N.A: POV da Luna sobre Harry. É no final do enterro do Dobby. Obrigada á Moony. Esta é para ti. A "Alone" do Ben Harper e claro a "The Sound of Silence" de Simon & Garfunkel
Silêncio. O mais profundo silêncio permaneceu entre nós. Não havia mais palavras a serem ditas. Não quando havia tanto para sentir. Ao olhar a campa de Dobby e a sua inscrição "Aqui jaz Dobby, um elfo livre" inspirámos os dois profundamente. A aragem do mar acariciava-nos enquanto o cheiro e o gosto do sal se impregnava em nós deixando a sua marca. Funda. Bem mais funda do que parecia. Quase sorri ao pensar nisso. Como poderia o vento permanecer nalguma coisa?
Olhei para ele, com os cabelos mais revoltos que nunca, transpirado, exausto, sentado em cima da relva. Com os olhos fixos na campa. Ele parecia reflectir, o seu sofrimento era perceptível, pelo menos para mim. Era claro, tão claro que assustava, que ele reflectia sobre a vida. Como se já o tivesse feito muitas vezes e sempre, cada vez mais, com desalento. Como se não houvesse esperança. Como se não houvesse mais nada.
Eram muitas as coisas que eu via nos olhos dele. E sobretudo, eram muitas as coisas que eu sentia existirem nele. Mesmo ao olhar para o mar, eu sei que ele está a interrogar-se sobre a vida. Sobre a razão da existência. E eu quase posso responder-lhe que não existe concretamente uma razão. Há algo que me trava, é o prazer de analisar a forma como Harry tira conclusões acerca das coisas.
Desta vez eu podia ver a raiva, a dúvida, o medo, a dor. É tão típico dele, debater-se consigo mesmo, contra a sua natureza. Ao longe ouvem-se as ondas a rebentar na rocha, o vento a entoar canções de fúria e desespero, de luta, mas também de paz.
Harry encara confuso a paisagem que nos rodeia. Eu poderia dar-lhe a minha opinião, sim eu podia, eu podia fazer tantas coisas. No final, é ele que tem que criar uma opinião genuinamente sua para que jamais lha possam tirar. O ventou abraçou-nos de novo.
Eu podia dizer que existimos para que não sejamos uma brisa que passa e sim o vento que permanece. Pode-se passar por este mundo como a brisa passa por uma seara, mas se formos grandes na nossa pequenez, seremos como o vento que permanece em nós mesmo depois de já não o ouvirmos. E para permanecer, é preciso deixar uma marca.
Vejo-o olhar outra vez para a campa. Os seus olhos percorrem o epitáfio e detêm-se na palavra livre. Sim, Harry. Para permanecer é preciso ser-se livre.
Ele observa-me de volta. Restou-nos o silêncio, porque com ele vem tudo. No mais profundo dos silêncios, vem a liberdade, que é também como o vento. Permanece mesmo que não a sintamos. Ele quase sorri enquanto nos olhamos. E eu sorrio também, debaixo do vento, das estrelas, ao lado do mar, também nós somos livres. Permaneceremos.
