Fic escrita para o Projeto Férias 2!, fórum Papéis Avulsos.

Alguém que eu costumava conhecer

Adriana Swan

Eu sou um clone.

Eu não sou ninguém.

Não tenho um nome, não tenho personalidade. Fui criado para seguir e já tenho feito isso por muito mais tempo do que achei que fosse possível. Há quem diga que clones são pessoas, que são importantes. Já me disseram isso e eu até acreditei certa vez.

Eu estava errado.

Eu tive um nome. Não nome de clone, não série de números, não mero serial para me diferenciar de todos os outros do mesmo lote totalmente iguais a mim. Não, eu era eu. Somente eu. Único. Qual era mesmo o nome? Já o esqueci faz tanto tempo! Perdido no meio de lembranças vazias de coisas que não fazem mais sentido para mim.

Eu não entendo.

Eu sou um clone, não fui feito para entender, não fui feito para questionar. General. Sim, General era como costumava chamá-lo. E Skywalker. Eu servia a General Skywalker quando os clones ainda serviam a República, quando os clones ainda serviam aos Jedis, quando os clones ainda se davam ao luxo de achar de poderiam ter nomes. No fim, não podiam. No fim, não servíamos a República ou aos Jedis.

Eu ainda não entendo.

Eu o vejo, Darth Vader, um homem diferente e um título diferente do que conheci. Sou um dos poucos que sabem o quem está por trás da máscara, mas não faz diferença: para mim é um desconhecido que está ali. Suas ordens me são estranhas. Não só por sua voz (que não importa o quanto fale, sempre soará como um estranho a meus ouvidos), mas por suas palavras não fazerem sentido. Estas não são as palavras de meu General, essas não são suas escolhas, mas eu, bem, eu sou só um clone e não estou aqui para questionar o sentido de nada.

Eu lembro o nome dele.

Skywalker. Lembro como era o nome dele, mas não lembro o meu. Normal. Eu era só um clone dispensável, ele era meu General e meu ídolo, aquele que fazia com que todas as coisas boas parecessem possíveis, aquele que fazia com que meu número serial fosse só um número e eu, bem, eu fosse único. Eu fosse eu. Agora não sou mais.

Eu lembro.

Darth Vader não parece me reconhecer, voltei a ser número para ele. Acho que agora a galáxia inteira são só números para ele. Um a mais, um a menos. General Skywalker era um ídolo, mas Darth Vader não é nem um pouco diferente de mim. Não está aqui para questionar e nem o quer fazer. Respostas podem ser coisas terríveis demais para lidar, melhor não se fazer perguntas. Vejo isso nele, em seu silêncio, sua respiração pesada. Vejo isso em mim. Uma mera existência numerada e dispensável. Ele é dispensável agora. Todos são dispensáveis se ninguém vai sentir a sua falta.

Eu esqueci.

Fico pensando se Darth Vader esqueceu seu antigo nome, igual a mim. Afinal, já não lhe tem mais importância.