Estava frio, a neve já transformara a cidade em um bonito painel esbranquiçado. Ginny estava sentada em um pub, tomando um drink da bebida mais forte que ela já havia provado provavelmente. As acompanhantes eram Misa e Leah, ambas estudavam com Ginny em uma famosa escola de culinária no turno da noite.

As conversas estavam bem animadas a todo redor do local, inclusive na mesa delas, porém, Ginny não pôde deixar de notar que havia uma pessoa estranhamente calada e sozinha. Na mesma hora, não percebendo se era por causa da bebida, ou do sentimento de solidão que ela mesma sentia, começou a devanear quanto ao motivo daquela pessoa estar tão sozinha. No meio de seu devaneio, enquanto suas amigas falavam futilidades , a pessoa se virou, percebendo que estava sendo observada talvez, e mirou profundamente nos olhos de sua observadora.

Na mesma hora, de uma maneira alcoolicamente desajeitada, Ginny fez o que depois percebeu ter sido um gesto bastante infantil, se jogou atrás das costas de Leah, pois, no momento em que aqueles olhos cinzas se focaram nos olhos castanhos de Ginny ela sabia exatamente quem era.

Malfoy, durante todos os anos em que passou no colégio, apesar de ser altamente arrogante e sempre querer tirar vantagem sobre tudo, sempre lhe chamou atenção. Afinal, quando estava caminhando pelos suntuosos corredores de sua tão amada ex-escola, se deparou com Malfoy algumas vezes, e quando ele estava desacompanhado, sempre lhe passara uma imagem de constante desconforto, desamparo e de solidão, sobretudo.

"O que ocorreu, Ginny? Já desmaiou?" – disse Misa obtendo como resposta uma explosão de risos de sua amiga Leah. Ginny estava aflita, não queria que nenhuma pessoa relacionada com o seu passado aparecesse, não depois de todo o ocorrido.

"O que Malfoy está fazendo aqui, em um pub trouxa?",pensou Ginny.

Ginny deu uma espiada e percebendo que o homem já não estava mais no local se recompôs com um breve suspiro.

"O que aconteceu, Ginny? Você está bem?" perguntou Misa, ainda com um ar de riso.

"Nada, acho que hoje eu não quero mais beber, vou ao banheiro e depois para casa, ok, meninas?" . Com isso, se levantou, com muita cautela, pois estava visivelmente embriagada.

"Não se esqueça que amanhã, quero dizer hoje,- deu uma pausa para rir da própria "piada"- vamos passar na sua casa para nos arrumarmos para a festa amanhã, que você vai nem que eu e Leah tenhamos que te amarrar, ok?"- disse Misa.

"Claro, claro, não perderia a festa de aniversário da Claire por nada nesse mundo"- disse com um evidente desdém, já que a aniversariante em questão era uma das garotas mais enjoadas de todo, mas só porque dividia o segredo de ser bruxa com Ginny, ocasionalmente falava com Ginny, como se fosse sua grande amiga.

Depois de ter ido ao banheiro, saiu imediatamente do pub, mas imediatamente após abrir a porta, percebeu que a neve havia voltado a cair e com isso deu um suspiro, colocou sua luva e seu gorro, apertou seus braços ao redor do corpo e rumou para sua casa que ficava a dois quarteirões de onde estava.

Paris era tudo o que sempre sonhara, estava ainda encantada com o local em que escolheu morar para fugir das lembranças de sua terra natal. Passava um pouco de meia noite, e era sexta feira, não havia muito barulho na rua, pois as pessoas estavam no aconchego de restaurantes ou pubs, mas para Ginny estava uma noite bastante agradável. Ocasionalmente ouvia-se o som de um violino bem tocado, pessoas rindo. Era tudo bastante reconfortante, tudo diferente de sua terra natal, onde morava agora seu ex namorado que a fez sofrer tanto.

Sempre que Ginny lembrava de Harry, uma lágrima ainda brotava de seu rosto. Afinal, ele havia sido sem dúvida o grande amor da sua vida. O amor platônico dela conseguiu ser correspondido, mas três anos depois, Harry, que havia conseguido um alto posto político, a traíra na cama em que os dois dividiam já há um ano. Ginny, depois de encontrar os dois dormindo, sem nenhuma preocupação, lançou-lhes um feitiço para que não ouvissem o barulho que ela fazia, separou todos os seus pertences, deixou um bilhete para ele, desfez o feitiço e rumou para a casa dos seus pais. Lá, contou à mãe o que havia ocorrido, sem muitos detalhes, pediu-lhe dinheiro( os Weasleys haviam ficado com uma situação financeira muito boa após a guerra) e rumou para França sem pensar duas vezes, sem olhar para trás. Já estava há três anos no país, e não queria voltar de maneira nenhuma. Ginny havia conseguido um emprego razoável em uma reservada doceria, onde por enquanto era garçonete/caixa (variava com o dia), mas depois de terminado seu curso de culinária, poderia vir a ser a cozinheira do local.

Chegou em casa, foi tomar um banho quente e dormiu. Durante a noite teve um sono inquieto, imagens de Harry com a amante rindo, se divertindo passavam como um filme, no qual ela não podia interferir. Acordou com a campainha tocando. Olhou para o relógio e percebeu que marcava três horas da manhã. Se enrolou em um sobretudo que estava jogado na poltrona do quarto e foi ver quem era. Fez um pequeno feitiço para que a porta ficasse invisível para quem estivesse dentro da casa e seu estômago ficou de repente gelado.

Draco Malfoy, estava usando um jeans escuro com um suéter e um sobretudo preto que lhe dava uma aparência bastante agradável. Seu braço estava apoiado na parede ao lado da porta da casa de Ginny, sua testa estava encostada no antebraço que estava grudado à parede, fazendo que Ginny só pudesse ver parte do rosto de draco, mas seu cabelo platinado levemente bagunçado estava evidenciando que era mesmo ele... na sua porta...às três horas da manhã. Algo dizia à Ginny que ele estava levemente alcoolizado.