Os Herdeiros do Mapa

Notas introdutórias

Tenho de admitir que o Fred e o George Weasley, bem como o Lee Jordan e todas as outras personagens da colecção Harry Potter não me pertencem, mas sim à Jo. Só a Mary Jane Sanderson é que é da minha autoria.

Quando aparecer MJ, deve ler-se como se faz em inglês (Eme Jay).

A fic poderá conter recriações de algumas cenas dos livros. Eu indicarei essas situações.

Contém spoilers de Deathly Hallows.

Capítulo I

Memórias

A plataforma 9 e ¾ de King's Cross estava completamente apinhada. Para onde quer que olhasse, via jovens a despedirem-se dos respectivos pais, transportando pesados malões e, por vezes, animais de estimação barulhentos. Com uma pontada de inveja, desviou o olhar para o chão e continuou a andar em direcção ao Expresso de Hogwarts, arrastando o seu próprio malão.

Finalmente, estava a cumprir o seu sonho: ir para a Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts. Quase não conseguia acreditar! Depois de tanto tempo de espera e ansiedade…

Atingiu uma das entradas do comboio. Deitando uma olhadela de viés à sua bagagem, teve a certeza de que não conseguiria erguê-la mais do que uns centímetros. Olhou em volta, mais uma vez. Tal como ela, outros alunos entravam, agora, para o comboio. Os mais pequenos eram ajudados pelos pais ou irmãos mais velhos. Suspirando, amaldiçoou os seus pais.

Mr. e Mrs. Sanderson eram ambos feiticeiros, famosos pela sua fortuna. Poder-se-ia dizer que se contavam entre os feiticeiros mais influentes e sofisticados da actualidade. Todos esperavam que a filha de ambos, a jovem Mary Jane, lhes seguisse as pisadas…

– Precisas de ajuda? – perguntou uma voz de rapaz.

Mary Jane voltou à realidade. Na sua frente estava um rapaz negro, pouco mais alto do que ela própria.

– Se quiseres, ajudo-te a transportares o teu malão até a um compartimento. – repetiu ele.

A jovem anuiu, aliviada. Com um sorriso, o rapaz ergueu a bagagem dela, com esforço, e subiu abordo do comboio, sempre seguido por Mary Jane.

– Combinaste encontrar-te com alguém? – inquiriu o jovem. – É que, se não, eu convidava-te para vires para o compartimento onde eu estou.

A rapariga sorriu-lhe, agradecida. Serpenteando por entre muitos rapazes e raparigas e as suas bagagens, prosseguiram até à parte central do comboio, onde entraram no compartimento onde o jovem já se instalara.

– Como te chamas? – inquiriu o rapaz, enquanto arrumava o malão da rapariga.

– Mary Jane Sanderson. – apresentou-se ela.

Era a primeira vez que falava. A sua voz era suave, doce e ponderada.

– Eu sou o Lee, Lee Jordan.

– Muito prazer. – disse ela, apertando-lhe a mão que ele lhe estendera. – Ah, obrigada por me teres ajudado.

O rapaz encolheu os ombros. Sentaram-se frente-a-frente, em silêncio. Mary Jane retirou uma madeixa de cabelo loiro da cara, deixando um par de olhos azuis brilhantes a descoberto.

– Hum, tu vieste sozinha para aqui? – inquiriu Lee, quebrando o silêncio.

– Sim… Os meus pais não tinham tempo para me acompanhar. Deixaram-me na estação e foram-se embora. – confessou a rapariga, num tom triste. – Não têm muito tempo para mim. Estão sempre em festas ou a trabalhar.

– Sanderson… – murmurou o rapaz negro. – Sanderson… Acho que já ouvi esse nome. És filha de feiticeiros?

A jovem hesitou um segundo, antes de anuir.

– Mais valia ser filha de Muggles… – deixou escapar.

Lee franziu o sobrolho, mas não disse mais nada sobre os pais dela.

– E tu? – inquiriu ela, mudando de assunto.

– Também sou filho de feiticeiros. – respondeu ele, espreguiçando-se descontraidamente. – Não é que me interesse; para mim, filhos de Muggles ou sangues-puros é tudo a mesma coisa. Não há diferenças.

O rosto triste de Mary Jane animou-se de imediato.

– A sério? Eu também não ligo a essa treta toda. Ao contrário dos meus pais… – acrescentou, revirando os olhos.

– Gostas de Quidditch? – perguntou-lhe o rapaz, mudando de assunto, já que suspeitava de que a sua nova amiga não gostava de falar nos pais.

– Sim. Adoro ver os jogos, mas nunca joguei. Nunca tive liberdade para voar. – admitiu.

– Pois. Eu também adoro ver, mas não tenho jeito para jogar. Sou um desastre total.

Os dois riram com gosto, sem reparar que o comboio já se pusera em movimento. A partir desse momento, a conversa tornou-se muito mais fluida e descontraída. Era a primeira vez que Mary Jane encontrava um amigo com quem gostasse de conversar.

– Os meus pais são ultra-controladores. Eram sempre eles a escolherem os meus amigos. Claro que eram sempre filhos dos amigos deles. Nunca gostei de nenhum deles. Eram todos convencidos, com a mania de que eram importantes… – fez uma careta. – Nunca me senti integrada naquele meio. Por isso é que estou ansiosa por chegar a Hogwarts. Pela primeira vez, vou ter liberdade.

Suspirou. Lee observava-a, dividido entre a pena e a admiração. Levantou-se e sentou-se ao lado dela, ao mesmo tempo que afirmava:

– Tens razão. Em Hogwarts, vais poder fazer o que quiseres. E aposto que te vais divertir à brava.

Mary Jane sorriu, agradecida. Tirou a varinha do malão e mostrou-a ao amigo.

– Madeira de salgueiro, 22 cm, com um núcleo de tiras de coração de dragão. Acabei de adquirir…

– Ah, então também vais para o primeiro ano! – exclamou Lee, animado. – Esperas ficar em que equipa? Eu adoraria ficar nos Gryffindor.

– Os meus pais eram ambos Slytherin, mas eu não quero ser igual a eles. Sinceramente, eu preferia ser Gryffindor. – afirmou ela, com um sorriso fraco.

Lee teve a confirmação de que a sua nova amiga não gostava muito de falar nos pais e, muito menos, de ser igual a eles. Apressou-se a mudar de assunto:

– Já sabes fazer alguma coisa com a varinha?

– Andei a treinar uns feitiços, às escondidas. – admitiu ela, com um sorriso maroto. – Vê.

Pegou na varinha delicadamente, apontou-a para o cadeado da sua bagagem e murmurou: Alohomora! Imediatamente, ouviu-se um clique, indicando que o cadeado se abrira.

Lee Jordan ostentava uma expressão de profunda admiração. Abriu a boca para dizer algo, quando a porta do compartimento foi aberta. Lee e Mary Jane viraram a cabeça na direcção da entrada. Depararam-se com dois rapazes exactamente iguais.

– Desculpem. Não sabíamos que estava ocupado. – desculpou-se um dos gémeos.

– Estamos com alguma dificuldade em encontrar um compartimento. – disse o outro, sorrindo. – Atrasámo-nos.

Mary Jane levantou-se e, sorrindo também, disse:

– Podem ficar aqui. Não te importas, pois não, Lee?

Lee imitou a amiga, erguendo-se também. Abanou a cabeça em concordância e, após apertar a mão aos gémeos, ajudou-os a arrumar as malas. De seguida, foi a vez da rapariga cumprimentar os recém-chegados.

– Olá. Chamo-me Mary Jane. – apresentou-se, apertando a mão a cada um dos gémeos.

– Eu sou o Fred Weasley. – disse um dos gémeos. – E este é o meu irmão George.

Sentaram-se todos, um tanto acanhados. A única rapariga observava os recém-chegados com grande interesse. Eram ambos ruivos e sardentos, não muito mais altos do que ela própria. Tinham uma expressão divertida no rosto. Sem saber bem porquê, teve a sensação de que se iriam dar muito bem.

– Estavas a fazer magia? – perguntou Fred.

Ela anuiu, o que arrancou um sorriso ao outro Weasley.

– Nós adoramos pregar partidas. – confessou ele.

E contaram algumas traquinices que tinham praticado durante a sua infância.

O dia foi escurecendo, à medida que as horas passavam. Quem passasse no corredor poderia assustar-se com o som das gargalhadas que vinham do interior do compartimento, tal era a sua intensidade.

Finalmente, o comboio começou a abrandar e eles aproveitaram para vestir os seus uniformes. Os dos gémeos Weasleys tinham um aspecto velho e coçado, o que levou a jovem a concluir, correctamente, que tinham alguns problemas financeiros.

Sempre a sorrir, saíram do comboio, em direcção ao imponente castelo de Hogwarts.