Aviso legal: propriedade intelectual de Masashi Kishimoto.


Tsumetai

"Porque a sua própria existência era solitária" – (Databook II)

#1

As bochechas de Sakura estavam coradas em suaves tons vermelhos, não havia nada que ela pudesse fazer além de permitir que Ino falasse, seu único gesto era balançar discretamente a cabeça ao ouvir, quase distraída, os ditos conselhos da loira. Juntas, empacotavam roupas para a viagem da nova Uchiha com Sasuke. O destino era um ryokan: um hotel com termas naturais não muito longe de Konoha. A Yamanaka organizara o passeio como um tipo de presente de casamento.

"São suas núpcias, é ridículo ficar na aldeia. O pacote cobre três dias, vá se divertir".

Ao receber o bilhete com as reservas, Sakura mostrou-se animada e Sasuke guardou sua opinião, ele tinha, sim, brilhantes planos de ficar em Konoha, na residência onde sua esposa – palavra que trazia um curioso sabor à boca – e ele morariam dali em diante. No entanto, ao fim da cerimônia despretensiosa e da pequena recepção, Ino aproximou-se com um cartão na mão e a Uchiha agradeceu e veio mostrá-lo o papel: " Sasuke-kun! Termas! Nós vamos, não é?".

Planos estragados.

Ele não disse nada, mas seu silêncio fora suficiente como prova de sua relutante concordância. Ryokans eram conhecidos por serem recantos calmos e pacíficos, o que lhe agrega uma carga positiva, mas quase sempre havia outras pessoas e não havia incômodo maior que este. Seria difícil lidar com essa situação constrangedora com gente ao redor – ou mesmo num raio de quilômetros.

Por sua escolha, ficar sozinho com Sakura – e se acostumar com isso – era o melhor e mais seguro método, mas não tentaria estragar a felicidade dela por algo que talvez fosse só uma paranoia.

— Ne, Sakura, — Ino chamou-a, lacrando com fita adesiva uma caixa média — você precisa deixar claro para o Sasuke-kun que é virgem. É importante — A kunoichi rosa tornava-se gradualmente inquieta a cada comentário, mas a loira parecia entretida no que para ela era a prestação de uma grande ajuda. — Mesmo que sinta vergonha, naturalmente, deve ter esse tipo de diálogo, dizer se ele está te machucando ou não. Ele não vai adivinhar.

— Mou, Ino, chega, minha mãe também já falou o bastante sobre isso — a médica reclamou, impaciente e querendo fugir do tópico.

A Yamanaka gargalhou pela careta de Sakura, as sobrancelhas cor de rosa curvadas numa tentativa de parecer zangada, mas as maçãs do rosto com um tom rubro que ela não conseguia disfarçar.

— Não fique constrangida, testuda, ainda será muito grata a nós. Quando terminarmos eu vou ensinar uma ou duas coisinhas para você, dicas quentes da beldade de Konoha, daquelas que sua mãe nunca lhe daria — Ino piscou convencida, Sakura chiou envergonhada e rolou os olhos.

— Não acredito nisso... sei me virar.

— Oh, eu imagino, porque é uma pervertida com tudo relacionado ao Sasuke.

— Eu não sou!

O quarto de Sakura estava repleto de várias caixas fechadas, que seriam levadas para sua nova casa por Mebuki em seu tempo fora. Sasuke, no entanto, já estava morando por lá há duas semanas por razões imobiliárias. Ele comentou que o silêncio era bom e os vizinhos quase não pareciam existir, o que tornava o imóvel perfeito. Na ocasião, a ainda Haruno sorriu, apenas Sasuke consideraria tais características como prioridade máxima numa casa.

Olhando para a amiga, a Uchiha até tentou mudar o assunto falando de amenidades, como as características do ryokan e que havia muito tempo desde que foi numa terma, mas Ino não parecia muito interessada em tais, mal deu confiança, e colocou o último item na bolsa: uma camisola de pano mole, preto e brilhante, que trouxe à tona novamente a principal questão da conversa desde que saíram da cerimônia de casamento naquela tarde: a noite de núpcias de Sakura com o Uchiha.

— Isso absolutamente não pode faltar — a Yamanaka comentou, dedicando um olhar ao tecido.

— É indecente demais — Sakura retrucou, notando a leveza e tamanho. Ela gostava mais da camisola branca e rosa que estavam mais ao fundo da pequena mala.

— Que mal há? Você precisa seduzir o Sasuke-kun. Não me vá usar essas coisas de menininha.

— Não são de menininha, têm o seu charme.

— Ora, charme nada! O Sasuke-kun é tão... você sabe melhor que eu, fechado. Invista mais e pule nele se for preciso.

— Você está dizendo literalmente?

— É óbvio.

Sakura lhe dedicou um olhar estranho.

Pular nele, ora. Fala como se fosse fácil.

Mas, sendo sincera, quanto mais tomava consciência do peso da aliança em seu dedo, mais Sakura queria fazer exatamente isso... tomar um pouco de coragem e, quem sabe, amarrar ao Uchiha de alguma forma para que seus reflexos ninjas não fizessem jus à fama e dessem a sua noiva uma ótima oportunidade para se estabacar no chão.

Deveria esperar por parte dele uma reação memorável, eventualmente. A imaginação a fez sorrir. Estava ansiosa e não conseguia esconder tal verdade, supondo isso ser normal, uma vez que sua adoração e atração por Sasuke permanecia inalterada desde sempre, quiçá maior. Com certeza, maior.

— Não é como se isso fosse muito ruim. — A kunoichi rebateu e procurou não demonstrar a insegurança fina e traiçoeira que começava a existir. Maldita Ino! — Eu conheço o Sasuke-kun, pare de se preocupar.

— Conhece, é? — Ino perguntou quase debochada, olhou no relógio de pulso e viu que ainda tinham tempo até a hora de partida da kunoichi, dali vinte minutos.

A realização do casamento acontecera à tarde, de modo que, quanto tudo acabou, faltavam poucas horas para o pôr do sol. A partida do casal ficou marcada, às pressas, para quando o céu se cromatizasse com amarelo, azul, rosa e laranja. Horário agradável para se caminhar até a Vila de Teien¹, sede do ryokan e uma das conglomerações civis mais próximas de Konoha.

— Sakura, eu estou curiosa sobre algo.

— Deve estar mesmo por usar o meu nome.

Ino olhou-a, parando de se concentrar na tarefa de enfiar a camisola na bolsa da Uchiha. Sorriu cúmplice e sua voz foi baixinha como se lhe pedisse para compartilhar um segredo:

— Como o Sasuke-kun te beija? — A amiga se surpreendeu com a pergunta. A Yamanaka emendou: — Porque aquela coisinha insignificante no casamento não foi nada convincente.

— Claro que foi! — Sakura defendeu-se. Tudo bem que aos olhos dos convidados não passou de um roce, talvez nem isso, contudo, a Uchiha entendia como Sasuke era reservado e que a própria ideia de pessoas assistindo ao seu casamento era apavorante e esquisita. Surpreendeu-se por ele ter alcançado seus lábios daquele jeito leve, quase inexistente, e não outra parte de seu rosto. — O Sasuke-kun... ele é sempre calmo.

— Calmo? — Ino chocou-se — Sério? Não apostava nisso. Eu olho para ele e só consigo pensar numa coisa rawr. Cheio de paixão, chamas...!

— Espere... Rawr? Soa estranho. — Sakura riu, achando graça e fechando o zíper da bolsa.

Tudo bem, nunca duvidou que Sasuke pudesse ser um amante talvez mais impetuoso, se assim o quisesse ser – e demonstrar –, Sakura percebia nos contatos acanhados um tipo de intensidade. No entanto, o Uchiha demonstrava-se demasiadamente respeitoso – ou apenas arisco – de modo que o shinobi e ela nunca desfrutaram do que se pode chamar de um beijo apaixonado.

Mesmo que ambos já houvesse sentido os lábios um do outro em várias ocasiões, era um toque gentil e fugaz. Tocavam-se, num modo relapso ou intencional, mas, na época, havia algo mais importante que isso: a construção de uma relação estável, a cura de feridas passadas, o aprendizado de confiança mútua. Agora que já haviam passado dessa etapa, a mais dolorosa, a médica-nin perguntava-se, intimamente, como seria avançar e descobrir mais.

Como seria ter um beijo de verdade com o antigo vingador? Jamais fora atrevida o bastante para tomar a iniciativa e, agora que pensava no assunto, talvez fosse por sua falta de sinais que Sasuke também nunca o fizera. Seduzi-lo não parecia uma ideia totalmente tola agora, embora ela se sentisse perdida quando pensava a respeito.

Sakura comprimiu os lábios. Queria ser desejada por Sasuke, que, pelo menos, ele deixasse isso claro, porque sempre ocultava muito e revelava pouco. E era sempre tão difícil ler a mente dele... Não importa se o fizesse daquela mesma maneira que só ela conseguia ler. Sabia que era amada por ele e que, de todas as coisas, essa era a mais importante. Apenas essa certeza a deixava eufórica demais, ansiosa demais. Confiava nele, seu marido – um conceito que ela ainda assimilava, tal qual Sasuke, de maneira distinta, e fazia seu coração picar no peito.

As prospecções de estar sozinha com ele, no entanto, de ser sua mulher e compartilhar seu corpo e alma, apesar de tudo, deixavam-na inquieta e num estado similar à inquietação. Sakura conhecia o corpo humano como ninguém em Konoha, mas, ainda assim, punha-se assustada pelo simples fato de ser Sasuke. Ele tinha uma aura intimidante que nada tinha a ver com perigo. "Bonito demais para o próprio bem – e o meu".

Ela ficaria bem? Faria bem? Um dar de mãos era suficiente para marcar como ferro quente em sua pele, mesmo que ele não estivesse mais a tocando o formigamento permanecia vivo. Com o passar do tempo, Sakura havia adquirido autoconfiança e familiaridade, contudo, não o bastante para sentir segura num todo. Queria passar a noite com ele e sentir tudo o que conhecia apenas em suas fantasias ou histórias, é óbvio, mas o receio... não havia nada que pudesse fazer sobre, era quase instintivo.

O que fariam os tornaria mais próximos do que nunca estiveram.

Para avançar esse passo, careceria do apoio do Uchiha. Sabia que ele o faria – do jeito dele – porque o antigo vingador era, simplesmente, sempre muito sutil e caprichoso, e não havia como condená-lo por isso.

Não sou a noiva mais bonita que você já viu? — a kunoichi soltou, enquanto os poucos convidados serviam-se de bebidas. Sakura parecia um floco de neve brilhante, cujo todo olhar, inclusive o dele, era atraído.

Por um instante, Sasuke olhou para frente, arrogantemente, desviando-se dela.

Hmph. Os membros do clã Uchiha sempre foram conhecidos por serem o número um em tudo.

Mesmo antes Sasuke fazia sua parte, na maior parte inconscientemente. Ela nunca soube explicar porque o Uchiha pegava nas pontas do cabelo rosa de sua, antes, namorada, com uma expressão saudosista. Fazia-o sempre que surgia alguma oportunidade ou bem no meio de um silêncio longo dela. Talvez estivesse expressando algo. Ou curioso por uma coisa que antes nunca tivera oportunidade de analisar.

Com o tempo, quase se tornava fácil se acostumar e se permitir a ser completamente forçado – "não seja teimoso, Sasuke-kun" – a repousar a cabeça no colo feminino e descansar, daquele jeito que parecia íntimo demais para se estar com uma garota, ainda que ela fosse sua garota.

Os lábios da kunoichi fizeram uma curva.

— Sakura, tire esse sorriso idiota da cara e me olhe um instante — Ino chamou-a, querendo atenção. A Yamanaka esquadrinhou a amiga e desprezo destilou de suas íris azuis, precisamente quando elas observaram a saia branca e a blusa vermelha. — Você não pretende usar essa coisa para viajar, não é?

— Mh...? Sim. São novas.

A Yamanaka bufou.

— Céus! Venha cá! Qual o seu problema? Deveria estar deslumbrante, no mínimo — a loira começou, abrindo uma das caixas que ainda não estavam lacradas e procurando uma roupa descente. Depois de muito futricar, um vestido azul com as costas nuas lhe chamou a atenção. — Ora, o que temos aqui? — Estendeu-o para a amiga. — Vista.

— Mas olha só para esse vestido! Eu não posso usar isso na frente do Sasuke-kun.

— Então para que comprou? Vista, ele vai te ver pelada de todo jeito.

Ao estender a mão para pegar a peça, Sakura ficou um segundo encarando-a, apertando o tecido contra o corpo. Permitiu-se soltar um sorriso lívido.

— E-ele vai, não é? Oh, meu Deus, ele vai.

— Você vai se sair bem, testa. Como eu disse, sem nenhum mistério — Ino acalmou-a, afetuosa. — Agora pare de amassar a roupa, droga. Esse é um trabalho para o Sasuke-kun.

A Yamanaka riu. Sakura deu-se por vencida, achando uma boa oportunidade para fugir dali. Trancou-se no banheiro. A beldade de Konoha ainda gritou para a porta fechada:

— Vê se não desmancha o penteado que fiz, deu trabalho!

— Pare de mandar em mim, porca estúpida!

#

— Sasuke-teme, você entendeu tudo?

— Mais uma palavra e mato você.

— Mata nada. Você vai me agradecer depois. Acredite em mim, quando o Kakashi-sensei teve essa mesma conversa comigo foi muito pior, sorte sua ele estar ocupado — Naruto comentou, esfregando o dedo embaixo do nariz. — Além do mais, já sou um homem casado aqui, tenho mil vezes mais experiência que você, que acha de me chamar de Naruto-sensei? Soa bem.

Usuratonkashi soa ainda melhor.

Naruto fez alguns grunhidos incompreensíveis cruzando os braços e virando o rosto para o lado.

"Bastardo de merda".

Seria bom se Sasuke desse algum crédito para seus aconselhamentos, não que fosse um perito, mas Deus sabe como ele, posteriormente, sentiu-se um pouquinho grato a Kakashi quando ficou a sós com Hinata pela primeira vez, mas tudo que o Uchiha fazia era azedar ainda mais o olhar e parecer mal humorado – acentuadamente mal humorado.

— Não importa mesmo... Você me entendeu, não é? Devagar, lentamente. E preliminares looongas, eu já te expliquei o que são preliminares, lembra-se? Deixe a Sakura-chan se sentir à vontade, compreende? Se ela dizer "pare", você para, me ouviu?

— Cale a boca, inferno.

Sasuke estava esperando por Sakura perto dos portões de Konoha, sob o céu laranja do fim de tarde. Naruto já havia dito o que devia e o que não devia, o Uchiha não queria que sua mulher chegasse ali a qualquer momento com o Uzumaki bancando o inconveniente conselheiro nupcial. Era ridículo e humilhante, uma vez que, para começo de conversa, não pediu segunda opinião alguma.

As pessoas pareciam achar que seu interesse pelo sexo oposto nasceu atrofiado, e talvez haja um fundo de verdade nisso para a maioria. Mas... estar perto de Sakura era algo difícil, só isso. Pensamentos inquietantes sempre vinham e chegar perto sem que eles ocorressem era um desafio que Sasuke não conseguia vencer desde algum tempo. E Naruto, apesar de achar que estava ajudando, havia acabado de colocar preocupações que não existiam antes. O Uchiha não a machucaria de novo, cuidaria para que não acontecesse, mas agiam como se ele fosse fazê-lo. O simples pensamento deixava-o doente.

— Parece que você está salvo, é a Sakura-chan e a Ino.

As duas mulheres se aproximaram e o Uchiha agradeceu mentalmente por isso. Finalmente um pouco de sossego viria. Das duas, a Yamanaka foi a primeira a falar uma bobagem qualquer. Sakura apenas colocou-se ao lado de Sasuke, perguntando se estava tudo pronto, no que ele assentiu.

— Você não desgruda do Sasuke-kun nem um minuto, hn? — Ino provocou ao Uzumaki, aproximando-se dos dois amigos.

— Ele não deveria mais ser "Sasuke-kun". Para você, de agora em diante, é "Sasuke-sama". Estou certo, Sakura-chan?

— Mas quem você pensa q...

Antes que aquilo se estendesse, no entanto, Sakura intrometeu-se entre eles, comunicando-lhes que estavam de partida. Então, sendo apenas um observador que não se meteria naquilo, Sasuke viu que o vestido – que parecia muito bem-comportado visto de frente, a propósito – deixava todo o tronco da médica à mostra nas costas. Ele podia ver o desenho da coluna numa linha elegante, uma pinta pequena ou outra, a pele impecável, apesar da vida dura de uma kunoichi.

Pele demais à vista, para ser sincero. Sua garganta secou estranhamente, escondeu o olhar com o cabelo sem perceber, manifestando sua atenção em qualquer ponto que não fosse Sakura.

— Nos vemos daqui três dias, cuidem-se — Sakura aconselhou. — E obrigada, Ino, de certa forma.

A loira riu colocando as mãos na cintura.

— De certa forma? Ora! Eu vou controlar minha língua.

— Ah, espera! Esqueci-me de entregar algo ao teme, um minutinho, Sakura-chan.

A kunoichi o olhou curiosa enquanto Naruto arrastava Sasuke para um local mais afastado. A loira compartilhou de sua curiosidade. O Uzumaki ainda forçou o amigo a curvar a coluna, insistindo numa cumplicidade que Sasuke absolutamente não queria ter.

— O que você quer agora, idiota?

— Fala baixo. É só uma última coisa, não acredito que esqueci. Apenas não vá com muita sede ao pote, Sasuke-teme. Você sabe, chegar no ryokan, ir logo tirando a roupa e...

— Vá. À. Merda.

Não foi difícil de prever o punho de Sasuke na bochecha de Naruto, coisa que já devia ter feito há muito tempo, de modo que não surpreendeu o alvo ter se desfeito na fumaça de um bunshin e o jinchuuriki verdadeiro surgir do outro lado reclamando.

— Sabia que ia fazer isso! Seu violento desgraçado!

— Mas o que é que vocês estão fazendo? — Surpresa, Sakura se aproximou. — Isso não é hora para lutar.

— Estamos só finalizando uma conversa entre homens, Sakura-chan, não se preocupe. O bastardo é todinho seu agora.

Sakura deixou um risinho nervoso escapar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha por hábito, mas a trancinha de seu penteado já prendia grande parte dos fios naquele lado e não surtiu muito efeito. Sasuke evitou olhar para aquele Uzumaki liguarudo e sem senso, pois provavelmente iria querer terminar o que começou.

Foi preciso apenas mais uma despedida para o casal, enfim, seguir seu caminho sob graças.

Naruto, sabendo que ambos estavam longe o suficiente para que Sasuke não se sentisse propenso a voltar e cometer um homicídio, rodeou a boca com as mãos e gritou:

— Já que você colocou uma coleira no teme, ensine-o alguns truques, Sakura-chan! Dê a patinha, bastardo! Dattebayo!

Gargalhou, sozinho. Ino, ao seu lado, assentiu, divertindo-se. Sakura sufocou um sorriso.

E o Uchiha bufou.

"Estúpido".

Sasuke sequer olhou para trás, quando retornasse, se vingaria de alguma maneira. Já Sakura deu uma última espiada antes de seus amigos sumirem na curva. Agora, estavam completamente sozinhos. Quanto mais seguiam caminho, cada vez mais o rapaz esquecia sobre Naruto e parecia preso em algo entre o limiar de dois lados. Deixava-o quase inquieto, quase paranoico. O laço de tecido azul na nuca parecia tão frágil... e ele sentiu-se patético por se desconcentrar por isso.

Seriam quatro horas de estrada numa velocidade normal, não fazia sentido começar a corrida extenuante de um ninja por nada. Ambos sentiam o corpo pesado pela exaustão causada pelo casamento, um ritmo tranquilo era ideal, de todo modo, até para o caso de algo perigoso surpreendê-los pelo caminho.

— Sasuke-kun, eu deixei uma cópia da chave de casa com a minha mãe, ela disse que me adiantaria levando minhas coisas para lá — comentou, erguendo o rosto para fitá-lo. — Falei que não era necessário, mas ela insistiu.

— Não é muita coisa?

A kunoichi assentiu.

— Um pouco, mas mamãe diz que: "se for para um genro tão bonito, eu não me importo".

A beleza é uma benção. Mas não fora o suficiente para convencer ao patriarca Haruno.

— Seu pai estava chorando.

E também o chamara de maldito umas quatro vezes antes de cumprimentar Sasuke formalmente, o homem relutou até a penúltima semana para aceitar ao ex-nukenin, mas, enfim, o reconheceu, apertando a mão do novo membro da família com firmeza e resignação.

"Você é o único que a faz sorrir dessa maneira estúpida, eu reconheço e odeio esse fato. No fundo, eu acho que eu deveria te agradecer, sentia falta dessa Sakura em casa... Isso, bem... — o homem olhou ao redor, ajeitando o bigode — estamos resolvidos. Agora venha cá, preciso te contar minha nova piada do brócolis. Se você rir, significa que é muito boa, não é?".

— Meu pai sempre foi um chorão por eu ser filha única, talvez vamos entender quando tivermos os nossos filh — Sakura mal declarou e logo se arrependeu de ter aberto a boca, era cedo, estupidamente cedo demais para sugerir isso. — Digo...

Esperou uma reprovação de Sasuke, ele, porém, só franziu as sobrancelhas ante a estranha reação. Apenas respondeu-lhe num tom neutro:

— Não sou do tipo que chora.

A Uchiha encarou-o e então riu baixinho, concordando. Tranquila por algo que nunca deveria preocupá-la. Olhou para baixo, a mão protética do ninja balançava no ritmo dos passos, os olhos verdes prenderam-se no anel homólogo à sua própria aliança. Prova material de seu relacionamento. Segurou a mão de Sasuke e por um momento o toque pareceu ter um significado diferente.

Nas primeiras vezes que fez tal gesto, ela lembrava-se, Sasuke tentava se esquivar e se incomodava. Agora, o rapaz adotava uma postura séria, levemente encabulada. Os dedos de Sakura entrelaçaram-se nos seus com suavidade e precisão, conhecendo aquele espaço como se fosse uma morada. A mão dela era tão leve que o Uchiha quase não a sentia dentro da sua.

Mãos que curam e destroem.

Sasuke recordou-se de uma conversa em um tom estranho que civis e ninjas mais velhos, os primeiros bêbados, tiveram numa pousada nos tempos de sua viagem. Uma frase solta, em especial, martelava em sua mente quase toda vez que Sakura apanhava sua mão, tentando absorver o significado da sentença.

Era estranha, desconexa e nada que ele pudesse atribuir um valor.

Pensamentos inquietantes vinham e o Uchiha, quase nunca, conseguia dar um fim neles.

"Você sabe, acho que estou apaixonado, iryou-nins são mesmo ótimas com as mãos".

#Continua...

Glossário:

Vila de Teien¹ – Vila Jardim

[Revisado em dezembro/2017]. Espero que tenham gostado.