O mistério da Aldeia.

Conan e Declan chegaram cavalgando em uma floresta temperada, com indícios da existência de uma comunidade local. Havia algumas benfeitorias pelo meio do caminho. Moinhos, pastos com animais, campos cultivados, e fumaça com aroma de comida. Eles decidiram ir até lá. Quanto mais se aproximavam da pequena aldeia, alguns habitantes apareciam. Crianças correndo, galinhas e carneiros circulando livremente, e aqui e ali, algumas mulheres transportando pesados jarros nos ombros. Conan não viu homens. Achou melhor alertar Declan.

_Declan, tem alguma coisa errada acontecendo aqui.

_Pois é homem. Eu também percebi. Não há nenhum homem para dar conta de tanto mulherio. As coitadas devem estar muito solitárias.

_Presta atenção, cabeça de bagre. Onde estão os homens? Algo muito grave deve ter acontecido. Precisamos estar atentos.

Eles foram entrando na aldeia e procuraram por um estábulo. Quando o encontraram, surpreenderam-se que o proprietário fosse uma mulher. Ela era muito alta e magra, de idade avançada e cabelos tosados como de um homem. Tinha o rosto emaciado e cheio de rugas. Deixaram os cavalos aos seus cuidados.

_Senhora, onde estão os homens da vila? - Conan interrogou a mulher.

_... _Ele lhe fez uma pergunta, velha coroca. - Declan apartou com sua "gentileza".

A mulher virou-se para Declan e o encarou séria.

_Eu não tenho medo de cara feia, dragão velho. - Declan encarou-a também.

_Declan não precisamos disso. Venha, vamos procurar uma taverna.

Ao ouvir a palavra "taverna", Declan se alegrou. Ele e Conan já iam saindo quando a velha resolveu falar.

_Os homens da aldeia... Eles sumiram. - Ela falou sem olhar para eles.

Conan e Declan se aproximaram dela.

_Como assim sumiram? - Declan a interrogou.

_Foram sumindo um por um. Como se um animal estivesse se alimentando deles, dia após dia. Não sobrou nenhum. - A mulher falou com voz inexpressiva.

_Mas, por que não armaram um grupo de busca para caçar este animal? - Declan se exasperou.

_No início acharam que os homens tinham simplesmente partido ou que tivessem sido vítimas de bandidos ou feras. Ninguém realmente achou que tantos fossem desaparecer. Quando tiveram certeza que os homens estavam sendo caçados, ficaram com medo. Escolheram se esconder a enfrentar aquilo que os perseguia.

_E vocês mulheres, por que não foram atrás de seus maridos? - Declan achava aquilo muito injusto.

_Tínhamos uma aldeia para fazer funcionar, sem falar em famílias, filhos e animais. Algumas de nós fomos procurá-los, para descobrir o que estava acontecendo. Não encontramos nada. Eles sumiram da face da terra. Nem seus ossos restaram. - A mulher falava baixo, como se tivesse medo de alguma coisa.

Conan escutara tudo calado. Olhou significativamente para Declan e fez um movimento com a cabeça, chamando-o para irem embora. Já no lado de fora, Conan resolveu compartilhar suas impressões.

_Alguém está raptando esses homens. Um animal teria deixado rastros ou restos humanos. Talvez estes homens ainda estejam vivos, em algum lugar.

_Conan, e se essa coisa que levou esses homens vier atrás da gente? - Declan só naquele momento se deu conta de que também eram alvos.

_Então irá nos poupar o trabalho de ir atrás dele.

Seguiram até uma choupana de onde entravam e saíam muitas mulheres e crianças. Era uma taverna. Sem homens.

_Aqui vocês servem vinho? - Declan se dirigiu a uma jovem negra careca, que servia pratos de sopa para outras mulheres e crianças.

_Sim, se vocês pagarem. - A jovem dirigiu-se a um canto da taverna onde havia um grande barril.

Voltou de lá com duas canecas de vinho, e as entregou a Conan e Declan. Após várias horas comendo e bebendo, na verdade mais bebendo do que comendo, Conan e Declan resolveram procurar um local para dormir.

_Declan, acho que o estábulo vem bem a calhar, para dormir esta noite. Eu já vou indo. - Conan estava bêbado, mais ainda conseguia andar imponentemente, como o majestoso guerreiro que era.

Ele conseguiu chegar até o estábulo, onde desabou solenemente no feno. Declan achou que ainda era pouco. Permaneceu na taverna se embebedando ainda mais. Uma jovem ruiva, de cabelos curtos e encaracolados, passou perto de sua mesa. Declan assanhou-se.

_Venha cá, beleza. Você ainda não viu um homem como esse na sua frente. - Ele a alcançou desastradamente e a enlaçou pela cintura.

Se Declan não estivesse bêbado como um gambá, a moça poderia temê-lo, mas naquela situação, bastava empurrá-lo e ele perderia o equilíbrio. E foi o que ela fêz. Declan caiu estrondosamente no chão, quebrando uma cadeira no processo. Foi arrastado pelos braços por mãos femininas, para fora da taverna. Deixaram-no estirado no meio do caminho. Pela manhã Conan acordou tonto e moído. Achou melhor exercitar-se um pouco e fazer uma refeição. Foi atrás de Declan. Procurou por ele na taverna.

_Ei, você aí. Onde está o meu amigo? O homem que chegou comigo nesta cidade. - Conan perguntou à jovem careca.

_Eu não sei onde ele está. - A jovem foi lacônica.

_Nós estivemos bebendo aqui a noite passada. Eu fui para o estábulo e o deixei aqui. O que aconteceu com ele? - Conan começou a se preocupar.

_Acaso eu tenho cara de babá de barbudo? - A jovem foi insolente.

Conan exasperou-se e a agarrou pelo braço.

_Escute. Eu quero respostas. Estou procurando meu amigo. Onde ele está? - Falou incisivamente, com o rosto próximo ao da jovem.

_Ela não ficou a noite toda na taverna. Ela não sabe o que aconteceu. Eu fiquei aqui e vi o seu amigo. - Uma mulher de meia idade, com os cabelos negros, curtos e arrepiados, falou de dentro da taverna.

Conan soltou a jovem careca e dirigiu-se a outra mulher. Ele a percrustava com os olhos.

_Seu amigo ficou bêbado como um gambá. Começou a importunar uma das jovens daqui. Tivemos que jogá-lo na rua. Depois disso não o vimos mais. Foi tudo o que aconteceu. - A mulher falou serenamente.

Conan ficou encarando-a. Então olhou significativamente para os cabelos da mulher.

_Afinal, o que está acontecendo aqui? - Conan tocou uma mecha do cabelo da mulher a sua frente.

Ela afastou-se de Conan e sentou-se em uma cadeira da taverna.

_Quando os homens começaram a desaparecer, nós apelamos para nossos deuses. Um dos rituais exige que nós cortemos nossos cabelos como penitência. Fizemos tudo o que podíamos. Nada adiantou. Seu amigo deve ter sofrido o mesmo destino. - A mulher parecia cansada.

_Fale-me de seus deuses. - Conan aproximou-se da mulher.

_Helfara a deusa protetora da aldeia, Skelos o deus da doença, Commoria a deusa da fertilidade, Lilitu o deus das tempestades, Anu o deus da noite, Nilus o deus da guerra. Não temos templos porque somos pobres, mas em épocas especiais armamos um altar de sacrifícios. - A mulher informou a Conan.

_Qual desses deuses exigiu que cortassem os cabelos?

_Commoria.

Conan ficou encarando a mulher e intimamente sentiu-se ameaçado. Não sabia o que acontecia naquela aldeia, mas não confiava naquelas mulheres. Contudo resolveu continuar fazendo o jogo delas.

_Leve-me ao local de seu último sacrifício. - Falou para a mulher de cabelos arrepiados.

Conan e a aldeã seguiram a cavalo para um descampado. Então chegaram próximo a algumas rochas dispostas em círculo. No centro daquele círculo havia um altar de pedra manchado de sangue. Conan saltou do cavalo e foi até o altar. Tocou o sangue seco, e isso de certo modo o acalmou. Provavelmente, Declan não havia sido sacrificado.

_O que pensou que iria encontrar guerreiro? - A aldeã perguntou de fora do círculo.

_Meu amigo. Felizmente o sangue no altar é antigo. Digamos que o último sacrifício foi há uma semana. - Conan mirava na paisagem em volta, como se procurasse alguma coisa. - Mas é claro, vocês devem ter outros altares para sacrifícios. Algum bem perto da aldeia, para onde vocês poderiam facilmente arrastar um homem desacordado. - Conan virou-se para a aldeã, com uma expressão raivosa.

_Você é esperto. - A aldeã tocou o cavalo e afastou-se trotando em direção à cidade. Ela virou-se por um momento e sorriu com o canto dos lábios.

_Por Crom. Sua bruxa desgraçada. - Conan sacou a espada e avançou para a mulher, mas havia uma parede invisível que não o deixava prosseguir.

Ele arremeteu diversas vezes para fora do círculo de pedras, mas sempre esbarrava em algo resistente que fazia o seu impulso atirá-lo para trás. Estava preso em uma armadilha.

Fim do Capítulo