Título: Meu admirador secreto
Autora: Serennity Winner LeFay
Casal: 2X1, e um pouco de 4x3 e 5x13
Avisos: a fic é absolutamente romance. É yaoi, ou seja, trata de relacionamento entre dois homens, então se você não gosta, ou isso te incomoda de algum modo, não leia. Se ler, não venha reclamar comigo depois, okay? Talvez, mais pra frente, tenha algo lemon, mas ainda não é certo. Ah, e eu vou alternar, um capítulo em Duo POV, um em Heero POV, começando pelo Duo.
Disclaimer: por mais que eu ame os pilotos gundam, eles não me pertencem. E esse é um trabalho de ficção sem fins
Sinopse: Depois do fim das guerras, Heero se torna um escritor, mas sob um pseudônimo. Escreve romances inspirados no que ele sente por um certo americano de tranças que conheceu na guerra. Duo, sem saber de nada disso, começa a comprar esses livros, e se apaixona pelo autor de suas palavras, até que esses sentimentos entram em conflito com uma antiga paixão por Heero Yuy, seu colega nas guerras.
Capítulo 1 – Empréstimo
Eu sempre lutei pela paz. Sempre. Mas nunca imaginei que ela seria tão entediante. Não há mais nada que um piloto de mobile suit possa fazer nessa paz inquietante, e isso me irrita. Cadê a ação, o perigo, o risco de vida, a emoção, a crueldade dos campos de batalha? Sinto falta disso. E do meu gundam também...
— Duo! – uma voz irritada me tira bruscamente de meus devaneios nostálgicos
— Estou indo! – respondo, me arrastando até o balcão da escura loja.
Esqueci de me apresentar. Meu nome é Duo Maxwell, ex piloto do Death Scythe, agora atendente de uma velha livraria no centro de uma cidadezinha, cujo dono é um preguiçoso que me manda fazer todo o serviço sozinho.
— O que deseja, senhor? – perguntei ao homem idoso que estava na minha frente. Ele era um frequentador assíduo, aparecia toda quarta-feira.
— Alguma novidade, meu jovem?
Fiz sinal para que ele esperasse um instante, e virei-me para os registros de entrega. Corri meu dedo pelos nomes, e anotei alguns que eu sabia que faziam o gênero do homem. Entreguei-lhe o papel com os nomes.
— E são bons?
Levei a mão à minha nuca, sem graça. A séculos ele me dizia para cultivar o hábito de ler, mas eu sempre ignorei. Só leio jornal e olhe lá.
— Eu não sei... – disse sem jeito
— Jovem Duo, ler é saudável!
Ele pegou os óculos no bolso do paletó e leu os títulos. Instantes depois olhou significativamente para mim e saí de trás do balcão, me dirigindo até as prateleiras. Andei entre elas um pouco, até que encontrei os quatro livros que procurava. Estendi-os para o homem, que logo começou a folheá-los um por um, com uma avidez e curiosidade impressionante.
— Vou leva-los. – anunciou.
Assenti, peguei os objetos e voltamos ao balcão. Ele pagou pelos livros e colocou-os cuidadosamente numa bolsa.
— Ah, Duo, eu já ia me esquecendo. Trouxe isso para você.
Tirou da mesma bolsa um livro de capa vermelho-escuro, e entregou-me.
— É um dos meus livros favoritos e creio que até mesmo você vá gostar dele. Mas o quero de volta, heim?
Ri, e fiquei observando-o se despedir e ir embora. Depois olhei com desprezo para o livro vermelho e sequer li seu nome antes de enfiá-lo embaixo do balcão.
— Ele levou alguma coisa? – me perguntou meu chefe, vindo dos fundos da loja
— Quatro livros. – respondi sem muita emoção
— Bom, muito bom. Pode ir embora, se quiser. Já está tarde e eu logo vou fechar. Não creio que mais alguém aparecerá hoje.
Peguei meu casaco e saí dali sem nem uma palavra mais. Aquele trabalho me irritava, e hoje em particular eu estava realmente estressado, sem nenhum motivo aparente além da minha vidinha medíocre. Mas, pelo menos, Woaks (1), aquele homem barrigudo e preguiçoso de meia idade, havia me dado um emprego. Não tenho referências, não terminei a escola... não conseguiria coisa melhor mesmo! E o salário dá pra sustentar a mim e a todos os pequenos luxos que sempre gostei, como cinemas várias vezes por mês, roupas de grife, e um bom chocolate suíço de vez em quando. Ah, a quem estou querendo enganar? Ganho uma mixaria que mal paga o aluguel do meu apartamento. Também não é pra tanto, mas... quem se importa, certo?
Fui direto para um pequeno café que fica a dois quarteirões da livraria, onde sempre passo alguns agradáveis minutos conversando com os atendentes, paquerando alguma garçonete nova ou simplesmente tomando um café. O lugar não é grande, mas tem um estilo meio retrô, confortável, que me deixa imensamente a vontade. Gosto de lá. E faz o melhor capuccino da cidade (2).
Me dirijo ao meu lugar costumeiro, o terceiro banco do balcão, à esquerda da juke box e faço um aceno para Julie, a garçonete. Adoro pegar o turno dela, pois sempre ganho algumas bolachinhas de chocolate se fizer um pouco de charme. A garota é caidinha por mim, embora eu nunca tenha dado esperanças a ela.
— Aqui está, Duo! – ela veio me entregar o copo de cappuccino toda sorridente
Agradeci gentilmente e levei o copo a boca, me engasgando com o primeiro gole do líquido escuro. A causa? Uma visão que só pode ser uma miragem, ou um sonho. Eu devo realmente ter enlouquecido, ou pego novamente no sono lá na livraria. Heero Yuy não pode estar bem ao meu lado, tomando um café expresso e lendo jornal, incrivelmente sexy usando jeans, uma blusa azul que realça seus belos olhos e um sobretudo preto. O único no mundo a balançar meu coração desse jeito, a me deixar sem fala, e mais bobo do que eu costumo ser. Enquanto minha mente entrava em uma luta épica para decidir se eu deveria ou não chamar-lhe a atenção e cumprimenta-lo, o japonês fechou o jornal, deixou uma nota sobre o balcão e foi embora, sem nem ao menos notar minha presença ali. Fiquei olhando com cara de imbecil para a porta por onde ele saiu por uns bons minutos, até que Julie me chamou a atenção:
— Hey, Duo! Duo! O que houve?
— Nada, nada.
Fiquei acariciando minha trança, repassando em minha mente todos os instantes, um por um, para me certificar de que eu realmente tinha visto Heero. Mas infelizmente eu não podia ter certeza. Por tantas vezes já o vi em lugares onde ele não estava, sonhei com ele e jurava que era verdade, que agora não acredito mais.
Ó, Céus, como aquele homem é gostoso! E pelo visto o tempo lhe fez muito bem... Está ainda mais lindo do que já era antes. E o maldito acabou com todo o meu esforço dos últimos meses para esquecê-lo, em um único segundo. Maldito! Por que ele faz isso comigo? Por que me tortura, fazendo-me querê-lo e amá-lo tanto, se me é inalcansável?
Pego novamente meu cappuccino, e tomo um pequeno gole, antes de perceber um "pequeno incômodo" na região abaixo do quadril. Maldição. Heero ainda me paga por essa.
— Hey, Julie, põe na conta pra mim, okay? – digo com uma piscadela
Ela faz que sim com a cabeça, e eu vou embora, dessa vez direto para o meu apartamento, que não fica muito longe dali.
Durante todo o percurso, Heero não saiu da minha cabeça. Previsível. Totalmente previsível. Eu o amo mais do que qualquer coisa nesse mundo, e no entanto ele parece ser a única pessoa de quem eu não consigo me aproximar. Aquela espessa barreira de gelo que envolve o coração do moreno de olhos azul cobalto me repele como dois pólos iguais de um ímã.
Acendo as luzes e me jogo no enorme sofá branco que habita a sala de estar. Já disse que não gosto do meu apartamento? Ele é muito branco, muito... impessoal. Isso é que dá comprar imóvel mobiliado. Nunca mais faço isso na minha vida.
Maquinalmente levo a mão ao controle remoto e ligo a TV no canal de esportes. Incrivelmente, nem isso consegue me tirar do estado enfadonho de melancolia em que me encontro, combinado com a impressão de ter visto Heero. É verdade, já aconteceu isso outras vezes, como bem comentei, mas nunca foi tão... real, sabe? E normalmente ele aparece do jeito que eu me lembro dele, da última vez que nos vimos, como se ele permanecesse intocado pelo tempo. Dessa vez foi diferente. Ele estava realmente parecendo diferente, mais velho, menos sério, até. (3)
As vezes eu me pergunto porque eu não cheguei nele simplesmente e disse-lhe a verdade? Disse que o amava mais do que à minha própria vida, e que nada do que ele fizesse ou dissesse ia mudar isso? Sabem por que? Porque, no fundo, no fundo, eu tenho medo. Medo não só da rejeição, mas da dor imensa e dilacerante que ela pode me causar.
A TV começou a me irritar, então desliguei bruscamente o aparelho. Levantei-me do sofá e fui para a varanda, mas o vento também me incomodou, e saí dali. Fiquei por algum tempo passando de um cômodo para o outro, sem conseguir me deter em lugar algum. Sentia-me irritadiço e, pra variar, não fazia a mínima idéia do porquê.
Depois de algumas tentativas infrutíferas de ouvir música, fazer um milkshake ou dormir, peguei o telefone e disquei distraidamente um número para mim já tão comum.
— Alô? – disse uma voz sonolenta
— Fei, é o Duo. Te acordei?
— Não, magiina! Tô com voz de sono porque eu acho legal.
— Que bom, fico mais tranqüilo assim. – respondi fingindo não ter percebido a leve ironia irrompendo da voz do meu amigo chinês, o único dos pilotos com quem eu ainda mantinha contato freqüente.
— O que cê quer, Maxwell? Fala logo ou eu vou voltar a dormir.
— Okay, okay! Quero que você venha pra cá agora.
— Agora? Ficou louco?
— Chang, são 6 da tarde, não seja estúpido!
— Eu, estúpido? Cê tem problema de memória ou o quê? Lembra até que horas eu fiquei acordado ontem contigo no telefone, só porque vossa senhoria tinha insônia?
Pode parecer insensibilidade minha, mas eu realmente tinha esquecido. Ontem a noite eu não conseguia pregar o olho, e fiz Wufei ficar acordado conversando comigo até altas horas da noite. Pela manhã, eu fui para a livraria e cochilei lá, mas meu amigo tem trampo sério e não pôde dormir.
— Desculpa, foi mal! Prometo que é rapidinho, e depois disso não te incomodo mais! Nunca mais!
Ouvi um suspiro profundo do outro lado da linha. Todas as vezes eu dizia ser a última, embora sempre houvesse algo depois. Para isso que ele era meu amigo, certo? Quem ficou ao lado dele quando ele levou um chute daquelazinha, a Sally? Quem? Quem? O Maxwell aqui!
— Em cinco minutos eu tô aí...
Dito isso, ele desligou o aparelho.
Nem dez minutos depois, Wufei batia à porta do meu apê, vestindo um jeans velho e uma camisa azul clara, simples. Os cabelos precariamente presos, e leves olheiras embaixo dos olhos escuros. Ele bateu a porta atrás de si e jogou-se no meu sofá.
— Cafeína, Maxwell. – pediu ele num tom autoritário – Senão eu vou pegar no sono antes que você diga o porquê de eu estar aqui.
Mostrei a língua para ele, e fui até a cozinha fazer um pouco de café instantâneo. Logo estávamos os dois sentados no sofá , tomando altas doses de café e conversando. Expus a ele tudo o que estava acontecendo, desde Heero até a minha inquietação suspeita. O chinês me xingou de todos os nomes que conhecia, por chamá-lo ali só por causa daquilo. Conversamos sobre isso e outros assuntos, até que, na melhor parte da minha história sobre a colegial que foi a livraria procurando comic books, percebi que Wufei ressonava baixinho. Acomodei-o no sofá e trouxe-lhe uma coberta, deixando-o sozinho e indo tentar dormir em meu próprio quarto.
- - - - - - - - - -
Novamente quarta-feira. A última semana se arrastou tanto que parece que faz um mês que eu vi um certo japonês. Como não o encontrei novamente, achei que seria melhor à minha sanidade mental trancar esse fato nas profundezas da minha mente e não mexer mais nele. Lá vou eu passar torturantes dias tentando esquecê-lo.
Para minha sorte, antes que eu começasse a enumerar todas as qualidades de Heero Yuy, ouvi o sininho da porta da loja, anunciando um cliente.
— Boa tarde, Duo. – me cumprimentou o homem que vinha entrando
— Como vai, sr. Matson?
Era o mesmo senhor que aparecia todas as semanas. Ele sempre entrava, me cumprimentava, conversávamos um pouco e então ele me perguntava sobre as novidades. Eu pegava ou livros novos, se houvesse algum, ele pagava, se despedia e ia embora. Dessa vez, porém, ele fez uma pergunta que eu não estava esperando.
— E o livro que te emprestei, está gostando?
O livro! O maldito livro de capa vermelha, que eu tinha metido embaixo do balcão no momento em que Matson virara as costas semana passada. Olhei para o lugar onde eu o havia deixado, e ele continuava ali, do jeitinho que eu o havia largado.
Para não desapontar o pobre homem, sempre tão bondoso comigo, dei o sorriso mais convincente que conseguir.
— O senhor tinha razão, é realmente muito bom.
Ele pareceu acreditar, pois abriu um enorme sorriso de satisfação, e logo perguntou pelas novidades, a que tive que dizer que nada novo havia chegado.
— É uma pena... hoje estou com pressa, jovem Duo, mas semana que vem poderemos discutir mais sobre o livro, está bem?
Aliviado, concordei com ele. Eu tinha uma semana para ler o tal livro, e gostar dele, ou ter um bom motivo para não gostar. Ou... ou eu podia pedir a Wufei para ler para mim, e depois me contar nos mínimos detalhes. Boa idéia! Eu sou genial!
Matson se despediu e foi embora. Eu ia pegar o telefone, quando Woaks apareceu, vindo dos fundos da loja.
— Garoto, hoje eu vou sair durante a tarde, para ver o fornecedor, viu?
— Mas... hoje é minha tarde de folga! - protestei
O homem deu de ombros, gesto que demonstrava que não estava nem aí com isso. Bufei indignado, apesar de saber que não adiantaria nada. Tirei meu avental de trabalho e joguei-o com força sobre a mesa de madeira atrás de mim, saindo de trás do balcão em seguida.
— Onde pensa que vai? – berrou meu chefe
Virei-me para ele e o encarei por alguns instantes, perguntando em seguida, a voz carregada de sarcasmo.
— Posso ir almoçar?
O homem a minha frente revirou os olhos castanhos, e fez sinal para que eu fosse.
Andei calmamente até uma lanchonete que ficava não muito longe dali. As vezes, quando eu tinha necessidade de guloseimas, hamburgers e coisas do tipo, era ali que eu ia. Pedi um x-salada duplo, batatas fritas e um refrigerante, e enquanto meu pedido não chegava, deixei meus olhos se fixarem em um ponto qualquer da rua movimentada, e minha mente vagar por entre pensamentos esquecidos.
A época da explosão da Igreja onde eu vivia. Foi desse momento em diante que a raiva e a angústia, além da sede de vingança, começaram a ganhar terreno no meu inocente coração infantil. A vida nas ruas, antes disso, fora dura, mas nada que o carinho e o afeto não pudessem apagar. No entanto, a destruição daquilo que era minha casa, minha família, meu mundo inteiro, teve conseqüências muito maiores e muito piores do que qualquer um pudesse estimar. Virei uma pessoa mais reservada, mais voltada para meus próprios pensamentos, e mascarava tudo isso com uma alegria inquietante, um sorriso bobo e piadas a todo momento, fazendo parecer que eu não levava nada a sério. O que ninguém era capaz de perceber é que isso não passava de um mecanismo de auto-defesa, um modo de parar de pensar no que havia me ferido, na dor da perda, evitando encarar a realidade de frente.
— Seu pedido, senhor. – disse o atendente, deixando a comida à minha frente.
Dei um meio sorriso e afastei todos os pensamentos melancólicos com uma boa mordida no lanche. Resolvi pensar em coisas mais leves como... a desculpa que eu usaria para que meu amigo chinês lesse o tal livro que o sr. Matson me emprestara.
Falando nisso, sobre o que será que se trava o livro? Nunca fui a fim de ler, mas e se fosse um conto de terror? E se fosse um romance água-com-açúcar? Nãão... o velho não me daria um livro assim, e ainda diria "Acho que até você vai gostar". Será sobre um drogado suicida? Bom, aí quem não ia gostar era ele...
Antes que continuasse com pensamentos inúteis como esse, meu celular tocou. O identificador de chamada apontava exatamente o nome que eu queria.
— Fei, cara, era com você mesmo que eu queria falar.
— O que é, Duo?
— Um cliente lá da livraria me emprestou um livro e quer que eu o leia, para discutirmos semana que vem. Cê pode ler pra mim e depois de contar, né?
— Não dá. Tenho uma conferência durante as próximas duas semanas. Meu chefe acabou de me avisar. Vou estar embarcando em duas horas. Cuida do Shin pra mim?
Shin era o cachorrinho do meu amigo. Um mini husky branco e cinza que ele comprara logo após as guerras. Tinha só três meses, e necessitava de atenção constante.
— Pode deixar.
— Valeu, Duo.
Chang desligou o aparelho em seguida, e eu terminei meu almoço tranqüilamente. Pedi uma sobremesa, paguei e fui direto para a livraria. Eu tinha uma longa tarde pela frente... E depois do expediente, precisava passar pra pegar o cachorro.
(1) Primeiro nome que me veio à cabeça
(2) Influência da autora (Nitty é fanática por cappuccino)
(3) Sutil referência ao volume 1 de X/1999
N/A: E aí, o que acharam? Com o fim de duas fics minhas, achei que seria legal começar algo novo, né? E essa idéia já estava na minha cabeça a algum tempo, só esperando para ser escrita. Esse capítulo ficou um pouco maior do que os que eu costumo fazer nas minhas fics, pq eu estou realmente tentando me habituar a escrever capítulos mais extensos. Espero reviews, pq sem elas, não tem mais capítulos, okay?
Beijos para todos.
