas para a ruiva.

Seus olhos vermelhos focaram em Neville. Meu estômago se encolheu e senti náuseas. O lado direito do rosto e o peito do garoto estavam encharcados de sangue. Mantinha-se em pé porque um comensal o segurava fortemente. Seus joelhos vacilavam e seu corpo tremia. Os olhos já estavam perdidos.

Ele não duraria muito tempo.

Não consegui olhar, sabia que ele o mataria. Virei o rosto e fechei os olhos fortemente. Ouvi o grito de Gina e o som surdo do corpo de Neville caindo.

Dessa vez as lágrimas inundaram meus olhos, mas não as deixei cair. Ergui minha cabeça e olhei para frente. Vi Harry olhando para o corpo sem vida de mais um amigo. Ele estava derrotado, mantinha-se em pé, mas seus ombros caídos e os olhos tristes denunciavam seu estado lastimável.

Dos dezesseis prisioneiros que os comensais seguravam sobraram apenas sete. Neville fora a nona vítima, e como os dos outros, seu corpo foi deixado no chão. Abandonado na fria e úmida grama.

Dessa vez não foi apenas Voldemort que riu, os comensais ali presentes juntaram-se na gargalhada. O corpo tombado de Neville era motivo de piada. E por conta disso a raiva mais uma vez apoderou-se de mim.

Ele começou a girar uma vez mais, a varinha estava em riste. Passou por todos nós duas vezes até que começou a parar. Nós sete estávamos longe uns dos outros. Mas eu conseguia ver o que se passava no olhar de cada um.

Tom gritou mais uma vez a maldição imperdoável, apontava para Córmaco. O garoto gritou o que gerou risadas maldosas dos comensais, já que nada o atingiu.

-Sectusempra. – brandiu sorrindo.

O som agonizante que vinha de Córmaco me fez tremer.

- Crucio. – disse Voldemort.

Os gritos de terror do moreno chocaram-se com os meus.

- Não! – gritei.

Com um gesto da varinha o feitiço cessou. Mas Voldemort não se virou. Ficou parado no mesmo lugar.

- Seu bastardo, nojento. – eu tremia e as lágrimas teimavam em cair.

Sentia olhares sobre mim. Mas não tirei minha atenção de Voldemort até que eu senti aquele olhar.

Quando vi Harry olhando-me desesperadamente, meu coração disparou. A preocupação estava estampada em seu rosto. Ele deu um pequeno passo para frente sem tirar seus olhos verdes dos meus.

Então Ele se moveu e eu arregalei os olhos. Desde que o círculo foi formado Voldemort permanecia no mesmo lugar, apenas girava em seu próprio eixo.

A passos lentos se aproximou de Harry e ergueu a varinha.

Eu chorava tentando não soluçar. Usei minhas forças restantes para me soltar, mas Greyback me puxou e agarrou com mais força os meus braços.

- Perdedor. - falei alto e vi Tom enrijecer. Ignorei o olhar de Harry, que mesmo tendo Voldemort a sua frente focava-se em mim. – Você é um perdedor Tom...

- Hermione! – berrou Harry suplicante. Ele tentou se afastar bruscamente de Belatriz que estava segurando- o. Ela o puxou e lhe golpeou a cabeça, fazendo Harry gritar e cair de joelhos.

Não pude reprimir os soluços nem as lágrimas. Ver Harry naquele estado despedaçava meu coração.

- Você é um fraco. – berrei. – Um mestiço sujo e fraco. – eu tinha que tirá-lo de perto do Harry. Precisava mantê-lo longe. Tinha que dar tempo para que Harry pudesse pensar em algo, ele tinha que sair dali. Não podia morrer.

Merlin não o deixe morrer.

Voldemort não se mexeu. Vi Harry levantar do chão e encarar o bruxo. Os olhos verdes se arregalaram e voltaram-se para mim.

Harry sussurrou alguma coisa para Tom e balançou a cabeça rapidamente. Mas eu não pude entender. Os olhos verdes desviaram-se para mim novamente, e o terror estava mais evidente neles.

Voldemort virou-se lentamente e caminhou em minha direção.

- Não. – berrou Harry. – Hermione. – me chamou tentando sair do agarre de Belatriz. – Solte-os Voldemort é a mim quem você quer. – tentou puxar o braço, mas não conseguiu soltar-se. – Não. - berrou ele enquanto o bruxo chegava mais perto.

Pela primeira vez olhei bem para aqueles olhos frios e vermelhos. E senti medo. Muito medo. Eu tremia, os machucados em minha pele ardiam com mais intensidade e as lágrimas contidas ainda escorriam por meu rosto.

Harry continuava gritando por mim, por nós sobreviventes, por ele próprio.

Num impulso dei um passo para frente e tentei me afastar. Debatendo-me, bati com força minha cabeça no rosto do lobisomem. Ele grunhiu e afrouxou a pressão em meus braços, mas não me soltou. Com esforço consegui me afastar e dar dois passos para frente.

Gritei de dor quando senti a grande mão de Greyback agarrar meu cabelo, puxando-me para trás. Ele rosnou e com o outro braço puxou-me pela cintura, mantendo-me presa junto a ele.

- Não. – berrou o moreno. - Solte-a, animal. – seus olhos rapidamente desviraram-se para Tom e depois voltaram para mim. – Voldemort. – o chamou. - Mate-me, mate-me agora seu canalha. Eu, apenas eu.

Meus braços penderam para o lado. Fenrir segurava-me pelo cabelo e cintura. Ele aproximou o rosto e eu pude sentir a respiração quente do lobisomem em meu pescoço. Tentei virar minha cabeça para o lado. Fechei os olhos com força ao ouvir a risada profunda dele em meu ouvido.

Novamente puxou meu cabelo, fazendo-me cerrar os dentes diante da dor. Abri os olhos e vi Harry encarando-me, eu podia ver a raiva por tudo o que estávamos passando quando olhava para Voldemort e Greyback. E via sentimentos totalmente controversos a esse quando dirigia o olhar a mim.

O comensal puxou novamente meu cabelo, fazendo com que virasse o rosto, forçando-me a encarar Tom.

Sem dar importância aos berros do escolhido, e a minha tentativa de fuga, Voldemort sorriu me olhando. Um sorriso de satisfação, de contentamento. Talvez de dever cumprido. Era um sorriso com emoção.

Era um sorriso para mim.

Sua mão lentamente se elevou, a varinha apontava em minha direção. E o sorriso não saia de seu rosto.

Dei-me conta do quão odiava aquele sorriso quando ele proferiu um feitiço silencioso.

Um feitiço que vinha em minha direção.

Éramos sete. Lupin, Rony, Gina, Córmaco, George, Harry e Eu. Nós, os únicos sobreviventes das quatro horas desse maldito jogo.

Dessa maldita Roleta Russa.