Disclaimer: Nenhuma personagem, lugar ou qualquer outra coisa do mundo da JK me pertence.

Contradições

Prólogo

Durante a minha infância, habituei-me a ouvir a opinião dos meus pais sobre os outros feiticeiros, sem, realmente, prestar grande atenção. Quantas vezes anuí, quando a minha mãe se queixava que Ginevra Potter deveria ser presa por ousar sair à rua com aquelas roupas demasiado garridas? Ou que Luna Lovegood era louca por não adoptar o apelido do marido? Já para não falar dos muitos discursos sobre o quão convencidos eram o Potter, o Weasley e a Granger, quando o meu pai estudava em Hogwarts.

Atribuía as queixas da minha mãe a simples caprichos, movidos pela sua habitual prática de criticar os outros. E, até há bem pouco tempo, pensei que o meu pai era movido pelo ódio e, embora me custe admiti-lo, pela inveja. Só agora comecei a perceber que estava errado. Não era o ódio que o movia; simplesmente, existem pessoas que nos obrigam a agir de um determinado modo.

No caso do meu pai, essas pessoas eram aqueles três Gryffindor. Para mim, só existe um demónio: Rose Weasley.

O meu pai costumava dizer que a Granger (recusa-se a tratá-la pelo novo apelido) era uma sabichona insuportável que saltava na cadeira de cada vez que os professores faziam uma questão, esticando a mão ao máximo, como se quisesse tocar o tecto.

Vejo que a Weasley saiu à mãe. É impressionante a forma como a sua mão se ergue no ar, às vezes antes de os professores acabarem de formular uma pergunta. Acho que está a tentar bater algum recorde pessoal, do género consigo responder a mais perguntas do que todos os outros. Para mim, ela não passa de uma exibicionista.

Durante alguns anos, não me preocupei com esse assunto. Sempre fui o melhor aluno da minha equipa, para orgulho dos meus pais. A minha mãe, que nunca fora inteligente, foi suficientemente esperta par arranjar um bom casamento… e o meu pai, embora perspicaz, nunca se dedicou muito aos estudos. Por isso, o facto de eu costumar ser o melhor era tão importante.

Tudo isso acabou, assim que passei a ter aulas juntamente com a Weasley. Até então, apenas tivera aulas conjuntas com os Hufflepuff, o que não representava qualquer desafio. No entanto, a partir do momento em que tive o azar de escolher exactamente as mesmas disciplinas que ela, nunca mais tive sossego.

Nem eu nem ela estávamos habituados a competir; sempre fôramos os melhores, sem qualquer oposição. Agora que somos obrigados a permanecer na mesma sala de aula, concorremos para ver quem consegue responder mais rapidamente, com o máximo de correcção possível. O meu cotovelo passou a estar permanentemente apoiado na mesa, pronto a impulsionar o meu braço, assim que uma nova questão fosse lançada. E, mesmo assim, ainda não fui capaz de o fazer mais depressa do que ela.

Dou por mim a espiá-la pelo canto do olho, de cada vez que os professores fazem uma questão. No entanto, de cada vez que o faço, a sua mão já está erguida, embora o seu braço não esteja tão esticado como o meu.

Isto não quer dizer que eu nunca responda. Os professores mostram-se irritantemente imparciais, dando as mesmas hipóteses a todos os alunos. Se, por acaso, algum aluno menos participativo decidir tentar a sua sorte, ignoram-nos, a mim e à Weasley, e dão-lhe uma oportunidade. Só lamento que o façam com quem não merece.

A maior parte dos professores adoptou o mesmo esquema: alternar entre mim e a Weasley, quando se trata de responder. Poucos são os que esperam alguns momentos, esperando que mais alguém se decida a imitar-nos, contudo, tal situação é tão rara que acabarão por desistir.

Zabini não consegue perceber o porquê do meu aborrecimento. Relembra-me, constantemente, que eu participo em todas as aulas várias vezes. Então, porque é que continuo insatisfeito?

– Ela continua a ser a primeira! Se prestares atenção, vais compreender que eu só respondo, porque os professores não querem que ela monopolize as aulas deles! – respondo, num tom baixo, irritadiço.

Ele limita-se a rolar os olhos nas órbitas, impaciente. Não esperava outra coisa dele; segundo o meu pai, Blaise Zabini também era assim, pouco dado a estes assuntos.

O pior de tudo é quando eu não sei a resposta. Nessas alturas, a sala fica mergulhado num silêncio pesado, apenas quebrado pelo roçar de um manto no momento em que ela levanta o braço, perfeitamente consciente de que é a única que sabe o que dizer. E, então, os olhos dos professores brilham de curiosidade; brilho esse que, lentamente, vai dando lugar à satisfação, à medida que a Weasley fala.

Tento esconder o meu aborrecimento. Sei que sou bem sucedido nesse aspecto. Uma das vantagens em ser um Malfoy é o facto de sabermos fingir como ninguém. Seria capaz de enganar qualquer pessoa, em qualquer situação. Até mesmo ela, embora nunca tenha tentado.

Como se o facto de relegar-me para segundo plano não fosse suficiente, ela ainda consegue não mostrar o seu triunfo. Costuma sorrir quando se debate com uma questão particularmente difícil, como se isso lhe desse prazer. Estou certo de que não sorri pelo facto de os outros não serem como ela, no entanto, ainda não percebi qual o verdadeiro motivo por trás daquele gesto.

De repente, os meus pensamentos passaram a girar em torno da minha competição com a Weasley. Já não me empenho para aprender por gosto ou dedicação; ao invés, esforço-me por tentar saber mais do que ela.

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Nota da Autora: Bem, aqui está o prólogo da minha primeira angst. Betagem por Elyon (obrigada ).

Beijos. E não se esqueçam... review! Ou não posto o proximo capítulo. :P