Sumário: Mesmo de mau humor, com fome e cansado, Axel nunca poderia ter deixado aquele garoto no meio da chuva. Mas ele nunca achou que aquele ato de caridade mudaria sua vida. [Akuroku UA]

.leave me cold.

A chuva caía tão insistentemente sobre a cidade que o ruivo se amaldiçoou por ter esquecido o guarda-chuva ao sair de casa naquela manhã.

Seus cabelos, embora fosse tão comum vê-los espetados para todos os lados com a ajuda de uma boa quantidade de gel ao acordar, estavam completamente encharcados ao ponto de grudarem em seu rosto e por muitas vezes atrapalharem a visão devido ao vento. Embora seu cabelo estivesse naquele estado, nada se comparava a suas roupas ensopadas. Parecia até que o fim do mundo havia chegado.

Axel se arrependeu tanto de ter recusado o convite de dormir na casa do Demyx.

Certo que, se tivesse aceitado o convite, dormir seria a última coisa que teria feito. O loiro podia ser tão carente às vezes...

O fato era que Demyx sempre tinha problemas para dormir, e quando seu amigo o visitava, ele sempre pedia conselhos sobre sua vida em geral. O coitado do Axel geralmente ficava horas e horas ouvindo-o reclamar das diversas pessoas por quem o loiro se sentia atraído.

Ele suspirou. Sabia que não deveria ter aceitado o convite de ir lá, mas, como sempre, Demyx declarara que era uma "emergência de vida ou morte". Mal sabia ele que a tal emergência era a escolha do presente para o aniversário do novo namorado do outro, um tal de Zexion, que cursava Literatura. Fora divertido (e com requintes de malícia que o loiro parecia não captar), ele admitia, e o ruivo conseguiu comer alguma coisa decente para variar, mas as excursões à casa do outro sempre acabavam por volta de horários nada convenientes, naquelas horas na qual você descobre que todos os ônibus já voltaram para a estação. E que você deveria caminhar debaixo de uma chuva infernal saída direto da Bíblia, sendo que esta só começa quando você anda duas quadras em direção a sua casa.

"Murphy está contra mim." Pensou. "Nada pode piorar agora."

Ele se arrependeu no mesmo momento de suas palavras.

Lá estava seu infortúnio, pelo que o ruivo podia ver. Um garoto, com certeza muito mais novo que ele, sentava no parapeito de uma ponte, e o rio abaixo dela não parecia nenhum pouco agradável de nadar no momento devido à chuva. Ele usava uma calça folgada, branca e com padrões de xadrez preto e branco. 'Emo' foi a primeira coisa que Axel pensou quando o viu. A roupa o denunciava, além da posição dele, se inclinando perigosamente sobre o rio.

Mas a sorte do outro não poderia ser pior: todo o bom humor de Axel fora embora com a chuva.

E não estava nos planos dele ver um garoto emo se matar por causa de alguma besteira. Tsc. Essas crianças não conheciam nenhuma dificuldade na vida. Não é como se eles tivessem que trabalhar para manter um teto (pequeno, mas confortável) sobre suas cabeças...

Então, não fora culpa dele simplesmente pegar o garoto pelo casaco e puxá-lo, derrubando-o no chão. O grito dele não o assustou, mas Axel não esperava que o outro caísse tão forte no chão. Hun.

"Desculpa aí. Eu devia aprender a controlar a minha força."

O homem de olhos verdes não esperava que o loiro o encarasse com tanta fúria no olhar (e aqueles olhos, tão azuis quanto o céu, tão brilhantes quanto o rio que corria abaixo deles em dias de sol). Axel se estapeou mentalmente por esse pensamento piegas. O outro era apenas uma criança... Que parecia bem decidida em acabar com sua vida, de qualquer modo.

"Por que fez isso?" O loiro perguntou, limpando o rosto em uma tentativa frustrada. Ou enxugando as lágrimas, Axel não conseguia dizer ao certo. Estava tudo muito molhado.

"Porque, meu amigo, você teve a má sorte de cruzar meu caminho quando eu estou de mau humor, cansado, com fome e com sono. Você ganhou na loteria, pirralho." Ele respondeu, colocando uma mão na cintura. "Acrescente frio, essa chuva infernal e os ônibus terem voltado para a estação. Se estivesse mais seco, um ladrão que tentasse me assaltar iria flambar. Então agradeça por estar chovendo."

O garoto baixou a cabeça e o outro pensou que ele poderia ter sido um pouco rude com ele.

Um pouco.

Ele iria ficar gripado se ficasse na chuva mais um pouco. E ainda tinha um trabalho para entregar no final da semana... Axel ia retomar seu caminho quando um pensamento se formou. E se o garoto tentasse se matar de novo? Ele não podia ser tão hipócrita assim, ao ponto de acreditar que estaria tudo bem com o loiro se jogando da ponte desde que ele não estivesse olhando, podia? Maldita consciência!

Ele o chutou de leve. "Ei, pirralho. Você vai ficar doente desse jeito."

"Vá se ferrar."

Axel suspirou. Ele não queria realmente fazer isso, mas ele tinha uma pequena molécula em seu DNA que o fazia agir como irmão mais velho. Talvez fosse a convivência com Demyx. Deus sabia o quanto ele era irresponsável. Até a mãe dele sabia disso. Talvez fosse essa uma das razões porque ele ainda morava com ela...

O ruivo resolveu o problema dos dois. Mas ouvir o berro do outro tão próximo a seu ouvido não era nada agradável. Principalmente quando ele se recuperou depressa do choque e começou a espernear.

Roxas não conseguia acreditar. Como aquele maldito ousava carregá-lo assim?!

"ME SOLTE! Por que você se importa?!"

"Eu não me importo."

Axel mentiu naquele dia.