— E-ESPERAAAAAAAAAA!!!

Eu consegui saltar no ônibus quase no mesmo instante em que ele deixava a plataforma. Eu tinha que me atrasar justo num dia desses? Tudo bem que eu sempre me atraso todos os dias e em qualquer situação, mas por um momento cheguei a crer que naquela seria diferente.

Felizmente, o ônibus não tinha muita gente, apenas uma garota de longos cabelos castanhos, um rapaz que jogava alguma coisa em um celular e um grupo de amigos que sentou nos fundos, conversando animadamente, então não foi nada difícil encontrar um lugar vago para me sentar. Dobrado em minhas mãos estava o comprovante de aceitação na Stelazzio, uma escola de verão que ensina tudo que se queira saber a respeito dos doze signos do zodíaco.

Não, não, eu não sou nenhum fanático por Astrologia, apenas acho a temática interessante para passar o tempo e, bem, como nunca tenho muitas opções de coisas para se fazer nas férias, me inscrevi pela internet. Na verdade, essa última parte foi ideia da minha mãe, ela sim é quase uma expert no assunto e me convenceu a fazer isso dizendo ser uma experiência, no mínimo, interessante. Eu odiava quando as férias chegavam e sabia que não podia me dar ao luxo de viajar, dar um tempo de tudo, respirar novos ares (coisa que ela alega ser devido a meu ascendente, Sagitário). Não tínhamos dinheiro o bastante para qualquer coisa do tipo "Super Pacotão de Férias", e a única pessoa que eu poderia visitar fora, meu pai, era alguém com quem eu nunca me dei muito bem (ela também culpa o ascendente por isso).

Alguns minutos depois, o ônibus deixou Belo Horizonte e seguiu pela área rural, entrando por uma estrada de terra com uma enorme plantação de eucalipto ao lado. Mais adiante, um imenso lago podia ser visto além de um bosque. Não demorou muito para passarmos sob uma extensa placa de madeira ondulada onde se lia: ESCOLA DE VERANEIO STELLAZIO — ENTRADA. Apesar disso, o ônibus continuou seguindo por uma área idêntica à de antes de forma que, somente um tempo depois, avistei com clareza o que parecia ser uma luxuosa e imensa mansão branca em frente à serra, contrastando com o ambiente ao redor. Tinha janelas de guilhotina em vãos salientes, além de alpendres com colunas torneadas e balaústres.

O ônibus estacionou e eu desci junto com os outros passageiros. Todos seguiam na direção da enorme mansão vitoriana, e foi quando notei uma outra casa, esta bem menor, ao seu lado. Tinha um símbolo sobre a porta de entrada, algo que lembrava um movimento de ondas que no final mudava de direção. Pensei ser o símbolo de algum signo, mas não sabia dizer qual.

Um guarda surgiu logo à frente para nos recepcionar com uma cara de poucos amigos.

— Venham por aqui, por favor.

O grupo de jovens começou a gargalhar e entraram precipitadamente, arrastando a garota de cabelos castanhos consigo e também o cara que ainda fuçava no os segui atropeladamente.

O interior do lugar era muito escuro e repleto de móveis de mogno e o assoalho era repleto de tapetes, em sua maioria verdes ou vermelhos. Depois de subir três andares pelas escadas, o nosso recepcionista abriu uma grande porta dupla de metal que dava para um salão gigantesco. Lá, vários jovens estavam reunidos, conversando de forma descontraída e bebendo líquidos coloridos. O salão estava inteiramente decorado com papel crepom, balões, toalhas, enfeites de mesa, etc.

Eu já estava pronto para pegar um daqueles petiscos convidativos das mesas, mas vozes ecoaram pelos auto falantes pedindo para que todos se dirigissem ao auditório adiante, onde dariam início à cerimônia de boas-vindas dentro de poucos minutos.

— Ótimo... — murmurei — Eu devo ter vindo no ônibus dos retardatários.

Nos acomodamos, todos muito inquietos e apreensivos. Eu havia me sentado na fileira do meio e logo depois um garoto magro e de cabelos claros, usando roupas largas, sentou-se ao meu lado. Ele parecia um pouco tímido e inseguro, a julgar pelo modo como olhava para todos os lados com curiosidade.

— Oi — ele me disse — Não pensei que o número de calouros pudesse chegar a tanto.

— Deve ter umas sessenta pessoas aqui — respondi — Nunca pensei que existissem tantos malucos que ligam tanto pra essas coisas.

— Bom, eu estou aqui mais por insistência da minha mãe.

— Sério? Pois eu também. — respondi — Ela é louca por astrologia e ficou feliz da vida quando soube que eu fui escolhido depois de nem eu mesmo me lembrar que fiz a inscrição.

O garoto pareceu contente ao saber que mais alguém compartilhava de sua situação e estendeu a palma da mão, me cumprimentando.

— Meu nome é Klaus, muito prazer.

— Eu sou Lino — respondi — E então, já que estamos aqui, de qual signo é?

— Câncer, e você?

Estava prestes a responder quando um homem alto e magérrimo, de cabelos compridos e usando óculos minúsculos surgiu no palco e cumprimentou a todos com um sorriso amigável.

— Sejam muito bem-vindos à Stellazio, jovens calouros! Espero que todos possamos desfrutar de um mês produtivo e divertido e que venha a nos ajudar a conhecermos melhor a nós mesmos, e também para fazer novas amizades. Eu sou o diretor Ofélio, e não vou me prolongar muito com discursos exaustivos, podem ficar tranquilos, hehehe.

Esse último trecho garantiu um alto suspiro de alívio de parte do pessoal.

— Só vou pedir a vocês para que tenham a gentileza de mudar de lugar por um instante — continuou o diretor — Como podem ver, este auditório é composto por doze fileiras, e cada uma corresponde a um signo diferente. É importante saberem disso desde já, levando em conta que, eventualmente, vocês retornarão ao auditório central.

As fileiras do auditório estavam posicionadas em declive, e o Sr. Ofélio orientou a todos para que se sentassem na fileira correspondente, sendo Áries a primeira, logo à sua frente, e Peixes a última e mais alta. Klaus pediu licença e sentou-se três fileiras à minha frente. a agitação foi grande mas não precisei me levantar, pois a fileira em que eu estava já era a correta.

— Já estão acomodados? — perguntou o diretor

Todos responderam em uníssono:

— SIM!

— Ótimo, então...já podem se levantar!

O diretor começou a rir, dizendo novamente que aquilo era apenas para que memorizássemos, mas logo depois acenou para o outro lado e vários empregados da escola aproximaram-se trazendo muitos pacotes com camisas de cores diversas. Ele pegou rapidamente uma amostra dos primeiros pacotes e exibiu uma camisa vermelha onde se lia ESCOLA DE VERANEIO STELLAZIO e, mais abaixo, um símbolo semelhante aos chifres dum carneiro, que eu rapidamente identifiquei como Áries.

— Estes serão os uniformes de vocês. Por favor, venham até aqui enfileirados e escolham uma, de acordo com seu signo solar, claro. Temos de várias medidas mas, se porventura alguém ficar sem, avise-nos.

Algumas filas improvisadas formaram-se entre as poltronas e o palco, e eu já começava a ficar ansioso para quando chegasse a minha vez. Pude perceber que todos ali pareciam conhecer aqueles símbolos com precisão, embora eu só reconhecesse um ou outro. De todo modo, graças à minha mãe, eu jamais esqueci qual era o meu e, assim que cheguei à frente, avistei o montante de camisas azuis com o símbolo do equilíbrio; a parte de cima dando ideia de oscilação, e a parte de baixo de fixação.

— Libra. — sussurrei para mim mesmo — Tamanho médio...eu fico com essa!