Nota da Autora: Finalmente algo novo aqui!
Bom, espero que quem o leia goste, e se quiser comentar, reviews são muito bem-vindas. Reviews com críticas também, claro. D
Quanto ao título, sim, é meio que uma alusão ao filme "Tudo acontece em Elizabethtown", com Orlando Bloom (God!) e a Kirsten Dunst (adoro, apesar de bêbada oO). Para quem não assistiu, eu recomendo. Geralmente não gosto de filmes assim, mas este é diferente.
Para quem assistiu, aviso que o fic não tem nada a ver com o enredo do filme, eu usei o título como uma referência ao lugar onde a história se dá.
As letras das músicas correspondentes a cada capítulo nem sempre têm muita relação com o capítulo em si, às vezes a melodia combina com o ritmo dele, ou algo assim.
(Eu sei que parece loucura, mas sempre aparece alguma música em mente enquanto escrevo, e, mesmo que não exista nenhuma relação entre a letra e o conteúdo do capítulo, eu acabo gostando mesmo assim, na maioria das vezes. xD)
Baixar as músicas e ouvi-las enquanto lê é bem divertido. Costumo fazer isso em fics alheias. :)
Mais uma coisa! Não me matem pelo nome ridículo do hotel onde os personagens se hospedam. Na hora eu não tinha nada mais criativo para colocar, e no final acabou ficando esse mesmo...
Obrigada.
.Hys.
P.s.: Alguns acentos e pontuações são "comidos" pelo site. Espero que não atrapalhem a leitura. Além do mais, estou sem beta, então perdoem qualquer errinho que eu deixar passar.
Disclaimer: Nenhum personagem me pertence, apesar de que eu adoraria transmutar algumas coisas por aí...
Fiction Rated: T (contém um pouco de linguagem imprópria, mas só um pouco! Haha)
AVISO: Este fic se passa em U.A. (Universo Alternativo), podendo haver mudanças temporais, assim como nos traços psicológicos das personagens.
Capítulo 1
Londres e Chocolate Quente
Hys.
Help! – The Beatles
Aeroporto de Los Angeles – 5 de Janeiro de 2006, 14: 50: 32.
"Atenção passageiros do vôo 263 com destino a Londres: dirigir-se ao portão D."
- É o seu, querida?
Winry olhou mais uma vez no papel que carregava junto às malas para verificar se aquele era mesmo seu vôo.
- É sim, vovó.
- Boa viagem. Estarei rezando por você. – Pinako deu um forte abraço na neta, mesmo que para isso precisasse ficar na ponta dos pés – Cuide-se.
- Pode deixar! – A garota piscou um de seus olhos azuis em sinal positivo para a avó.
- Srta. Rockbell, temos que ir.
A loira virou-se para o dono da voz atrás de si, e respondeu virando os olhos:
- Já estou indo, Sr. Scar...
Começando a andar em direção ao portão indicado, Winry virou-se uma última vez, acenando para Pinako, que respondeu aos berros, gesticulando como um treinador de time de futebol:
- SUBA NAQUELE PALCO E MOSTRE AOS INGLESES DO QUE VOCÊ É CAPAZ!
Winry sorriu sem graça ao perceber os olhares curiosos de alguns passantes. Scar apenas abaixou a cabeça em descontentamento. Continuaram andando pelo aeroporto, até chegarem ao devido destino.
Alchemist Hotel, Londres – 5 de Janeiro de 2006, 14: 50: 32.
A recepção do hotel estava gelada e silenciosa – apesar do constante movimento – como sempre. A recepcionista ruiva digitava os últimos detalhes da estada de mais um cliente.
- Seu quarto é o 212, Sr. Mustang. Aqui está a chave.
- Obrigado. Os elevadores são por ali? – apontou para o corredor mais próximo.
- Sim, aqueles mesmo. Muito obrigada por escolher nosso hotel.
Roy Mustang era um cara enjoado. Gostava de boas instalações, boa comida, bom atendimento... E boas mulheres, claro. Restava avaliar o hotel neste último item. Assim, mal chegara ao quarto, e já saía a explorar corredores e atrativos do lugar. Apesar de estar ali a trabalho, poderia distrair-se em uma parcela do tempo, e nada melhor do que se distrair conhecendo mulheres interessantes.
Alchemist Hotel, Quarto 315 – 7de Janeiro de 2006, 09: 45: 12.
O rigoroso inverno de Londres fez Winry acordar sem a ajuda de um despertador.
- Hmm... – murmurou – que frio! Que horas são...?
Uma simples olhada no celular fora suficiente para que pulasse da cama.
- Droga! Vai acabar o tempo do café da manhã! Droga, droga, droga!
Cobertores aos ares, Winry vestiu o que estava por cima de sua grande mala de viagem, prendendo o cabelo às pressas, sem penteá-lo. Olhou-se no espelho, enquanto escovava os dentes simbolicamente, levando um susto com a cara de 'pão amanhecido' que a encarava. Suspirou, e saiu do quarto mesmo assim, vestindo os tênis all star pelo caminho e esquecendo o celular no criado-mudo ao lado da cama.
Alchemist Hotel, Refeitório – 7 de Janeiro de 2006, 09: 50: 56.
Chegou a tempo no salão onde era servido o café. Na entrada, abriu a porta de vidro do local com força, quase acertando um casal que saía no mesmo instante.
- Desculpe. – falou quase sem ar. O casal apenas a olhou dos pés à cabeça, entreolhando-se um pouco espantados.
Alguns perceberam a maneira esbaforida com que Winry chegara ao salão. Coçou atrás da orelha esquerda – ato típico dela, demonstrado timidez e embaraço. Levantou a cabeça e respirou fundo, caminhando pela mesa de pães. Pegou uma xícara de chocolate quente – bem quente – e olhou a furto, procurando uma mesa.
Sem olhar direito por onde ia, não percebeu o cadarço desamarrado, fruto da pressa. E sem mais rodeios para descrever esta cena deprimente na vida de nossa protagonista, o óbvio aconteceu: tropeçou no cadarço e derrubou tudo no chão. Melhor, quase tudo: o chocolate quente foi a encontro da camisa de um homem que por ali passava.
- Putz, olha o que eu fiz! Desculpe, senhor! – Atrapalhada, Winry não sabia se olhava para a vítima de seu descuido, para os pães que rolavam pelo chão, ou para as outras pessoas, que a encaravam mais uma vez. Coçar atrás da orelha esquerda não ia adiantar muito desta vez.
- Ai, olha só isso – o homem segurou a camisa branca, tirando o terno negro que estava por cima, para tentar não sujá-lo – Não foi nada, menina.
- Foi sim. Acabei com a sua camisa... Será que tem algum jeito de limpar? – Procurou por algum guardanapo, mas fora interrompida antes de terminar a busca.
- Não se preocupe. É só trocar, não tem problema.
- Desculpe mesmo! – A loira apenas observou o homem sair do salão, acompanhado pelos olhares da maioria. Abaixou a cabeça, saindo do salão um pouco depois, sem comer nada – e com uma tremenda fome.
Alchemist Hotel, Recepção – 7 de janeiro de 2006, 09: 55: 47.
- Hei senhor... – apoiou as mãos no balcão da recepção.
- Bom-dia, senhorita. Em que posso ajudá-la? – Perguntou o atendente com um sorriso treinado e nariz vermelho, provavelmente de frio, além da visível acne que dominara todo seu rosto.
- Pode guardar a chave do 315 enquanto dou uma saída?
- Só um minutinho – verificou algo no computador de tela plana e voltou-se para a garota, sem o sorriso – a senhorita é Winry Rockbell, certo?
- Certo.
- Desculpe-me, você não está autorizada a sair do hotel sem seu responsável. Sinto em não poder ajudá-la.
- Como é? Não posso sair daqui sozinha?
- Não, a não que seja maior de idade ou tenha uma autorização por escrito de seu responsável.
- Que absurdo! Isso aqui é uma prisão?
- Só estou cumprindo ordens, senhorita. Mas se quiser, pode pegar alguns de nossos catálogos de programação - entregou-lhe meia dúzia de folhetos coloridos – hoje, por exemplo, teremos tai chi chuan no salão de eventos I, às 11h30min.
Winry encarou o rapaz – alguns anos mais velho que ela e com um sotaque britânico bastante acentuado – como se tivesse um ponto de interrogação no rosto. Tendo notado tal reação, sorriu novamente, desta vez sem muita empolgação, e respondeu:
- Só estou cumprindo ordens.
Winry suspirou, olhando os catálogos sem vontade.
- Ok, então. Obrigada mesmo assim... – observou rapidamente seu crachá – Ronald.
- De nada. Queremos o melhor para nossos hóspedes.
- 'To vendo... – resmungou Winry, caminhando em direção ao pátio. Estava ali há algum tempo e ainda não havia ido conhecer as dependências do hotel. Riu sozinha ao lembrar de quando chegou, fazendo a imensa cama de molas de trampolim, enchendo a banheira de hidromassagem com todos os produtos que se encontravam na pia e rodando todos os canais britânicos da TV a cabo até altas horas da madrugada.
Assim que colocara os pés para fora, no jardim, sentiu o vento cortar-lhe a face. Estava mesmo MUITO frio. Abraçou-se, esfregando as mãos nos braços, enquanto voltava para o corredor. Não poderia ficar lá fora apenas com as blusas que estava.
Já no seu quarto, revirava a mala a procura de algo quente para vestir. Irritada por não encontrar nada, chutou a cama, rolando de dor por cima dela logo em seguida e pronunciando todos os palavrões que conhecia. Merda!
Parou com o alto discurso de palavrões ao ouvir o bater na porta. Levantou-se para atender.
- Ah, é o senhor... Sr. Scar. O que deseja? – Observou o pijama listrado azul e branco de seu acompanhante, sem disfarçar muito.
- Receio que o barulho que faz aí dentro esteja incomodando outros hóspedes também, srta. Rockbell. Está atrapalhando a minha meditação.
- Ah... – sorriu sem graça – desculpe-me, senhor. É que eu gostaria de roupas mais quentes para poder sair lá fora.
Scar levantou uma sobrancelha.
- Venha comigo. Devo ter algo.
- Mas senhor... Acho que nada me servirá e...
- Prefere ficar com frio, srta. Rockbell? – perguntou-lhe, aproximando seu rosto da garota, que recuou apreensiva.
- De maneira alguma, Sr. Scar.
Merda!
Alchemist Hotel, Saguão – 7 de Janeiro de 2006, 15: 38:10.
Roy olhava para os lados como um felino a procura de sua caça. O saguão principal era o local perfeito para conhecer uma dama, afinal, todos tinham que passar por ali alguma hora do dia. Tivera uma reunião pela manhã – conseguira participar, apesar do atraso com a troca da camisa suja de chocolate quente – e estava a fim de relaxar durante os próximos dias, uma vez que seu próximo compromisso seria dali a quatro dias.
Checou mais uma vez o relógio, bufando em seguida. "Onde estão as mulheres deste bendito hotel?", pensou inconformado. Estava parado perto dos elevadores há pelo menos quinze minutos. Olhou para o lado ao sentir um toque em seu braço direito.
- Por favor, poderia me informar que horas são?
Roy reconheceu o rosto que lhe pedia o favor, respondendo com um pequeno sorriso:
- Ah, sim... São 15:40.
- Obrigada. – bufou ao refletir a informação que acabara de receber – 15:40? Mas que merda! O tempo não passa aqui!
O homem ao seu lado arregalou os olhos. Sabia que aquele rosto angelical não o enganava.
- Muito educado, vindo da garota que derrubou chocolate quente em mim hoje de manhã.
Winry encarou-o, já que não tinha feito isso antes. Ele era alto. De manhã estava tão envergonhada que sequer olhou-o nos olhos, apesar de lembrar de longe os traços do homem. Belos traços, por sinal.
- Oh, é você! Como pude esquecer do seu rosto? Derrubar chocolate em você foi a coisa mais emocionante que me aconteceu desde que cheguei – respondeu irônica.
- Você me parece bem satisfeita... Viagem chata com os pais?
- Meus pais? Quem dera... Não, vim receber um prêmio. E você?
- Trabalho, como de costume... – suspirou – Mas, nossa, um prêmio e está com essa cara?
- É. Meu professor de literatura gosta das bobagens que escrevo. Inscreveu um conto meu num concurso entre algumas escolas e acabei ganhando. Agora falta a premiação e todo aquele blábláblá, sabe como é...
- Legal – colocou as mãos nos bolsos da calça jeans – Você parece ser inteligente, apesar de um pouco atrapalhada.
- Jura? Devo aceitar isso como um elogio?
- Claro! Por que não seria um?
- Vai ver me achou com cara de nerd, sei lá... – era impressão sua ou não estava prestando atenção no que dizia? Falando desse jeito com um estranho. Ela que era estranha, verdade. E já havia admitido isso, infelizmente.
Roy riu, balançando a cabeça. Não acreditava que estava ali, conversando com uma menina, enquanto poderia estar conhecendo uma bela mulher.
- Não, não... Se bem que com essas roupas... – apontou para o casaco marrom e suéter xadrez verde e vermelho que Winry usava, emprestados de Scar.
- Ah, isto aqui? – olhou para as próprias vestes, contorcendo a cara - Não são minhas, mas foi o que consegui encontrar. Não imaginei que estivesse tanto frio...
- Não? – pareceu espantado – De que mundo você veio, garota?
- L.A., senhor.
- Ah, está explicado... Compre algo, então.
- Há! – riu sarcástica – Tenho um cartão de crédito à minha disposição, mas não posso usá-lo. Só posso sair do hotel com um acompanhante maior de idade, ou uma autorização do meu responsável, que de responsável não tem nada. Saco.
Notou a expressão fechada de Winry e, sem jeito para esse tipo de coisa, falou procurando as palavras:
- Bom, eu... Tem um shopping aqui perto e... Se você quiser, posso te levar para... Ahn... Comprar roupas... Decentes.
A loira olhou-o desconfiado. Silêncio. O que estava acontecendo naquela cidade, afinal?
- O senhor é algum tipo de seqüestrador? Traficante de órgãos? Pedófilo?
- Pedófilo? Pareço ser tão mais velho que você assim?
- Hmm... – analisou-o. Roy era um homem bonito, de aparência saudável, olhos e cabelos bem escuros, quase negros. E uma baita cara de safado. – Não, velho você não é, mas nunca se sabe!
- Pode verificar na recepção. Roy Mustang. Vinte e nove anos. Executivo. E entediado.
- Hmm, tudo bem, então. Se eu morrer, é culpa do Sr. Scar. Vou buscar minha bolsa e já volto!
- Ok.
Observou a menina subir pelas escadas.
"Onde estou com a cabeça?", pensou indignado. Seu comportamento normal é trabalhar, falar o mínimo possível e procurar algumas mulheres para levar para a cama, e não fazer amizade com crianças, muito menos servir de motorista!
"Agora já foi...".
Merda.
Shopping de Londres – 7 de Janeiro de 2006, 17:30:59
Terminadas as compras, Winry e Roy caminhavam sem pressa pelo shopping. Ele a ajudava com algumas sacolas. Não eram muitas sacolas, até porque Winry não era nenhuma consumidora problemática.
- Até que você não demora tanto. As mulheres costumam demorar eternidades ao fazerem compras.
- Fala sério, né, acha que só você estava passando vergonha por causa daquele suéter xadrez ridículo? Troquei de roupa o mais rápido que pude.
O moreno riu, concordando com a cabeça. Até que a menina era divertida. Enquanto não apareciam lindas damas pelo hotel, poderia conversar com ela. E até que olhando melhor, se continuasse assim, ficaria um espetáculo quando crescesse!
- Então... Como é seu nome mesmo?
- Winry Rockbell.
- Ah, sim. Então, senhorita Rockbell, gostaria de tomar um chocolate quente antes de voltarmos?
- Achei que não quisesse associar a minha pessoa a xícaras de chocolate quente fumegantes.
- Promete ficar sentada, quietinha? – riu, olhando-a de lado.
A loira resolveu rir também e concordou com a cabeça. Logo acharam uma mesa próxima a um café, no piso térreo do shopping.
- E então, vai ficar até quando?
- Mais uns dez ou doze dias, infelizmente.
- Tudo isso só para receber um prêmio?
- É. O planejado era uma semana apenas, mas mal cheguei e já recebi a notícia de que a entrega foi adiada para daqui a nove dias. Tiveram problemas com a neve, ou com os microfones... Não sei direito.
- Entendo. Mas tem bastante coisa para se ver em Londres. Sempre venho para cá pela empresa.
- De onde você é?
- País de Gales.
- Uau! Nunca conheci ninguém do País de Gales. Aliás, é a primeira vez que venho à Europa. Parece ser bem legal quando se tem condições de aproveitar.
- Você veio com alguém, por um acaso? – queria certificar-se de que não estava levando para lá e para cá uma garotinha foragida de casa, com sua foto impressa nas caixas de leite de todo o território estadunidense. Não sabia de onde tirara essa idéia, mas sempre era bom prevenir.
- Ah, sim. O Sr. Scar... – disse sem muita importância, voltando os lábios à xícara.
Silêncio.
- É o professor substituto de Literatura do colégio - explicou-se um pouco depois - Eu não podia viajar sem um responsável e a minha avó não pode pegar avião... Problemas na coluna e tal... Aí ele veio comigo...
- Ah – Ufa! Ela não tinha fugido de casa! - Desculpe perguntar, mas e seus pais?
Winry apoiou a xícara na mesa, suspirando.
- Viajando. Como sempre. Publicitários importantes, sabe? Eles vêm nos visitar no Natal e no meu aniversário só.
Mais uma vez sem saber como escolher as palavras, Roy tentou consolá-la, fracassando.
- Deve ser difícil para você.
- Nem tanto, já acostumei... – deu os ombros e comeu a bolachinha que acompanhava o líquido cremoso.
Silêncio.
Ambos terminaram o conteúdo de suas respectivas bebidas. Winry também comeu um pedaço de torta, por conta de Roy, como ele dissera.
- Bom, melhor irmos indo, né? Seu professor pode ficar preocupado com a sua ausência – levantou-se, segurando as sacolas.
- Há! – riu irônica mais uma vez – Essa foi boa! Ele é o cara mais esquisito que já conheci. Acorda bem cedo, deve ser um dos primeiros a tomar café, depois vai para a piscina aquecida nadar durante uma hora, mais ou menos. Nadar! Com esse frio! Logo cedo! Aí ele volta, coloca um pijama do tempo da brilhantina e diz que vai meditar por mais algumas horas, até o almoço. Mas eu duvido que ele medite...
- Não quero contestar o caráter do seu professor, mas se gosta de meditar deveria ser monge, e não professor. Certo?
Winry sorriu, levantando uma sobrancelha. Ele era um cara engraçado, à sua maneira: sério e meio sem jeito com as palavras, mas não parecia ser ruim.
- É. Certo... – melhor não contestar. Homens gostam de idéias simplificadas demais.
Andaram em silêncio até o estacionamento, e quase não se falaram no carro. Winry observava a paisagem coberta de neve pelo vidro meio embaçado do luxuoso carro do homem que acabara de conhecer. Pensava em como passaria o resto de suas férias, deduzindo que o Sr. Mustang apenas lhe fizera um favor, mas não havia tornado-se amigo dela. Ele, por sua vez, pensava na loucura que estava fazendo com aquela tagarela menor de idade dentro de seu carro. Esperava chegar ao hotel e encontrar uma moça tão bonita quanto ela, mas com uns dez anos a mais; E solteira, de preferência.
Na recepção, despediram-se depois de receberem suas chaves:
- Foi uma ótima tarde, Sr. Mustang. Obrigada!
- Não precisa agradecer. Foi... Uma experiência diferente, mas... Eu gostei. Até logo, srta. Rockbell.
- Até. E, mais uma vez, desculpe pelo chocolate na camisa.
Alchemist Hotel, Cyber Café – 7 de Janeiro de 2006, 21:32:45
- Preciso de autorização de responsável para usar algum computador também, senhora? – perguntou Winry, impassível, à recepcionista do Cyber Café do hotel.
- Ah – sorriu sem graça com o jeito autoritário da garota – não, senhorita. Apenas deixe-me anotar o número do seu quarto.
Winry mostrou o chaveiro do quarto, com o 315 marcado em dourado na chapa de metal.
- Ok. O aparelho 12 está disponível, senhorita.
- Obrigada.
Acomodou-se na confortável cadeira giratória. Antes de se conectar à Internet, olhou por cima da divisória de seu computador. Na maioria, homens de terno digitando rapidamente, e alguns garotos mais novos jogando, ou coisa parecida. Tudo em silêncio. "Londres é muito séria, mesmo.", pensou. Logo depois, entrou no seu MSN, recebendo mensagens logo em seguida.
Rose: Oi, Winry! Como está aí em Londres?
Winry: Oi, Rose! Ah, nada muito interessante até agora... Fiz algumas compras, e mais nada. Está um frio danado aqui!
Rose: Faço idéia! Ficamos sabendo que a premiação foi adiada. Vai poder aproveitar mais suas férias!
Winry: Que férias, Rose? O Sr. Scar só falta fazer fotossíntese de tão parado que é, e eu sequer posso sair do hotel, por ser menor de idade.
Rose: Não brinca!
Winry: Juro! Está um saco, pra falar a verdade. Mas não fala isso pra minha avó. Ela vai ficar preocupada.
Rose: Relaxa. Mas... Você não disse que foi fazer compras?
Winry: Aham. Estava congelando com as roupas que trouxe.
Rose: Mas se você não pode sair do hotel... Não vai me dizer que foi às compras com o Sr. Scar? Haha, vai ser a piada do colégio!
Winry: Deixa de ser idiota, Rose! Fui com um cara que conheci.
Rose: ...
Winry: Rose?
Rose: Já conheceu um cara? Já está saindo com ele? Uau! E eu aqui achando que você ainda pensava no Ed!
Winry engoliu seco antes de responder, sentido suas mãos tremerem levemente.
Winry: Ai, não é nada disso, Rose! Ele tem já uns trinta anos. Foi comigo porque ficou com dó de me ver com um suéter xadrez ridículo do Sr. Scar...
Rose: Hmm... Entendi.
Winry: ...
Rose: ...
Pausa. Por que tinha que falar nele? Uma das poucas coisas boas de estar bem longe de casa naquele momento era não precisar lembrar dele. Merda!
Winry: NÃO PRECISAVA MENCIONAR O EDWARD NA CONVERSA!
Rose: Ah, desculpe, amiga. Saiu sem querer! Você parecia triste na última vez que nos vimos. Pensei que fosse por causa dele...
Winry: Tudo bem... Não se preocupe, eu não penso mais nele...
Vamos recuperar o controle!
Rose: Winry?!
Winry: Que foi? Não penso mesmo! É um egoísta idiota...
Rose: É lógico que é, é a definição de ex-namorado por excelência.
Winry: Chata...
Rose: Não fala assim!
Winry: Ah, lembrei! E você, com o Alphonse ainda?
Melhor mudar de assunto.
Rose: Aham! Ele é uma graça!
Winry: IGUALZINHO ao irmão...
Ironia sempre ajuda.
Rose: Esquece esse cara, Winry! Ele não serve pra você.
Winry: Pode deixar, estou me convencendo disso.
Rose: Mas mudando de assunto de novo, agora fiquei curiosa: esse cara do shopping... É bonitão?
Winry: Ah, é. Para a idade dele, é. Deve ter bastante dinheiro, pelo que parece. Deve ser inteligente também. E safado.
Rose: Safado?!
Winry: É. Ele tem cara de safado.
Rose: E você fica saindo com um cara de trinta anos, numa cidade desconhecida, sozinha, e ainda me diz que ele tem cara de safado?!
Winry: Qual é! Ele já deixou claro que me acha uma criança. Mal consegue conversar comigo. Sabe o típico solteirão? Tem jeito com as mulheres, mas não com "menininhas", como ele acha que eu sou.
Rose: Deve ser engraçado.
Winry: Na medida do possível.
Alchemist Hotel, Quarto 212 - 7 de Janeiro de 2006, 21:32:45
Confortável em suas cobertas, depois de um banho relaxante, Roy ligava seu lap top.
"Reuniões, procurar mulheres, sair com crianças... Estou atarefado".
Assim que se conectou, recebeu uma mensagem instantânea de quem já esperava.
Hughes: Opa! O que o garanhão está fazendo no hotel uma hora dessas?
Roy: Muito engraçado! Está frio demais e eu estou cansado por hoje.
Hughes: Sei... Cansado por quê? Já conheceu alguma bela jovem?
Roy riu, lembrando-se da figura de Winry.
Roy: Claro! Já até saímos!
Hughes: Esse é o Mustang que eu conheço! Mas já foi para a cama com ela, ou a moça é das difíceis?
Riu de novo. Um pouco de diversão.
Roy: Nenhum dos dois. Não dei em cima dela.
Hughes: Há! Você só pode estar brincando... É bonita?
Roy: Hmm... É. Loira, olhos azuis...
Hughes: Ah! E você vem me dizer que não vai dormir com ela? Só se for casada!
Roy: Não, Hughes... Ela deve ter uns quinze anos.
Podia sentir o queixo do amigo bater no teclado. Ah! Que cena!
Hughes: Você se aproximou de uma garota de 15 anos? MEU DEUS, onde estão os pais dessa criança?
Roy: Cara, não vou dormir com ela.
Hughes: Você disse que saíram!
Roy: Levei a menina pra fazer compras no shopping. Estava vestida terrivelmente e não podia sair sozinha do hotel.
Hughes: ...
Roy: Que foi?
Hughes: Isso é sério?
Roy: É claro que é, idiota.
Hughes: E desde quando você faz caridade, Mustang?
Roy: Não foi caridade. A menina é legal. Meio estabanada, é verdade... Mas bastante esperta pra idade dela. Derrubou chocolate quente em mim hoje de manhã, também.
Hughes: Não acredito no que leio! Não parece você, Roy!
Ele sabia disso.
Roy: Pois é, até eu estou me estranhando. Mas deu pra me distrair... O movimento aqui tá baixo...
Hughes: Ih! Muitas casadas?
Roy: Casadas, senhoras, algumas executivas feias... Está difícil.
Hughes: Haha, o jeito vai ser cuidar da menina pra passar o tempo, não?! Vai virar babá, Mustang!
Roy: Vai cagar.
