Nota: Esta história é baseada em dois livros que li e que achei fantásticos. Muitos de vocês acredito que serão capazes de identificar os actores dos livros.
Boa leitura!
MISTERIOSA SOLUÇÃO
PROLOGO
Neva, grandes flocos brancos em forma de estrela que se colam ao meu cabelo loiro como uma tiara de princesa, pelo espaço de um minuto antes de se derreterem. É uma tarde de inverno, está um frio glaciar e o vento corta o ar, gelando o sangue dos que, entre nós, ainda pertencem no mundo dos vivos. Assim, cá estou eu, no meio de um pequeno grupo de pessoas junto à campa de Waldo Takeuchi, magnata moderno, criador e perdedor de várias fortunas.
Observando o pequeno grupo de pessoas que apareceram ao funeral, sinto os olhares curiosos que me lançam de soslaio, se perguntando sobre a minha presença; o que faria Serena Tsukino de vinte e oito anos, no funeral de um grande magnata?
A razão da minha presença não se prendia a dinheiro, tal como declarei a Waldo Takeucho na primeira vez que o vi.
Tudo acontecera num cocktail num desses eventos sociais em Londres, onde toda a gente se conhecia. Excepto eu. E, olhando em volta, nem sequer tinha a certeza se pretendia conhecê-los. Os homens ricos, só falavam de negócios para ficarem ainda mais ricos, e as mulheres encontravam-se demasiado ocupadas mexericando sobre a vida das outras mulheres ausentes. Umas bruxas, pensei, bebendo um pouco do vinho branco e observando um canapé estranho que consistia numa minúscula vagem de ervilha recheada com o que parecia ser carne de caranguejo castanha. Embora esfomeada, hesitei uns momentos desconfiada.
A minha cara de aborrecimento deveria ter sido mesmo evidente, pois nesse momento, uma voz atrás do meu ombro esquerdo fez-me virar para observar de onde provinha a voz. Nada mais, nada menos, que Waldo Takeucho, um dos homens mais altos e feios que já vira.
- É caril, e não recomendo. – Disse o homem.
- Como sabe que não é bom? – Perguntei.
- Já os provei, claro. – Retorquiu numa voz forte face a uma pergunta tão tola.
- Muito estúpido da minha parte – admiti. – Atribua-o à companhia. Olhe para eles, todos a falarem sobre dinheiro e sexo, quem tem e quem anda a desfrutá-lo.
- E então porque não está falando de dinheiro?
Encolhendo os ombros respondi – Tenho o suficiente. Não muito, mas não sinto necessidade de mais. – Mentia, claro. Possuía o dinheiro contado para cada mês e não tinha emprego.
- Então porque não está falando de sexo?
- Mesma resposta.
O homem sorriu com ironia e voltou a perguntar. – Já percebi que está tão entediada quanto eu, nesta festa. – Constatou o óbvio. – Então porque está aqui exactamente?
Voltei a encolher os ombros. – Um amigo ofereceu-me um convite. Como não podia vir, eu aceitei. Mas já estou me arrependendo.
O homem deu um leve sorriso. – Estas festas aparentam ser muito mais divertidas do que realmente são. – Comentou sem interesse. - Já que não disfarça estar com predisposição para continuar nesta festa, o que me diz a sairmos daqui? Pago-lhe o jantar – anunciou educadamente.
Aquela proposta parecia caída do céu. Levou-me a um dos restaurantes mais chiques daquela zona. Mais tarde, nessa mesma noite vim a descobrir que ele costumava frequentar aquele mesmo restaurante sempre que se deslocava à cidade. O jantar correu sem problemas, e a conversa fluía facilmente. Assim que descobriu que me encontrava desempregada, contratou-me como assistente pessoal. A princípio não aceitei a proposta. Mas não tinha por onde fugir. As contas chegavam todos os meses para pagar e as dívidas já estavam começando a se acumular.
E foi este o inicio dos meus cinco anos de emprego e da minha amizade com Waldo Takeucho. Muito simplesmente o homem mais autoritário e exigente que já conhecera. Mas também o mais bondoso, compreensivo e terno. Muitos se questionavam da nossa relação. Nós éramos semelhantes, uma boa equipa, éramos amigos. E, caso se estejam perguntando, não, nunca fomos amantes.
Waldo salvou-me. Deu-me uma segunda oportunidade e eu amava-o por isso.
E é por isso que estou aqui no seu funeral, no meio desta neve, com as lágrimas a rolarem-me pelas fazes geladas, a despedir-me porque ele era o meu amigo e sentiria saudades dos momentos que compartilhamos.
Tenho que admitir que não esperava que as várias pessoas do mundo dos negócios se dessem ao luxo de se deslocarem ao funeral, assim como umas outras mulheres de rostos inexpressivos. Como o próprio Waldo gostava de afirmar, não tinha muito amigos, e inimigos já nem se dava ao trabalho de contar.
Havia, também, outro homem completamente diferente dos demais; alto e esguio, com um sobretudo preto comprido, a neve a instalar-se na sua cabeça de cabelos compridos escuros. Encontrava-se sozinho atrás do grupo de pessoas enlutadas. Acenou-me uma saudação, e eu acenei em resposta, cumprimentando-o, embora na verdade, não tivesse a mínima ideia de quem era.
Após uns momentos de silêncio, as pessoas da cidade começaram a sair, fugindo do vento gelado para o conforto dos seus carros. Estas pessoas conheciam-no, consideravam-no um dos seus. Um dos presentes aproximou-se de mim.
- Vamos sentir muita falta dele por aqui. – Para minha surpresa, pegou-me a mão e levou-a aos lábios frios. – Cuide de si Serena. E recorde-se que toda a gente aqui olhará por si.
Comovida, vi-o afastar-se. Em apenas cinco anos tornara-me parte desta aldeia. Pensei na afirmação que ele fizera e então me dei de conta que estava novamente sozinha. Depois de um casamento falhado de um ano, e agora depois destes cinco anos, estava novamente perdida no mundo. Estava novamente desempregada. Embora desta vez tivesse pelo menos uma conta bancária mais considerável do que na altura em que conhecera Waldo.
Olhei uma última vez para o lugar onde jazia Waldo, e sai tremendo para o conforto do carro. Para meu espanto, nos poucos minutos que decorrera a cerimónia fúnebre, uma espessa camada de neve cobrira o carro. Desengonçada, e tentando não molhar a roupa, tentei ao máximo limpar no mínimo a neve que cobria o espelho do carro.
- Deixe-me ajudá-la. - Ergui os olhos e ali estava o desconhecido. Sem esperar pela minha resposta, começou a limpar a neve. – Assim é melhor. – Comentou o desconhecido, ainda a sorrir, quando terminou.
- Não sei quem é, mas agradeço-lhe. – Disse agradecida. Pela primeira vez, olhei para o desconhecido. Aparentava ter uns trinta e poucos anos e era muito alto, ombros largos, o rosto atraente e um porte forte. Os seus olhos fintavam-na com interesse.
- Mas eu sei quem você é. Waldo contou-me tudo a seu respeito. - Nesse momento fiquei espantada. Pensava ter conhecido todas as relações profissionais de Waldo e os seus conhecidos a nível social. – É Serena Tsukino, colaboradora, secretária, confidente e boa amiga. – Fez-me uma ligeira vénia. – E eu sou Darien Chiba.
Apertei-lhe a mão. – Ouça. – Retorqui, sacudindo os flocos de neve do cabelo. – Deve estar com frio como eu. Não vai haver nenhuma recepção após o funeral. Waldo nunca quereria nada do género, mas porque não vem comigo até ao solar? Deixe-me pelo menos oferecer-lhe um café quente.
- Obrigada, gostaria muito. – Foi tudo o que disse.
Guiando com cuidado pela rua coberta de neve, dirigia sendo seguida pelo carro de Darien.
A Sra. Setsuno, a governanta e cozinheira, abriu a porta antes sequer de eu ter estacionado.
- Entre senhora Tsukino. Estávamos a ficar preocupados por tê-la deixado ali sozinha no cemitério.
- Não havia necessidade de se preocupar. – Respondi, subindo os degraus. Atrás de mim, ouvi Darien estacionar. – E trouxe um amigo de Waldo. – O Sr. Chiba ajudou-me a tirar a neve de cima do carro.
- Vão querer sem dúvida um café. – Retorquiu energeticamente. Sendo seguida por Serena e Darien.
Darien pousou a mala de pele do portátil e despiu o sobretudo entregando a Serena que o ponderou no armário do vestíbulo juntamente com o dela.
Darien observava, com ar satisfeito aquela divisão da casa, e pausou o olhar no cão, com ar abatido junto à lareira.
- Lindo cão. – Murmurou Serena aproximei-me e fiz-lhe uma festa. – Lindo cão Luna. Vai ficar tudo bem, prometo.
- Então herdou o cão? – Perguntou Darien Chiba atrás de mim.
- Não herdei nada. – Voltei a erguer-me. – Sou apenas uma empregada. Mas claro que me afeiçoei ao cão. De qualquer maneira, agora sinto que é o meu cão, embora saiba que para ele nunca existirá senão um dono.
Senti os olhos de Darien a observar-me, e tentando fazer desaparecer o desconforto daquela situação sugeri que passássemos à sala e ele segurou a pesada porta para me deixar entrar.
A Sra. Setsuno entrou trazendo o café e pratos cheios com pequenas sanduíches e bolachas.
- Então como sabe que não herdou? – Mexeu dois cubos de açúcar no café preto. – Os advogados já lhe leram o testamento?
Franzi o sobrolho, de súbita alerta. Convidara um perfeito desconhecido para casa de Waldo e poderia ser qualquer pessoa. Um rival dos negócios a tentar obter informações. Um jornalista atrás de uma boa notícia. Deixara inconscientemente o inimigo passar os portões de Waldo?
- Quem diabo é afinal - Cortei – para me fazer todas essas perguntas pessoais?
- Sou uma espécie de amigo de Waldo.
- Isso de "espécie de amigo" não existe.
- Conheci Waldo há dez anos. Estava com problemas e ouvira falar de mim e contactou-me para o ajudar com uns problemas pessoais. – Levantou-se, tirou uma carteira do bolso traseiro das calças, retirou um cartão e entregou-mo.
- Darien Chiba. – Li. – Gestão de riscos. Segurança. Investigador pessoal. – Não fiquei surpreendida com a profissão, apenas intrigada.
- Alguma vez se perguntou como Waldo morreu? – Perguntou.
- Claro que sim. Ia a guiar, sozinho, à noite, numa estrada montanhosa que não conhecia bem e despenhou-se. Devia lá ter estado com ele, deveria ter sido eu a guiar…
- Se estivesse, estaria morta também. - Isso era verdade. Ela não tinha ido porque estava doente. Estava de cama.
- E o que faz um investigador de crimes aqui? Espere um segundo. Está a dizer que pensa que Waldo foi assassinado?
- Talvez.
Senti o coração palpitar, saltando e batendo algures no meu estômago com o peso de chumbo.
- Não está por certo a sugerir que matei Waldo?
Mostrou-me um sorriso frio e falou.
- Bem? Matou?
- Não, você não pode estar falando sério. – disse com prontidão. – Eu não o teria deixado conduzir naquela estrada de montanha, mas estava com gripe. Deveria ter estado com ele. Deveria lá ter estado…
- E agora está a afogar-se num mar de culpa. Esse sentimento não o vai trazer de volta. E reconhece que somos todos, em última análise, responsáveis pelas nossas acções. Ele não morreu porque você não estava lá. Morreu porque ele estava lá.
Um silêncio abateu-se sobre nós os dois. Darien não disse nada, apenas ficou observando sentado todas as minhas reacções. Depois disse em voz calma.
- Então faz alguma ideia de quem pudesse querer matá-lo?
- Não me ocorre ninguém.
Darien continuou fintando-a, desta vez de forma mais serena.
- Recorda-se dos dez mandamentos?
- Não cometerás adultério. – Respondi. – Não roubarás. Não levantarás falsos testemunhos contra o teu próximo. Não cobiçaras a mulher do teu próximo e tudo o que é do teu próximo.
- Posto em contexto. – Disse Darien. – O que temos? Sexo, dinheiro, ciúmes, inveja. O suficiente para se matar.
- Mas Waldo era um homem bom. Nunca magoaria intencionalmente ninguém.
- Takeucho era um homem de negócios pragmático num mundo duro e muito competitivo. Fez o que tinha de fazer e era tão implacável como qualquer outra pessoa quando tinha de ser. Como pensa que teve tanto sucesso?
Não queria admitir, mas sabia que Darien tinha razão. Ele levantou-se e continuou a andar de um lado para o outro.
- Dinheiro e poder são o motivo principal. – Olhava para a janela e de costas para mim disse. – Depois há o motivo número dois. Paixão e Sexo.
- Não sei nada dessa parte da vida de Waldo. – Disse muito formal, porque desconfiava que Darien pensava que tivéssemos sido amantes.
Ele voltou-se e olhou-me nos olhos. – Porque não?
- Waldo disse-me que não me queria. – Respondi, arrependendo-me logo de seguida.
As sobrancelhas de Darien ergueram-se – Agora surpreendeu-me.
- Ele não queria dizer isso assim. – Respondi na defensiva. – Tínhamos acabado de nos conhecer, ele ofereceu-me um emprego e eu pensei que ele estava a fazer-me uma proposta. Declarou-me sem rodeios que podia ter qualquer uma que quisesse e que, por certo, não me queria a mim. Não pretendia que fosse um insulto – acrescentei continuando a olhar para Darien. – só queria que entendesse que só me queria oferecer um emprego.
- E um grande emprego para uma mulher com poucas ou nenhumas habilitações.
- Waldo só me queria ajudar. Sabia que eu tinha saído de um divórcio fazia pouco tempo, e estava sem condições para rejeitar uma oferta de emprego. De qualquer modo, como poderá ter reparado, eu aprendi muito depressa. – Estava exaltada com a insinuação que ele fizera.
- Então está a dizer que não pode, de forma alguma ser considerada suspeita de o ter assassinado?
Furiosa, levantei-me rapidamente e o fintei sem fraquejar – Pare com isso. Pare simplesmente com isso. Não, não dormi com Waldo. Não, não andava atrás do dinheiro dele. Não, não pretendo ganhar qualquer coisa com a sua morte. Era o meu patrão o meu amigo e… e… - acabaram-se-me as palavras e a raiva começava a desaparecer dando lugar a um desespero. – Sabe que mais? Se fosse alguma vez matar alguma pessoa, neste momento seria você.
- É exactamente assim que acontece. A paixão do momento.
Um silêncio abateu-se sobre nós os dois. Sobressaltei-me com a batida na porta. A Sra. Setsuno entrou.
- Não vai conseguir sair daqui esta noite, senhor Chiba. O motorista diz que todas as estradas estão cortadas e o limpa-neve não aparecerá senão amanhã, contando que esta tempestade termine, claro.
Olhei pela janela, o temporal abatia-se do lado de fora. Ambos os carros encontravam-se já sob um abundante manto branco. Sentei-me desanimada com a ideia mas não existia outra alternativa.
- Parece que vai ter de passar aqui a noite, senhor Chiba.
Ele já se erguera e olhava para o relógio.
- Detesto ter de lhe dar essa maçada…
- Não lhe resta outra alternativa. – Disse desanimada. – É melhor arrumarmos os carros na garagem antes que fiquem completamente soterrados.
Darien manteve-se debaixo do chuveiro durante muito tempo até voltar a sentir os ossos a descongelar. Estava mal habituado ao bom tempo de onde vivia. Secou-se e enrolou a toalha à volta das ancas e postou-se em frente ao espelho. Não estava a pensar no seu aspecto; pensava na mulher que acabara de conhecer e na sua relação com Waldo Takeucho.
Serena era uma mulher atraente com aquele ar moderno e severo. Estivera à espera de uma caçadora de dinheiro de rosto duro, decidida a arrancar todo o que conseguisse, em vez disso existia nela uma hesitação e um ar de vulnerabilidade. Talvez fosse simplesmente uma boa actriz. Deu de ombros. Quem poderia dizer? Com tanto dinheiro em jogo tudo podia acontecer. Mas Waldo confidenciara-lhe, quando começou a desconfiar que alguém planeava a sua morte, que excluindo Darien apenas confiava cem por cento em Serena.
Darien não adormeceu. Ficou deito na cama durante muito tempo com as mãos cruzadas por trás da cabeça, perdido nos seus pensamentos.
Na manhã seguinte, mais recomposta, respondi a alguns cartões de pesamos recebidas de alguns homens dos mais altos cargos das finanças bem como a um ministro que Waldo fizera amizade num jogo de golfe e que almoçava de vez em quando.
Passada uma hora, Darien entrou pela porta assustando-me.
- Lamento que se tenha assustado – disse cortês – bati à porta mas como ninguém me respondeu hesitei se entrava, mas daí vi a luz acesa por baixo da porta….
- Pregou-me um susto dos diabos. – A minha voz era irritadiça e impaciente.
- Desculpe. Mas fico satisfeito por a encontrar já acordada - declarou desta vez sentando-se num cadeirão ao meu lado. – Temos de falar sobre os possíveis envolvidos no acidente de Waldo. – Comentou Darien continuando a observar-me. – Quero que me fale das pessoas com quem ele mantinha algum discórdia profissional ou pessoal.
- Não devia saber isso já? Afinal, você é que é o detective.
-Os detectives descobrem coisas fazendo perguntas. – Retorquiu pacientemente, como de falasse para uma criança mimada. – A morte de Waldo Takeucho não foi considerada acidente, foi precisamente o contrário. – falou devagar. – Sabemos que ele já mantinha algumas desconfianças de que alguém o queria matar. Isso não nos surpreende tendo em conta a sua carreira profissional. – fez uma pequena pausa e continuou. – Waldo confiava em mim, da mesma forma que confiava em si. Por isso pode ficar descansada que não está na lista dos possíveis assassinos. – Fintou-a curioso para saber a reacção das suas palavras. – Ficarei responsável por este caso, e gostaria de poder contar com a sua ajuda.
- Muito bem, então o que quer saber? – Perguntei firme. Não queria saber de assassinos. Não queria saber de suspeitos mas não podia fugir daquela situação.
- Lembre-se que isto é por Waldo. – Disse Darien, como de me lesse os pensamentos. – Considere-o o seu último trabalho para ele.
A porta abriu-se e a Sra. Setsuno entrou, trazendo uma travessa de queijos, bolachas salgadas e como não poderia faltar, o café. Pousou o tabuleiro, na pequena mesinha de vidro e de seguida voltou a sair.
Levantei-me e enchi as canecas de café. Darien aceitou o café que lhe ofereci e voltou a sentar-se ao meu lado. Inclinou-se para a frente, cotovelos nos joelhos e com a caneca apertada entre as mãos.
Bebi um gole do café, esquecendo-me temporariamente da presença de Darien. O seu olhar analisava-me com cuidado.
- Está com um aspecto um pouco melhor. Já tem alguma cor nas faces. Parecesse mais com a dona da casa.
- Consegui dormir esta noite, coisa que nos últimos dias tem sido impossível. – Comentei envergonhada com a observação que Darien tinha feito. – De qualquer modo, como sabe, não sou a senhora da casa. Sou meramente uma empregada.
- Mais do que isso, era uma amiga, como já comentou. – Disse Darien com um discreto sorriso no rosto, apercebendo-se do efeito do seu comentário anterior a Serena
- Isso é melhor do que uma "espécie de amiga" – sorri. Estaria a me atirar a ele?
- Não conheci Waldo o suficiente para ser mais do que um empregado. – Explicou Darien – Mas porque ele era o tipo de homem que era, tive o privilégio de me tornar uma "espécie de amigo".
- Compreendo. – Era óbvio que gostava de saber como eles se tinham conhecido, mas já me apercebera que a discrição fazia parte do trabalho de Darien.
- Como deve perceber, nenhum juiz irá permitir que partilhem os bens de Waldo, sem que este caso seja esclarecido. – Explicou. - Ambos sabemos, que o seu nome está naquele testamento. Você foi, como já afirmou, uma grande amiga de Waldo, e nada mais normal do que ele lhe ter deixado alguma coisa.
- Como já lhe informei, não pretendo receber nada da herança. – Afirmou Serena. – Ajudar-lhe-ei no que me for possível para que este assunto seja esclarecido. - O relógio da parede começara a dar sinal que a manhã já ia a meio. – Eu fui amiga de Waldo, mas também fui sua empregada. Nada mais do que isso. Ele nunca se envolveu na minha vida pessoal e eu nunca me envolvi mais do que me era permitido ou da minha responsabilidade na sua. Ambos tínhamos os nossos limites.
Darien olhou-a desconfiado. – Então pelo que estou entendendo, não está nas suas intenções continuar a viver nesta casa.
- Ficarei aqui apenas até resolver tudo o que ficou pendente, o ordenado dos empregados, as contas da casa… - olhei vagamente para aquela sala, redecorada recentemente. – Mentiria se disse-se que não sentirei saudades daqui. Mas não conseguiria viver num lugar onde me traz tantas recordações.
- Muito bem, compreendendo a sua posição senhora Tsukino. Não deve ser fácil lidar com tudo isto, principalmente estar no meio de uma investigação de um assassinato. – Darien segurara a mão de Serena, tentando passar-lhe confiança e compreensão. – Apenas lhe peço que me indique onde ficara assim que decidir sair desta casa, para poder manter contacto consigo sobre a investigação.
- Está bem, comunicar-lhe-ei assim que possível Sr. Chiba.
- Não acha que pode ser Darien? No final das contas, estamos aqui os dois enclausurados por causa do nevão de ontem à noite.
- Está bem, então também me pode tratar por apenas Serena. – Continuei fintando a mão pousada na minha. Estava de novo a atirar-me a ele. O que se passava comigo?
Desde a primeira vez que o vira, que se tinha apercebido das semelhanças entre ele e o seu ex-marido, mas devido às circunstancias emocionais em que ela se encontrava quando o cumprimentou no cemitério, não dera muita importância ao caso. E após saber o motivo pelo qual ele tinha aparecido, tal comparação nunca mais lhe tinha surgido à mente.
Mas naquele momento não conseguia disfarçar o incómodo pela semelhança evidente entre Darien e Seiya. Ambos tinham um porte físico forte e másculo e a cor dos cabelos eram iguais, embora Darien tivesse os seus ligeiramente mais compridos, enquanto Seiya desde que o conhecera, usava eles sempre curtos. Não poderia afirmar que se o visse agora, a comparação coincidisse à que tinha chegado naquele momento, pois já não via o seu ex-marido desde que se divorciara.
Num segundo afastou a mão daquele contacto assustada pelo rumo dos seus pensamentos. Darien era um homem atraente, não podia negar, mas compará-lo ao seu ex-marido era uma situação muito estranha. Aquele homem intrigava-a de uma forma que ela não conseguia explicar.
Quando desci nessa mesma noite, Darien fora-se embora e Luna estava sentada ao lado da mesa da sala com o nariz a apontar para um envelope com o meu nome escrito. Não sei como o cão sabia que era de Darien.
"Cara Serena,
(Lembra-se que concordamos que lhe chamaria Serena em vez de Sra. Tsukino? Só para lhe lembrar, para não ficar pensando que estou a ser presunçoso). Ouvi dizer que as estradas estão desimpedidas e se me despachar, consigo chegar ao aeroporto antes de voltar o nevão. Não queria incomodá-la mais do que nestes últimos dias, por isso despeço-me assim. Mantê-la-ei informada sobre tudo o que acontecer, sempre que me for possível. No final da carta, encontrará um dos meus contactos para que me possa enviar a sua nova morada.
Foi bom conhecê-la, Serena Tsukino, apesar das circunstâncias e de às vezes de você ser um pouco difícil. Dê uma oportunidade aqui ao homem, está bem? Estou só a cumprir o meu trabalho.
Com os melhores cumprimentos, Darien Chiba."
O que quereria dizer com ser difícil? Não o salvara da tempestade, não lhe dera abrigo? O que mais queria o homem?
Este capitulo não foi revisado, portanto se encontrarem algum erro é só avisar!
Continua…
