*"Kintsugi" ou "Kintsukuroi" é uma antiga arte japonesa de reparar cerâmicas quebradas com ouro, além do entendimento de que aquela peça é mais bela por ter sido quebrada, além de se tornar mais resistente.

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Havia uma caixa embrulhada, num papel branco cheio de tomates desenhados a mão e um belo laço vermelho atando-o, sobre a mesa de sua sala de estar.

Um pequeno bilhete estava sob o embrulho, ele o pegou abrindo-o.

"Olá Sasuke-kun, eu gostaria de agradecer pela porcelana que me deu, após ter quebrado a antiga. Você sabia que era a minha favorita, por ter sido um presente da minha mãe, e eu tenho algo para você em troca, espero que guarde com carinho

Haruno Sakura".

Ele desembrulhou com extrema cautela, abriu a caixa encontrando a porcelana que havia quebrado, era uma tigela pálida, adornada de pequenas cerejeiras desabrochadas. Grandes fendas douradas cruzaram linhas tortuosas na cerâmica, ele arqueou as sobrancelhas, encarando aquele presente com fascínio.

-Ouro? – Perguntou-se, analisando o brilho dourado que colava as partes quebradas.

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Alguns dias antes...

Houve um tempo em que seu coração palpitou com veemência, acreditando num futuro utópico onde seu clã retornaria com glória.

Mas não havia mais espaço para glória.

Apenas frangalhos de uma existência, que definhava.

Ele estava num estado letárgico, sendo consumido aos poucos pela escuridão de seu coração.

Desacreditado.

Solitário.

Amargo.

Enquanto o mundo ao seu redor evoluía e se reerguia, sorrisos e esperança preenchiam novamente a paisagem obstruída pela guerra.

O tempo parara para Uchiha Sasuke.

Estava tudo cinza e sem gosto.

Entrou em seu apartamento, retirando as sandálias e calçando chinelos, passou pela cozinha e murmurou para si mesmo: "Cheguei".

Deitou-se ao som do silêncio.

E tentou descansar, mas o dispositivo metálico em seu pescoço o incomodava, podia senti-lo atraindo todo o chackra de seu corpo, acumulando-o naquele ponto. Depois de um tempo pensando em como aquilo funcionava, adormeceu.

Mas não sonhou novamente.

Sem pesadelos, ou sonhos doces.

Apenas fechava os olhos e deixava as longas horas passarem.

As quatro seus olhos se abriam, encarava o teto e bocejava.

Levantava alguns minutos depois e caminhava preguiçosamente até o banheiro, em seguida tomava um café preto amargo e rumava para o campo de treinamento, onde normalmente treinava com Naruto.

Os raios solares iluminavam aos poucos a escuridão que outrora ocupava o céu, Sasuke estava recostado no tronco de uma árvore, sentindo a brisa gélida lhe acariciando a face, deixando rastros avermelhados de frio em suas bochechas.

Respirou fundo, encarando toda a vastidão do campo, lembrando-se da época em que treinava com o time sete. Quando o dispositivo começou a formigar e coçar, ele tocou o metal com hesitação, recordando-se do que a Hokage havia lhe explicado sobre como a coleira funcionava, caso alguém não autorizado tentasse retira-la; Uma descarga elétrica faria com que todo o seu sistema nervoso contraísse até que não pudesse mais se mover, e um sinal de alerta seria transmitido para os ANBUS que o levariam imediatamente para a prisão.

Se não fosse o barulho da gritaria que Naruto fazia sempre que o encontrava, Sasuke não teria percebido a sua aproximação. Até mesmo a sua percepção de chackras alheios havia sido afetado.

Estalou a língua, saltando do tronco.

Era inútil ao ponto de não poder mais rastrear ninguém.

Naruto aproximou-se sorrindo amplamente, trazia consigo uma mochila preta recheada de algo, que por algum motivo Sasuke não gostou.

-Bom dia teme.

Sasuke encarou a mochila, tendo um mal pressagio.

-Ah isso? –Naruto ergueu a mochila, que tilintou. –Um presente pra você.

-Presente?

-Eu sei. Você está pensando 'uou, como o Naruto-sama é incrível, deveriam esculpir logo a cabeça dele na montanha dos Hokages, dar o título a ele e depois uma incrível esposa... '

-Não me traga problemas, bastardo. –Sasuke grunhiu. –Eu já tenho que aturar essa coleira, não quero que aumentem o meu tempo com essa coisa estúpida.

-Ah, é assim que você me agradece? –Naruto fingiu-se de ofendido. – Larga de ser uma marica, são apenas shurikens e kunais. Sabe, achei que você ainda tivesse aquela merda de orgulho, e porra, você é um maldito Uchiha 'tthebayo, não devia ficar ai, sendo feito de cachorro com essa merda no seu pescoço, Achei que você fosse bater o pé, mandar um chidori, mas não, você só se permitiu.

-Idiota, eu sou um prisioneiro.

-É, mas...

-Ou isso ou a prisão.

Naruto ficou calado por um tempo, olhou para a figura que antes era Uchiha Sasuke e deparou-se com algo estranho.

-Você mudou muito.

-E você continua um gennin, com a mentalidade de alguém que nem deveria virar ninja.

Uma kunai voou na direção da cabeça de Sasuke, ele a pegou no ar, fitando Naruto com uma carranca.

-Então vamos brincar de tiro ao alvo.

Sasuke o olhou com tédio, provavelmente Naruto só lhe traria problemas.

O sangue gotejava de onde a kunai havia cravado, Sasuke olhou para as suas mãos sujas de carmim e em seguida para Naruto.

A boca de Naruto formou um grande 'o'.

-EU VOU CHAMAR A SAKURA-CHAN!

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A sensação de dormência o arrebatara de uma forma assustadora, seu corpo pesava toneladas. A vertigem lhe atacava com mais ferocidade á medida em que tentava abrir os olhos, fazendo tudo girar descontroladamente.

-Está tudo bem. –Ele ouviu uma voz feminina, uma figura rósea curvava-se em sua direção. –É o efeito da anestesia, não precisa se preocupar.

-Sa...Ku...Ra. –Foi a última coisa que murmurou, antes de ceder ao sono novamente.

Despertou com uma voz conhecida, sussurrando algo em seu ouvido, eram palavras soltas que não faziam sentido.

Conseguiu sentir seus dedos, mandou-os se moverem e eles obedeceram, a sensação de peso havia sido substituída por dor e incômodo. Abriu aos poucos os olhos, que foram se acostumando com a luz artificial da lâmpada que brilhava sobre a sua cabeça.

-Me perdoe. –Captou as palavras e tentou virar-se para ver quem era. Lábios carnudos moviam-se lentamente em sua direção e grandes olhos azuis o encaravam. Se pudesse teria o socado.

-Sai de perto. –Sua voz era quase um sussurro, mas a raiva o fez conseguir falar.

-Acabou de acordar e já 'ta' irritadinho, 'ttebayo?

Sasuke bufou o que resultou numa agulhada de tortura em sua barriga, ele franziu o nariz reprimindo um grunhido de dor.

-Pare de incomodá-lo, Naruto. –Sakura aproximou-se da cama. –Você passou por uma cirurgia emergencial Sasuke-kun, é melhor você fazer o mínimo de movimento possível.

-Cirurgia?

-Ah, você não se lembra teme?

Sasuke encarou Naruto que havia se sentado numa cadeira.

-Eu meio que te acertei com uma kunai que meio que não era pra estar lá, saca? -Ele falou fazendo beicinho, encarando o chão.

-Meio que não devia? –Sakura pôs as mãos na cintura, raiva borbulhando de seu ser. –Você quase colocou o Sasuke-kun numa baita encrenca, seu abestado.

-Eu só queria fazê-lo parar de parecer um defunto, não era pra machucar tanto, afinal, eu nem sei como eu consegui atingi-lo.

-Bem, - Ela falou, sentando-se na beirada da cama, captando a atenção do Uchiha. – Eu vou te explicar o que ocorreu, a kunai atingiu o seu baço, eu tive que retirá-lo e te dar muitos pontos, o processo pra você se recuperar é bem chato e cheio de cuidados.

Sakura estava cansada, e isso era visível nas grandes bolsas escuras abaixo de seus olhos, e olhando mais de perto se via que estava mais magra e pálida do que se lembrava.

Fazia um bom tempo que não a via, já que a Haruno vivia dentro do hospital. Vez ou outra Naruto comentava sobre a kunoichi, reclamava do quanto ela trabalhava e coisas do tipo, o que normalmente ele não ouvia até o fim.

-Bom, eu preciso checar outros pacientes, preciso ir. –Sakura se levantou, dando um grande bocejo. –Se precisar de algo, apenas aperte aquele botão. –Sakura apontou pra um controle branco pendurado ao lado de sua cama.

-Achei que você fosse ir pra casa, Sakura-chan, já não deu a hora de você ir dormir?

-N-Não. –Ela gaguejou. –Eu preciso ir.

A porta se fechou, deixando Naruto e Sasuke sozinhos.

-Eu fico preocupado, desde que os pais dela faleceram, ela não sai daqui.

-Os pais dela morreram? –Sasuke perguntou surpreso, algo em seu peito pesou.

-Sim, eu já tinha te contado isso. –As sobrancelhas do loiro arquearam-se. –Eles morreram em combate, a Sakura só ficou sabendo após a queda do Madara.

Sasuke desviou o olhar e encarou o teto.

-Ela é órfã agora.

-... Assim como nós.

Oi, Oi gente :D Bem, os capítulos dessa fanfic são bem curtinhos, espero que gostem :3