Acontece que eu sou danificado.
Ela pode até vir em minha direção e dar um daqueles sorrisos que brilham mais que mil sóis, me abraçar forte enquanto se estica para dizer palavras românticas no meu ouvido. Ela pode vir até mim a cada véspera de lua cheia só para garantir que eu tenho o controle sobre cada detalhe e se despedir com um beijo doce, mas isso não parece certo.
Ela é aquela mulher, minha mãe não se cansa de dizer. Ela fala que eu nunca vou achar ninguém como essa menina e – minha mãe vai confessar para mim num tom baixo o quão estúpido Ron foi e a acabou perdendo, no que eu vou contra argumentar que não se é possível perder aquilo que nunca se teve – eu sei que ela está certa. Eu sei que sinto essas estúpidas borboletas no estômago tal como um adolescente no primeiro encontro cada vez que eu vejo os cachos bagunçados vindo em minha direção, sei o quanto eu queria ser capaz de parar o tempo só para estar com ela – entre seus braços, entre suas pernas – e Merlin sabe o quanto eu odeio admitir tudo isso para mim mesmo.
Mas outra vez a questão é simples: eu sou quebrado.
Não como um vaso velho que alguém tinha e se partiu, podendo ser facilmente arranjado com um reparo. Eu estou quebrado em tantas formas que eu duvido que em algum momento poderei ser concertado. Eu sou velho. Eu sou pai. Eu sou divorciado. Eu quase virei um lobisomem. Eu tenho cicatrizes horríveis. Eu tenho bagagem. Eu fui quebrado em tantas partes que nem ao menos me dou ao trabalho de tentar ser reparado. Mas toda vez que eu pronuncio essas palavras, ela apenas ri.
Ela diz que eu não sou tão ruim como eu tento desesperadamente fazê-la acreditar enquanto me serve carne mal passada. Ela sorri e pisca para mim enquanto sobe as escadas para chamar Victoire para jantar conosco, dizendo que já passou da hora de eu largar esses pensamentos idiotas. Eu sei que ela é muito mais do que eu mereço e sempre que eu venho com essas palavras ela manda eu me calar e voltar a fazer o que quer que eu estivesse fazendo até então. Ela é uma heroína de guerra mas tudo o que eu consigo pensar é em como ela estaria muito melhor sem mim, com alguém da sua idade, alguém pronto e capaz de lhe dar a vida perfeita que ela merece, alguém para ser seu marido e ter dois filhos e um gato, alguém que não precisasse de concerto.
Mas existe algo sobre ela. Eu ouvi a teoria de Ginny e confesso que parte de mim estava estupidamente feliz com o que ela disse: Hermione não é a garota que precisa de alguém. Ela não precisa estar com outra pessoa como ela precisa de conhecimento. Ela é uma mulher independente que – sabe Merlin como – escolheu estar comigo. Ela poderia me jogar para escanteio a qualquer momento mas ela insiste em ficar do meu lado. Ela sabe que eu posso nunca colocar um anel em volta do dedo dela mas ela não se importa: ela não é alguém que precisa de um pedaço de papel para provar nosso amor. Ela sabe que eu tenho segredos e não tenta desvendá-los: ela sempre diz que temos todo o tempo do mundo para falar sobre eles se um dia eu quiser. Ela entrou na minha vida do nada mas de alguma forma eu sei que nunca posso deixar ela sair. Tudo o que eu sei é que eu a amo e ela me ama.
Mesmo eu estando em pedaços.
N/A: Minha primeira fanfic BW/HG da vida, oriunda de uma noite fria de Janeiro nas vésperas de uma prova. Sem beta então desculpe quaisquer erros!
Obrigada por ler e sinta-se à vontade para deixar reviews!
