Título: A Thousand Beautiful Things (Mil Coisas Belas)
Autora: Duinn Fionn
Tradutora: mila_crazyx (mila – sublinhado- crazyx -arroba- yahoo . com)
Beta da tradução: Verena
Classificação: R
Pares: Draco Malfoy – Harry Potter

Site da história original: http: //www .skyehawke .com /archive /story .php ?no =2226

Disclaimer: Essa história é baseada em personagens e situações pertencentes a JK Rowling, vários publicadores incluindo, mas não limitado à Bloomsbury Books, Scholastic Books and Raincoast Books, e Warner Bros., Inc. Nenhum lucro está sendo feito por parte do autor dessa fanfiction.

Contato da Autora: geoviki - arroba- msn . com

Sumário: Draco Malfoy confronta mudanças de sorte, de alianças, uma horrível guerra, um feitiço incomum, com a ajuda de um professor preocupado, um elfo-doméstico e um inesperado amigo grifinório.

A/N: Okay gente, aqui está a tradução de uma das fics mais lindas que já li com o fandom Harry/Draco. Espero que vocês gostem tanto quanto eu! Preparem-se, ela tem quase 100 mil palavras, mas vale muito a pena ler mesmo! Se alguém quiser ler a original, ela pode ser encontrada em inglês no site ali em cima ;) Ah! Se você já leu a mesma tradução no nome de Traducious, é porque este é um grupo de tradução que eu participava, e está postado lá também. Aproveitem! =)

Capítulo Primeiro.

Every day I write the list of reasons why I still believe they do exist (a thousand beautiful things).
Todo dia eu escrevo uma lista de razões por que eu ainda credito que elas existem (mil coisas belas).

A Thousand Beautiful Things - Annie Lennox

"Qual é a primeira memória que você tem de mim, Dean?"

Dean Thomas permitiu que um sorriso surgisse em seu rosto. Seamus tinha acabado de chegar naquela hora da noite em que a junção de álcool com o horário tardio o fazia introspectivo. Era um humor que combinava perfeitamente com o dele.

"Você já sabe. Nossa primeira vez indo para Hogwarts, naquele primeiro ano. Você me deu meu primeiro sapo de chocolate, e então me contou histórias sobre crescer em uma família de bruxos."

"Meio-bruxos"

"Meio-bruxos. Mesmo assim, você entendeu a parte importante. Para alguém como eu, que veio da Londres trouxa, você impressionou."

Seamus sorriu e tomou mais um longo gole de sua bebida. "Para qualquer um, eu era muito impressionante, meu amigo."

"E ambos tínhamos acabado de ganhar nossas varinhas -"

"Madeira, cabelo de sereia, 22 centímetros -".

"Na verdade, 21,4 centímetros," Dino o corrigiu.

Seamus moveu-se como para pegar sua varinha, mas parou antes que Dean o fizesse impedi-lo."Ela cresceu desde aquela época," ele brincou.

"Mentiroso. De qualquer jeito, no trem, você me mostrou como abrir a capa das meninas."

"Ai, cara. Você se lembra da Susan Bones? Ela era tão estressada."

"É verdade! Eu achava que ela ia te transfigurar em alguma coisa."

"Esse era você," Seamus disse. "Fui eu quem a convenceu a não fazer nada."

Dean riu. "E aquela menina do sexto ano? Seu pervertido."

"Eu era talentoso, não era? Eu te ensinei tudo que você sabe. Tudo que é importante, pelo menos."

"Talentoso? As garotas provavelmente tinham outra palavra para descrevê-lo". Ele acenou para o garçom e tocou seu copo vazio, pedindo mais uma dose. Hoje era a noite em que ele escolheria o local aonde eles iriam se encontrar, e optou por um moderno bar trouxa de jazz perto da estação Kings Cross. Seamus nunca reclamava sobre a constante mudança de locais, mas quando era a vez dele, os dois sempre acabavam no mesmo bar bruxo perto do Ministério.

"Fala sério. Todas as meninas me amavam na escola."

Dean afirmou educadamente, apesar de suas dúvidas. "E você? Mesma pergunta."

"Você desenhou um retrato para mim naquela primeira semana."

Dean não se lembrava disso. "Um retrato seu?"

"Não. De Neville, entre todas as pessoas. Mas eu achava você talentoso, mesmo naquela época."

Dean estava emocionado devido àquela simples memória – havia esperado alguma resposta sarcástica. "Obrigado, Seamus."

"É uma pena que eu não a tenha mais - Eu poderia fazer uma fortuna por uma obra antiga de Dean Thomas."

"Nem. Eu teria que estar morto. E que isso não te dê idéias, Seamus."

"Eu? Não tema. Quem me levaria para beber então?"

"Mas então, o que aconteceu com o retrato?"

"Scabbers, minha coruja, pegou ele. Comeu quase tudo, e eu joguei o resto fora. Tomara que ele tenha tido diarréia."

Acompanhados pelo calmo piano, eles continuaram sua retrospectiva. Algumas de suas histórias mais estranhas os faziam gargalhar, mas aquelas histórias felizes eram rapidamente interrompidas por memórias do que as acompanhou, deixando Dean melancólico devido às lembranças de amigos que não sobreviveram à Guerra.

"A primeira vez que eu vi os gêmeos Weasley, eles estavam testando um estranho feitiço de colorir. Aonde você estava naquela noite?" Seamus perguntou.

"Meu Deus, eu me lembro! Todos na Sala Comunal estavam com a pele vermelha ou amarela. Aquilo foi nojento."

"Você era o único que parecia mais ou menos normal. A cor não aparecia muito bem em você. Fez você ficar um pouco bronzeado, só isso."

"Eu me lembro uma vez que eu derrubei uma prateleira gigante de livros em cima da Hermione."

"Durante Feitiços? Eu me lembro. Você praticamente esmagou ela," Seamus disse.

"É. Ela quase me azarou. Mas Flitwick estava vendo."

"Você se lembra daquela vez em que a Padma Patil tentou transfigurar uma caneta em um travesseiro e ao invés disso o transformou em um vibrador?"

Dino riu - ele tinha esquecido aquilo. "A cara da McGonagall quando ela viu -"

"A cara da Padma foi pior."

"E aquela vez que a Lavender Brown tropeçou no caldeirão dela durante poções, e todos dormiram durante o resto do dia?" Dean ainda podia visualizar como todos estavam estranhos quando acordaram - confusos e com estranhas marcas nos rostos por dormir em cima de livros e penas.

Seamus riu. "E Malfoy acordou com o pior caso de cabelo amassado que eu já vi."

"Ah, é verdade, eu me lembro disso! Ele parecia pior do que quando Harry o enfeitiçou aquela vez no trem."

"Meu Santo Deus, Malfoy e seu fetiche por cabelos. Cara, ele ainda é estressado em relação a isso, você não acha?"

"Eu não vou morder a mão que me alimenta." Dean ficou sério. "Mas eu me lembro, depois da última batalha… Ele não estava nem um pouco preocupado com isso. Você não o viu naquele dia, mas eu -"

Seamus estendeu uma mão e pousou-a sobre o braço de Dean. "Não, amigo. Nada de histórias de Guerra. Não hoje. Você não quer fazer um irlandês triste, quer?"

Dean sabia o que ele estava realmente perguntando. "Está tudo bem. Eu já superei. Bom, noventa porcento, pelo menos."

Seamus sorriu. "Quando for cem porcento, você me avisa?"

"Você será o primeiro, eu prometo. Nada de segredos entre nós. Chega disso". Dean retornou o sorriso e sentiu-se melhor do que havia se sentido em meses. "Então você pode falar de Malfoy o quanto quiser."

"Porém, nada de memórias de Guerra. E todas as minhas memórias do Malfoy na escola são ruins."

Dean parecia pensativo por um minuto. "Eu me lembro de uma boa."

Seamus tomou um longo gole da sua garrafa. "Fala, então."

"Foi durante uma aula de poções, no sexto ano, naquela época em que Snape estava faltando cada vez mais aulas."

"A Primavera que ele foi se juntar aos Comensais da Morte?"

"Isso. Pomfrey estava dando as aulas por ele. Mas nós nem sempre tínhamos aulas de poções quando ela estava lá. Naquele dia, ela levou alguma coisa que parecia uma Penseira - nós só a usamos uma vez, e eu nem lembro o nome daquilo. Você se lembra?"

"Sim, ao invés de líquido, aquilo estava cheio de areia ou alguma coisa do gênero, não era isso?"

"É. E Pomfrey queria que nós desenhássemos nossa memória mais importante, alguma coisa que considerássemos o centro das nossas vidas. Tínhamos que nos concentrar nessa memória, para tentar fazer um Patrono. Mas eu nunca consegui fazer aquilo funcionar."

"Nem eu." Seamus riu. "Quantos anos a gente tinha naquela época? Dezesseis? Ninguém tinha idéia do que era o centro das nossas vidas. Além de quadribol, não fazer tarefas de casa e garotas? Ela devia ter percebido que estávamos destinados ao fracasso. Nenhum de nós conseguiu fazer aquilo funcionar."

"Não, você não se lembra? Malfoy conseguiu. Todos assitiram ele desenhar a coisa que ele considerava mais importante para ele, lá na areia. Ele nem teve que se esforçar, foi tão simples para ele. Mas você se lembra o que era?"

Seamus balançou a cabeça em forma negativa. "Não, o que? Uma pilha de galeões? Roupas de um estilista famoso? Talvez uma escova de cabelos com pérolas de enfeite?"

"Não." Ele hesitou, e então disse, "Era a Mansão Malfoy. Uma imagem perfeita dela, bem ali na bacia de areia da Pomfrey."

O sorriso de Seamus se extinguiu e ele demorou um bom tempo para responder. "Isso explica muita coisa, você não acha?"

"Muito. Mas não tudo."

A duzentos quilômetros dali, o objeto daquela conversa estava chutando violentamente a porta do escritório de seu pai. O alto barulho ecoando pelos corredores finalmente acordaram Sully, o elfo-doméstico da Mansão.

"O Mestre Draco está querendo entrar?" ela conseguiu perguntar entre a reverberação dos chutes contra a porta trancada. Draco a encarou intensamente, mas não respondeu.

Ela olhou uma última vez para a face de seu mestre, feroz em sua determinação, e estralou seus longos dedos. A porta abriu com um estrondo, e ele entrou no quarto antes que pudesse mudar de idéia. Sully não perguntou mais nada, mas começou a preparar o quarto com tochas. Ele esperou, imóvel e silencioso, até ela terminar.

Ele tinha adiado visitar esse cômodo até essa noite. Há meses que não entrava nele - quando o selou, com a esperança de nunca ter que entrar lá novamente. Mas naquela noite - a sua última na Mansão Malfoy - ele precisava entrar uma última vez.

Vinha com a vaga noção de procurar no cômodo por qualquer item que quisesse levar com ele. Mas agora que estava lá dentro, dispensou a idéia como absurda. Prateleiras vazias marcavam o lugar aonde artigos de Magia Negra antes se encontravam, agora todos sob a possessão do Ministério. O que estava no lugar agora eram objetos sem grande valor - coisas como um espelho decorativo que, quando ordenado, falava os pensamentos secretos das outras pessoas sobre a sua aparência.

Sully estava esperando ele demonstrar interesse por qualquer coisa do quarto, como havia feito nos outros cômodos da Mansão. Então, ela os prepararia para serem movidos para a nova casa de Draco. Mas nada no escritório tinha importância alguma. Ele não queria nenhuma recordação desse cômodo ou do ser que o habitava.

Ele viu-se andando ao redor da refinada mesa do seu pai e sentando-se - algo que não lembrava ter feito antes. A presença invisível de Lucius emanava uma sombra tão possessiva, que Draco imediatamente voltou a se levantar. Quando o fez, percebeu um livro familiar repousando sobre a mesa, e ficou confuso. Ele achava que o havia deixado em seu quarto - Sully deve tê-lo devolvido ao seu local de origem.

Pegou-o automaticamente e começou a folheá-lo. Sem um feitiço de tradução, ele mal entendia as palavras, mas não precisava lê-las para saber exatamente o que diziam - ele as tinha gravado na memória há meses.

No puedes hablar. No puedes escribir.

Você não pode falar. Você não pode escrever.

Puedes tocar. Puedes besar.

Você pode tocar. Você pode beijar.

Abruptamente, ele não podia mais ignorar as memórias dos últimos cinco anos, e uma raiva violenta lhe insurgiu. Ele lançou o livro para Sully, então, agarrando alguns papéis, e andou até a lareira, jogando-os no fogo. Eles instantaneamente queimaram. Satisfeito com o resultado, jogou também vários livros, os quais tiveram o mesmo gratificante efeito.

Sully, por sua parte, cresceu mais alarmada com cada momento que passava. "Mestre Draco, o que você estar fazendo? Por favor, senhor, pare!"

Mas ele não estava nem perto de parar. Com cada objeto destruído, cada memória apagada, cada sombra destruída, seu coração ficava mais leve e leve até ele sentir-se bêbado com a sensação.

Pegou um graveto em chamas da lareira e começou a queimar os objetos que ele não conseguiria mover. Sully estava desesperada agora, gritando e puxando no braço de Draco com força considerável, mas ele não iria se distrair do que acabava de se tornar sua missão sagrada. As cortinas, os livros nas prateleiras, o sofá onde costumava sentar e observar Lucius trabalhar - todos provaram ser dramaticamente inflamáveis. Tudo ao seu redor estava sendo purificado por chamas.

"Não, Mestre Draco! Você ir morrer se isso não parar." Ele deve ter cruzado a linha até aonde seu elfo-doméstico o deixaria agir. Ela conteve as chamas dos objetos que já estavam queimando, e logo o fogo estava morrendo ao redor deles.

Draco começou a tossir por causa da fumaça e das cinzas que circulavam ao redor do quarto danificado. Olhando-o assustada, Sully limpou o ar com outro gesto de sua mão.

"Você arruinar tudo no escritório do Mestre Lucius," ela chorou, puxando suas roupas em agitado desespero. "O que você fez?"

Algo que eu deveria ter feito há muito tempo, ele queria lhe dizer. Algo extraordinário.

Sentou na única cadeira que se salvou e olhou ao seu redor com enorme satisfação. Sully caiu aos seus pés, seus dedos ao redor do livro, e fixou seu intenso olhar nele, preparada para proteger seu mestre a qualquer preço - mesmo que fosse de sua própria loucura.

Ele notou a devastação ao seu redor e não pôde deixar de se lembrar da última conversa que teve com seu pai naquele quarto cinco anos atrás. Naquela época, com dezesseis anos, ele se achava notoriamente perceptivo. Mas aos vinte e um, ele sabia que esse nunca tinha sido o caso.

First the thunder, then the storm...

Primeiro o trovão, depois a tempestade…

In A Lifetime - Clannad/Bono

Draco tinha permissão especial de Dumbledore para ir para casa durante o final de semana - um privilégio não concedido normalmente para alunos do quinto ano. Ele estava deitado na frente da lareira do escritório de seu pai, nariz enterrado em um livro sobre estratégias de quadribol. O relaxante calor e as horas tardias conspiravam para deixá-lo agradavelmente sonolento, e ele tentava se concentrar nas palavras na sua frente que pareciam tentar aprofundar seu estado de sonolência.

O repentino apagar de uma vela atraiu seu olhar, e ele levantou a cabeça por causa da interrupção. O movimento, por sua vez, atraiu a atenção do seu pai, e os dois sorriram um para o outro.

Lucius virou uma página no livro que estava lendo, e então virou sua cabeça na direção de um som inesperado vindo das janelas. "Está ventando hoje," ele disse.

Draco, quando escutou o barulho dos galhos batendo na janela, ergueu-se pelos cotovelos da sua posição no chão. Seu pai já havia movido sua atenção para o grande e antigo livro em suas mãos. Não muito tempo depois, Sully apareceu e silenciosamente substituiu a vela apagada com um rápido movimento de sua mão. Desapareceu tão inesperadamente quanto chegara.

Quando chegava em casa depois de Hogwarts, Draco sempre ia ao escritório de seu pai. Quando ele e Lucius liam juntos na frente do fogo, sentia-se como se tivessem uma certa ligação, e ele esperava que seu pai se sentisse da mesma maneira.

Lucius possuía uma grande fascinação por conhecimento, e a maioria das pessoas que o conheciam não apreciava o quanto. Quase todas as noites, o pai de Draco podia ser encontrado no seu escritório, pesquisando sobre um tópico entre a grande coleção de livros, anotando metodicamente com sua pena ou até mesmo concentrado em um único livro por horas.

Quando Draco ficou mais velho, seu pai falou com ele sobre algumas das coisas que ele lia. No começo, os tópicos não eram importantes, mas com o passar do tempo, ele percebeu que Lucius estava explorando tipos de magias que nunca seriam ensinadas em Hogwarts. E provavelmente com razão, ele admitia. Eles eram assuntos fascinantes, mas ao mesmo tempo, mais do que assustadores.

Ele escutou seu pai sussurrando o que parecia ser um feitiço de algum tipo. A língua não era latim, no entanto, e ele novamente ergueu sua cabeça curiosamente.

Seu pai respondeu a pergunta em seus olhos. "Espanhol."

Draco virou-se na sua direção, agradecido pela distração. "O que você está lendo?" perguntou educadamente.

Lucius moveu-se levemente na sua cadeira para olhar para o seu filho. "Maldições Ibéricas. Não é algo que você aprenderá com Flitwick, eu garanto."

"Nem de perto. Nós estamos presos em feitiços para cuidar da casa esse mês," ele disse com um sorriso irônico, "Para beneficiar os Weasley, eu imagino." Pegou a sua varinha, apontou-a ao copo vazio na mesa do seu pai e disse um feitiço que o deixou limpo como novo. "Sinta-se livre para dispensar os elfos-domésticos. Obviamente eu posso tomar o lugar deles."

Lucius sorriu. "Não são feitiços os quais um Malfoy poderia usar, eu concordo. Não que eu espero que você use maldições da Península Ibérica também."

Isso captou o interesse de Draco, como sabia que era a intenção de seu pai para começar. "Por que? O que eles fazem?"

"Ah. O comportamento latino… tão mais volátil do que o nosso. Esse feitiço, por exemplo. Conhecido como A Maldição do Amor Rejeitado. Não que você precise ter seu amor rejeitado para lançá-la, é claro, mas ela pode vir à mente sob tal circunstância."

"Sério? O que ela faz?"

"Como os espanhóis, a maldição é muito dramática. Ela faz a vítima abusar verbalmente todos por perto." Lucius escaneou a página na sua frente. "Dura desde o pôr-do-sol até… exaustão, eu suponho. Repetido diariamente."

"Abuso verbal não parece tão ruim, na verdade," Draco disse.

"Eu não seria tão rápido em julgá-lo a não ser que você o esteja recebendo." Lucius sorriu com uma malícia que o deixou nervoso, e ele concordou com seu pai sobre seu erro. "Especialmente já que a maldição também garante ao amaldiçoado a capacidade de ser parcialmente Legilimens. O suficiente, eu suspeito, para conceder ao amaldiçoado munição suficiente contra seus amigos. Isso garantiria que essas amizades se quebrassem. E vamos ver o que mais?" Sua mão, com as unhas perfeitamente feitas, seguiu as palavras pela página. "A vítima não pode ser silenciada… não pode ser presa... não pode ser deixada sozinha. E o contra-feitiço é complexo e exige que uma pessoa se auto-sacrifique de algumas maneiras. Eles parecem ter pensado em tudo."

"Por que eles a chamam de A Maldição do Amor Rejeitado?"

"Provavelmente porque essa maldição oferece a vingança perfeita. Eu não imagino que nenhum futuro relacionamento que a vítima queira ter daria certo sob essas condições." Percebendo a expressão confusa de Draco, ele continuou. "Vamos supor que Juan abandone Consuelo. Então, Consuelo amaldiçoa Juan. Juan começa a sair com Estrella, mas faz sua vida um inferno devido aos xingamentos. Estrella, naturalmente, abandona-o em horror. Ela é então substituída por Maria, Carmina - até mesmo Pablo se ele quiser. A maldição faz com que Juan pague o preço por sua traição. Tão simples. Mas efetivo."

Draco, com o benefício de ter dezesseis anos e com nenhuma experiência amorosa, achou aquilo tudo ridiculosamente complexo. "Eu não vejo o benefício. E eu acho que é uma Maldição Imperdoável, também."

Seu pai parecia sério por um momento. "As leis mudam em outras culturas." Draco percebeu que seu pai tinha entrado na forma total de professor, mas pelo menos o tópico era interessante. Fez um pequeno som de apreciação, e seu pai continuou. "Não é uma Imperdoável, mas é altamente ilegal. Pelo menos na Espanha. Ela não parece ter ganho muita popularidade por aqui."

"Então por que alguém iria arriscar lançá-la?"

"Ah, Draco, você está se esquecendo da satisfação emocional de se vingar. Às vezes, nada parece ser mais importante do que isso."

Ele considerou. É claro, depois de examinar todas as pessoas de quem ele queria se vingar, a primeira que ele pensou foi Harry Potter. Mas isso era diferente. Ele sempre quis que sua vingança fosse imediata, concreta, e tão direta que Potter soubesse sem sombra de dúvidas de onde ela viera, e por quê. Essas baboseiras psicológicas não tinham nenhuma dessas qualidades, e portanto, não uma opção para ele. E Draco certamente não iria arriscar lançar uma maldição ilegal para se vingar.

Ele teve um pensamento repentino. Você-Sabe-Quem teria achado uma maldição como essa intrigante. O Lorde das Trevas não temia punição, e seu desejo por vingança era legendário. Naquele momento, ele se perguntou por que seu pai estaria pesquisando sobre essa maldição, e um arrepio correu por sua espinha.

Então ele imaginou que outras maldições os espanhóis poderiam ter inventado. A discussão então parecia bem menos abstrata.

Ele não sabia o que o levou a perguntar, "Esses outros livros. Eles contêm Maldições Ilegais também?" Porque não precisava ouvir a resposta de seu pai para saber que eram.

Na mente de Draco, o escritório de seu pai não era mais simplesmente o lugar aonde ele poderia ir ler à noite. Ele percebeu que essas maldições eram para ser usadas. Contra alguém. Provavelmente logo.

O olhar de Lucius o informou que ele já havia percebido a perigosa associação que acabara de fazer, porém parecia satisfeito com a revelação.

"Draco. O que você sabe sobre a noite em que Harry Potter desapareceu durante a terceira tarefa do Torneio Tribruxo?"

A abrupta mudança de tópico o deixou confuso.

"Você quer dizer a noite em que Cedrico Diggory foi morto?" Ele passou a língua sobre seus lábios nervosamente. "Potter disse que o Lorde das Trevas voltou e matou Diggory. O Profeta Diário disse que ele mente."

Esse comentário o rendeu um olhar de desaprovação. "O que o Profeta Diário diz não é importante."

"Umm. Bem, alguns dos estudantes acham que Potter matou Diggory para ganhar o Torneio. Semana passada, a professora Umbridge puniu Potter pelo que ele disse sobre o que aconteceu naquela noite, e agora ninguém pode falar sobre isso na escola. Dumbledore acredita no Potter, mas isso é óbvio…"

O olhar intenso de seu pai o desafiava, assim como a próxima pergunta. "E o que você acha, Draco?"

Ele desejava ter mais tempo para formular uma resposta coerente. "Eu… eu não sei o que achar." Esperava que seu pai percebesse o pedido nos seus olhos - diga-me o que achar.

Lucius repentinamente virou sua cadeira para encarar seu filho. "O que eu vou lhe contar agora, filho, é apenas para você saber. Por enquanto, eu peço que não compartilhe essa informação com mais ninguém." Draco levantou-se da sua posição no sofá, achando que deveria assumir uma posição mais madura, formal - uma mais apropriada para receber um segredo. Esperou anciosamente seu pai continuar.

"Lord Voldemort está realmente vivo. Potter - contra sua vontade, eu te garanto, foi essencial na ressurreição dele. Ele está vivo e poderoso novamente, como esperávamos por tantos anos."

Lucius sempre foi um excepcional contador de histórias, e naquela noite mais do que nunca. Os detalhes que ele fornecia para contar o acontecido eram tão gráficos, tão vívidos e chocantes, que Draco podia quase ver o cemitério, ouvir os gritos dos Comensais da Morte, cheirar a fumaça quente das poderosas maldições que estavam destruindo lápides e cavando buracos no chão.

Uma coisa estranha aconteceu durante a narrativa - enquanto Lucius descrevia o que ele havia testemunhado, Draco mudou sua perspectiva para que fosse como a de Potter. Ele podia imaginar o grifinório durante a ligação das varinhas, e ver a sombra dos espíritos aparecerem para ajudá-lo. Tão clara era a imagem que seu pai pintava que ele sentia como se ele tivesse testemunhado como Potter fez seu caminho pelo cemitério, desviando maldições, conseguindo alcançar Diggory e a chave-de-portal e escapando a morte certa.

Enquanto ele escutava a familiar voz de seu pai, agora estranhamente excitada, ele tentava absorver os fatos. Mas achava difícil descrever quais emoções o evocavam no momento. Medo era a mais óbvia - medo tão forte que ele quase conseguia cheirá-lo no ar ao seu redor. Mas por que as novidades o causariam medo? Não deveria ele estar excitado? Os puros-sangues não deveriam desejar a volta do Lord das Trevas e retomar sua causa? Ele não queria que seu pai retomasse o seu lugar merecido, como a mão direita de Lord Voldemort, para trazer mais prestígio ao nome dos Malfoy? Diga-me o que achar, ele tinha silenciosamente implorado, mas ninguém tinha que dizer como ele deveria se sentir.

E o que ele sentia mais naquele momento era que algo ruim aconteceria.

Pai, afasta de mim este cálice, de vinho tinto de sangue.

Cálice - Gilberto Gil/Chico Buarque

Para Draco, a discussão no escritório de Lucius foi o início de uma intensa batalha interna. Porque mesmo com dezesseis anos ele sabia, com muita convicção, que a visão que seu pai tinha nunca iria se realizar. Acreditando nisso, ele sabia que não podia marchar cegamente atrás de seu pai e esperar que tudo desse certo. Porque ele conhecia Potter, e conhecia Dumbledore, já Lucius, não.

Ele era observador o suficiente para perceber as claras mudanças no mundo mágico. Os santos-grifinórios murmuravam avisos um para os outros quando Draco passava por eles nos corredores. O Profeta Diário citava eventos - apesar de que o que eles não publicavam era muito mais revelador. Os visitantes de seu pai cochichavam seus planos nos corredores da Mansão; trechos de conversas que eram interrompidas pelo fechar de portas mas que revelavam o suficiente para deixá-lo ansioso.

Draco tinha uma falha comum na maioria dos adolescentes: ele achava que o que ele sabia e acreditava era o que aqueles próximos a ele sabiam e acreditavam também. Mas ele falhou em perceber que sua vida em Hogwarts o fornecia a perfeita oportunidade para observar os feitos da oposição do Lord das Trevas. Ele morava, afinal de contas, no coração do reino de Dumbledore, e estava sob a influência deste.

Com essa perspectiva, ele tinha dificuldade para entender porque Voldemort vivia cometendo os mesmos erros em relação a Harry Potter. Talvez por ter perdido tantas vezes para o outro garoto, isso havia se tornado comum para Draco, mas ele tinha pensado erroneamente que perder tanto era comum.

Vários dias após a conversa no escritório, Lucius foi até Hogwarts para assistir uma partida de Quadribol de exibição, Grifinória contra Sonserina - Draco se recusava a chamá-la amistosa, como todos os outros o faziam. Pensamentos sobre a última conversa deles sobre Você-Sabe-Quem pesavam muito pra ele, fazendo-o sentir-se estranhamente inconfortável na presença de seu pai. Não tinha conseguido acabar com seu temor sobre o assunto - na verdade, seu humor havia crescido mais sombrio e seus medos tornaram-se piores. Toda a tarde ele havia se esforçado para passar a impressão de normalidade; Havia esperado que qualquer nervosismo que estivesse demonstrando pudesse ser passado por nervosismo pré-partida.

A manhã de outono estava gloriosa - quente, com o ocasional raio de sol deslizando por detrás das nuvens. Os dois Malfoy passaram algum tempo depois do almoço andando pela trilha ao redor do lago.

"Os batedores da grifinória parecem menores esse ano," Lucius disse, enquanto controlava a velocidade da caminhada com seus longos passos.

"Isso é porque os da sonserina são maiores," Draco respondeu.

Lucius sorriu. "Nada mudou, então." Ele parecia estar de bom humor. "A Sonserina sempre escolheu baseado na força."

Mais conversas insignificantes foram feitas em relação a times, condições, e estratégias, nas quais Draco escutou, mas não falou muito.

Quando começou a ficar tarde, Draco sugeriu que voltassem para o campo de Quadribol, escolhendo um caminho pouco usado mais perto da beira do lago. A trilha era muito estreita para duas pessoas andarem lado-a-lado, então ele deixou seu pai andar pela trilha, e seguiu ao seu lado pela grama, a qual estava seca, fazendo um irritante barulho a cada passo que dava.

"Você ouviu algum rumor sobre Potter recentemente? Ou sobre o Lorde das Trevas?" As palavras de seu pai saíram com alguma dificuldade devido à subida da trilha.

"Na verdade, não. Todos estão concentrados no jogo de hoje."

"Ah. A primeira partida de Quadribol do ano letivo. Eu me lembro da excitação. Todos querem impressionar o outro - principalmente os alunos do primeiro ano - com o quanto sabem sobre Quadribol. Mas então eles abrem a boca e destroem qualquer ilusão de sabedoria.

Draco concordou com um gesto de sua cabeça, mas não respondeu.

"Eu sei quão inteligente você é, Draco. Você percebeu que as coisas estão começando a ser colocadas em prática agora. Perceba que qualquer informação que você descobrir em Hogwarts iria ser útil - e recompensada."

Ele tentou manter seu comportamento neutro, mas a inesperada sugestão de que ele deveria reportar as pessoas em Hogwarts o alarmou mais do que a conversa do escritório. Ele manteve sua cabeça baixa, chutando pedras enquanto andava.

"Eu acho que não estou em posição de ouvir nada de útil," respondeu cuidadosamente. "É tudo sobre quem está amassando quem, ou quem conseguiu colar em Herbologia, ou quando será a próxima viagem à Hogsmade. Você sabe como são essas conversas."

"Eu não espero que você perceba o valor das coisas que escuta, meu filho. Isso é para outros determinarem. Mas você está num lugar privilegiado para observar e escutar."

"Eu pensei que o Professor Snape -"

"A lealdade dele está em dúvida nesses dias. Seria sábio da sua parte não confiar nele."

Draco se permitiu concentrar apenas na trilha em que andava, prestando bastante atenção em seus passos. Seu pai parecia ter entendido seu silêncio como forma de concordância.

"Esperto como você é, tenho certeza que conseguirá se encontrar em lugares aonde pessoas podem deixar certas informações escorregarem."

Com crescente alarme, ele percebeu que estava sendo indiretamente ordenado a virar um espião para os Comensais da Morte. Seu novo companheiro, o medo, fez mais uma aparição, e seu estômago deu uma volta desagradável. Ele precisava responder, dizer alguma coisa; seu pai estava esperando por uma reposta.

"Eu..." Ele não sabia o que dizer. "Estou surpreso." Bom, isso era verdade, mas inadequado.

Lucius diminuiu o seu ritmo e virou-se para observar o comportamento de seu filho. Quando pareceu estar satisfeito com a resposta, ele virou-se novamente para a trilha e continuou subindo.

"O pai do seu amigo Crabbe tem falado sobre mandar Vincent para estudar em Durmstrang ano que vem. Eu suspeito que a esposa dele o esteja pressionando a manter o filho deles a salvo." Disse essa última palavra como se fosse uma maldição. "E quanto a você, Draco? Tem algum interesse em seguir Vincent à Durmstrang?"

"É claro que não."

"Ótimo. Eu condeno a covardice dos Crabbe. Alguém uma vez escreveu que os lugares mais profundos do inferno são reservados àqueles que, em tempo de crise, mantêm a neutralidade."

Draco, acostumado a traduzir as mensagens ocultas de seu pai, entendeu: é bom você se unir aos Comensais da Morte quando chamado.

Ele manteve sua resposta cuidadosamente abstrata. "A Sonserina não será a mesma sem Crabbe."

Lucius colocou sua mão de leve sobre o pescoço de Draco como uma recompense por sua aparente concordância em se tornar um Comensal da Morte. "Eu encontrei um novo livro sobre Maldições Turcas," ele disse como forma de mudar de assunto, mas Draco não estava mais ouvindo. Naquele momento, ele só queria chegar ao vestiário da Sonserina, talvez se trancar em um cubículo escuro, pelo menos até o universo se ajeitar novamente. Sem prestar atenção, andava pelo longo caminho de grama à sua frente. Com cada passo, ele percebia que várias folhas estavam sendo arrastadas das árvores devido ao forte vento. Como será que é, ele pensou de repente, não ter que pensar no que acontecerá no futuro, apenas repousar nas árvores sem pensar em nada? E então de repente, bum! O mundo que você conhecia já era, e você não tem nem cérebro para descobrir o que aconteceu.

Assim como a maioria dos moradores de Hogwarts.

Mesmo assim, ele esperava mesmo que tudo continuasse do jeito que costumava ser? Tão empoeirado e sem mudanças como, talvez, Binns? Por que ele acreditava - por que todos eles pareciam achar - que Voldemort esperaria educadamente até Potter atingir seu sétimo ano para atacar?

O ataque poderia começar qualquer dia agora. E em Hogwarts - com a presença de Potter e Dumbledore - ele se encontraria no local dos horríveis eventos. No meio de uma guerra que ele seria descoberto espiando para o lado errado.

Estavam aproximando-se do Campo de Quadribol. Os times da Sonserina e Grifinória já estavam nos vestiários se preparando para o jogo. Seu pai estava planejando assistir das arquibancadas da Sonserina.

Ele viu Potter, sozinho, à sua direita. Seu usual olhar distraído era sua única expressão. Ele não havia percebido nenhum dos dois, mas Lucius tinha o observado, e Draco percebeu-o se mexendo ao seu lado. Olhou para seu pai cuidadosamente, mostrando nenhuma emoção, dizendo nada.

"Oh, olhe. O herói do Mundo Mágico," Lucio suspirou. "Sem seus adoradores, parece."

Para sua surpresa, viu que seu pai estava alcançando por sua varinha, escondida na manga de sua capa; Agarrou nervosamente seu braço.

"O que você está fazendo?" ele sussurrou. "Vão checar se ele está sobre a influência de algum feitiço antes do jogo." Sabia que seu pai estava ciente das precauções tomadas antes de um jogo de quadribol. Seu pai tinha jogado quadribol ali - a rotina era a mesma; nada havia mudado.

"Defendendo o Menino-Que-Sobreviveu, Draco? Eu não sabia que você estava tão preocupado," seu pai respondeu cuidadosamente.

Vendo o olhar que o homem lançou, Draco forçou seu punho a relaxar.

"Não, eu não ligo para ele. Mas eu ligo para o nosso time. Eu odiaria ser desclassificado."

"Isso se fossemos descobertos Algo que eu pretendo evitar completamente." Lucius passou sua atenção completa para seu filho. "A não ser que você tenha perdido confiança em mim?"

"Não, é claro que não, pai," foi sua resposta automática. Ele não tinha uma resposta honesta para dar.

"Obrigado, então," Lucius respondeu friamente. Ele falou então as palavras do feitiço que Draco ouvira no último encontro deles, falando tão fluentemente que parecia que as frases espanholas eram da sua língua nativa.

A Maldição do Amor Rejeitado? estava completamente chocado. Como seu pai esperava que ninguém percebesse aquilo? Droga! Esse não era qualquer aluno que ninguém dá a mínima! Esse é Harry Potter, o garoto de ouro, o protegido de Dumbledore.

Sua expressão de horror serviu apenas para divertir seu pai. "Acalme-se, Draco," ele avisou. "Nada vai acontecer. Por enquanto." Continuou o feitiço, desta vez mudando a língua para Latim. Draco reconheceu um feitiço de aprisionamento, e então algo não familiar. "Pronto. Escondido. Eu coloquei um tempo de ativação nele, fazendo a maldição começar numa hora oportuna para nossa família. Na minha morte."

Draco ficou muito confuso. "Mas… por quê?"

Pai e filho pararam na trilha, ignorando Potter, que estava indo embora, inocente sobre o que acabara de acontecer. Toda a cena tinha um ar de surrealidade na mente de Draco. A expressão no rosto de seu pai naquele momento era assustadoramente familiar - cheio de confiança, arrogância - de tantas maneiras demonstrando um perfeito Malfoy.

"Por que? Bem, Draco, simplesmente porque eu queria." Ele disse isso quase casualmente, como se estivesse falando de algo sem importância, como sua preferência em vinhos, ou capas, ou música. Então a voz de Lucio baixou, e ele sussurrou as próximas palavras como se estivesse contando um terrível segredo. "Porque eu posso."

"Porque eu posso." Palavras nunca antes tiveram um efeito tão grande em Draco.

A forma como elas foram pronunciadas, como se fosse comum lançar uma maldição sobre outro estudante... Elas mexeram drasticamente na percepção que ele tinha de seu pai.

Não que ele se importasse com Potter. Na verdade não. Potter era um irritante, perigoso, não acabado, problema. Draco não se importava com o que acontecesse com ele.

Mas ele percebeu imediatamente que a atitude fria de seu pai também se aplicava para o resto da conversa deles - a sugestão que ele virasse espião, que ele já considerava um comando escondido. Ele basicamente foi ordenado a se colocar nas linhas de frente da batalha. Ordenado. Ele nunca tivera opção.

"Porque eu posso."

A visão do seu futuro como um reconhecido aliado de Você-Sabe-Quem não era nenhuma grande revelação. Nenhuma mesmo. Devido à sua posição como filho de Lucius, como o líder nato de seus colegas sonserinos, tudo era previsto. Até mesmo o mais retardado Lufa-Lufa perceberia aonde sua vida o levaria.

Não, o conceito não era uma surpresa. Ele era - o que? Ele se encontrou perdido no assunto por muitas horas após o jogo de Quadribol. Inacreditavelmente, ele tinha conseguido capturar o Pomo de Ouro antes de Potter, e estava irritado que era apenas um jogo amistoso e não contaria pontos para a Copa de Quadribol. Considerou sua vitória pura sorte; sua mente com certeza não estava concentrada no jogo. Mas Potter parecia ainda mais distraído do Draco estava.

Estava grato pela vitória, pois seria mais difícil encarar seu pai depois de uma derrota. Conseguiu fingir sua felicidade por ganhar o jogo, recebeu os parabéns dos seus colegas - muito bem Malfoy, sabia que você conseguia vencê-lo - fingiu interesse durante a festa pós-jogo, e recebeu os parabéns de seu pai e a promessa de uma vassoura nova para celebrar a vitória.

"Porque eu posso."

Naquela noite no Salão Comunal, ele se sentou isolado. Seus colegas sonserinos sabiam que não deviam incomodá-lo - 'Draco está em um daqueles humores,' avisavam-se - e ele deixava que acreditassem, porque ia de acordo com suas vontades, que o deixassem em paz. Goyle, como sempre, se preparou como um guarda pessoal, pronto para interceptar qualquer perturbação, apesar de que depois de todos esses anos, não era mais necessário.

Mas era mais do que mau humor, uma irritação passageira, que o levou a esse estado contemplativo naquela noite. Ele estava perdido em pensamento. Tinha o hábito de sempre procurar pelo pior das pessoas, tentando achar segundas intenções em todos à sua volta - estava sempre formulando, deliberando, julgando.

Naquela noite, percebeu que sua linha de pensamento estava mais séria do que jamais esteve.

Sacrifício. Quanto mais ele se preocupava com os acontecimentos daquele dia, mais tudo se resumia àquela palavra. E quando algum dia virasse hoje, conseguiria ele sacrificar seu futuro pelo Lord das Trevas? E se ele não conseguisse, e então?

Ele estava realmente destinado a virar uma simples ferramenta na mão de seu pai? Usado por qualquer motivo que ele decidisse? Os desejos de Draco eram tão inúteis? Porque eu posso?

Quando foi que Lucius cruzou essa linha? Quando foi que seu pai parou de vê-lo pela pessoa que ele era para vê-lo somente como instrumento para a causa?

O olhar na face de seu pai havia lhe dito, com assustadora clareza, que aquela linha havia sido cruzada há muito tempo. Draco, de alguma maneira perdido em seus próprios passatempos, preocupado com Quadribol e estudos e travessuras, havia falhado em perceber.

Mas agora que ele sabia que era visto como um sacrifício, já não estava tão entusiasmado para seguir essa vida. Escondido bem dentro de si, estava um sentimento forte de que o destino que seu pai planejava e Voldemort exigia - que ele fosse um sacrifício - era sem dúvida, traição. Ele sentia-se traído. E estava começando a achar que a diferença entre bom e mau se resumia à simples verdade: aqueles que escolhessem as trevas sacrificavam outros. Os que não, sacrificavam apenas a si mesmos.

Draco soube naquele instante exatamente o que tinha que fazer. E por que.

Porque eu posso.

We never feel the power of our own hand, sense the danger late,

and only vaguely ever grasp the means of our sole salvation.

Nós nunca sentimos o poder das nossas próprias mãos, sentimos o perigo imediato, e somente vagamente entendemos o caminho da nossa salvação

Sole Salvation - English Beat

E então a nova vida de Draco começou.

Motivado inicialmente por medo, sustentado por um intenso desejo de não se tornar um mero sacrifício, com a ajuda de Snape, guiado por seu exigente e vigilante professor, Draco aprendeu como ser um espião.

Eventualmente.

Naquela noite, saindo do Salão Comunal usando uma desculpa qualquer, ele procurou o professor Snape. Achava que o líder da Casa Sonserina entenderia seus motivos. E afinal de contas, o líder da casa deveria auxiliar qualquer aluno sob sua responsabilidade. Nunca havia necessitado daquele tipo de ajuda antes; agora se sentia como se sua vida dependesse daquilo.

Rumores haviam circulado por anos a respeito das verdadeiras lealdades de Snape. É claro, a Marca Negra era prova de - bem, de que, exatamente? Tudo que ela provava era que em algum momento de sua vida, Snape aceitara o Lord das Trevas; Draco também tinha. Percebeu que a Marca não dizia nada sobre as lealdades do professor.

Dumbledore continuava a deixá-lo ensinar em Hogwarts. Até mesmo o mais estúpido aluno do primeiro ano percebia que se Snape realmente fosse um Comensal da Morte, Dumbledore já haveria o demitido há anos. Então sua presença na escola era prova de - de que, novamente? De que Dumbledore acreditava que ele era neutro em relação à Guerra, no mínimo.

Suspeitava fortemente de que Snape era um agente duplo. Seu pai havia sugerido exatamente isso naquele mesmo dia. Mas somente Snape - nem Dumbledore nem Voldemort - poderia afirmar com certeza aonde estava sua lealdade. Lealdade não é tão preto no branco; talvez aquela pergunta delicada não tivesse uma resposta definitiva.

Mas Draco tinha que arriscar a chance de que Snape podia ser confiável. Se ele estivesse errado - bem, não queria pensar nisso ainda. Mas ao longo dos anos, ele criara a impressão de que Snape era como ele - alguém que pensava muito nas conseqüências de seus atos e nunca seguia cegamente as expectativas de outros.

Ele jogou precaução ao vento e bateu na porta do quarto de Snape.

"Sr. Malfoy," Snape não mostrava nenhuma surpresa pela interrupção tardia.

"Professor Snape. Eu preciso falar com o senhor. É importante."

Snape abriu a porta em convite para entrar. Draco o seguiu dentro do quarto mal iluminado, ouvindo o sussurro de feitiços para trancar a porta e para que ninguém os escutasse. Aquilo não ajudou nada para acalmá-lo.

"Por favor, sente-se."

Ele sentou-se. Agora que estava lá, no entanto, sua coragem lhe escapava. Todas as conclusões que havia tirado eram mais difíceis de expressar na realidade.

Snape percebeu seu incomum silêncio e moveu-se até um cabinete, retirou dois copos e uma garrafa de algo que Draco reconheceu como sendo Whisky. Ele relaxou na cadeira e olhou ao redor do quarto –já havia estado ali antes, mas não muitas vezes, e sempre se surpreendia como esse lugar era diferente do laboratório de Poções. Quase confortável. Snape passou-lhe um copo, e ele tomou um gole. Não tão bom como os servidos na Mansão Malfoy, naturalmente, mas não era ruim.

"Parabéns pela sua vitória hoje," Snape disse. "Muito oportuna, com a presença de seu pai."

Ele não estava surpreso que Snape conectara a presença de seu pai no castelo com sua visita noturna. Por mencioná-lo assim, indiretamente, Snape estava dando-o permissão para falar sobre ele, e coisas relacionadas.

E então começou.

Delicadamente, ele começou a abordar o assunto. O que Snape achava que seria o resultado da Guerra? Aonde e quando ele achava que o Lord das Trevas poderia começar os ataques? O que os estudantes e professores fariam quando o momento chegasse? Manteve-se no assunto de maneira impessoal, e Snape respondia, sem fazer perguntas e deixando Draco falar.

Com a confiança crescendo, começou a abordar perguntas mais importantes para ele. Quais estudantes se juntariam aos Comensais da Morte? A causa deles era importante o suficiente que justificava o custo que a lealdade inquestionável trazia? Quais eram as verdadeiras chances de Voldemort vencer?

Snape respondeu da mesma maneira abstrata que tinha respondido as perguntas anteriores, mas então abruptamente perguntou, "e o que você acha, Draco?"

Ouvir aquilo destrancou algo dentro de Draco, e ele começou a contar Snape de seus recentes temores. Tudo que ele havia pensado nos últimos tempos, todas suas dúvidas, seus sentimentos de traição - falou tudo, ainda temendo a reação de Snape, mas ao mesmo tempo aliviado e agradecido por ter alguém com quem pudesse falar.

Snape escutou a tudo com cuidado, interrompendo-o com perguntas eventualmente, mas feliz em deixar Draco desabafar.

"Por que você veio falar comigo sobre essas coisas?" ele finalmente perguntou.

Draco olhou-o nos olhos. "Eu suspeito que você esteja espiando para Dumbledore. Eu acho que você não é um Comensal da Morte. Eu achei que você poderia - bem, eu quero fazer isso também." Pronto. Finalmente. Não foi eloqüente, é claro, mas claro o suficiente para Snape perceber exatamente o que ele estava pedindo.

"Você quer espiar os Comensais da Morte?" ele perguntou com surpresa evidente em sua voz.

"Sim."

"Por que?"

Boa pergunta, Draco pensou. "Na minha posição, eu acho que posso ser útil," respondeu.

"Mas você não tem que espiar. Eu posso entender não querer se juntar aos Comensais da Morte. Mas você poderia assistir de longe; você não tem que se virar contra seu pai. Fique neutro."

"Não." Ele sse perguntou de onde vinha o desejo de ser honesto com Snape. Aparentemente, o whisky estava soltando sua língua. "Neutralidade não me salvará deles. Se eu não me juntar a eles, a única maneira de me manter vivo é fazer de tudo para que não vençam."

Snape sorriu então. "Ah. Uma resposta digna de um Sonserino. Inteligente interesse próprio."

"Talvez. Mas tem mais do que isso. Eu não acho que posso explicar tudo. Mas eu posso garantir que pensei o suficiente para ter certeza de que é isso que quero." Pausou para formular uma resposta convincente. "Eu quero definir meu próprio destino. Eu não serei a ferramenta de ninguém. Nem mesmo do meu pai."

"Não, eu não imagino você se rendendo dessa maneira," Snape respondeu com uma expressão pensativa. "Mas o que você quer fazer é perigoso."

"Eu sei. Eu planejo manter-me quieto.

"Então você não está fazendo isso só pela sua imagem? Talvez para viver uma fantasia infantil de ter uma vida secreta de espião? Você não quer ser admirado por seus amigos e adorado por mulheres que se jogariam aos seus pés?"

"Não. Eu nem mesmo gosto de mulheres. Eu prefiro homens," ele disse sem emoção. Seus olhos arregalaram por causa do que ele acabara de admitir, e ele sufocou, "Você-... O whisky. Você me deu Veritaserum."

"É claro que sim." Snape continuou a encará-lo calmamente, estralando seus dedos antes de adicionar, "Isso não é um mero jogo que você quer que eu jogue, Draco. Eu tenho que saber o quão sério você está sendo. A razão mais óbvia pela qual você viria aqui seria para acabar me entregando para seu pai. Você sabe disso."

Draco suspirou, relaxando novamente na cadeira onde estava sentado. "Você está certo, é claro."

"Uma pessoa totalmente verdadeira não teria reconhecido o Veritaserum." Snape sorriu novamente, sua voz relaxando. "Mas, em seu favor, você só sentiu a necessidade de mentir sobre algo nada relacionado à nossa conversa."

Ele sentiu uma onda de alarme pelo que ele havia acabado de confessar. Um medo de que sua confissão viesse a ser usada como uma arma contra ele. "Eu nunca contei à ninguém sobre isso. Ninguém sabe. Eu -"

Snape o interrompeu. "Então eu me desculpo pela admissão involuntária que você teve que fazer. Eu não irei falar mais nisso." Ele olhou seu estudante nos olhos. "No entanto, eu não posso dizer que isso tenha vindo como grande surpresa."

Ele podia sentir o sangue subindo ao seu rosto. "O que você quer dizer?"

"Uma das armas mais importantes de um espião, Draco, é a observação. Com prática, você perceberá que as pessoas revelam mais sobre si mesmas do que percebem. Um olhar alerta nota de tudo." Draco desviou seu olhar em vergonha - era tão óbvio? "Mas não falarei mais nisso."

"Obrigado," ele disse em uma voz baixa.

Snape ficou mais sério. "Você é sincero em relação a abandonar os Comensais da Morte?"

"Sim." Agora que ele sabia que estava sob o efeito da poção, percebeu como respondia as perguntas sem hesitação.

"Você quer se tornar um espião para aqueles que trabalham contra os Comensais da Morte?"

"Sim."

"E você veio até mim porque você suspeita que eu faço o mesmo?"

"Sim."

"Você está ciente dos riscos que tomou ao vir aqui e me falar essas coisas?"

Draco ficou tenso. "Sim."

"Você contou a alguém que você viria aqui hoje? Seu pai, talvez?"

"Não. Ninguém."

"Você falou com mais alguém sobre seus desejos de espiar para Dumbledore?"

"Não."

"Por que você não foi falar direto com Dumbledore e oferecê-lo seus serviços?"

"Porque eu não confio nele. Ele nunca foi um amigo dos Sonserinos. Ele só está preocupado com Potter."

Snape olhou para ele com cuidado. "Você tem inveja de Potter?"

Uma resposta automática não se fez no seu cérebro, ele estava perdido em como responder. "Eu… Eu não sei. Às vezes eu tenho inveja de como as coisas vêm facilmente para ele. Como entrar no time de Quadribol no primeiro ano. Ser escolhido para o Torneio Tribruxo. Ganhar a Copa das Casas todo maldito ano. Mas ao mesmo tempo, eu acho que tem mais do que isso na vida dele, que de alguma maneira, ninguém vê. Alguma coisa está faltando. Todos os rumores -"

"Que rumores, Draco?"

Ele sabia que Snape estava testando-o - seu professor sabia muito mais sobre Potter do que ele, tinha certeza. "Bem, sobre os tios dele, para começar. Dizem que ele cresceu sendo tratado como um elfo-doméstico. Vivendo em um armário. Ele aparece todo ano em Hogwarts vestindo roupas muito grandes para seu tamanho. Eu não sei se algo disso é verdade, mas -"

"É verdade," Snape respondeu.

Draco ergueu a cabeça rapidamente com essa resposta, mas Snape não elaborou. "E todas as vezes que ele teve que enfrentar o Lord das Trevas - desde o primeiro ano aqui. As coisas que escrevem sobre ele no Profeta Diário. É claro, ele é o queridinho deles, então eu não posso acreditar no que eles escrevem..."

"Acredite."

Ele estava confuso. "Mesmo assim, por que estamos falando dele - quero dizer, o que ele tem a ver com o que estou lhe contando?"

Snape explicou pacientemente. "Potter é crucial para os planos de Dumbledore. Portanto, protegê-lo é uma das nossas tarefas principais. Diga-me Draco, você o odeia?"

"Não." Ele estava surpreso de como a resposta veio rápido. "Eu acho que ele é um pentelho irritante, muito cheio de si, mimado, metido -"

Snape deu uma pequena risada. "Eu entendo. Não é sua pessoa favorita."

"Não, senhor. Eu não preciso de Veritaserum para lhe dizer isso."

"Bem, eu devo dizer que concordo com sua opinião. Mesmo assim, eu preciso saber - você conseguiria trabalhar com ele se necessário? Protegê-lo se pedíssemos?"

"Eu acho que sim. Se você me pedisse." A idéia de ser leal a um grupo maior, com pessoas que ele não particularmente respeita, ainda era muito nova. Pelo menos no começo, sua lealdade seria ao Professor Snape. Ele explicou. "Professor, eu espero que me entenda. Você também é um Sonserino. E você sabe como meu pai é." Ele deu uma pausa, e acrescentou, "Eu acho que o senhor pode me ensinar o que eu preciso saber. Eu gostaria que fosse você."

Snape não respondeu, mas continuou o intenso estudo de seu aluno.

"Por favor, senhor."

Snape o encarava tão intensamente que Draco se sentia como se Snape estivesse tentando ler sua mente. Queria muito desviar o olhar, mas não queria parecer fraco ou hesitante quanto à sua decisão. Todos seus planos giravam em torno da decisão de Snape. O silêncio estendeu-se mais alguns minutos.

Finalmente, Snape respondeu. "Muito bem. Nós teremos que avisar o diretor, é claro, mas não informaremos mais ninguém a não ser que necessário."

Draco sentiu alívio fluindo pelo seu corpo, trazendo a primeira sensação de segurança desde muito tempo. "Eu quero pedir-lhe um favor."

"Já?" Snape disse, mas ele parecia achar graça, e não estar bravo. "O que é?"

"Eu queria fazer um brinde à nossa nova associação. Mas antes disse, você poderia me encher um novo copo de whisky?"

Para sua própria surpresa, Severo Snape achou-se satisfeito com sua nova relação com Draco. Seus antigos papéis de aluno e professor favorito os permitiam disfarçar suas novas rotinas sem suspeitas dos outros alunos. Para os mesmos, ele explicava o contato constante dizendo que Draco pretendia seguir seus passos e se tornar um Mestre de Poções.

As pessoas sendo como são - resumindo, fofoqueiros - rumores cresciam sobre a conexão deles. Snape sabia que Draco, que era mais sensível, ficava furioso com sugestões. Snape os ignorava, mas cuidava para manter certa distância de Draco em público.

"Não deixe isso distraí-lo, Draco," ele aconselhou uma tarde. "mas preste atenção naqueles falando mais - pode haver razões porque fazem isso."

"Eu sei. Mas é difícil às vezes. Eu só quero quebrar a cara de alguns, sabe? Eles são tão estúpidos."

"E você nunca fofocou?" Ele olhou seu estudante com humor. "Tenho certeza que você passou desse estágio agora, mas talvez quando mais novo?"

Draco riu pela tirada. "Nunca. Como você sabe, eu sou a decência e a sinceridade em pessoa."

"É claro. Nunca duvidei disso por um segundo."

Ele estudou o jovem deitado no seu sofá. Tão jovem. Muito jovem. Snape, enquanto o ensinava tudo que poderia ser útil quando se espiava contra Voldemort, ao mesmo tempo esperava que Draco nunca precisasse realmente fazer nada. Ele esperava que Potter continuasse com a extrema sorte de sempre e acabasse com a Guerra antes que Draco precisasse espiar, em segurança. Um pensamento fez-se em sua mente então. Se ele precisasse escolher entre Potter e Malfoy para proteger, ele conseguiria colocar Potter em primeiro lugar, como ele deveria?

Draco também deveria estar pensando no seu futuro, pois de repente perguntou, "Quando eu vou receber uma missão da toda-poderosa-Ordem? Dumbledore não confia em mim?" a chama do fogo refletia nos olhos dele, fazendo com que parecesse brilhar em antecipação.

"Não seja apressado para acabar seu treinamento, Draco."

"Mas eu não tenho feito nada de útil ainda."

"Muito pelo contrário. Você tem se comportado como sempre, fazendo todos acreditarem que tudo continua como sempre."

"E?"

"E construir um disfarce é a coisa mais importante para um espião. É também a coisa mais difícil de se fazer. Você verá que isso é essencial para qualquer esperança de sucesso."