Ela precisava de dinheiro, e precisava rápido. Talvez a escolha por direito não tivesse sido a melhor, empregos nesta área estavam escassos e mulheres não possuíam tanto respeito quanto um homem formado em direito, ainda assim Rin precisava pagar as contas.
Andando pelas ruas de Osaka, Rin pensava em como sua vida seria se não pagasse o aluguel daquele mês, já estava quatro meses atrasada, não havia ninguém a quem pedir ajuda e já não podia mais pedir dinheiro emprestado a sua melhor amiga, Kagura.
Kagura havia sido o que a mantinha de pé a cada dia, sem ela talvez estivesse morando na rua há muito tempo atrás, viviam juntas e Rin não contribuía, isso a matava por dentro, mesmo quando Kagura dizia não se importar.
Kagura trabalhava como diretora de uma escola de crianças e passava maior parte do seu dia na escola, quando chegava a casa adorava sentir o cheiro das comidas que Rin preparava, Nani havia ensinado todas suas receitas a Rin antes de deixa-la sozinha no mundo. Havia muito tempo que ela não pensava em Nani, que finalmente conseguirá seguir em frente depois de sua partida.
Ainda perdida em seus pensamentos Rin chegará a casa, ao entrar chamou por kagura.
- Kagura?! Está em casa?
- Sim, aqui na cozinha!
Ao entrar pela cozinha surpresa foi o que refletiu em seu rosto.
- Você? Cozinhando? Haha!
- Como ousa rir? – o rosto de Kagura já ficava vermelho – Estou fazendo missoshiru do jeitinho que você me ensinou!
- Essa eu quero provar pra ver! – saiu rindo da cozinha e subindo escadas a cima para se preparar para o jantar.
Quando Rin desceu as escadas o cheiro do missoshiru já impregnava toda a casa.
- Hmm o cheiro está ótimo Kagura – sorria.
- Tenho novidades! – sentava ao Kotatsu e sorria – Eu te arrumei... Uma entrevista de emprego!
- Entrevista? Onde?
Kagura passou as próximas horas explicando como conhecia uma pessoa que trabalhava em grande agência de advocacia e lhe havia feito um favor arrumando Rin uma entrevista como secretária de um dos maiores sócios da agência, que havia recentemente perdido sua secretária.
Ao acordar no dia seguinte Rin se sentia nervosa, suas mãos suavam e seu estômago revirava, não tomou café da manhã porque não conseguia comer nada sentindo tudo aquilo por seu corpo.
Chegou ao imenso prédio e sentiu-se sugada por todo esplendor que os corredores daquele edifício podiam exalar. Subiu até o décimo andar e encontrou Sango na recepção.
- Olá – sorria e seu semblante era simpático.
- Olá, eu vim para uma entrevista com Sesshu... Sesshy... Se...
- Sesshoumaru – a corrigiu – ele já a espera!
- Obrigada.
Ouviu um "entre" quando sentou em frente ao maior escritório de todo o andar, deparou-se com um homem de terno que refletia muito dinheiro, longos cabelos prateados e olhos tão penetrantes e profundos de cor âmbar.
- Rin... Correto? – não a olhava diretamente, folhava papéis na sua mesa.
- Sim, sim – sorria e tentava não transmitir seu nervosismo.
- De acordo com Sango você foi uma indicação de uma colega.
- Isso mesmo! Kagura, uma amiga que vive comigo conhece Sango que aca...
- Desnecessário, por favor sente – foi interrompida bruscamente.
- Certo...
- Você já possui experiência na área? – ainda não a mirava.
- Não, acabei de me formar e...
- Sem experiência e gostaria de trabalhar aqui? – foi interrompida novamente.
- Sim, você poderá ver pelo meu currículo minhas realizações na faculdade.
Ao final dessa frase o telefone tocou, Sesshoumaru sutilmente pediu um minuto e atendeu ao importante telefonema, conversava ferozmente com um ajudante sobre um caso que não conseguiam achar saída, já se alterava e assim desligou bruscamente o telefone.
- Desculpe por isso.
Rin que havia ouvido discretamente a conversa percebeu que talvez pudesse ajudar.
- Não é querendo me intrometer, mas não pude deixar de ouvir sua conversa e acho que uma saída que você poderia achar para esse caso, obvio que só sei por cima, é a mesma tática usada em People versus Goetz, para ser absolvido.
- Você acha que pode entrar no meu escritório, ouvir minha conversa e se sentir no direito de opinar sobre algo que não conhece?
Rin tomou um leve susto pela reação de Sesshoumaru e por um segundo não soube o que responder.
- Eu só estava tentando ajudar.
- Não precisamos mais dos seus serviços, você pode se retirar – não a olhou e voltou aos papéis.
Saindo porta a fora, sentindo as lágrimas aparecerem em seu rosto, porém segurando-as ela virou e o mirou com raiva.
- Você não tem o direito que falar assim com as pessoas!
- Você não deveria opinar onde não é chamada.
Saiu do edifício sem mais segurar as lágrimas, nunca achou que pudesse sentir ódio por alguém da forma que sentia agora, não podia acreditar que alguém pudesse ser tão frio e estupido dessa forma, queria voltar, queria dizer coisas a ele e apontar o dedo em sua cara. Gostaria de mostrar-lhe como estava sendo uma péssima pessoa.
Ao chegar em casa Kagura a indagou sobre a entrevista e Rin não pode se conter ao conta-la que havia sido horrível, que nunca conheceu alguém como ele.
Longe dali, na manhã seguinte Sesshoumaru saia da corte com um sorriso de canto, havia conseguido absolvição a seu cliente e mais um caso havia terminado com sucesso. Sesshoumaru não era do tipo de cara que sentia culpa, mas não conseguia tirar da cabeça que uma garota recém-formada de direito lhe havia dado uma dica sobre um caso que lhe havia passado despercebido durante o estudo de caso.
Lembrava-se da forma que Rin havia saído de seu escritório e sabia que um simples telefonema não conseguiria traze-la de volta a seu escritório.
- Sango, preciso do telefone e endereço daquela garota que veio fazer entrevista aqui ontem – disse enquanto entrava apressado na agência após o tribunal.
Rin estava sentada ao sofá assistindo televisão, ainda se perguntando o que aconteceria de sua vida quando o telefone tocou. Era Sesshoumaru, ele dizia que revisou seu currículo e a queria contratar.
- O que? Você é bipolar? Tem ideia de como me tratou ontem? Jamais vou trabalhar para você!
- Imaginava que você ainda estaria chateada por isso, então por favor abra a porta.
- A porta? Que porta? – estava confusa.
- Estou aqui na sua casa.
Paralisada com a noticia abriu de leve a cortina e viu um BMW Z4 estacionado em frente a sua casa, foi até a porta e abriu-a.
- O que faz aqui? – tentava soar desdenhosa, mesmo impressionada com a presença dele ali.
- Gostaria que você aceitasse minha proposta de emprego – olhava discretamente para dentro da casa de Rin.
- Porque essa súbita mudança? E não diga que foi meu currículo – mirava-o de cima a baixo e imaginava quanto custava o terno que estava usando.
- Ganhei o caso de hoje, e não costumo admitir, mas foi por sua causa – era percebível que Sesshoumaru estava desconfortável com a situação.
- Rá, não acredito.
- Posso entrar? – perguntou já entrando na casa e sentando-se ao sofá.
- Já que você já entrou mesmo.
- Você mora com sua amiga, certo?
- Você lembra de algo que eu disse, que impressionante – respondeu entrando na cozinha para servir chá.
- Parece que você precisa do emprego, aceite.
- Depois de como você me tratou – serviu o chá – acho que não.
- E o que vai fazer até o fim do mês?
Por mais que odiasse como ele estava certo, ela não poderia negar que o dinheiro estava apertado e precisava demais daquele emprego.
- Quero um aumento então.
- Você ainda nem começou.
- Você começou com o pé esquerdo, quero o pé direito.
Sesshoumaru quase riu, e pela primeira vez notou a beleza que a garota a sua frente exalava quando ria.
- Está bem, acho que você merece.
Rin sorriu e sentiu que finalmente as coisas começariam a mudar para ela.
