Título: Meus Direitos, Suas Obrigações.

Autora: Samantha Tiger Blackthorn

Beta: Tachel Black

Casal: Harry Potter e Draco Malfoy

Tema Musical: A New Day Has Come - Celine Dion

Classificação: NC-17

Resumo: Um relacionamento tem exigências claras, os dois envolvidos têm direitos e deveres iguais. Draco está para descobrir isso, do pior modo possível.

Gênero: Slash - Romance entre dois homens, se não gosta não leia.

Disclaimer: Estes personagens pertencem a J.K. Rowling, mas eu procuro me divertir o máximo com eles, principalmente com o Harry e o Draco, que são os meus preferidos.

Dedicatória: Presente para minha leitora e fã, Nanda W. Malfoy.

FELIZ ANIVERSÁRIO LINDINHAAAAAAAAAA!!!

Meus Direitos, Suas Obrigações.

1ª Parte

Há muito tempo que eles não dormiam separados. Teve que ter muita força na noite anterior, ele chegara, se trocara e saíra. Hoje era seu primeiro dia de folga depois de uma missão que durou dez dias e teve esse tempo todo para pensar. Por que da vez anterior quando ele chegou de uma missão antes do dia, esperou pelo loiro durante a noite toda, que só chegou de manhã. Discutiram por que Harry tinha perguntado onde ele tinha estado. E a resposta tinha sido surpreendente o suficiente para fazê-lo pensar que Draco merecia uma dose do seu próprio remédio. Atravessou o corredor e entrou na cozinha para fazer o café. Em seu pensamento ainda o loiro que dormia no quarto ao lado do seu e a cena que se desenrolara na noite anterior, quando chegara em casa...

- Onde você estava? – Draco pergunta ainda no escuro, assim que ele abrira a porta, antes que ele acendesse as luzes. Reconhecendo apenas o perfume dele no ar, cítrico e envolvente.

- Por aí... Que eu saiba, nós não temos um compromisso sério meu loiro, moramos juntos, mas ninguém é dono de ninguém, cada um é senhor da sua própria vida. Lumus! – As luzes se acenderam... Draco quase se esqueceu de respirar... Aquele era o seu namorado? Olhou-o de cima a baixo... Uma camiseta regata negra, uma camisa de seda verde escura por cima, calça justa também negra, cintos e sapatos de pelica italianos. Os cabelos desordenados artisticamente com gel... E sem os óculos.

- Não foi isso que eu quis dizer. E desde que você me pede satisfações eu também tenho o direito de... – Draco protestava automaticamente como sempre, ainda o olhando admirado.

- Você não tem direito de me pedir satisfações. Desde aquele dia em que você colocou em discussão os termos do nosso relacionamento, eu aprendi qual é o meu lugar e qual o seu na nossa vida em comum. Sexo é ótimo, entre nós é fantástico, nós nos gostamos, mas o relacionamento é aberto e você pode ir aonde quiser e com quem quiser, tudo bem. A não ser por um detalhe. Você se esqueceu que eu, meu querido, também posso. – Sorriu maliciosamente e deixou a sala em direção ao quarto.

Sentou-se à mesa, apreciando o café preto, como ele gostava.

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Draco deixou o quarto de hóspedes, verificando se sua aparência estava impecável, pois não pretendia deixar transparecer que não dormiu nada. Deitar naquela cama foi mais doloroso do que queria admitir para si mesmo. Encontrar a porta do quarto deles fechada foi um duro golpe. Apesar de tudo ainda não conseguia entender a atitude de Harry, totalmente diferente de sua natureza. Entrou na cozinha e observou o outro, sentado, saboreando uma xícara de café. O aroma o seduzia, mas jamais o tomaria depois da discussão que tiveram. E ainda mais após ter sido trancado para fora do seu próprio quarto! Circulou a mesa, andando até a geladeira e a abrindo, fingindo procurar algo, mas não desviando a atenção de Harry ainda bebericando o líquido quente. Segurou-se para não agarrá-lo pelo colarinho e fechou a geladeira sem nada pegar. Ficou de frente para o moreno, com ar de quem não estava se importando, mas com fogo o corroendo por dentro.

Harry notou quando ele entrou na cozinha, continuou tomando seu café calmamente, mesmo que quisesse não ia desistir do que decidiu durante os dias em que ficou fora. Ouviu-o abrir a geladeira, fechar, rodear e por fim parar em sua frente, sem dizer uma palavra. Pousou a xícara na mesa e calmamente levantou os olhos até ele, notando-o lindo e impecável como sempre.

- Algum problema? Quer alguma coisa? Ainda tem café na cafeteira...

- Não, obrigado. – Sua expressão assumiu um ar de desprezo. – Não preciso de esmolas...

- Bem, você é quem sabe. Não é esmola nenhuma. Eu fiz café para nós dois, como sempre, mas se você não quer, tudo bem. – Harry sabia muito bem que o fato de ter trancado a porta do quarto devia ter sido um choque. Resolveu facilitar para o loiro. Infelizmente amava aquele cabeça-dura. – Desculpe por ontem, eu estava muito cansado e fui meio ríspido com você. Cheguei da rua logo depois da missão e só tive tempo de tomar um banho e me trocar antes de sair, não pude esperar por você. Quando cheguei eu queria dormir, e não deu para conversarmos... Mas agora dá. Você quer ficar com o nosso quarto? Se quiser eu tiro minhas coisas de lá e fico com o de hóspedes. Afinal, quando estivermos a fim, podemos transar na minha ou na sua cama, dá mais liberdade pra mim e pra você também. Assim, se eu chegar tarde às vezes não atrapalho seu sono. – Sorriu alegre a ele, percebendo a cara de poucos amigos. – Enquanto você resolve, eu vou fazer uma caminhada. Na volta trago algo pra gente comer. – Levantou-se e foi saindo pela porta da sala, fechando-a atrás de si.

Uma raiva quase insana tomou conta de Draco, ainda incrédulo de tudo que ouviu. Se Harry queria puni-lo... Estava conseguindo apenas tirá-lo do sério. – Como ele se atreveu a me tratar assim? – Pensou ainda tremendo. Pegou a jarra da cafeteira e a jogou no chão, o vidro e o líquido escuro e quente se espalhando pelo piso da cozinha. Saiu na direção do quarto decidido a fazer as malas e partir. Nem sabia dizer quanto tempo permaneceu ali, sentado na sala, cercado pelas quatro malas que continham todas as suas coisas. Não acreditava que ainda estava ali, esperando alguém que o fizera se sentir tão barato. E tudo porque não quisera lhe dar satisfação de sua ausência naquele dia... E estivera aquele tempo todo na casa de sua mãe.

oOo

Depois da caminhada no parque, Harry passou no supermercado para pegar uma torta de cereja para Draco, a preferida dele, e voltou para o apartamento ainda pensando se não tinha exagerado. Abriu a porta e se deparou com o loiro sentado no sofá cercado pelas malas. Pela quantidade de malas ele devia estar saindo definitivamente. – Ainda não acredito que ele pode ser tão imaturo... Ele não percebeu que essa situação é a mesma anterior? A mãe dele sempre teve razão afinal... Será que ele não vai ter brio de me provar que pode ser diferente? – Colocou a torta na mesinha da sala, chegando mais perto das malas.

- Uéé... Vai sair assim tão rápido? – Sorriu cinicamente ao loiro. – Não pensei que, além de frio e insensível ainda por cima fosse covarde... – O que foi, 'seus próprios termos' da nossa vida em comum foram ofensivos para você?! Em nossa discussão anterior você deixou claro que transar comigo era muito bom, morar junto era cômodo, mas dividir uma vida em comum, com direitos, obrigações e responsabilidades, não... – Levantou as sobrancelhas numa expressão atrevida.

- Quem você pensa que é para me acusar assim? – Não conseguia controlar o tom elevado de sua voz. – Eu disse o que disse... E aí? Agora você deu pra levar tudo que digo tão a sério? – Draco não se conteve.

- Mudou de idéia? Tudo bem, mas tenha em mente que eu não sou palhaço de ninguém. Sou a outra parte interessada dessa relação e cansei de tentar fazer o relacionamento dar certo sozinho. – Harry sentia-se muito aborrecido, já havia cansado desse jogo.

Tudo aquilo deixava Draco fora de si, decidido a não deixar que Harry falasse dessa forma com ele ou que o chamasse de covarde impunemente. Avançou contra ele, prendendo-o contra a parede, o peso de seu corpo o imobilizando.

- Se você realmente quer que nosso relacionamento fique nesses termos... Então vou entrar nesse jogo também. – Suas mãos passearam atrevidas pelo corpo do outro, invasivas, decidido a ter aquilo que queria e fazendo Harry se sentir tão indignado quanto ele estava.

– Relacionamento...? – Perguntou amargo. – Que Relacionamento? Eu quero um namoro sério, você quer um amante casual! – Empurrou o loiro com determinação. – Resolvi fazer a sua vontade, gosto de você, mas se você quer sexo casual eu vou dar o que você quer... – Desencostou da parede e se afastou. – E parece que nem isso você quer mais, já que está abandonando nosso apartamento definitivamente, a contar pela sua bagagem. – Encaminhou-se para o quarto, chateado e cansado da discussão. Antes de sair da sala voltou-se para ele. – Não sou um joguete em suas mãos, nem pretendo passar a ser.

Aquelas palavras e a atitude de quem pouco se importava se Draco ia embora ou não, o surpreendeu. Acreditava que a visão das malas faria Harry pensar bem no que estava se arriscando a perder, mas... Apenas o fez ficar mais frio ainda. Tropeçou nas malas e quase caiu, chutando-as com raiva. Não queria e nunca quis deixar o moreno, tendo enfrentado toda a resistência de sua mãe com relação a ele. Não sabia dizer exatamente o que sentia, mas a atitude de pouco caso do outro o incomodava. Talvez ele tenha se arrependido de viver com um antigo inimigo... Mas ele disse que queria ser seu namorado... Será que não estaria apenas buscando uma desculpa para livrar-se do incômodo?

- Droga! - Disse alto, não se preocupando se era ouvido. – Não vou embora do meu apartamento! – Sentou diante da janela, observando a chuva escorrer pelo vidro, pensando em como doía... E tudo porque Harry desconfiou dele...

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Harry atravessou o corredor e entrou no quarto deles, fechando a porta atrás de si, encostando-se nela. A angústia dentro do peito se tornando grande demais para suportar, ouvindo perfeitamente o berro dele na sala, encolhendo-se contra a porta. Seu corpo escorregou até o chão, a garganta doendo e os olhos ardendo pelo choro contido. Já não sabia mais o que fazer, tentou de tudo, ignorou, esbravejou, tentou o diálogo, nada deu certo... Algumas lágrimas desceram de seus olhos sem que ele conseguisse evitar, essa era sua última tentativa, se não desse certo ele ia ter que desistir do loiro, era caso decidido e ele não ia voltar atrás.

Não podia reclamar, Hermione o avisou logo no começo. Disse que Draco era inseguro e mimado e egocêntrico, que ele não estava preparado para qualquer tipo de relacionamento, quanto mais um estável. Mas ele acreditava, na época, que seu amor e paciência conseguiriam mudar o loiro, mas se enganara redondamente. Agora depois de todo aquele tempo ele olhava para trás e via que nas lembranças havia mais cacos colados que momentos felizes... Levantou-se lentamente. Ele gritara que não ia sair do apartamento... Se o conhecia bem, era claro que iria preferir o quarto deles. Ele não se importava na verdade com isso, aquele quarto ou o de hóspedes, tanto fazia...

- Accio roupas e objetos pessoais. – Fez o movimento com a varinha, reunindo tudo que era seu sobre a cama, conferindo tudo que estava sobre ela, olhando na gaveta do criado mudo e nas prateleiras da estante, encontrando ali um porta-retratos antigo virado para baixo.

Tomou-o nas mãos, olhando para a foto deles que se mexia na moldura, do dia da mudança para aquele apartamento. Seu estado de espírito não conseguiu agüentar os rostos felizes que o encaravam. Uma revolta insana o acometeu. Sua voz abandonou a garganta num sussurro, e foi aumentando gradativamente de tom até explodir.

- Era mentira... Tudo mentira... Mentira, MENTIRA! – O grito se juntou ao ato de atirar o porta-retratos contra a parede, sem pensar que poderia ser ouvido. Ao ver o que fizera, o adorno delicado no chão, despedaçado em centenas de caquinhos, se arrependeu. Ajoelhou-se e deixou que os soluços altos escapassem, lavando a alma, até que não restasse mais nenhuma emoção dentro de si. Tomou a varinha, recuperando o objeto. – Reparo! – Colocou-o no meio de suas coisas e abrindo a porta fez com que elas levitassem até o quarto ao lado, fechando a porta e não saindo de lá o resto do dia, nem se lembrando da torta de cereja que ficara na mesinha da sala.

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Draco, perdido em seus pensamentos, ouviu claramente toda a revolta de Harry no quarto, falando algo sobre mentira e um ruído alto de algo se quebrando. Odiava saber que era a razão disso tudo, mas... Não conseguia entender o que o outro esperava dele, como Harry desejava que ele agisse. O loiro pensou em como era e sempre foi, na dificuldade que sempre teve em confiar em alguém e como abominava quando não confiavam nele, em como em toda a sua vida jamais sentiu nada como o que tinha com o antigo inimigo.

Lembrava-se claramente do dia em que se mudaram para esse apartamento, da primeira noite deles e de como adormeceram nos braços um do outro. Tudo isso era novo para ele, mas sentiu-se protegido... Feliz como nunca antes. E agora Harry queria algo, desejava mais dele, mas não conseguia compreender como agir, como pensar, apenas se deixava levar pelo seu jeito de sempre, quase por instinto... Um instinto que o manteve vivo. Observou Harry passar com suas coisas para o quarto de hóspedes e desejou dizer algo... Mas o que?

Sabia que ia acabar dizendo a coisa errada e pioraria a situação. Deixou-se ficar ali olhando para a mudança que não queria; seus olhos tristes sobre a expressão destruída dele. Tinha vontade de chorar, mas não conseguia. Foi ensinado que isso era para os fracos, mas... Voltou-se para a janela novamente quando a porta do quarto se fechou.

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Harry trancou a porta do quarto de hóspedes. Não, do 'seu' quarto. Era o seu quarto agora e por um tempo indeterminado. Colocou tudo que era seu na cama e começou a arrumar, pendurou algumas roupas no armário e guardou outras nas gavetas, o retrato foi para o lugar dele, na mesinha ao lado da cabeceira da cama. Levou boa parte do dia nessa tarefa, tentando não pensar na confusão que estava sua vida. Deitou-se com os olhos fechados, tentando relaxar.

Seus colegas do esquadrão o convidaram para sair. Não estava muito no clima, mas talvez fosse essa a solução para seu estado de espírito. Levantou-se e escolheu a roupa, camisa vermelha, pulôver bege, calça e jaqueta marrons, os sapatos de cromo alemão. Saiu do quarto e entrou no banheiro, sem olhar para os lados, tomando um banho demorado. Vestiu-se e se perfumou, dando o toque final nos cabelos com gel e as lentes de contato. Chegou à sala e notou o loiro sentado no mesmo lugar. Abriu a boca para dizer que chegaria tarde e que não o esperasse, mas lembrou-se que não podia, não devia fazer isso. Saiu sem nenhuma palavra para o loiro, o coração apertado no peito.

Draco percebeu a hora em que Harry saiu, olhando de soslaio para ele, notando como estava bonito e sexy. Pelo jeito estava decidido a esquecê-lo, desistindo de tudo e passando para outra...

- E se houvesse alguém mais? Isso... Será que ele tinha desistido de si e encontrado alguém que não fosse um fracasso total em matéria de sentimentos?

Deveria levantar-se e comer algo, estava sem comer há horas, e sair também, demonstrando que Harry não era tão importante quanto pensava.

- MAS ELE É! – Uma voz grita em sua cabeça.

E assim desistiu de comer, por absoluta falta de vontade de deixar esse lugar, diante da janela, onde a chuva fina combinava com seu estado de espírito.

Já fazia algum tempo que Harry tinha saído, mais de hora, e Draco estava no mesmo lugar. De repente as chamas da lareira ficaram verdes, e a voz de Narcisa ecoou pelo apartamento:

- Draco? Você está aí? – A mulher passou os olhos pelo aposento, achando o filho diante da janela. – Você ficou de me avisar se viria jantar ou não... Já passou uma hora do horário do jantar ser servido e você me deixou esperando... Isso não se faz meu filho... – Silêncio absoluto. – Você não vai dizer nada?

- Eu não quero falar com a senhora... - Draco disse friamente, sem se voltar. – Por sua causa... Eu estou perdendo a melhor coisa da minha vida.

- Isso são modos Draco? – Narcissa saiu da lareira, chegando até a janela. – Você já é homem feito, mas ainda sou sua mãe! Que modo grosseiro é esse de falar comigo? – Ela ficava cada vez mais irada por estar sendo ignorada. – Deve ser a convivência com aquele griffyndor... Sabia que isso não daria certo e... – Parou subitamente, se dando conta do detalhe, percebendo a postura do filho, sozinho ali, e ele dissera que estava perdendo a melhor coisa da vida dele. – Vocês brigaram! É isso não é? Pode me explicar o que eu tenho a ver com isso?

- Você sempre desejou isso! – Continuou sem olhar para ela. – E naquele dia em que você insistiu que ficasse na sua casa...

Respirou com dificuldade, mas... Como poderia acusar a mãe se foi ele mesmo que disse todas aquelas mentiras para o Harry, apenas por sentir que ele desconfiava de si? Levou a mão ao rosto já sem saber o que dizer ou pensar.

- Como você pode dizer uma coisa dessas Draco... Eu nunca desejaria algo que fosse fazer você infeliz meu filho. Mas você não pode dizer que eu não avisei. – Ela se entristeceu por saber que o filho sofria. – Avisei a você e ao Potter. Eu disse a ele, que você não estava pronto para um relacionamento sério, estável...

- Ah, esquece! – Desejou que ela saísse e o deixasse.

- Como 'esquece'. Você me acusou! – O jeito displicente dele a irritou.

- Tudo bem... Eu sou incapaz mesmo! – Não desejava esticar o assunto, mas nunca essas palavras de sua mãe o fizeram se sentir tão mal consigo mesmo. – Agora pode ficar feliz... Estava certa. Eu destruo tudo que toco.

- Não é isso... Você é muito mimado Draco, sempre achou que as coisas giravam em torno de você... Isso talvez tenha uma parcela de culpa minha e do seu pai, afinal você é filho único. Não pude ter mais filhos... – Tocou no ombro dele. – Você tem certeza que ele é mesmo a melhor coisa da sua vida? Você realmente quer ficar com ele, de verdade?

- Hoje descobri que sem ele... – Voltou-se para a mãe, tão desprotegido como quando era uma criança. – ...Nada vale a pena.

- Então venha sentar-se aqui comigo. – Puxou-o pela mão até o sofá. – Me conte tudo, desde o dia que você passou a noite lá em casa. – Segurou as mãos dele nas suas. – Vou tentar ajudar você. Eu só quero que você seja feliz meu filho.

- Ele quis saber onde estive e... Senti que ele desconfiava de mim. – Segurou na mão fina que tentava lhe passar segurança. – Foi então que menti, dizendo que saí e que não tínhamos nada sério pra ter que lhe dar satisfação. Não sei por que fiz isso... Agora ele incorporou o que eu disse e está me dando o troco.

- Algo me diz que não foi só isso, não foi uma briguinha à toa assim. Senão você não estaria arrasado desse jeito, dizendo que estava perdendo 'a melhor coisa da sua vida'. Isso que você está me contando aconteceu há duas semanas... Vocês brigaram de novo, o que houve?

- Ele se mudou para o quarto de hóspedes e saiu. – Olhou para as malas ainda no meio da sala. – Eu ameacei ir embora... Achei que ele cederia... Mas piorei tudo, agi como um trasgo e ainda o ofendi.

- Imagino as coisas horríveis que você deve ter dito e feito a ele para magoá-lo a ponto de ele tomar essa atitude. Ele foi tolerante demais Draco, muito mais do que eu esperava, apesar de toda sua infantilidade e egoísmo, me provando que o amava de verdade. – Percebeu no rosto do filho a intenção de protestar, mas não deixou, continuando a falar. – Você não estava e ainda não está preparado para manter um casamento... Por que esse relacionamento que vocês têm, ou pelo menos o que Potter vem tentando ter com você, é o mesmo que um casamento, e exige uma série de direitos e obrigações, é necessária muita tolerância, confiança e respeito... De ambos os cônjuges.

- E eu sou incapaz disso, não é? – O desânimo se apossou dele. – Jamais... E assim eu vou perdê-lo... Para sempre.

- Você não é incapaz. Ele acredita em vocês dois, senão ele teria ido embora e não mudado de quarto, ele está cansado de sustentar essa relação sozinho. – Narcisa olhou firmemente para o filho. – Você o ama? Me dê uma resposta direta e clara, AMA?

- Se amar é saber que não pode imaginar-se longe dele... – Talvez não seja a resposta que ela espera, mas não sabe dizer o que é amar.

- Então mude meu filho. Abandone o seu orgulho infantil e retribua o que ele sempre fez a você. Os cuidados, o carinho, a segurança, o apoio... Lembre-se que você tem o 'direito' de sair, de ir onde quiser, mas tem 'obrigação' de deixar um bilhetinho de satisfação, não por ele não confiar em você, mas para evitar preocupações ou mal entendidos. Você não é sozinho, vocês formam um casal...

Mesmo depois que sua mãe partiu, Draco ficou por algum tempo pensando em tudo que ouviu e no que sentia. Sabia claramente que perder Harry não era uma opção, mas ele provavelmente já tinha encontrado outra pessoa e essas suas saídas revelavam isso claramente. Então o primeiro passo era descobrir quem era esta pessoa e dar um jeito de Harry se desinteressar dele. Depois poderia fazer tudo àquilo que sua mãe recomendou. Isso se realmente fosse capaz de fazer alguém feliz.

Tomou de uma pequena caixa, de onde retirou uma poção que guardara para casos de emergência. Foi até o quarto de hospedes em busca de um fio de cabelo, parando um instante diante da foto dos dois que ele conservava na cabeceira. Mas não podia ficar esperançoso por uma foto, precisava agir. Misturou o fio à poção e preparou-se para bebê-la, hesitando por um instante. Respirou fundo e a bebeu. Logo entrou em um transe, vendo o local onde Harry estava como se estivesse presente... Mas essa ligação é sempre momentânea e rapidamente se desfez.

- Ah... Então você e seus amigos estão aí, não é!? – Murmurou satisfeito. Então ele se vestiu e saiu.

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Draco chegou ao bar, discretamente vestido, observando o local onde o moreno está e sentando-se estrategicamente para não ser visto, mas poder olhar tudo.

Harry mantinha o sorriso cordial nos lábios, acompanhando a conversa dos amigos, falando, rindo, mas não estava se divertindo... Sua bebida estava intocada diante de si e já estaria sem gelo se não fosse enfeitiçada para permanecer gelada. Não conseguia deixar de se preocupar com o loiro que deixou em casa, diante da janela, com uma expressão desolada na face, mesmo se sentindo magoado com ele.

- Hei, Harry – O colega o cutucou discretamente. – Aquele ruivo está flertando com você... Não tira os olhos daqui.

O loiro sentiu um nó no estômago quando percebeu que ele estava lá, sentado com seus amigos, lançando um longo olhar sobre um miserável ruivo que o paquerava e depois rindo junto com os demais.

- Onde...? – Harry olhou disfarçadamente pra onde o colega apontava, analisando criticamente o rapaz como costumava fazer. – Ora Andrew, você sabe que não é o meu tipo... Musculoso demais! Deve ser daqueles que passa o dia todo na academia.

- Sei, sei... Você sempre acha defeitos em todos. – O moreno reclamou. – Seu tipo é aquele que nós conhecemos bem. Loiro, alto, delgado, olhos prateados e metido a besta.

Harry caiu na risada, vendo que todos os outros concordavam com Andrew, ele mesmo concordava, mas os amigos não precisavam saber disso.

E Draco conseguiu ouvir a palavra loiro ser pronunciada algumas vezes... Mas estava muito longe para seguir a conversa... Então estavam rindo dele? Tinha que conter toda a sua raiva.

- São vocês que estão falando, eu não disse nada, nem vou dizer... O assunto Draco não está em pauta.

- Por falar nele, por que ele não veio com você? Faz um tempo que você não o traz...

- Ele não estava em casa hoje... – Respondeu, o olhar distante. – Deixou um bilhete dizendo que ia jantar com a mãe.

O loiro esticou o pescoço para vê-los melhor, então teve a impressão de ter sido visto e se retraiu na cadeira, com a respiração descompassada. Viu como um dos amigos se aproximou e tocou Harry, parecendo inocente, mas não confiava nestas coisas. Sempre havia algum interesse por trás.

John estava realmente debruçado no espaldar do sofá em forma de 'U' que circulava a mesa dos colegas. Tinha acabado de chegar ao pub e notou algo surpreendente quando entrou. Antes de dizer qualquer coisa se interou da conversa dos amigos, e ouvindo a resposta de Harry chegou por trás do moreno, tocando-o no ombro e apoiando o outro cotovelo no encosto logo atrás dele. Fez um sinal para que os demais prestassem atenção e se aproximassem para ouvir.

- Tem certeza que ele foi jantar... Com a mãe? Será que ele não foi a... Outro lugar? Talvez... Ele tivesse um encontro?

Um 'ohhh' de pura caçoada se ouviu no meio dos rapazes, logo acompanhado de risadas... Que não acreditavam realmente naquela hipótese. Mesmo Harry riu, por que também não acreditava nisso.

- E de onde você tirou essa idéia maluca? – Ele perguntou descrente, por que conhecia muito bem o loiro com quem vivia.

- Bem, por que o vi... Aqui mesmo nesse pub, assim que entrei, observando o mais discretamente possível a nossa mesa.

Harry arregalou os olhos, muito surpreso com a revelação. Mas pensou que talvez isso viesse a calhar com o que se propusera a fazer. Nota que os rapazes fizeram menção de procurar o loiro pelo ambiente.

- Não olhem! – Falou mais baixo para que só os amigos escutassem. – Quero saber o que ele veio fazer aqui, e se ele perceber que já notamos a sua presença não vai dar certo. Vamos continuar numa boa. – Seus lábios se abriram num largo sorriso e o moreno então flertou abertamente com o rapaz que o secava do outro lado da pista de dança, para total espanto dos colegas. – Sabe que você tem razão Andrew? O ruivo não é de se jogar fora... – Ao ver-se correspondido o ruivo não se demorou em levantar e vir abordá-lo.

- Boa noite... – O forte sotaque alemão deu um charme extra à voz suave e rouca. – Meu nome é Rudolf. Você não quer dançar...?

O queixo de todos caiu ao ver o moreno se levantar e acompanhar o rapaz... Sorrindo e piscando marotamente aos companheiros embasbacados, dançando com desenvoltura a música agitada que tomava conta do recinto.

A Expressão de Draco se fechou completamente quando viu o ruivo se aproximando de Harry e depois seguindo com ele até a pista de dança. Sua vontade era destroçar o ruivo e arrancar cada uma das unhas de Harry, mas não queria dar esse gostinho ao moreno traidor. Olhou em torno, em busca de alguém desacompanhado e... Viu apenas um homem barbudo, estilo caminhoneiro (coisa que Harry diria) e decidiu que o peludo servia muito bem para o que pretendia. Não fazia o seu estilo, mas... Dava pro gasto.

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Continua...