Agradecimentos a Misao-chan, K-chan e Dee-chan, por me aguentarem com esta fic.

Humor/paródia, shounen ai

Heederela.

Há muitos e muitos anos, num reino distante, cheio de histórias e lendas, onde a paz não era uma constante, como em todos os contos de fadas que se preze, havia um castelo com um enorme hangar nos fundos, que abrigava um gigante metálico batizado de Wing.

Seu criador, o cientista conhecido por J, tinha um único pupilo, o jovem, carrancudo e resmungão Heero.

Apesar de todos os defeitos, até que ele era bonitinho, vai!

Não sei lhes dizer se J era o pai de Heero, parecia mais o avô, mas eu também não estou aqui pra falar mal da vida dos outros, certo? Estou apenas contando essa história.

Como o reino não era dos mais pacíficos, J viu-se forçado a formar alianças, já que nem toda a parafernália bélica que criava era capaz de mantê-los seguros. E assim, a bela comandante, Lady Une, passou a morar com eles. Com ela vieram seus protegidos, o casal de irmãos Relena e Milliardo. Este último, também conhecido pelo nome de guerra, Zechs, nas rodinhas de truco.

Com o desaparecimento do velho J, durante a explosão de uma estação orbital, Une mostrou sua verdadeira face. A criatura era doida de pedra e sofria de dupla personalidade: uma encantadora e a outra... uma tremenda megera!

Como ela conseguiu esconder esse pequeno... detalhe psicológico, por tanto tempo é um dos grandes mistérios da humanidade!

O lado megera de Lady Une passou a dar preferência apenas aos caprichos de seus pupilos, gastando rapidamente boa parte da fortuna que J acumulou com as patentes de suas criações, em coisas inúteis, como a construção do Tallgeese e os vestidos em todos os tons de rosa de Relena.

Pobre pequeno Heero - e quando eu falo pequeno, quero dizer baixinho mesmo - que vida infeliz levava pelos corredores mofados do castelo. Sua comandante era uma morta de fome e não contratava empregados para limpar aquele chiqueiro, restando ao rapaz não apenas a limpeza, mas também, a tarefa de cozinhar.

Diga-se de passagem, eu preferia que ele não se aproximasse do fogão. Sem querer falar mal, mas se ele continuar cozinhando, serei obrigada a começar um regime rigoroso!

Voltando ao conto, você pode imaginar o que é ter que limpar aquele castelo inteiro sozinho? Ainda mais que havia ali um desorganizado laboratório, digno de um alquimista louco. E o hangar então? Consegue imaginar o tamanho que deve ter um hangar construído para comportar dois MSs gigantescos? Pense bem... são mais de 16 metros cada, ou 7 toneladas se preferir. E os estábulos? Se bem que sou forçada a acreditar que os estábulos eram mais limpos que o quarto de Relena...

E por falar em MS, Wing era a única felicidade de Heero naquela baderna. O rapaz passava horas reparando pequenos defeitos, fazendo ajustes e conversando com a máquina. Por favor, não o chamem de doido, sim? Ao menos, não mais que o usual... Wing era seu único amigo, pois nunca respondia, e quem cala consente.

-o-

Numa bela manhã, Heero acordou cedo, ouvindo o harmonioso canto dos pássaros em sua janela... e o som estridente do despertador. E como diz o velho ditado, aproveitou para 'matar dois coelhos numa só cajadada', tacando o despertador estúpido nos pássaros barulhentos.

- Malditos corvos! Qualquer dia acerto um...

Aquela não seria uma manhã comum na vida de Heero, pois deveria receber as peças novas do Tallgeese, que chegariam do oriente. Mais especificamente da China.

Une e Milliardo o perturbavam há dias, ansiosos pela chegada da encomenda. Pode parecer um tanto quanto estranho, mas Heero se divertia com isso. Jamais deixaria que os outros percebessem o quanto achava engraçado, mas era fato! Se as peças tivessem a mesma qualidade das camisetas chinesas que usava, com toda a certeza, Tallgeese cairia antes da primeira missão.

Começou o dia alimentando os animais... digo... fazendo o café da manhã para o bando de mortos de fome que herdou de J.

"Maldito velho... com certeza, se morreu, deve estar no inferno dos construtores de Gundans." – pensava.

Largou o mingau aguado sobre a mesa com desdém antes de sair pro hangar. Nada de café da manhã na cama para os preguiçosos. Quem quisesse comer que tratasse de se servir. Mas infelizmente, não foi rápido o bastante para sumir antes de ouvir mais algumas reclamações infundadas sobre a demora da entrega. O que ele poderia fazer se o mercador era uma lesma? Sem contar que ninguém poderia esperar um serviço de primeira pelo preço que estavam pagando.

- Heero! – era a voz irritante de Relena – Já que você não tem mais o que fazer até que a encomenda chegue, lave essas roupas pra mim, sim? E... passe no meu quarto mais tarde... – completou com uma voz insinuante que provocou náuseas no garoto – acho que dei um mal jeito essa noite e preciso de uma massagem...

- Vai pro inferno, vaca! – sussurrou de volta, passando por ela como se nada de mais houvesse acontecido.

- Heeeeerooooo!!!! – a garota gritou escandalosamente – Comandaaaaaaaaaante!!! Você ouviu o que ele me respondeu?!

Tratou de correr porta à fora antes que fosse pego. O serviço o esperava!

-o-

Quando estava quase mandando Milliardo ir empilhar coquinho na ladeira por causa das malditas peças, eis que elas chegam. Diversas caixas, dos mais variados tamanhos, foram deixadas no meio do hangar. Movido por uma inconfessa curiosidade, resolveu abrir algumas, antes de chamar o dono delas.

"Apenas para conferir se está tudo certo." – tentava se convencer. Melhor que ter que admitir a fraqueza.

Foi então que um ser estranho, cinza e pavoroso, pulou para fora da caixa. Pego de surpresa, o jovem caiu sentado no chão.

Era o camundongo mais feio que já vira em sua jovem vida!

Agarrou a primeira coisa que viu em sua frente e deu um pega no asqueroso. Apavorado, o camundongo atravessou o hangar e correu para a porta que dava passagem para a casa, com o rapaz em seu encalço. O desespero era tanto que o bicho subiu nos móveis, assustando os outros moradores do lugar, que conversavam na sala, mas nem caça ou caçador deram-se conta do alvoroço que provocavam. Heero tinha uma missão e a cumpriria a contento.

Em dado momento, o perseguidor percebeu que não poderia alcançar sua presa, e atirou a peça que tinha em mãos... acertando a xícara de chá de Une, para só então espatifar-se no chão.

Eu já falei sobre a qualidade duvidosa dessas peças?

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!! – foi o grito coletivo que pode ser ouvido no reino vizinho.

Quase uma hora mais tarde, Une ainda tentava se controlar enquanto Milliardo estava ajoelhado no chão, lamentando o estado em que sua preciosa peça ficou e Heero considerava a idéia e pegar uma escada para arrancar Relena do lustre, já que esta parecia em estado de choque e nada inclinada a descer de lá por si mesma.

- Me parece que o rapazinho anda tendo tempo suficiente para aprontar brincadeiras de mal gosto, não? – falou o lado megera de Une – Acredito que a solução seja... ocupar este seu tempo vago. Hoje você irá lavar e encerar o Tallgeese, espanar o pó do laboratório, lavar todas as janelas, encerar o hangar até que eu possa ver meu reflexo no chão e cortar a grama... ah, sim! E nada de mexer no Wing!! Você está proibido de se aproximar daquele Gundam!

E essa era a vida de nosso herói... um rapaz treinado para ser um grande soldado, tendo seus talentos desperdiçados em intermináveis tarefas domésticas.

-o-

Enquanto isso, no castelo, uma pequena reunião a portas fechadas acontecia. O rei não parecia satisfeito com as atitudes de seu herdeiro.

- Por Alá, Rashid!! –bradou o rei - Estarei pedindo demais? Criei todos os meus filhos da melhor maneira possível, e acredito que nunca exigi mais do que eram capazes de fazer. Tudo o que eu quero é que meu único herdeiro se interesse pela segurança do reino! Que faça alianças confiáveis!!! – esmurrou a mesa, mas logo em seguida, deixou os ombros caírem, demonstrando cansaço – Os tempos não são mais os mesmos... a paz é algo frágil agora... me sinto velho e cansado, mas nem ao menos posso colocar a cabeça sobre o travesseiro e dormir, com medo de deixar o reino desprotegido... e meu filho, o que faz? Preocupa-se com chás e música...

Rashid assistia a explosão do rei em silêncio. Compreendia sua posição quanto as atitudes do príncipe, e gostaria de poder revelar alguns fatos de que tinha conhecimento, mas estes haviam lhe sido confiados em segredo.

- Vinte e nove meninas e um menino, Rashid... criei estas crianças com todo o cuidado que um pai deve ter. Seria exigir demais que meu filho se preocupe com suas irmãs? Com seu reino? Um dia ele há de herdar tudo isso... um dia eu não estarei mais aqui e ele terá que cuidar de tudo... – sentou-se cansado – Se ele ao menos fosse casado, com alguém forte, que o ajude, eu não teria que me preocupar tanto e... – fez uma pausa, pensativo – é isso, Rashid!! Por que não pensei nisso antes?! – exclamou, agora num tom entusiasmado – Um casamento! Quatre precisa casar-se! – levantou-se, andando em círculos pelo cômodo enquanto gesticulava – Ele precisa de uma noiva que o apóie!!

- Hum... ou um noivo, senhor...

- Ou um noivo! Que seja!! – bradou – Uma pessoa honesta e de bom caráter, que faça-o interessar-se pelos assuntos do reino.

- Mas senhor... será mesmo necessário? Talvez... talvez... se dermos tempo ao príncipe ele mesmo encontre...

- Tempo?! Rashid, você não ouviu nada do que eu lhe disse, homem?! É tempo de Quatre entender as necessidades do reino, de assumir suas obrigações! Um casamento! É disso que ele precisa!

- Mas senhor, forçá-lo não vai...

- Forçá-lo? Não... não pretendo forçá-lo a um casamento. Apenas ajudá-lo. Tenho consciência de que casamentos forçados não trazem bons resultados. Você falou com ele, certo? Quatre volta hoje daquele... daquele treinamento estranho que pediu há meses?

- Sim, senhor.

- Então, faremos um baile! Nada mais natural que se faça um baile para comemorar a volta do príncipe.

- Bem... está certo, senhor. Para quando quer este baile?

- Quando?! Logicamente que será hoje! É quando ele volta! Tenho esperanças de que ele se encante por alguma moça ou rapaz neste baile. Prepare tudo, Rashid!! Convide todos os jovens solteiros e promissores do reino!

- Hoje, senhor?! Mas... bem... mestre Quatre disse que traria um hospede consigo e...

- Hospede? Quem? Não é aquele velho louco que ele escolheu como instrutor, é? Como é mesmo o nome do homem? H?

- Sim, senhor. O nome é instrutor H, e não, senhor... não é ele.

- Rashid... – olhou-o desconfiado – você sabe de algo que eu não sei?

- E-eu?! De modo algum, senhor!

- Então, qual o problema? Apenas convide esse hospede também, seja lá quem for. Oficialmente, este é apenas um baile de boas vindas.

-o-

Era a segunda vez que tentava acertar o rato com uma peça arrancada do Tallgeese, e pela segunda vez, errou. Apesar de tudo, tinha que admitir que o danado era bom.

Heero estava pendurado a uma altura considerável do chão, encerando o MS gigantesco. Vez ou outra arrancando uma porca ou parafuso, para tentar acertar o rato, que parecia observar seus movimentos do chão, enquanto mordiscava os fios deixados ali. Detestava ratos exatamente por isso. Eles roíam fios e tudo mais onde pudessem cravar os dentes, danificando seu Gundam. Nunca aprendiam. Viam os irmãos morrerem eletrocutados, mas estavam sempre dispostos a tentar.

Mas enquanto o camundongo se contentasse em mastigar os fios do Tallgeese, o deixaria em paz, já que se parasse um instante para pensar, ele estava fazendo um favor.

- Ô do laboratório! Mensagem do rei!! – gritou um rapaz parado à porta.

- Larga aí mesmo que uma hora alguém cata! – foi a resposta que recebeu – Isso se o rato não roer antes... – sussurrou para si mesmo.

- Como assim 'uma hora alguém cata'? – ao som da voz estridente de Relena, Heero estremeceu e o rato tratou de sumir – É seu dever receber todas as mensagens e reportar a Lady Une!

- Omae wo korosu! – estreitou os olhos em direção a irritante criatura rosa antes de voltar ao serviço.

- Oh, eu não acredito!! – gritou Relena, lendo a mensagem – Haverá um baile em honra ao príncipe esta noite! Eu tenho que encontrar um vestido!! – e sumiu porta à dentro.

Sem se importar com o escândalo de Relena, o jovem apenas continuou com sua tarefa. Dava graças pela garota finalmente ter encontrado algo de que realmente entendia para fazer. Com um pouco de sorte, ela ficaria ocupada pelo resto do dia. Até mesmo o rato parecia aliviado, já que voltou ao antigo posto, roendo fios, próximo ao Tallgeese.

Mas infelizmente, o silêncio durou pouco, já que não apenas uma criatura chata o procurou, mas três!

- Heero! – Une chamou – Desça daí e vá se arrumar. Fomos convidados para um baile.

Continua...