Fraternidade

A batalha havia se findado e Voldemort se encontrava, morto, em uma sala ao lado do Salão Principal do Castelo de Hogwarts.

Aberforth nunca suportara multidões, sempre fora retraído demais e agitado demais para sentar-se e conversar pacientemente com outras pessoas após a adrenalina de uma batalha como a que ocorrera naquela noite. Por isso, assim que vira Voldemort cair e seus últimos seguidores fugindo ou se rendendo, ele saíra para andar nos terrenos da escola que seu irmão mais velho, Albus Dumbledore, tanto amara.

Ele alcançou o túmulo branco onde seu irmão jazia. Aquele não era um lugar de repouso eterno digno para qualquer um. Aberforth sabia que seu irmão teria gostado, pois era dado a extravagâncias. Teria odiado ter sido enterrado no pequeno túmulo da família em Godric's Hollow.

Albus Dumbledore não fora um irmão presente durante sua infância e adolescência, por isso os dois nunca haviam sido amigos. Mas o cheiro da grama molhada lhe lembrava uma situação vivida durante o período que os dois freqüentaram aquela escola.

Ele era um estudante do segundo ano com algum talento em feitiços e azarações quando se metera em um duelo com um garoto do quarto ano de outra casa com pouco talento mágico e o vencera. Para retomar a honra da casa, os alunos se viram instigados a revidar e, assim, Aberforth se tornara alvo de uma série de brincadeiras de mau gosto dos alunos mais avançados.

Albus, no momento, cursava o quinto ano e era o mais brilhante estudante que a escola tivera o prazer de ver crescer. Ele nunca socorrera o irmão em uma crise até então, por isso o mais novo nunca sequer pensara em pedir ajuda ao irmão.

Um dia, Aberforth se vira cercado por cinco garotos do sétimo ano enquanto caminhava pelos jardins da escola. Havia chovido no dia anterior e os garotos mais velhos o fizeram rolar muitas vezes na lama usando feitiços variados - o que explicava o cheiro do gramado ser a sua lembrança mais forte daquele momento.

Albus surgira, aparentemente do nada, e rapidamente socorreu o irmão, deixando os cinco garotos desacordados.

- Por que não me avisou que estavam te atormentando? Eu sou monitor, poderia ter dado um jeito sem recorrer a minha varinha. Agora, terei que explicar porque os ataquei, - repreendeu Albus.

Aberforth corara violentamente. Nunca imaginara Albus socorrendo-o.

Mas aquela não fora a última vez, muitas se seguiram. Naquela noite, em que ele encarava o túmulo do irmão mais velho após a derrota de Lord Voldemort, Aberforth chorou pela primeira vez à morte de Albus.

Não haviam sido os melhores amigos, mas o amor fraterno permanecia, forçando Albus a sempre socorrê-lo nos momentos mais difíceis. Descobriu, então, que não havia tido um amigo mais fiel em toda a sua longa vida.