Autor: Miss Krum
Título: Os Teus Olhos
Ship: Tom Riddle Jr/Ginevra Weasley
Género: Drama/General
Spoilers: 2
Classificação: K
Sinopse: Sempre me disseram que a verdadeira beleza estava escondida num olhar.


Os Teus Olhos
por misskrum

Sempre me disseram que a verdadeira beleza estava escondida num olhar.

De que cor são os teus olhos Tom?

Fiquei irrequieta enquanto esperava a resposta dele, que demorou a aparecer. Fiquei aflita e perguntei-me se não teria sido indiscreta ou inconveniente, embora nunca me tivesse sentido assim com o Tom. Falar com ele era como estar cercada de céu azul, tranquilidade feliz da minha vida, antítese quase perfeita de vermelho. As primeiras palavras da sua curta resposta começaram a aparecer, na sua caligrafia perfeita.

Porquê essa pergunta Ginny?

Porquê? É verdade que nunca lhe tinha perguntado nada sobre ele, embora sempre me fascinasse imaginá-lo. Umas vezes alto, loiro com olhos verdes, outras vezes baixo, com cabelos muito pretos... E olhos verdes. Apesar disso ele era sempre incomparavelmente belo, incomparavelmente amigo. E estava incomparavelmente perto de mim, como nunca ninguém tinha estado. Apesar de tudo os seus olhos eram a parte para a qual as minhas atenções estavam viradas. Tinha um medo irracional da resposta dele, que deitasse por terra todas as minhas esperanças que os seus olhos fossem tal e qual como tinha imaginado. Verdes, brilhantes, bons, com toda a beleza à qual Tom já me tinha acostumado.

Ó Tom, vá lá. É só uma pergunta.

Quase que o sentia sorrir através das páginas amareladas do diário. E com tudo isso cada cor me parecia mais forte. E eu pensava conseguir ver o vermelho do meu rosto no diário, e a minha roupa preta parecia mais preta e parecia que eu caia fundo, e cada vez mais fundo até não respirar, presa naquela cor. E estar lá era estar perto do Tom, e eu pensava ser capaz de chegar ao céu, de tão perto da beleza pura que estava. Despertei repentinamente ao me rever no preto das suas palavras.

De que cor achas que são?

Tentei racionalizar rapidamente. Tinha vergonha de lhe dizer que os olhos mais puros e belos eram os verdes, ele iria ligar isso ao Harry. Eu já lhe contei tudo sobre o Harry. Sobretudo, temia que ele me dissesse que não. Como iria eu imaginar o Tom senão como o rapaz com os olhos belos? O Harry tinha os olhos mais bonitos que eu já tinha visto, mas eu punha o Tom lá perto. Nunca tão bonitos como os do Harry, mas pelo menos tão bondosos como. Decidi ir pelo contrario.

Não sei. Só acho que não são cinzentos.

Cinzentos? Porque não?

Cinzento é cor de gelo. Cinzento traz o frio, a escuridão, a solidão. Quem tiver olhos dessa cor não pode ser uma pessoa boa. Deve ver tudo frio e a preto e branco, aprisionado nos confins de alguma coisa que podia ter sido, mas que nunca será. Como pode uma pessoa assim apreciar a beleza ao seu redor? Como pode uma pessoa que vive naquela mistura particular de preto e branco se apaixonar pelo vermelho, viajar no azul e festejar no amarelo? E como dizer isto a alguém sem parecer uma criança a falar?

Acho que são olhos vazios Tom. Não te considero assim. Tu consegues perceber alguma coisa bela quando a vês, eu tenho a certeza.

Mordi o lábio quando esperava, mais uma vez ansiosa, pela resposta dele.

O que consideras belo Ginny?

Abri os olhos de espanto com aquela pergunta. Era diferente de tudo o que ja me tinha perguntado antes, era diferente de tudo o que já tínhamos conversado antes. Curiosamente, era mais relaxante que falar de Harry.

Respirei fundo e ganhei coragem antes de começar a rabiscar.

A beleza é a coisa mais complexa de tão simples que eu já tive a oportunidade de sentir. É complexa, porque não é igual para duas pessoas, torna cada indivíduo único, e não menos real do que alguém que não concorda com ele. É simples, porque é natural como respirar. É como acordar de manhã e ver o verde brilhante dos campos, ou sentir o salgado cheiro do mar. É aquele abraço apertado, aquele bater rápido do coração, o vermelho das bochechas, o amarelo desde diário, o preto desta tinta. A beleza está em todo o lado, e tudo é belo Tom, desde que saibas sentir. Os meus olhos castanhos sentem por mim, e neles está toda a felicidade do mundo. Toda a beleza que eu alguma vez possa sentir.

Voltei a corar com o que tinha escrito. E se ele me achasse parva?

O Harry é belo?

Sorri e tentei não responder logo com o sim que queria sair. O Harry era sim belo, e era um herói. Quem não veria a beleza do menino-que-sobreviveu? Quem era capaz de lhe negar o preto dos cabelos, o verde dos olhos, o branco da pele? Quem?

Sim.

Não me tinha esquecido do início na nossa conversa, os olhos do Tom. Como se ele tivesse lido a minha mente, e eu sempre me perguntei se ele o faria porque sabia sempre que tentava mentir, ele respondeu.

Olhos, coisa engraçada. Sempre defendi que olhos nos definem. E adorei a tua teoria de os aliar à beleza. É verdade que sem eles nada faz sentido, se não vermos, como podemos saber o que é belo?

Não, Tom. Alguém que não vê pode apreciar a beleza, mas de outra maneira. Nem todo o mundo é cor, assim como nem todo o mundo são cheiros ou gostos. Podemos sentir com os olhos, assim como podemos ver as cores com as mãos. É tudo tão relativo... Por isso é que a beleza é abstracta. Por mais que nós nos mantivermos colados à beleza que vemos, precisamos primeiro lembrar de a sentir. E a beleza está em todo o lado. Tom, todas as pessoas a podem ver.

A hora de recolher estava próxima, então molhei a pena na tinta preta uma última vez para me despedir quando as palavras começaram a aparecer.

Os meus olhos são pretos. Não são cinzentos, verdes, azuis, violetas ou castanhos. Os meus olhos têm todas essas cores, é só preciso procurar. Achas que isso os torna belos aos teus olhos?

-x-

Sorri porque ele sempre seria Tom, e ele sempre seria belo. A beleza era relativa, menos quanto se referia a ele. E eu conseguia sentir a minha alma a fugir de mim, o corpo dele a se tornar mais sólido e eu não conseguia deixar de pensar em como aquilo era branco, e branco era a única cor que os olhos deles não tinham.

-x-

Castanho, escuro, preto. E continuava num balançar doentio. Preto, laranja, vermelho.

Aqueles olhos que me encaravam tinham um pouco do preto multi-colorido que já me tinha possuído. Aqueles olhos queimavam como fogo, eram cruéis e conseguia ver sangue derramado neles. No entanto, ainda continham a beleza hipnotizante que o seu dono um dia possuiu.


N/A: Eu sinto-me doente de TG x_x Para o Leuh, aquele amigo (L)