Rizzoli & Isles, infelizmente, não me pertence. Se fosse meu, seria canon, bitch!

Direitos reservados a TNT, Tess Gerritsen e blá, blá, blá.


Chapter One

O sopro do vento acariciando o tecido fino das cortinas; O som da chuva marcando o encontro das gotas com o telhado. O quase imperceptível balançar da porta; Os risos e vozes distantes pela rua a fora. A escuridão do quarto; Dois orbes cristalinos, esverdeados, em contraste.

Passos ritmados, vagarosos, aproximaram-se sem pedir permissão. Os dedos tremeram. Os lábios secaram. Os olhos fecharam numa súplica: Não quero viver mais.

O som único que agora cobria seus ouvidos eram sussurros e a respiração pesada, rápida, fervorosa. Quente, embriagada. Inconstante.

O estalar da palma pesada contra seu rosto. A sensação do líquido quente escorrer por seu nariz; O gosto distinto do seu sangue.

O suor pingando em sua testa, escorrendo pela sobrancelha e se perdendo pelo lado de seu rosto. O hálito pesado contra sua boca revirando seu vazio estômago. A dormência entre suas pernas e o cansaço abraçaram-lhe, levando-a ao sono.

"Maura? Querida?" – A voz de Constance quebrou os pensamentos da jovem, que rapidamente enquadrou os ombros, ajeitando-se numa postura que lhe havia sido ensinada poucos anos atrás. Encarando a mulher mais velha nos olhos, Maura acenou levemente a cabeça, pedindo silenciosamente para que sua mãe prosseguisse. – "Você quase não tocou na comida, meu bem." – O tom sempre blasé, educado e distante presente não só na voz, mas nos gestos da mulher, soou aos ouvidos de Maura como um pequeno aviso e lembrete de que elas tinham visitas naquele momento.

Com um pequeno balançar de cabeça, as maneiras e a boa educação que Maura recebera dirigiram automaticamente seus movimentos dali em diante.

Mais tarde, já em seu quarto e com a palma contra o vidro da janela, Maura fechou os olhos e concentrou-se no som da chuva. O nó na garganta ardia, queimava, doía.

A própria história corria por sua mente em tempos como esse: Vazios. Silenciosos. Solitários.

"Mauraaaaaaa!" – A voz estridente da menina de 10 anos e cabelos negros, lisos. – "Maura, Maura, Maura!" – O tom de zombaria misturando-se com o som dos risos das outras crianças. – "O que foi? Não consegue... Falar?" – O sorriso exibicionista triunfava no rosto de Michelle, causando mais risos ao redor. – "Se você, alguma vez, ousar – ou melhor –, conseguir abrir a boca pra contar a alguém, eu digo pra todo mundo que você molhou o colchão." - A gargalhada soou alta enquanto a garota aproximava-se cada vez mais de Maura. – "Como sempre."

As lágrimas que molhavam os olhos da pequena garotinha de cachos dourados escorreram pelo rosto ruborizado. Elevando os braços, envolveu seu próprio corpo curvado, numa tentativa automática de se proteger, involuntariamente.

"Agora, porque você não desce pra brincar com aqueles seus animais nojentos do rio, hum?! Anda! Sai daqui!" – Michelle ordenou, empurrando Maura para fora do quarto. – "Maaaaaaura! Mijooooooona! Tia Alice vai adorar saber que você, mais uma vez, molhou tudo." – A gargalhada outra vez se fez ouvir antes que a porta fosse batida com força, deixando-a do lado de fora.

A lembrança do dia em que disseram que um casal – os Miller – queria adotá-la ocorreu-lhe. A sensação do alívio naquela época foi quase palpável. Ficaria livre de Michelle, finalmente.

A pressão em seu corpo cresceu com as recordações que sucederam e, após longas respirações profundas, Maura desviou a atenção para quando fora adotada pela segunda vez, definitivamente, pelos Isles que, não podendo ter um bebê – precisando de mais atenção do que poderiam disponibilizar -, encontraram na garota, tímida e inexplicavelmente muda, a melhor opção.

Deslizando a ponta dos dedos no vidro transparente, o suspiro escapou de seus lábios assim que se distanciou de onde estava. Sentindo-se mais consistente, dirigiu-se a uma das estantes e, com o lábio inferior entre os dentes, acarinhou a capa de alguns livros na seção de medicina antes de decidir-se por um mais recente. A folga acabaria em menos de uma semana e a excitação por começar o estágio a fazia buscar conforto no conhecimento. Afastando o resquício de mal estar, sentiu a ansiedade desenhar um pequeno, mas sincero, sorriso no canto dos lábios. O nervosismo sempre presente, alertando-a que seria extremamente complicado conseguir ser o que sempre desejou: uma legista. Falar com quem, assim como ela, já não tinha mais voz. Desviando os olhos, encarou as próprias mãos num momento de pequena agonia. O estágio seria mais tranquilo, afinal, não haveria muito contato com as pessoas – apenas com a Drª Baker, que sabia a língua dos sinais. Mas o pensamento constante de traçar o futuro após a conclusão da universidade causava-lhe preocupações.

Abrindo a boca vagarosamente, fechou os olhos com força e tentou falar, gritar. Mais uma vez, e outra e outra. Mas a garganta doía e os flashes de seu passado caçavam-na. O único ruído que escutava era de sua respiração pesada. Dessa vez não houve lágrimas nos olhos, pelo costume da desistência, do cansaço e da decepção consigo mesma. Seus pais apontavam-na, mostrando-a para os amigos, exaltando-a pela mente brilhante, por suas notas excelentes e grandes pilhas de livros que já havia lido, mas para Maura a incapacidade de vencer as barreiras que sua mente impôs, dava-lhe a sensação de impotência e estupidez. De insuficiência.

A suave batida na porta a despertou mais uma vez, quebrando o mundo paralelo que havia criado momentaneamente. Enquadrando os ombros, fechou o livro para que mal havia dado a devida atenção e passou as mãos pelo tecido do vestido, ajeitando-o contra suas coxas.

"Maura, querida." – A voz de Constance soou assim que a mulher entrou no quarto. Um pequeno sorriso foi trocado entre ambas e Maura levantou-se, educadamente, na expectativa de saber o motivo da presença de sua... Mãe. – "Gostaria de tê-la avisado antecipadamente, mas amanhã estarei indo a Roma." – A pausa proposital feita pela mulher mais velha deu a oportunidade para Maura poder acenar levemente a cabeça, em acordo. – "Boa sorte com o estágio amanhã, Maura. Lembre-se que, apesar de qualquer dificuldade, você tem seu conhecimento. Ele é seu caminho para onde quer que você queira chegar".

Sem perceber que prendia a respiração todo o tempo, Maura mordeu o lábio inferior absorvendo as palavras proferidas por Constante – talvez as mais carinhosas que já ouvira –, e antes que pudesse pensar em como reagir, o som da porta sendo fechada ecoou no quarto.

Obrigada, Const-... Mãe. Obrigada por... Por... Ter me tirado do sistema. Por ter me apresentado a leitura, os livros, o mundo que eu conheço. Obrigada por ter me dado um lugar onde eu possa dormir. Pela educação, pelo... Pela vida que hoje tenho e por tudo que, por isso, posso ter.

Sentindo o lábio tremer e o rosto queimar pela súbita emoção, decidiu tomar banho, desistir da leitura e ir descansar. Amanhã seria outro capítulo.


"Eu acredito que as memórias dela sejam seu pior inimigo."

"Então criarei novas. Boas. Melhores. E ela poderá substituir as passadas."

Encolhendo os ombros, a senhora deu-lhe as costas.

"Você é bom o bastante?" – A velha perguntou, erguendo a mão trêmula enquanto seu corpo sumia pelo horizonte.

E a tela parou.

"Ow! Tommy!" – Rizzoli protestou ao ver o irmão menor com o controle na mão, correndo pela casa. – "Seu filho da p-"

"Jane Clementine Rizzoli! Não ouse terminar essa frase!" – A voz firme de Angela a acompanhou assim que entrou na sala, fazendo Tommy parar de correr e esconder as mãos, com o controle, atrás de si. Jane cruzou os braços no peito e levantou-se.

"Ele come-"

"Eu não quero saber quem começou. Você é a mais velha e deveria dar exemplo pros seus irmãos." – O rosto duro da mulher suavizou assim que ela tocou o queixo de sua filha. – "Porque você tem que ser tão dura, Janie?"

"Ow, Ma, nop..." – Jane se afastou, dando pequenos passos para trás. – "Olha, eu... Ele pegou o controle e pausou o filme. Eu só queria –"

"Porque vocês dois não podem ser como Frankie? Educados e quietos e não bagunceiros!" – Angela balançou a cabeça e caminhou até a cozinha. – "Tommy, eu sei que você tá escondendo o controle aí atrás. Devolva pra sua irmã."

Jane, com um sorriso satisfeito no rosto, estendeu a mão na direção do garoto irritado e esperou até que o controle da televisão fosse devolvido.

"Idiota." – Tommy murmurou por entre os dentes.

"Tampinha." – Jane retrucou ainda sorrindo enquanto dava play.

"Maaaa!" – Tommy chamou. – "Olha a Jane falando nomes feeeeios pra mim!"

"Caralh-... Cete, Tommy!" – a morena retrucou num tom grosso.

Antes que Angela pudesse interferir, batidas na porta amenizaram o ambiente. A senhora abriu a porta e, após um amplo e acolhedor sorriso, puxou o rapaz para dentro, abraçando-o.

"Barold!" – A matriarca beijou a testa e olhou animada para Jane. – "Jaaaanie! Seu amigo está aqui!" – Avisou num tom mais alto. – "Oh, Barry, quer algo pra comer? Talvez um pequeno lanche?" – Ofereceu calorosamente.

"Geez, Ma! Frost tem mais de vinte anos, pelo amor de deus! Solta o cara!" – Jane reclamou, recebendo um olhar firme de Angela.

"Oh, Janie! Ele não se importa, não é Barold?" – Disse ao passar a mão pelo rosto do jovem.

"Yeah, tudo bem, Jane. Obrigado, Angela, mas eu tô bem." – Frost respondeu, finalmente. – "Ei, Jay. Pensei em sairmos pra conversar sobre... Aquela coisa."

"Uh?" – Jane pausou e rapidamente levantou as sobrancelhas. – "Ah! Aqueeeela coisa. Claro!" – Pegando a jaqueta e as chaves, acenou pra Angela. – "Vou dar uma volta com Frost, Ma."

"Não volte muito tarde, Janie!" – Berrou quando a porta foi fechada rapidamente.

Revirando os olhos após ouvir Angela, Jane pôde rir sentindo-se mais a vontade. Colocando a jaqueta, tocou o braço de Frost com o cotovelo.

"Aw, Barold! Baroooold! Quer comer, Barold? Quer sentar, Barold? Quer beber algo, Barold?" – Imitou Angela, provocando o amigo.

"Cala essa boca, Jay!" – Frost riu, acompanhando a risada de Jane.

"Você poderia dizer a ela, sabe?"

"Não me importo... Janie." – Riram. – "Talvez ela... Não. Ela é a única pessoa que consegue deixar meu nome mais... Normal?" – Deu de ombros e colocou as mãos nos bolsos.

"Então... Aquela coisa, uh?" – Jane perguntou cautelosamente, num tom mais sério.

Frost desviou os olhos e respirou fundo, claramente inquieto. Notando, Jane deu-lhe o tempo necessário. Não havia pressa, afinal.

Caminharam em silêncio até um parque pouco movimentado. Sentaram-se no banco mais próximo e relaxaram por alguns minutos.

"Sabe, Jane... Eu tinha esse plano de terminar a academia, fazer parte do departamento e trabalhar duro pra ser um detetive. Somos policiais agora, certo? Estamos começando. Eu não tenho..." – Frost pausou, perdido. Balançou a cabeça negativamente e apertou uma mão na outra ao encarar a grama sob os pés. – "Eu não sei, Jay. Eu não acho que tenho e sou o suficiente para ser pai. E, você sabe, Julie é uma boa pessoa, mas... Cara, eu não tô preparado pra isso. Pra casar e toda essa merda. Talvez... Talvez eu quisesse isso depois. Talvez, mais velho. Depois de ser um detetive. Depois de... Eu sei lá, Jay. Tá tudo muito foda ultimamente." – Desabafou e, sentindo-se menos pesado – ao menos momentaneamente -, apoiou a cabeça no banco, sem entrar em contato visual com Jane.

"Eu... Só posso imaginar, Frost. Eu realmente gostaria de poder fazer alguma coisa, sabe? Ou... Desfazer?" – Encolheu os ombros e pressionou os lábios um no outro. – "Você pode contar comigo, sabe? Pra qualquer tipo de ajuda, Barry." – Suspirando pesadamente, Rizzoli repetiu o mesmo gesto de Frost e descansou a cabeça no banco, encarando o céu por algum tempo. – "Você não precisa, uh... Casar com Julie. A menos que realmente goste dela e cara, pra ser sincera, eu já te vi mais apaixonado por outras garotas."

Um riso frouxo escapou dos dois e Frost suspirou alto.

"Eu acho que não estaria tão... Hum... Desse jeito se tivesse sido com Anna." – Riu e encarou Jane. – "Lembra dela?"

"Magra, ruiva, olhos azuis...?"

"Yeah."

"Teria casado com ela?"

"Eu... Eu não sei. Eu acho que é mais fácil imaginar como seria do que realmente estar na situação, entende?" – Jane acenou com a cabeça. – "Eu só queria que as coisas pudessem ser como estavam antes."

"Tá pensando em desistir?"

"De ser policial? Não. Digo... Não sei. Talvez de ser um detetive de homicídios."

O tom melancólico não passou despercebido por Jane, que mais uma vez apenas baixou os ombros e preferiu ficar em silêncio. Não havia muito o que fazer, afinal.

"Assistiu o jogo do San Francisco e Seattle?" – Frost quebrou o gelo.

"Yeaaah! Que virada fantástica dos Seahawks!" – Jane respondeu rapidamente. – "Cara, eu assistiria mil vezes aquela partida sem cansar."

"Sério? Mesmo não sendo do Red Sox?"

"Yeah." – Deu de ombros. – "Foi uma boa partida."

"Uhum."

"Então..." – Era a vez de Jane tentar algum assunto. – "Vai estar de sobreaviso amanhã?" – Perguntou.

"Patrulha. Você?"

"Nah, tô ajudando o Det. Korsak naquele caso d'O Butcher. Checando endereços, testemunhas... Essas coisas."

"Ah. Certo! Claro. A quantas anda a investigação?"

Jane balançou a cabeça e cruzou os braços.

"Parada. Todas as pistas estão sendo vistas e revistas." – Balançou a cabeça e soltou um "tsk". – "Ele é bom, Frost. O Butcher, eu digo. Se as coisas ficarem muito tempo desse jeito, vão acabar indo pro departamento de Cold Cases."

"A não ser que ele continue matando."

"Yeah." – Concordou desanimada.