Casos e Acasos

Capítulo I - A Encomenda

Ino arrumava a floricultura da família, organizando as belas e coloridas flores, para enfim abrir a loja. Não tinha nenhuma missão naquele dia, por isso resolveu trabalhar na manhã agradável de sexta. Quando deu início ao dia de trabalho, a loira se sentou atrás do balcão, esperando até algum cliente aparecer. Procurava algo interessante para ler nas revistas que tinha ali, quando o sino da porta tocou, anunciando a entrada de alguém. Levantou os olhos para a pessoa que vinha em direção a ela e disse sorrindo:

- Bom dia, Hinata.

- Bom dia, Ino.

- O que deseja hoje? Um arranjo para enfeitar a sala, quem sabe?

- Não - a Hyuuga sorriu docemente -, hoje quero uma encomenda maior. Alguns arranjos florais simples, para enfeitar uma cerimônia de casamento.

- Casamento? Faz algum tempo que não acontece um casamento entre os Hyuuga. É alguém importante? – perguntou curiosa.

- Você verá Ino – corou ao falar.

- Além de simplicidade, o casal deseja algo mais?

- Discrição, mas sem perder a elegância. Confio em você para a escolha das flores. Faça o orçamento e mande para o meu pai, que logo alguém do clã virá pagar.

- Espero que eu saiba quem são os noivos logo, se não eu não tenho como trabalhar – riu do próprio comentário -. Farei o que você me pediu Hinata.

- Obrigada, Ino.

- Por nada, tchau Hinata! – acenou feliz quando a garota saiu da loja.

Quando Ino ficou por fim sozinha, começou a olhar as belas flores da Floricultura Yamanaka, já separando cores e espécies. Falava sozinha em voz baixa, sem se importar se alguém entraria na loja ou não. Pegava uma flor aqui, outra ali, vendo possíveis combinações que fizessem jus ao casamento simples, discreto e elegante. Rodou a floricultura inteira, a procura do que ela achava que seria o ideal. De fato discrição não era o forte de Ino, mas ela se divertia tentando não ser espalhafatosa. O jeito exagerado de ser foi deixado de lado por um momento, e uma Yamanaka Ino calma e serena dava as caras.

Foi tirada dos seus devaneios pelo sino da porta, que tocava pela segunda vez naquela manhã.

- Ino, você está por aí? – ouvindo a voz conhecida, ino levantou a mão e a balançou, enquanto dizia:

- Aqui na parte dos fundos da loja, Shino.

- Ok – Shino andou pela loja até encontrar a garota nos corredores onde havia Lírios de diversas cores -, te achei – dizendo isso tirou um envelope branco do bolso e o estendeu para a loira, terminando – Hinata pediu para que eu lhe entregasse isso.

- É o convite de casamento? – ele somente afirmou com a cabeça – Estava curiosa para saber quem vai se casar – finalmente abriu o envelope e arregalou os olhos quando leu a escrita negra – Hinata e Neji? Eu nem sabia que os dois estavam juntos.

- Os Hyuuga são discretos, além de que é algo recente. E... Tem outra coisa – Shino disse desviando o olhar para os lírios brancos.

- O que?

- Ela quer que você ocupe um lugar de honra.

- Eu? – Ino estava cada vez mais surpresa.

- Sim, para cada um dos noivos eles podem chamar um amigo ou um casal de amigos para ocupar um lugar de honra. Por parte de Hinata será você... E eu.

- E por parte de Neji?

- Eu não sei.

- Ainda não entendo o motivo de Hinata ter me escolhido, mas me sinto lisonjeada. Obrigada por ter vindo aqui só pra me avisar isso – disse sorrindo.

- Não foi nada, Ino. Até mais – acenou e se virou.

- Espera – Shino parou e virou o rosto para a Yamanaka – qual você acha que combina mais com a Hinata? – ela disse mostrando um Jasmim branco e um Lírio branco.

- Hmm – o Aburame pensou por uns instantes – As duas, e Rosas brancas com Íris brancas também – após ele dizer isso, Ino deu um largo sorriso.

- Exatamente como eu estava pensando. Obrigada, Shino.

- Até mais.

- Até – e foi em direção ao balcão para guardar o convite.

As duas semanas seguintes, Ino usou para organizar toda a decoração do casamento da jovem herdeira Hyuuga. Todos os dias, Shino passava na floricultura para ver como estava o trabalho com os arranjos por parte da Yamanaka. Acabava sempre por ajudar a garota, que estava estranhamente calma e quieta naqueles dias. Ele nunca falava nada, só fazia o que ela pedia calado, dizendo algo apenas quando ela começava um assunto. Em um desses dias em que o Aburame passou a tarde toda – que estava especialmente quente – na floricultura, Ino o chamou para tomar um sorvete quando ela fechou a loja dos pais.

- Eu te achava um baita esquisitão, Shino.

- Todo mundo acha, eu já me acostumei.

- Mas não deve ser legal ser tachado de estranho.

- E não é - ele disse abaixando o olhar para o sorvete que tomava.

- Heh, me desculpe por isso – ela suspirou e continuou -, bom, agora eu te acho uma pessoa divertida, sabe. Essa sua mania de fazer perguntas retóricas e as responder logo depois.

- Elas não são retóricas. Sabe por que elas não são retóricas? Porque elas tem resposta – disse se defendendo.

- De fato, você é uma pessoa divertida – ela disse enquanto ria alto, lambendo o sorvete que insistia em derreter.

- Já que é assim – ele levantou e apontou acusadoramente para a loira -, eu pensava que você era uma garota que só pensava em coisas fúteis.

- Acho que ainda sou – ela confessou, mirando o horizonte com um olhar vago -. Parei com a disputa sem noção com a Sakura, mas se não fosse por esse trabalho pro casamento da Hinata, as brigas com a testuda voltariam em breve. Eu estou mudando.

- Você se mostrou uma pessoa mais paciente. Coisa que não era um tempo atrás.

- Ha – ela riu suavemente, se lembrando do quanto era pavio curto e se deixava levar por provocações bobas quando mais nova.

- Hey, Ino! – olhou para a direção de onde vinha a voz e acenou.

- Já voltou de Suna, Shikamaru?

- O Chunnin Shiken acabou, agora estou livre.

- Alguém de Konoha se graduou? – Shino perguntou.

- Konohamaru – ele pareceu pensativo por uns momentos – e Hanabi.

- Hanabi também voltou para a vila?

- Sim, por quê?

- Ela vai ficar surpresa.

- Por que a problematicazinha ficaria surpresa, Ino?

- Porque a irmãzinha mais velha dela vai se casar.

- Hinata vai se casar? – Shikamaru estava realmente surpreso – Finalmente caiu a ficha do Naruto?

- Ela irá se casar com o primo, Neji – Shino disse calmamente enquanto se sentava.

- Neji? Ele quase a matou e agora eles vão se casar?

- As pessoas mudam, Shikamaru.

- Eu sei, problemática dois – o Nara falou cansado e depois se despediu da amiga, seguindo para um lugar qualquer em Konoha.

Shino e Ino continuaram naquele banco de praça aleatório em um lugar relativamente longe da floricultura, conversando sobre o casamento de Hinata, missões recentes e sobre o passado. Riram juntos contando sobre missões que falharam miseravelmente, e que agora eles percebiam o quanto foram bobos. Ficaram tanto tempo conversando que nem perceberam quando as ruas ficaram mais vazias e as luzes das casas começavam a se apagar. A madrugada já era alta quando eles se deram conta de que estavam completamente sozinhos na praça.

- Acho bom irmos pra casa, amanhã o dia é longo.

- Tem razão. Eu vou com você até sua casa.

- Não precisa Shino, eu sei bem me defender. Você passa na floricultura amanhã? – a garota disse enquanto andava em passos curtos e lentos.

- Você precisa da minha ajuda? – ele perguntou enquanto a acompanhava.

- Seria bom, mas só pela parte da manhã.

- Tem alguma missão na parte da tarde?

- Não, Tsunade-sama me liberou de missões quando soube que eu estava organizando a decoração do casamento de Hinata. Vou mandar fazer meu Houmongi para a cerimônia, já que é a primeira vez que vou a um casamento sem ser parente de um dos lados.

- Entendo.

- Você tem o seu kimono?

- Não.

- Hmm... – Ino parou por um momento. Colocou a mão no queixo e apoiou o cotovelo no outro braço. Depois de um tempo, sua face se iluminou com um sorriso e ela bateu a mão direita fechada na palma esquerda – Tive uma ideia!

- Ideia? – Shino a olhava com uma expressão de dúvida, ou o que ela achava ser uma expressão de dúvida, já que ele sempre andava com praticamente todo o rosto coberto.

- Você vai comigo quando eu for mandar fazer meu Houmongi, e aproveitamos e já mandamos fazer o seu kimono.

- Tanto faz – ele disse, indiferente.

- Então está combinado – ela sorriu, enquanto ignorava a indiferença dele.

- Chegamos – Shino comentou enquanto olhava fixamente para a placa que quando iluminada mostrava um "Floricultura Yamanaka" escrito de forma imponente.

- Aqui... SEU BOBO! – ela deu alguns soquinhos nos braços do garoto – Eu disse que sabia me defender – se virou emburrada, cruzando os braços a frente do corpo.

- Eu não duvido disso – ele curvou os lábios num sorriso discreto que a loira não viu, se virou e acenou -, te vejo amanhã Ino.

- Boa Noite – ela respondeu fazendo bico e entrando em sua casa.

O dia seguinte foi cheio para ambos. Pela manhã foi a correria da loira olhando vários catálogos e tentando se decidir por algum arranjo que parecesse mais com a jovem Hyuuga e seu primo. De tempos em tempos ela virava para Shino – que admirava as flores – e perguntava algo mais específico em relação ao gosto de Hinata. Almoçaram juntos e foram visitar algumas costureiras. Ino olhava os tecidos de alguns Houmongi já prontos e se perdia na hora de escolher, já que não queria ser chamativa. Depois de cerca de duas horas olhando as estampas e os tons, Ino conseguiu escolher um Houmongi para si e um Kimono para Shino. Pagaram e se despediram da simpática senhora, indo cada qual para seu canto.

Shino foi até o complexo Hyuuga, pois Hinata havia deixado um recado com Shibi. Passou pelas portas depois de ser reconhecido por alguns Hyuuga da família secundária. Foi levado até a sala de visitas da grande mansão, e viu que Hinata estava o esperando, enquanto tomava chá calmamente. Neji estava na porta paralela a que Shino se encontrava no momento, de braços cruzados à frente do corpo e olhos fechados.

- Não estava em casa ontem, Hinata. Aconteceu algo?

- Na verdade não, Shino-kun. Estava se divertindo? – Hinata falou em um tom de brincadeira.

- Você fala como se eu fosse uma pessoa solitária que nunca se diverte.

- Mas depois que Kiba-kun se casou, só vejo você sozinho.

- Eu estava me divertindo, Hinata.

- Sozinho?

- Não, eu não estava sozinho.

- Então estava com quem, Shino-kun? – Hinata perguntou curiosa e Neji abriu os olhos.

- Ah – Shino suspirou cansado e acabou por sentar, sabia que a conversa seria longa -, com Ino.

- Ino? – foi a vez de Neji perguntar – Yamanaka Ino? – o moreno de óculos afirmou com a cabeça – Achei que ela não saía com tipos como você.

- Neji, isso foi cruel – Hinata o repreendeu, olhando-o de esguelha.

- É a verdade, Hinata – o Aburame falou -, mas Ino não é mais a mesma que vocês conheceram.

- E o que a fez mudar?

- Uma das coisas foi uma pessoa. Foi você, Hinata.

- Eu? Como eu a mudaria, Shino-kun?

- O seu casamento. Ao mexer com as cores mais calmas e arranjos mais discretos, Ino acabou se tornando uma pessoa mais calma.

- Entendo... – Hinata bebeu um gole de chá e, respirando fundo, continuou – Como está sua relação com Ino?

- Nós somos amigos, Hinata, como sempre

- Você não passava o dia todo com ela antes, Shino-kun.

- Ora, foi você mesma quem me pediu para ajudá-la, já que eu conheço seus gostos.

- Sabe, Shino-kun, eu virei uma pessoa muito observadora. Eu poderia ter pedido para Hababi ajudá-la.

- Hanabi estava em Suna, no Chunnin Shiken.

- Então você sabia? Então mudaremos minha frase. Eu poderia ter pedido para alguma Hyuuga que me conhece bem.

- E por que eu então?

- Mesmo que você use esses óculos escuros, eu consigo acompanhar seu olhar. Acha que eu não percebi que desde que formávamos o Time 8 você sempre a observava na floricultura nos dias de folga em comum?

- Qu... – Shino se levantou repentinamente – QUEM É VOCÊ E O QUE VOCÊ FEZ COM A HINATA TÍMIDA, CALADA E QUE NÃO COMENTAVA SOBRE A VIDA ALHEIA?

- Quanto à vida alheia eu só não comentava, como você mesmo disse, já o resto... Eu tinha problemas, Shino-kun, só os superei.

- Desde quando você sabe? – ele suspirou vencido e voltou a se sentar.

- Sempre. Eu precisava de um motivo pra dar um empurrãozinho e o meu casamento foi mais do que perfeito. O resto é com você.

- Hinata...

- Ah, Shino-kun, você sabe por que eu pedi pra vocês dois serem meus convidados de honra, e não minha irmã?

- Não.

- Uma desculpa para vocês irem juntos – Hinata sorriu travessa enquanto bebia o chá.

- Você pensou em tudo.

- Só quero ajudar um amigo.

- Obrigada, Hinata.

A garota sorriu de maneira doce e Shino se despediu, indo para sua casa. Em outro canto de Konoha, Ino estava deitava em sua cama. Mesmo com a luz do quarto desligada, ela não conseguia dormir. Todas as vezes que fechava os olhos, a imagem de um ser de óculos escuros e capuz aparecia. "Shino", sussurrou sem perceber, mas assim que a ficha caiu, a garota tapou a boca e arregalou os olhos. "Que isso, Ino, o Shino é só um bom amigo", disse para si mesma, tentando acreditar no fato.

Em um sábado, faltando apenas uma semana para o casamento de Hinata, Ino deu uma folga para si mesma, mesmo que não tivesse absolutamente nada para fazer. Naquele momento ela estava sentada em um banco de uma praça próxima a floricultura, de pernas cruzadas e uma expressão de profundo tédio. Fechou os olhos e bateu o pé impaciente, tentando pensar em algo para fazer.

- É raro te encontrar fora da floricultura, Ino – a garota se virou e viu Shino parado ao lado do banco, com as mãos no bolso e os olhos fitando o nada – Não vai trabalhar hoje?

- Já tomei todas as decisões, e o que falta é só montar os arranjos, coisa que eu só vou fazer um dia antes do casamento para as flores não murcharem. Estou me dando essa semana de folga, queria algo na floricultura?

- Sim, mas isso pode esperar até a próxima semana.

- Então quer dizer que não era nada relacionado ao casamento de Hinata? – Ino dizia enquanto dava espaço para Shino se sentar no banco.

- Não – ele respondeu se sentando.

- Posso saber o que pode esperar semana que vem, ou vou ter que esperar até passar o casamento de Hinata?

- Essa sua pergunta não faz sentido, Ino.

- E por que não?

- O que pessoas geralmente vão fazer em uma floricultura?

- Duh – Ino bateu em sua própria testa e riu do fora que tinha dado – Ok, fui idiota na pergunta, então vamos reformular – ela pensou por uns instantes, mas antes de falar algo Shino a interrompeu:

- Se você for perguntar para que ou para quem, eu não vou responder.

- Ah, sem graça. Tudo bem... Quantos tipos de flores?

- Isso pode esperar pra semana que vem – o Aburame se virou para Ino e ela percebeu que ele estava sorrindo.

- Você é problemático – ela disse fingindo uma cara irritada.

- E você falou igual ao Shikamaru agora.

- Ah, é a convivência. Depois de anos no mesmo time, é difícil não pegar algumas manias.

- Eu não peguei manias do Kiba ou da Hinata.

- Você não ficou tanto tempo junto deles a ponto de considerá-los irmãos.

- De fato.

Depois disso, um silêncio se instalou naquele local. Shino permanecia com as mãos nos bolsos, e agora olhava para um ponto fixo a sua frente. Ino tinha as mãos espalmadas sobre o banco e sua cabeça apoiada no encosto, ela fitava o céu perdida em meio às nuvens. A falta de sons não era incômoda, já que eles somente aproveitavam a companhia um do outro. Após alguns minutos calados, o jovem Aburame se virou para a loira, que o olhou nos olhos, com uma expressão de dúvida.

- Estou tomando o seu tempo de folga, acho que vou embora.

- Na verdade eu não tenho a menor ideia do que fazer nessa minha folga.

- Então – Shino se levantou e estendeu a mão para Ino, ajudando-a a se levantar do banco – vamos repetir a dose de algumas semanas atrás.

- Sorvete? – ela perguntou depois de soltar a mão dele e tirar o pó da roupa.

- Exato.

Ino sorriu e apostando uma corrida com Shino até o centro de Konoha, disparou de telhado em telhado. Mesmo depois de semanas sem treinar ela ainda tinha a agilidade de kunoichi. Shino também não perdia em agilidade, e acompanhava o ritmo da garota com facilidade. Em certo momento ele a ultrapassou, e quando ela percebeu, deu tudo de si para ir mais rápido que o Aburame. Ao fim da pequena disputa, Ino chegou primeiro na pequena barraca que vendia sorvetes e sorriu vitoriosa.

- Eu ganhei a corrida – dizia com a respiração entrecortada pelo esforço -, você paga – e deu uma gargalhada gostosa, que fez com que o moreno sorrisse.


FELIZ ANIVERSÁRIO, HOPPIPOLLAS/DENISE/TOPH-BAKA.

Aqui está seu presente de aniversário, como eu prometi, espero que você goste.

Esse é o primeiro capítulo. Ao todo serão três e a fic já está completa, ou seja, não vou demorar tanto pra postar.

Até o Próximo Capítulo

Beijos da Pô!

Trick or Treat?