Saint Seiya não me pertence, pertence a Masami Kurumada e Toei.
Trata-se de um U.A(Universo Alternativo) já que eu só trabalho com os personagens, mas não uso a cronologia do autor e apenas alguns lugares.
Um singelo presente de aniversário para a minha grande amiga e tia virtual Nana Pizani.
Boa leitura!
Era uma noite fria de inverno o vento batia nos galho das árvores fazendo com que as folhas farfalhassem e colidissem com a janela da sala de espera de um renomado hospital em Paris. Era um lugar excessivamente claro, limpo e muito bem arejado. Estava quase vazio a não ser por um bonito homem de cabelos ruivos e compridos com uma pequena franja que caía tomando-lhe a testa, olhos castanhos avermelhados, lábios finos e rubros e pele branca.
Ele mantinha os olhos fixos em um ponto na parede, as mãos dentro dos bolsos do grosso, sobretudo marrom e as pernas já começavam a ficar dormentes por ficar tanto tempo naquela posição. Mas ele não estava nem um pouco preocupado com isso,mantinha-se sem forças o suficiente para sequer se mover ou ajeitar-se na cadeira. Sem ação, um pouco assustado e preocupado poderiam defini-lo naquele momento, pois tudo tinha acontecido de repente e ele tinha sido pego de surpresa.Estava em casa fazendo seu planejamento de aula quando recebeu um telefonema do hospital dizendo que Hyoga tinha sido atropelado e para ele aparecer o mais rápido possível.
Depois de horas sem reação, ele se mexeu desconfortavelmente na cadeira, tirou uma das mãos do bolso do casaco e passou penosamente pelos cabelos, quase como um movimento mecânico.
Uma garota de cabelos loiros e olhos claros apareceu a porta da sala de espera. Tinha menos de 1,60 m de altura e a pele clara com o rosto levemente bronzeado, os olhos inchados e o rosto vermelho por causa da crise de choro por ver Hyoga naquela situação, uma pessoa queeratão querida.
Quando viu ohomem de cabelos ruivos parado ali ela deixou uma lágrima solitária rolar pelo seu rosto e um soluço abafado escapar entre seus lábios. Ela se virou de costas e se segurou no batente da porta de vidro para não cair e com uma das mãos tampou a boca tentando conter a seqüência de soluços convulsivos que se seguiriam se ela não se controlasse. Não! Definitivamente ela não era a mais indicada para contar aquilo. Não poderia mexer em um passado que se manteve escondido por tantos anos. Mas, não tinha jeito. Tinha que contar e faria isso agora.
"Camus!" – a garota chamou de forma firme apesar de estar abalada. Ela limpou as lágrimas com as costas das mãos e depois se virou para ver o Francês.
Camus não tinha se virado para encará-la, estava em estado de choque e talvez por isso não desse sinal de que tivesse a ouvido.
"Camus!" –retornou a chamar.
O homem virou a cabeça vagarosamente para verde quem era a voz melodiosa que lhe dirigia a palavra, depois encarou a garota por alguns segundos, abriu a boca para tentar falar algo e sua voz saiu rouca e o tom de confiança que estava presente cotidianamente tinha se esvaído por completo.
"Catarina." – disse cansado. Ele só empurrou o corpo para frente, apoiando os braços nos joelhos e as mãos no rosto. Os olhos completamente perdidos.
A garota foi até ele devagar, os braços cruzados tentando desviar o olhar para outra direção. Parou na frente dele e ajoelhou-se no chão para ficarem no mesmo nível, mas ele não voltou a encará-la. Ela o abraçou firmemente apesar de nunca ter tido muita intimidade como homem,e ele aceitou o abraço repousando sua cabeça no ombro da jovem. O jovem deslizou para fora de sua cadeira e caindo no chão de joelhos, completamente desajeitado.
"Obrigado"! – o homem não sabia o que estava dizendo, não era de demonstrar sentimentos. Mas, estava demasiadamente frágil e sensível e não estava preocupado se parecia um completo idiota sentimental ou não.
A garota permaneceu sem dizer nada, apenas servindo de apoio para o homem afagando-lhe os cabelos.
"Precisamos conversar!" – disse – "É muito importante! É sobre o Hyoga!"
Quando ela disse isso os braços de Camus amoleceram fazendo com que ele se soltasse da garota.
"Ele vai ficar bom não vai?"
"Não sei!" – respondeu infeliz – "Vai depender de você!"
"De mim?" – perguntou confuso.
"Aqui não é lugar para falarmos sobre isso! Vamos até a lanchonete tomar um café! Você está muito pálido!"
"Eu quero saber do Hyoga!" – ele segurou com força os braços da garota e sua voz tinha um tom meio desesperado. – "Como ele está?"
"Mal" – ela concluiu que não seria bom esconder a verdade de Camus, ele já tinha que se preparar para o pior, assim como ela tentava buscar forças para aceitar a dura realidade.- "Vamos!" – a jovem se levantou, puxou-o pelos ombros, forçando-o levantar também. Esse não manifestou resistência e cedeu, espanou o sobretudo e voltou a colocar as mãos nos bolsos. Não era hora para sentimentalismo e para ele esmorecer.
Os dois seguiram a passos lentos que ecoavam pelo longo corredor. Permancerampor toda extensão do trajeto sem dizer uma única palavra, fazendo com que um silêncio incomodo se instaurasse entre âmbos.
Quando chegaram à pequena lanchonete perceberam que ela estava quase fechando, os dois se aproximaram pediram dois cafés. Alguns poucos minutos depoispegaram suas bebidas e foram se sentar em uma mesa distante e próxima a uma grande janela.
"O que quer me contar sobre Hyoga?"
A garota bebeu metade de sua bebida com um gole só, de modo que, pode sentir sua garganta queimar por causa do líquido excessivamente quente.
"Hyoga não é apenas meu pupilo! Tenho-o como amigo, um irmão mais novo, até mesmo um pai! – o coração dela deu um salto e ela sentiu um frio percorrer-lhe a espinha – por isso peço que não me esconda nada. Por ser da família o médico deve ter-lhe contado sobre o real estado de saúde dele.
Ela voltou a beber mais alguns goles, depois ficou olhando para a xícara como se estivesse muito interessada. Um silêncio quase sepulcral se instalou no recinto e eles permaneceram assim por longos cinco minutos.
"Pelo seu silêncio posso deduzir que ele..."
"Não ponha palavras na minha boca!" – respondeu.
"Então por não fala logo o que acontece com Hyoga? Ele está tão mal? VAMOS LOGO! DIGA ALGO!" – ele se levantou da cadeira completamente transtornado e batendo na mesa com o punho fechado.- "DIGA LOGO!" – segurou-lhe pelo braço esquerdo forçando-a encará-lo.
"Camus, não vai ser fácil no início, mas você terá que entender que..."
"O que? O QUE EU VOU TER QUE ENTENDER?"
"Camus me solte! Está me machucando!" – a garota não tinha força para elevar a voz a um tom superior ao dele, mas falou firme encarano-o– "Ficar nervoso não vai ajudar em nada!"
Ele a olhou com um pouco de raiva. Desde o dia em que se conheceram ele teve a impressão que a garota sempre oencarava de forma curiosa, demonstrando ansiedade e preocupação.
O Francês ajeitou o sobretudo mais uma vez,sentou-se novamente na cadeira e a encarou no fundo de seusolhos verdes.
"Seja breve!" – sua voz saiu gélida e os olhos castanhos avermelhados encheram-se de ansiedade e raiva.
A garota tomou mais um gole da bebida, tirou o grosso casaco de pele de carneiro e ficou apenas com uma blusa de gola verde clara. Ela embolou o casaco rapidamente e colocou-o na cadeira ao lado.
"Olha Camus, eu não sei da história inteira, mas vou tentar transmitir tudo com o máximo de detalhes. Pode parecer estranho tudo isso que eu lhe direi, mas é necessário!"
Ele não respondeu, apenas fez um aceno de leve com a cabeça.
E ela iniciou um relato comum e pessoal sobre a vida de Hyoga.
Há muitos anos atrás Hyoga e sua mãe faziam um cruzeiro pelo mar da Sibéria.Na época ele era muito novo, entorno de seus 7 ou 8 anos,e só conhecia o afeto da mãe, já que ele nunca tinha conhecido o pai e nunca teve a curiosidade de saber sobre seus outros parentes.Por isso ela era a coisa que ele mais prezava na vida.
"Olha mamãe, olha!" – um garoto muito sapeca e maroto brincava de patinar na fina camada de gelo que tinha se formado no convés do navio. Tinha belos olhos azuis, pele branca e levemente bronzeada, cabelos loiros e curtos com uma franja.
"Cuidado Hyoga! Cuidado!" – uma bonita mulher loira, de pele alva, alta e de olhos azuis petróleo caminhou em sua direção.
O garoto resolveu ir até ela, mas o chão estava muito escorregadio e por isso acabou por adquirir uma velocidade muito elevada e ir de encontro as perns da mulher que o segurou com uma das mãos com toda sua força impedindo que o garoto se machucasse.
"Tome cuidado filho!" – disse lançando um olhar carinhoso para ele.
"Não se preocupe mãe! Eu sei o que estou fazendo!" – ele afastou os cabelos loiros do rosto com dificuldade por causa das grossas luvas que usava. Ele continuou a tentar patinar pelo convés, andando devagarzinho para não se desequilibrar e cair.
"Hyoga!"
"Sim mãe?"
"Junte mais os joelhos. Se afasta-los demais vai acabar caindo!"
"Certo! Vou tentar!" – o pequeno seguiu os conselhos dela e começou a finalmente deslizar com grandeza e leveza.
"CONSEGUI!" – ele gritava feliz.
"Isso filho! Muito bom!" –ela tentava bater palmas com as grossas luvas, mas os som saia abafado também por culpa do vento gélido. Ela decidiu que o incentivo seria muito importante para o pequeno e começou a despir as luvas para aplaudir o filho. Quando Hyoga viu o que a mãe fez foi em sua direção novamente. Ele, com suas pequenas mãozinhas, segurou as mãos dela entre seus dedos.
"Vai pegar um resfriado mamãe! Não precisa fazer isso para me agradar!" – ele levantou o rosto para poder vê-la.E ela encarava-o radiante.
"Você foi a melhor coisa que me aconteceu! Você é tudo para mim!"
"Mamãe! Por que têm que ficar falando essas coisas melosas?" – ele, como era muito baixo, colocou o rostinho em sua barriga e abraçou a mãe pela cintura. Ela começou a afagar os cabelos do pequeno.
"Eu tenho que falar essas coisas melosas" – disse rindo – "Para você nunca esquecer que a mamãe te ama muito!" – ela fez com que ele virasse o rosto para encará-la e ele sorriu, logo depois abraçou a mãe de novo fazendo com que suas palavras saíssem meio abafadas.
"Também te amo mãe!"
Um farfalhar de assas e grunhido de aves pode ser ouvido por ambos e eles viraram a cabeça para cima.
"Mãe! Que animais são aqueles?" – perguntou o pequeno apontando fascinado para as majestosas aves que voavam em bando.
"São cisnes meu bem! Não são bonitos?"
"São lindos!" – os olhos dele brilhavam com a presença dos animais. - "Eu queria poder voar com eles!"
"Querido, nós humanos não podemos voar!" - disse bondosamente.
"Mesmo assim eu gostaria que fosse possível!" –respondeu o garotode forma infantil.
"O cisne sempre foi meu animal favorito!" – disse encantada.
"E pra onde eles estão indo?" – perguntou o pequeno puxando a barra da saia da mãe. Ela se abaixou para ficar no mesmo nível que ele e começou a ajeitar o pequeno capuz que ficava aderido junto ao casaco do filho.
"Eles estão migrando!"
"Migrando?"
"Sim! Estão procurando terras mais quentes, mas eles voltam na próxima estação!"
"Entendi!" – disse o loiro vendo os animais se afastarem e se perderem no horizonte.
"Acho que está ficando muito frio!" – disse a mulher sentindo uma brisa cortante passar pelo seu rosto. – "Vamos entrar!"
"Ah mãe!" – Hyoga soltou um muxoxo de desaprovação à nova idéia.
"Não discuta comigo! Vamos!" – ela se levantou e deu a mão para o pequeno.
"Mas, antes eu vou te ensinar a patinar!" – o garoto começou a levar a mãe vagarosamente por entre o convés e passear com ela de um lado para o outro. Ela, achando graça, permitiu que o menino continuasse a brincar de ser seu instrutor.
"Mãe?"
"Hum?"
"Para onde nós estamos indo mesmo?"
"Quando o navio aportar vamos pegar o trem e seguir para um vilarejo no coração da Sibéria Oriental."- a voz dela assumiu um tom penoso como se estivesse muito cansada. Fazia alguns anos que migrava com o filho de uma cidade para outra dentro da Rússia e estava na hora de, finalmente, criar raízes em algum lugar para o bem deste. Sentia saudades do pai do menino que nunca sequer tinha conhecido o filho e nem sabia que ele existia. Já tinha escrito várias cartas – que mantinha trancafiada em sua enorme mala de viagem – explicando a situação e contando da existência do pequeno Hyoga.
"E dessa vez nós vamos morar lá por quanto tempo?"
"Vamos fazer uma experiência de um ano! Se gostarmos ficaremos lá ok?"
O menino balançou a cabeça afirmativamente para a mãe e em seguida disse:
"Vai ser divertido!"
Os dois se davam muito bem e logo o pequeno Hyoga aprendeu a se apegar apenas à mãe e mais ninguém. Faltando aproximadamente uma semana para desembarcarem no porto o navio começou a sofrer sérios problemas técnicos até que bate em um iceberg fazendo um rombo muito grande no casco do enormebarco, colocando em perigo todos que estavam ali.
Um comissário de bordo deu a notícia durante o café da manhã.
"Por favor senhores passageiros pedimos para que mantenham a calma! O navio será evacuado, por favor, voltem para suas cabines, coloquem os coletes salva-vidas que se encontram em seus armários e subam para o convés."
Um pânico sem igual tomou conta de todos a bordo e rapidamente começaram a se atropelar e a correr para seus aposentos.
"Venha Hyoga! Venha!" – Natássia pegou a mão do filho com força e começou a correr junto com a multidão para sua cabine.
Chegando lá ela pegou uma mochila marrom e começou a jogar um ou outro objeto de mais valor, abriu o pesado malão e começou a procurar desesperadamente por alguma coisa.
"O que está fazendo mãe?"
"Procurando uma...coisa!" – ela finalmente acha a carta que estava procurando e joga dentro da mala. Se o pai de seu filho nunca chegasse a recebê-la pelo menos o próprio Hyoga poderia tirar suas próprias conclusões e achar seu pai um dia.
Ela abriu o guarda-roupa com estrepito e procurou desesperadamente pelos coletes e achou. Só que só havia um ali! Ela não pensou muito no assunto e começou a vestir o filho.
"Mãe e você?"
"Eu não preciso filho!" – ela falou da forma mais segura que conseguiu. Pegou a mão dele, colocou a mala nas costas e começou a correr para o convés, se amontoando entre os passageiros. Muitos botes já tinham sido lançados ao mar e apenas um pequeno lote de pessoas ainda permanecia no navio.
Ela tentou embarcar com o filho em um dos dois botes que ainda estava disponível, mas foi empurrada por um homem e acabou caindo no chão.
"Mãe, a senhora está..."
"Não solte minha mão por nada Hyoga!" – ela falou firme. Mais do que depressa voltou a se levantar e mal isso aconteceu um dos botes tinha sido levado ao mar. Só sobrava um. A água subia muito rapidamente e o mar não estava mais calmo como de costume, mas brando e violento levantando fortes ondas.
"Só tem lugar para mais um!" – gritou um dos comissários que estava embarcando os últimos passageiros.
Ela não pensou duas vezes, saiu se acotovelando levando o pequeno Hyoga pela mão e colocando-o dentro do bote.
"VAMOS DESCER!" – gritou o homem para o outro ajudante que já se preparava para descer o pequeno barco no mar.
"NÃO! MÃE! ENTRA!" - gritava o menino desesperado.
"HYOGA VÁ!"
"NÃO! MÃE! A SENHORA TÊM QUE VIR COMIGO! VENHA!" – ele ainda não tinha soltado a mão dela.
"Se levarmos mais gente senhora o bote não vai resistir!" – disse o comissário penalizado pela situação. Se pudesse, trocaria de lugar com ela, mas era ele que controlaria o pequeno bote.
Natássia tirou a mochila nas costas e jogou nas mãos do filho, beijando as costas das mãos do garoto.
"Te amo!" – disse com os olhos marejados, pois sabia que era a última vez que o via.
"MAMÃE!" – foram às últimas palavras que Hyoga conseguiudizer a ela. O comissário segurou Hyoga impedindo-o de tentar voltar ao barco, o bote começou a descer e logo quando caiu no mar eles começaram a remar para longe da correnteza.
Apesar de tudo Hyoga continuava a se debater dentro do bote e era segurado firmemente pelo comissário.
"MÃE! MAMÃE! MÃE!"
"MENINO CALMA! CALMA!"
Natássia ficou vendo o bote do filho sumir ao longe.
"Adeus Hyoga!" – ela se virou e começou a caminhar rumo ao seu quarto. A água tinha subido muito rapidamente a já alcançava seus calcanhares, ela foi até o quarto e trancou a porta. Começou a remexer na bolsa e encontrou uns comprimidos para dormir que não demorou a tomá-los. Depois se deitouem seu leitoe esperou o sono arrebatar-lhe quase instantaneamente. Quase uma hora depois a água tinha tomado conta do compartimento e Natássia expirou.
Com a morte de sua mãe, Hyoga estava sozinho no mundo agora, pois ela era a única parenta viva que ele possuía. Pelo menos foi o que ele pensou! Uma pesquisa feita pelo juizado de menores localizou sua avó materna dois dias depois do ocorrido.Ela morava na cidade de Bordeaux no oeste da França, e daquele dia em diante era ela que tinha direito a guarda legal do pequeno.
Eu nunca vou me esquecer daquele dia que o vi entrando pela porta da sala, estava todo encolhido, segurando uma bolsa tira-colo e parecia nervoso...
Ainda era bem cedo no casarão estilo clássico. Era uma casa modesta com um povo de hábitos simples e corriqueiros. Na sala da casa uma linda garotinha de cabelos loiros, curtos e olhos verdes vivo ficava toda hora na ponta dos pés tentando ver sobre o parapeito da janela.
"Eles já vão chegar Tata!" – uma moça jovem que não aparentava ter mais de vinte anos e usava um uniforme de empregada perfeitamente engomado e bem alinhado se portava atrás da garota tentando afastá-la da janela.
"Eu quero ver como ele é!" - falava de um jeito infantil. A menina era muito baixinha e de uma pele clara. Ela mal se virou para falar com a moça e pode se ouvir o barulho do portão se abrindo do lado de fora.
"Eles chegaram!" – a menina passou correndo feito um rojão até a porta da sala.
"Tata! Menina espere!" – a empregada foi até ela, espanou o vestidinho verde que ia um pouco além dos joelhos e colocou os cabelos curtos da garota atrás da orelha.
"Ma petit ¹, sua mãe disse que queria que você estivesse apresentável para quando eles chegassem certo?"
"Oui ²!" – disse timidamente.
"Pois então, vá com calma!" – mal a moça a soltou e ela voltou a correr para a entrada da casa e chegou a tempo de ouvir a primeira rodada da chave da maçaneta da porta.
Uma mulher alta, de cabelos loiros e cacheados apareceu com olhar de cansada. Ela aparentava ter seus quarenta anos, mas não deixava de ser bonita e seus rostos ainda preservarem traços da mocidade.
"Bonjour" – disse com um sorriso no rosto para a pequena.
"Bonjour " – respondeu a garota sorrindo com as mãos nas costas.
"Tata eu gostaria que você conhecesse uma pessoa muito especial e eu quero que vocês se tornem grandes amigos."
A mulher se afastou um pouco da passagem para que a pessoa que a garota esperava com tanta ansiedade pudesse entrar. Era Hyoga com os cabelos loiros maltratados, o olhar perdido e com grandes olheiras, era visível que a morte da mãe lhe abalara muito. Ele estava meio que abraçado com uma mochila meio velha de couro marrom e parecia transtornado.
A mulher se abaixou para poder ficar no mesmo nível que o loiro e se ajoelhou ao seu lado.
"Tata esse é o Hyoga, Hyoga essa é Catarina, mas a chamamos de Tata!"
"Oi Hyoga!" – a menina deu o primeiro passo na direção do outro que recuou um pouco para trás. – "Quantos anos você tem?"
O menino não respondeu, piscou algumas vezes e depois virou a cabeça para o outro lado evitando olhá-la.
"Tata ele está um pouco cansado! Teve uma longa viagem da Sibéria até aqui!" – disse a mulher antes que aquela situação continuasse – "Hyoga você quer dormir um pouquinho?"
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça, mas continuava a mirar os pés. A primeira impressão era que Hyoga era a criança mais infeliz que podia se conhecer.
"Então, vamos?" – a mulher tirou a bolsa da mão do Hyoga para que ele não carregasse peso e foi lhe guiando.E o menino a seguiu. Subiram as escadas para o andar superior,depois andaram por um longo corredor com muitas portas indicando a passagem para outros aposentos.
"Você vai gostar daqui Hyoga! Pode parecer estranho no começo, mas nós vamos nos dar bem!"
O menino continuou sem dizer nada, mas permaneceu a segui-la.
"Esse será o seu quarto!" – disse a mulher abrindo uma porta que estava um pouco emperrada, sinal de que se manteve fechada por um longo período.
Ela entrou e abriu as cortinas para que a luz pudesse adentrar o quarto.
"Eu não te conhecia por isso não decorei o aposento! Eu nunca criei um menino só tive meninas até hoje!" – disse sorrindo.
Hyoga passou os olhos pelo local. Tinha as paredes toda branca e um bonito armário entalhado em mogno. Um estante e prateleiras recheadas por bonecas e bichinhos de pelúcia e em cima da cômoda um porta retrato com uma foto. Hyoga reconheceu a mulher da foto e saltou na direção do armário.
"Esse era o quarto da minha mãe?" – perguntou quase como um sussurro.
A mulher engoliu um seco e depois deixou uma lágrima solitária rolar por seu rosto. Ela não esperava que alguém compreendesse a dor que ela sentia pela perda da filha adorada que ela tinha criado como se fosse uma princesa, achava que ninguém sofria como ela até que foi pegar Hyoga na estação de trem.Foi a primeira vez queela tinha vistoo neto.
"Era sim!"
"Ela ta diferente nessa foto!" – disse mostrando a garota que sorria radiante.
"Foi tirada no dia do aniversário de dezoito anos dela!" – disse num som quase inaudível e mal movimentando os lábios.
"Ela era linda!" – disse o filho tocando a foto da mãe com as pontas dos dedos. – "Posso ficar com essa foto?"
"Não!" –disse baixo. Amulher andou até ele e delicadamente tirou a moldura do garoto. – "Essa era uma das poucas fotos que eu ainda tinha dela".
"Eu entendo!" – disse o menino com uma pontada de mágoa, mas sabia a dor que ela devia estar sentindo não era muito diferente da dele. Âmbos perderam um bem precioso.
"Eu vou deixar você descansar um pouco e mais tarde arrumamos suas coisas."
"Certo!" – disse o menino se virando de costas para a senhora.
Ela saiu meio que abraçada com a moldura, entrou em um outro quarto próximoe encostou a porta devagar atrás de si.
Hyoga virou-se e mirou o seu mais novo refúgio. Apesar de sofrer bastante com a morte da mãe não demonstraria emoções na frente de estranhos como aquela mulher que era na verdade, sua avó materna.
Ele pulou sobre os lençóis da cama macia, achatou a cara no travesseiro e ficou lá se lembrando da mãe. Chorou, abafou o choro, soluçou e por sono, cansaço e tristeza adormeceu sobre os lençóis de algodão.
Quando a senhora chegou a seu quarto percebeu que tinha acabado por ficar com a mochila do pequeno. Ela foi até sua cama e mexeu na mochila devagar, talvez ali tivesse alguma foto mais recente da filha que ela não via há mais de oito anos. Nada de muito valor, as coisas desarrumadas demonstrando que tinham sido colocadas de qualquer jeito e que Hyoga não tinha checado desde a tragédia. Até que suas mãos pousaram sobre um material de textura lisa e fina e deparou-se com uma carta.
Viu o remetente e logo reconheceu a letra caprichosa de sua filha.
"Filha! Por que tudo teve que ser assim? Por quê?"
Ela virou a carta para conferir o destinatário na esperança que aquela última carta pudesse ser destinada a ela, mas decepcionou-se. Apesar de tudo que tinha passado a filha ainda tentava manter viva a lembrança daquele homem que tinha abandonado-a com um filho na barriga quando eram jovens.
Conteve o impulso e não abriu a carta, por mais que soubesse que "deveria" fazê-lo não o fez. Abriu a gaveta da cômoda de cabeceirae deixou a carta ali, depois afofou o travesseiro e dormiu abraçada com a foto da filha.
Vocabulário:
¹- Minha pequena.
²- Sim.
N/A: Primeiro capítulo dessa trama que me trará muita alegria em escrevê-la.
Bem, a história começa no inverno porque na França agora está um frio intenso e aqui estamos derretendo de calor. Acreditem, é muito difícil escrever sobre o inverno no verão! Dá calor só de falar das roupas deles.
Quem deu a idéia foi a própria aniversáriante, mas quem vai desenvolvê-la sou eu. Talvez fique um pouco diferente do que ela espera, mas espero que ela goste mesmo assim.
Nana, que a sua vida seja cheia de paz, alegria, saúde, realizações e vitórias. Você é uma ótima pessoa e amiga e eu desejo que você tenha toda a felicidade que você merece!
Feliz aniversário tia Nana:)
Beijos
