Mandy:

Eu e a Laureen (uma amiga minha) estávamos a ter uma animadora conversa, mas obviamente tinha de chegar aquele chato do Manuel com a porcaria do jogo de futebol.

Eu não gosto de ver os jogos de futebol dos rapazes da minha turma, é muito aborrecido. No entanto, ele estava a pedir-me com olhinhos de cachorrinho e eu que tive pena, acabei por dizer que íamos ter com ele dentro de alguns minutos.

Tentei evitar o olhar de aborrecimento que a Laureen tinha estampado na cara e recomecei a conversa, para que ela não me olhasse assim.

Bem, enfim, passado algum tempo lá tivemos nós de ir ver o estúpido do jogo. É claro que não olhei para ele uma única vez, foi mais para marcar presença.

Graças a Deus que a minha mãe me veio buscar cedo, assim não tive de ver até ao fim.

- Até amanhã. – Disse despedindo-me com um abraço de Laureen.

- Até amanhã Mandy e não tenhas pesadelos com futebol. – E dizendo isto deu meia volta e foi embora alegremente.

Quando a mão de Laureen a acenar desapareceu na esquina, entrei para o carro. Depois de um dia frio de Inverno acho que nunca me soube tão bem entrar no calor do carro. Quando vamos a ouvir música e a olhar para a janela o tempo passa muito rápido e quando reparei já tinha chegado a casa.

- Vai buscar o correio. – Mandou a minha mãe.

Lancei-lhe um olhar furioso, carrancudo e amuado e sem dizer palavra abri o correio e tirei as cartas. Cartas do banco, mais cartas do banco e uma carta para mim…

Deixei cair as outras cartas com surpresa, porque haveria alguém de me escrever?

- Então Mandy o que é que estás ai a fazer ao frio? – Perguntou a minha mãe.

-Há uma carta para mim. – Declarei assim que entrei em casa.

- De quem?

- Não sei! Se soubesse de quem não tinha ficado tão surpreendida, não achas?

E não sabia mesmo, o envelope era pesado e espesso de uma espécie de pergaminho amarelado, a morada vinha escrita a tinta verde-esmeralda e não trazia selo. Quando o virei ao contrário não pude deixar de ficar surpresa, tinha um selo de lacre de cor púrpura com um brasão onde se observava um leão, uma águia, um texugo e uma serpente envolvendo a letra H.

- Bem, abre-a.

- Eu sei, calma.

Lentamente, muito lentamente abri a carta, li as primeiras palavras e quando ia deitar a carta ao lixo pensando que era uma partida alguém bateu a porta.

A minha mãe foi abri-la e qual não foi a nossa surpresa quando vimos a nossa porta a pessoa de aparência mais estranha que consigam imaginar. Trazia umas calças de ganga, um casaco de fato de treino e uma gravata. Era um homem de aspecto gentil, mas pela maneira estranha como estava vestido não acredito que alguém se tenha aproximado mais do que cinco metros dele.

- Desculpe, mas acho que precisamos de falar urgentemente. – Disse e antes que a minha mãe tivesse reacção entrou em casa e fechou a porta.

A minha mãe estava especada a olhar para ele mas quando finalmente voltou ao normal disse:

- Mas o que é que você pensa que está a fazer, sai-a imediatamente da minha casa ou chamo a polícia.

- Calma, minha senhora, calma. Eu só quero falar convosco, por favor. – Depois de ter dito isto fez aparecer uma pequeníssima chama na palma da sua mão.

A minha mãe parecia quase a desmaiar e eu não estou muito diferente, acho que se não estivesse tão curiosa já tinha caído ao chão. Truque, pensei, é isso, um estúpido truque!

- A tua carta, não é uma partida, tu és uma feiticeira. – Disse ele calmamente.

Agora a sua mãe estava mesmo pálida e tive de ser eu a falar:

- O que está para aí a dizer? Eu não sou uma feiticeira, sou uma pessoa normal! E afinal quem é você?

Agora a curiosidade tinha definitivamente substituído o medo e acho que isso foi bastante notório, pois ele sorriu-me amigavelmente.

- Temos de falar com mais calma, por que não nos sentamos. – Pediu ele.

Acabei por guia-lo para a sala e a minha mãe que estava a pouco e pouco a retomar a cor foi fazer um chá forte para todos.

- Bem, quando vou dar estas notícias já me aconteceu todo o tipo de coisas, fecharam-me a porta na cara, acharam que estavam na televisão e até fingiram que não me viam mas nunca me tinham oferecido chá. – Riu-se ele.

- Você fez uma chama na sua mão, eu ainda não estou em mim. Acho que nos deve uma explicação. – Resmungou a minha querida mãe.

- Para começar o meu nome é Matt. Devo primeiro explicar-vos que há pessoas diferentes, pessoas digamos especiais, eles chamam-se feiticeiros. Sempre que uma criança com poderes nasce o seu nome é escrito num livro. A certa altura da vida dessas crianças, maioritariamente aos onze anos, é lhes pedido que deixem o mundo dos muggles (pessoas sem poderes), para irem para uma escola diferente onde vão aprender a arte da magia. São ao todo sete anos na escola. A escola que te enviou essa carta chama-se Hogwarts e é dada por muitos como a melhor escola para instruir os jovens feiticeiros. – Quando Matt terminou o seu discurso eu sentia-me aturdida, como se pensar me cansasse.

- Está a dizer-me que eu sou uma feiticeira? Que faço magia? – Perguntei ainda no mesmo estado.

Ele fez um gesto de cabeça afirmativo e eu levantei-me como se o sofá tivesse começado a arder. Primeiro, olhei em volta e de um momento para o outro fiz a única coisa que me apetecia naquele momento. Corri pela casa toda, a gritar para o ar, num estado de felicidade pura, acho que durante o resto do dia, mais nada se vai passar.

Quando já estava num estado de esgotamento voltei a sentar-me, como se nada tivesse acontecido.

- Onde é que nós íamos, mesmo senhor Matt? – Perguntei tentando que voz soasse calma mas sem muito sucesso

- Lê a carta com calma, ela diz-te tudo o que precisas de saber. Um bom dia para vocês. – E dizendo isto desapareceu no ar.