CAUGHT
IN THE UNDERTOW
(Just
Caught in the Undertow)
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N.A 01: "Caught in the Undertow (Just Caught in the Undertow)", que significa "Pego Pela Correnteza (Apenas Pego Pela Correnteza)", veio de um trecho muito lindo de uma música da banda Linkin Park, "Numb" ("Entorpecido"), e traduz exatamente o sentimento que eu quero passar aqui neste romance, além de ter uma melodia muito linda e profunda, que combina bastante com a atmosfera da fic, de certo modo.
N.A 02: Se vocês encontrarem em certos trechos alguma semelhança com o lindo filme romântico "Doce Novembro", não se assustem. Eu me inspirei neste filme para criar a fanfic. E é claro, não ia recusar tentar fazer uma espécie de 'remake', um pouco diferente, com personagens de CDZ e principalmente: com um final feliz (infelizmente, não foi um belo final o deste filme...).
N.A 03: Eu estava devendo essa há tempos para uma pessoa, em especial. Minha dedicatória, portanto, será: dedico essa fic para todos os meus amigos, todos mesmo, tanto da internet quanto os da 'off-life', como eu costumo chamar a realidade. Mas, em especial, como eu estava devendo para a Bel, conhecida como Pandora Amamiya, essa estória vai especialmente pra ela!
N.A 04: Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
N.A 05: Eu realmente usei muitos temas pra escrever e ilustrar essa fic, eu poderia até fazer um CD com tantas! Mas, em especial, ouvi muito "The Reason", da banda Hoobastank, para escrever. Seria interessante que vocês a ouvissem quando lêem a fic, afinal, essa música é tão linda e triste, combina como uma luva.
N.A 06: Por favor, a personalidade dos personagens aqui apresentados ficará um tanto non-sense, não tenham dúvidas disto. Por isso, aviso-lhes de antemão, para não ficarem dizendo depois que eu errei nisso, naquilo. É que quero fazê-los um pouco mais próximo da realidade por aqui, e não sei se vou conseguir, é claro. Mas o importante é ter fé, não é?
N.A 07: Eu fiz um pequeno trocadilho que quero que saibam: Por exemplo, usei o nome juntamente com a estrela-protetora dos cavaleiros. Ah, por favor, essa parte vocês apenas saberão direitinho se lerem...
N.A 08: Divirtam-se com essa fic e, por favor, não esqueçam de comentar. Desejo-lhes então uma boa leitura.
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Capítulo I:
O outono chegava com suavidade. As delicadas folhas das árvores, que deixavam para trás o sopro do verão, se espalhavam no calçamento de uma das muitas praças de Tókio, dando um ar natural à paisagem. Um carro negro, possante e aparentemente caríssimo, atravessava com velocidade as ruas da cidade. "Parece estar com pressa", e qualquer um que o visse deduziria o mesmo. Então, o carro parou em frente a um pequeno e aconchegante restaurante. Era hora do almoço, e apesar do trabalho excessivo, era um humano e precisava alimentar-se. Mas fora por insistência dos amigos que ele deixara o trabalho.
Ao entrar, ele sentiu um vento gostoso e refrescante, proveniente da ventilação do lugar, invadir seu corpo, fazendo-o esquecer o calor daquela manhã. Uma bela sensação, unida a uma música calma e agradável, criava ali um ambiente realmente acolhedor. Sentou-se, pediu o Menu e quando foi atendido, ficou a escolher o que comer. Percebeu que precisava ser rápido. Olhou o relógio: marcava exatamente 12:21am. Realmente precisava correr. Pediu um simples almoço, que poderia assim ser comido rapidamente. O pedido chegou, e ele pôs-se a comer em silêncio, saboreando a bela sensação que ali havia.
Ao terminar, pagou a conta com um cartão de crédito que julgava "idiota", e saiu dali. O bafo quente da rua imediatamente penetrou em seu terno negro, fazendo-o começar a sentir calor novamente. Imaginou que, no carro, as coisas estariam bem piores, já que ele não conseguiu estacionar na sombra. Amaldiçoou-se mil vezes pela ignorância, mas se não havia o que fazer, paciência. Olhou para os lados, e viu perto do restaurante uma floricultura. Lembrou-se imediatamente de Lisa, sua namorada. Precisava pedir desculpas para ela, mas não sabia como. Teve uma idéia: flores. "Mulheres gostam de flores, não é?", pensa o esperançoso homem de cabelos loiros.
Entrou no estabelecimento, e o que viu foi algo bem modesto: um pequeno espaço recheado de flores de todos os tipos. Um ambiente colorido e com cheiro de natureza, que passava uma bela sensação de natureza.
-"Senhor, deseja alguma coisa?"-uma voz feminina o tira de sua paz.
O homem de cabelos loiros e penetrantes olhos azuis olhou para a direção em que escutou a voz, e encontrou uma linda mulher de cabelos azuis claros e de olhos tão azuis quanto os seus. Usava um uniforme da floricultura, e uma espécie de avental por cima. Exibia um lindo e simpático sorriso, que o fez esquecer um pouco dos problemas.
-"Ah sim, eu vou querer algumas flores."-ele responde.
-"Muito bem, que tipo de flores você gostaria de levar, senhor?"-ela pergunta, deixando no chão um vaso que levava.
-"As mais bonitas que tiverem. Um arranjo bem bonito. O que me receita?"-ele pergunta. Não fazia a menor idéia do que escolher. Mal sabia algo sobre sua namorada. Sabia seu nome, sobrenome e nada mais. Mas, para ele, aquilo era melhor do que nada.
-"Certo, certo. É para sua namorada?"
-"Sim."-responde simplesmente.
-"Hum, é um simples presente ou aconteceu algo mais sério?"-pergunta a moça, com um tom simpático em sua voz suave.
-"Por que quer saber?"-pergunta desconfiado.
-"Para poder lhe dar uma flor adequada, eu creio..."-ela sorriu.
O homem de cabelos loiro e terno de cor preto, que em seu corpo fazia um belo contraste, deixando-o ainda mais atraente do que já era, deu um longo suspiro, e passou as mãos pelos cabelos, levando as franjas para trás, que caíram em seguida novamente na testa. Olhou bem para a atendente, e então fala.
-"Você sabe... Brigas com a namorada..."-ele fala, um tanto constrangido, evitando olhar para a atendente de cabelos azuis.
-"Ah sim, eu entendo..."-ela dá um belo sorriso, falando com uma voz bastante compreensiva e gentil.-"Então acho que um belo arranjo de rosas brancas e borboletas-azuis seria o ideal. Esse arranjo tem um poder de restaurar o ânimo incrível!"
-"Por favor, vou querer uma dessas, então."-ele diz, sério.
-"Sim senhor, espere só um pouco..."-a atendente fala com um sorriso, correndo para os fundos da loja em seguida.
O homem ficou ali, escorado no balcão a olhar o movimento lá fora. Observou seu relógio e viu que já marcava 13:05pm. Estava realmente atrasado. Na realidade, ele não estava, mas precisava trabalhar. Não conseguia viver sem trabalho. Tudo estava em segundo plano, fora esse item tão precioso. Queria que aquela moça de cabelos azuis chegasse logo e que lhe desse o maldito arranjo, para ele sair dali, ir para seu trabalho e pronto. Ah não... Precisava dar um jeito de manter as flores vivas até o término do serviço.
Às vezes, sua vida parecia um inferno. Mas não se podia fazer nada. Tinha amigos bons, ou pelo menos, quase bons. Tinha um excelente emprego, uma casa linda e sofisticada, uma boa namorada. Não tinha porquê se sentir triste. Mas freqüentemente ele se sentia extremamente sozinho. Um vazio lhe corroia todas suas entranhas, e nem sua TV, nem seu computador, nem seus amigos, nem seu trabalho, nada daquilo lhe fazia sentir-se melhor.
-"Aqui está, senhor."-a voz da atendente novamente lhe tira de seus pensamentos.
-"Obrigado, senhorita..."
-"Eu me chamo Hilda Polaris, E você?"-sorriu a atendente de cabelos azuis e olhos tão azuis quanto o céu (sacaram o que eu quis dizer na N.A 07 agora?)
-"Sou Siegfried Dubhe."-ele responde.
-"Ah, você trabalha na Shooting Star, não é? Já vi seu nome em alguns jornais... Sua empresa é bem famosa!"-ela diz, animada.-"Ela faz trabalhos excelentes!"
-"É..."-responde, embaraçado.
-"Trabalha bastante?"
-"Muito... Mas eu gosto. Não faço isso apenas pelo salário, faço porque realmente gosto desse trabalho."-responde o loiro, mantendo uma postura séria e respeitável, apesar do tom da conversa.
-"Eu entendo. Que bom que você faz o que gosta."-ela sorri.-"Geralmente, a gente se dedica mais assim."
-"Verdade... Então, quanto custa esse arranjo?"
-"Fica por dois dólares. Ah, desculpe... Adoro falar 'dólar'. Soa bem."-ela fala, embaraçada.
-"Tudo bem, eu também gosto."
Ele tira do bolso uma carteira aparentemente de couro, muito bonita, de cor preta. E dali, retira algumas notas e entrega nas mãos da moça. Ela guarda no caixa e dá mais uma nota, como troco.
-"Aqui está, senhor Dubhe."
-"Obrigado."-então, ele sai da floricultura com o lindo arranjo.
Eis Siegfried. Uma pessoa séria, solitária, compenetrada em seu trabalho. Tudo em sua vida é um segundo plano. O amor, a alegria, a amizade, e principalmente o lazer. Vive apenas em função de suas obrigações no lugar onde trabalhava, a empresa Shooting Star. Um homem ranzinza, tímido, e sobre ele não se fala coisas muito agradáveis. Possuía uma casa linda, ricamente decorada, com tudo do bom e melhor, mas nada disso o agradava. Possuía uma bela namorada, Lisa Aaron, mas ela era nada mais do que um simples passatempo noturno. Ele nem sabia porque estava com ela. Iludia-se, ele não a amava, mas pensava que sim. E eles brigaram pelo mesmo motivo que originara as outras discussões: "precisamos conversar sobre nós". Ela sempre dizia isso. E ele se irritava. Não precisavam conversar, tudo estava bem. Ela não conseguia ver aquilo! Tudo estava bem... Por isso, ele mal prestava atenção no que ela dizia. Ou pelo menos, tentava. Mas muitas vezes era extremamente difícil.
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-"Bem vindo, senhor!"-disse um amigo, um homem alto de cabelos verdes e curtos, ao vê-lo chegar no trabalho em grande velocidade, com um buquê de flores.-"Posso saber para quem são essas flores?"
-"Não está vendo, Bado? São pra namorada dele!"-riu seu outro amigo, um lindo rapaz de cabelos loiros escuros.
-"Como era o nome dela mesmo, Haguen?"-pergunta o amigo.
-"Parem com isso, seus idiotas! E por sinal, Bado, o nome dela é Lisa!"-Siegfried diz, irritado.
-"Ah é, é Lisa! Tinha esquecido!"
-"Você esquece até o nome das suas..."-suspira Haguen.
-"Vê se fica na sua."-rebate Alcor, levemente corado, mas bastante embaraçado, apesar de saber esconder bem aquilo.
Siegfried entrou em sua sala. Não era muito pequena, tampouco grande, era simplesmente no tamanho ideal. Uma mesa repleta de papéis importantes, nada importantes, do lado destes encontrava-se um telefone, gavetas onde ele guardava muitas coisas, tanto pessoais quanto profissionais, apesar de quase nunca trazer nada de valor pessoal. Um computador em cima da mesma mesa, uma estante com alguns livros, e mais adiante, uma mesa com um fax, que no momento não estava funcionando, por sorte. Um simples local de trabalho, onde ele passava horas e horas às vezes por um dia completo, mas por escolha própria. Seu lar.
-"O que você vai fazer com as flores, garotão?"-zoa Haguen, encostando-se na porta do escritório do amigo.-"Elas podem murchar."
-"Eu sei. Vou procurar alguma coisa para deixar dentro... Só espero que não murchem, ou eu realmente vou estar perdido."
-"Por que?"
-"Não sei. Preciso dessas flores, elas podem me ajudar com a Lisa e meu pedido de desculpas..."-ele suspira, sentando-se na cadeira e largando o buquê num canto da mesa.
-"Tem certeza?"
-"Absoluta."
-"Cuidado pra não quebrar a cara, Siegfried... Você sabe, mulheres são seres de outro planeta."-Merak diz, com um tom infantil.
-"Ah, não se preocupe. Eu sei o que faço."-ele responde.
-"Tem certeza?"
-"Absoluta. Tem que parar de se preocupar à toa comigo, Haguen. Eu sei me cuidar, estou bem grandinho pra isso, não acha?"
-"Claro, mas..."-o rapaz coçava a cabeça, tentando achar palavras.
-"Então deixa estar. Relaxa."
-"Bom, se você diz..."-Haguen suspira e vai caminhando para o corredor, a fim de deixar o amigo sozinho.-"Só tome cuidado pra não quebrar a cara de verdade!"
-"Pode deixar, não farei."
-"Agora, vá trabalhar, vagabundo, antes que eu faça um relatório!"-os dois loiros riem da piada.-"Até mais tarde, cara."
-"Até mais."
Quando o amigo saiu dali, Siegfried despencou ainda mais na cadeira de trabalho, dando um longo e cansado suspiro. É mesmo... Haguen tinha razão, ele precisava trabalhar. Trabalho, trabalho. Às vezes, ele até cansava de ouvir aquelas palavras. Reuniões, relatórios, trabalhos, tudo aquilo de vez em quando lhe pesava imensamente. Mas ele não tinha tempo de se queixar. Precisava trabalhar. Espreguiçou-se e balançou o pescoço, ouvindo alguns pequenos estralos. Ao terminar, retomou sua rotina.
-"Com licença, Dubhe..."-uma voz masculina chamou.
-"O que foi agora, Benetona?"-pergunta ele, com uma voz entediada, largando o serviço.
-"Reunião na sala cinco. Agora."-responde Mime.
-"Sobre...?"
-"As novas ações da empresa. Eles contam com a sua participação imediata, meu caro. Vá logo."
-"Está bem, está bem..."-suspira.-"Ah, Mime, poderia arrumar algum vaso ou coisa do tipo para as minhas flores?"
-"Lisa de novo?"
-"É... Problemas com ela de novo..."-Siegfried dá um sorriso cansado.
-"Pensei que vocês dois já estivessem enterrados no passado um do outro, mas parece que você está agüentando bravamente, meu caro amigo!"-o rapaz de cabelos longos e ruivos dá um sorriso sarcástico.
-"Você e suas brincadeirinhas. Bom, poderia fazer isso?"
-"Está me achando com cara de dona-de-casa, Siegfried!"-pergunta, fingindo-se de ofendido.
-"Eu vou fingir que não ouvi isso."-Siegfied sorri e vai andando rumo à sala de reuniões. Era sempre uma surpresa aquele lugar, por mais que já esteve lá milhar de vezes. O que poderia ser desta vez ele não sabia, mas talvez fossem mais algumas ações sem sentido, que seriam contestadas por alguns. Iria iniciar-se uma discussão formal, ele desejaria estar em casa ou em seu escritório, e a rotina continuaria... Era sempre daquele jeito.
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Ao final da tarde, quando as estrelas davam os primeiros sinais e a lua já estava bastante clara, Siegfried sai do local de trabalho. Entra em seu carro negro e dá a partida. O carro liga, e ele sai da garagem. Sua vontade era de ligar o rádio, mas ele achou que o silêncio era melhor que escutar alguma coisa. Uma sinaleira parou-o ao acender a luz vermelha. Enquanto estava parado, olhou para o buquê de flores que jazia no banco da frente do carro. Continuava intacto, por pura sorte! Ele poderia dar-lhes para sua namorada, e tudo poderia ficar bem. Com sorte, naquela noite, eles poderiam reatar tudo.
De repente, lembrou-se de que estava sem suprimentos em sua casa. Queria voltar e sentar em seu sofá relaxante, mas ele precisava comprar alimentos ou realmente morreria de fome. Seu estômago já estava o matando. Pegou então, o caminho contrário de sua casa, em direção de algum supermercado próximo. Encontrou um não muito longe, por sorte. Saiu do carro, trancou-o e entrou.
Algum tempo depois, ele saia com algumas sacolas carregadas de suprimentos para uma semana ou mais. Era só isso. Distraído, ficou olhando para o chão e pensando diversas coisas, quando percebeu que trombara com uma moça na rua. Ela caiu no chão. Siegfried largou as compras e foi então, socorrê-la. Por sorte, não havia acontecido muita coisa.
-"Você está bem, senhorita?"-ele pergunta.
-"Tudo bem, foi só um machucado de nada..."-ela mostra o braço, que ralara bastante na calçada áspera na queda, de onde saia um pouco de sangue.-"Está tudo bem, e... Ah, se não é o senhor Dubhe!"
-"O quê?"-ele olhou para o rosto da jovem, e viu-se frente a frente com a mesma moça que, durante a manhã, atendera-lhe na floricultura perto do restaurante.-"Você é a atendente... Polaris, não é?"
-"Lembra ainda de mim! Que bom."-ela sorriu.
-"Tem certeza de que está tudo bem? Precisa de carona até em casa? Se quiser, eu tenho alguns curativos na minha casa."
-"Não precisa. Muito gentil da sua parte, mas não precisa..."
-"Gostaria de uma carona?"-oferece-se, preocupado.
-"Não gaste sua gasolina, senhor Dubhe. Minha casa é muito longe... Eu pego vários ônibus para chegar lá."-ela dá um sorriso animador.
-"Então venha até minha casa. Eu faço um rápido curativo e depois levo você até sua casa. Eu insisto!"-ele diz, segurando o braço machucado dela, e puxando-a em direção ao carro.
-"Isso não será um incomodo?"
-"De forma nenhuma. Pode vir."-ele mostra-lhe o carro. Abre a porta da frente, coloca o arranjo de flores no banco de trás e ela senta-se.
-"Parece que ainda tem as flores aqui..."-ela comenta.
-"Ainda não tive tempo de dá-las para minha namorada..."-ele diz, olhando para a direção e não para ela, num tom sério.
-"Mesmo? Como é o nome dela?"
-"Lisa Aaron."-responde secamente.
-"É um belo nome este, Lisa."-ela diz, também olhando para frente.-"Você mora em uma mansão ou coisa do tipo?"
-"Em uma suíte aqui perto."
-"Hum, uma suíte? Que lindo. Você gosta de lá?"
-"É um bom lugar... Posso trabalhar em paz de noite."-Siegfried diz, olhando rapidamente para o rosto de Hilda.
-"Você não pensa em outra coisa, não?"
-"Eu deveria...?"
-"Acho que você deveria pensar em outras coisas, além do trabalho. Me dá até pena da Lisa, sabe? Quando foi a última vez que se divertiu? Você sabe... Lazer..."-Hilda pergunta, curiosa.
-"Eu não lembro. Mas faz tempo."-responde.
-"Você deveria descansar às vezes. Gente que trabalha demais fica rabugenta e cansada, e além disso, envelhece mais cedo."-ela responde, com um tom professoral.
-"Você me acha rabugento?"
-"Não sei. Você é?"-pergunta Hilda, sorrindo.
Siegfried não conseguiu achar uma resposta. Era ou não era? O que ele achava? O que os outros achavam? Como não conseguiu mais falar nada, o carro tomou-se de um silêncio sepulcral, e Hilda percebeu que perguntou algo que o deixou constrangido, pensativo ou alguma coisa do tipo. Amaldiçoou-se pela falta de modos. Não sabia que aquela simples pergunta podia pesar o clima de amizade que estava começando a brotar.
-"Desculpe... Eu falei algo que não devia, né?"
-"Não, de jeito nenhum!"-ele responde, tentando fazê-la sentir-se melhor, mesmo que talvez ele também precisasse daquilo.-"Eu só fiquei pensando... No que responder... Mas não sei..."
-"Eu acho que você é uma pessoa normal."
-"Normal?"-pergunta Siegfried, confuso. Não conseguiu compreender o sentido daquela palavra: 'normal'.
-"Você sabe, um cara normal."-ela diz novamente.
Ele deu um sorriso de um bom entendedor, e disse:-"Ah, agora eu entendi... Sou um cara normal, é isso...?"
-"Exatamente!"-Hilda diz, batendo as mãos.-"Simplesmente normal."
-"E você, o que é?"
-"Sou tão completamente normal quanto você... Posso te chamar de Siegfried?"-sorri a moça.
-"Claro. E eu posso chamá-la de Hilda?"-pergunta.
-"Por que não?"
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Ao chegarem em casa, Siegfried liga as luzes, e imediatamente elas ascendem, iluminando uma casa estilosa, ricamente detalhada, confortável e bastante grande, como era a típica suíte que Hilda imaginava. Encantou-se com aquela casa, nem parecia que era de um homem. "Só pode ter um toque feminino por aqui", pensou a moça, mas preferiu ficar quieta a fazer o ambiente pesar novamente, como fizera no carro. Entrou, receosa, e ficou a observar a casa dele. Muito modesta.
-"Olha, eu vou pegar os curativos, já volto."-ele diz, indo em direção do corredor que ficava depois da sala.
-"Certo, eu esperarei no sofá, está bem?"
-"Tudo bem. Volto já."
Hilda se sentou no sofá e mais uma vez analisou o ambiente, para ter certeza do que via e concluía. Uma TV imensa, ela perderia a conta das polegadas dela, encontrava-se em uma estante espaçosa, que além dela, continha um DVD, um vídeo caríssimo e outros acessórios. Numa mesa que mais parecia de jantar, encontrava-se um notebook fechado, que provavelmente ele usava para fazer o trabalho em casa. Tapetes decorados e caros no chão, a pintura da casa era branca e marrom clara, o que deixava tudo com um ar equilibrado. Um grande homem, ela deduziu. Tinha estilo.
-"Você está aí?"-ouviu a voz dele vinda do corredor.
-"Sim, estou aqui..."-Hilda se levantou, por educação, e respondeu um tanto hesitante.
-"Não, não, pode voltar a se sentar."-ele chega até ela e se senta perto dela, deixando um band-aid descansando no sofá e um algodão umedecido em sua mão.-"Eu vou limpar primeiro... Bom, vai arder, mas... Você agüentar essa dor passageira, não é?"
-"Claro, eu já estive pior!"-ela dizia, tentando passar energia.
Siegfried então limpou o raspão, onde o sangue já estava quase seco, arrancando um rápido gemido de dor dela. Ele parou o que estava fazendo, mas ela disse então "Continue", e ele continuou seu trabalho. Ao terminar, abriu o ban-aid e colocou-o sobre o ferimento, tapando-o completamente.
-"Pronto, acho que está pronto agora."-ele diz, passando a mão na testa.
-"Muito obrigada... Nem sei como lhe agradecer."-Hilda dizia, sorrindo gentilmente.
-"Não precisa agradecer. Eu que esbarrei em você."
-"Mas foi sem querer, eu entendo."
-"O importante é que você está bem, não é?"
-"Sim, tem razão..."
Ele queria descansar um pouco, antes de começar a trabalhar novamente, mas forçou-se a ser gentil com a visita repentina:-"Gostaria de comer alguma coisa? Acabei de comprar."
-"Sim, eu vi, mas não quero nada, muito obrigada."-ela responde.-"Estou realmente sem fome agora."
-"Tem certeza."
-"Toda... Mas eu realmente agradeço sua gentileza."-de repente, Hilda parou e comentou.-"Sabe, um dia uma cliente falou um pouco de você... Disse que você era uma pessoa muito distante e fria, mas eu não acho que seja assim... Você é legal, sabia?"
-"Verdade? É a primeira vez que um 'estranho' diz isso."-ele responde, embaraçado.
-"Eles não conhecem você direito, só isso. Siegfried não é nem um pouco distante, só é atarefado demais, não é isso?"
-"Creio que sim..."-ele pega o controle remoto, que encontrava-se do lado dele, atrás de uma almofada que estava em repousando no sofá.-"Gostaria de assistir um pouco de TV?"
-"Hum, eu realmente estou atrasada... Preciso chegar em casa, minha irmã deve estar esperando..."
-"Você tem irmã?"
-"Eu e ela moramos juntas, desde que nossos pais faleceram. Ela se chama Freiya, está na faculdade de letras."-Hilda sorri.
-"Interessante. Tem certeza de que não quer ficar mais um pouco?"
-"Eu adoraria, mas preciso ir, sério..."
-"Então, eu levo você até em casa."-Siegfried levanta-se do sofá, arrumando a blusa um pouco amarrotada.
-"Não se incomode! Eu vou de ônibus!"
-"Nem pensar, eu insisto!"-ele diz, autoritário. Hilda dá um suspiro, e então assente, cooperando com ele.-"Ótimo, então podemos ir."
Então, os dois ouvem um barulho vindo da frente. A porta estava abrindo-se, ou seja, alguém estava chegando. Ele não tinha muitas visitas, e a única pessoa que tinha a chave era ele mesmo, mais ninguém. Então, quem poderia ser? A porta se abre, e na casa entra uma bela moça de cabelos castanhos compridos, olhos verdes e corpo esbelto, vestindo um vestido negro de alças.
-"Amor, onde você está?"-ela chama.-"Que tal..."
Lisa, então, vê os dois de pé, perto do sofá. Siegfried segurava a mão de Hilda, e esta parecia bastante surpresa.
-"Quem... Quem é essa...?"-pergunta Lisa, abatida.
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Continua...
P.S: Nos vemos no próximo capítulo, gente! Beijos, e até a próxima.
