O ORDINÁRIO
Eu sou um homem invisível.
Todas as tardes ela atravessa a porta giratória da padaria, precisamente às cinco e quarenta e três, todas as tardes, sem falta, até nos domingos, com seu gentil sorriso, pronto para me desarmar. São sempre dois Billywigs de mirtilo e uma taça de chá de gengibre e flor de laranjeira para acompanhar, "e um guardanapo, por favor". Primeiro devora com certa vivacidade os docinhos azuis, depois delicia-se com a bebida fumegante, lentamente, enquanto lê um jornal, que compra todas as tarde, dois minutos antes de entrar na padaria. Senta-se sempre de costas para a vitrine, à segunda mesa, aquela no meio da sala com as duas cadeiras douradas e almofadas roxas, diferentemente dos comuns clientes, que acabam por comprar os pãezinhos de abóbora e correr para as ruas de Nova Iorque com a sólita pressa. Veste-se diferente também, diferentemente dos comum clientes. Leva sempre consigo um casaco ligeiro pendurado no braço e, no ombro, uma pequena maleta, decorada com flores, e os vestidos muito elegantes, azul cerúleo, rosa antigo, roxo púrpura, amarelo açafrão, verde menta. E uma bengala, curiosamente, em que nunca se apóia, só a carrega e a mantém ao seu lado, uma pérola azulada na ponta.
Ao seu horário, chega, sorri e senta-se à segunda mesa. Abre o jornal, apóia a bengala, o casaco e a maleta nas costas da cadeira da direita. Cruza a perna esquerda sobre a outra, sorri novamente, começa a ler a primeira manchete. Assim que termina a primeira página, acena com o queixo para mim, enquanto me mantenho atrás da bancada dos pastéis, ansioso, à espera de seu pedido. Aceno de volta e entrego-lhe os dois Billywigs, o bule de água fervente e a infusão, com um pedaço de dois centímetros de gengibre, "e um guardanapo, por favor", ela sempre me pede e eu faço questão de esquecê-lo toda tarde. Ela sorri novamente, ajeita uma porção encaracolada do cabelo loiro atrás da orelha, com pura nonchalance e morde um dos docinhos. Pergunto-lhe se é tudo o que deseja, ela sorri, como sempre, limpa o canto da boca no guardanapo que acabei de pousar na mesa e agradece, com os lábios cheios de açúcar azul, "é tudo por enquanto, obrigada".
Retorno ao meu posto, entrego alguns pedidos, sem euforia, vou para as costas da loja, tirar da geladeira uma bandeja fresca de Bowtruckles de chocolate. E os minutos estão quase a acabar. Ela termina o chá e soa a campainha no balcão, para me chamar a atenção. Venho sorrindo, me desculpando pelo descaso, com os troncos nas mãos, prontos para irem para a exposição, "não se preocupe, não tenho pressa, até comeria um desses ovinhos de Ashwinder, se já não estivesse deliciada com os Billywigs". Com outro guardanapo florido ofereço-lhe dois ovinhos de noz-pecã, para levar consigo pelo caminho e ela agradece imensamente, guardando-os no bolso do vestido, sorrindo, curvando-se e corando ligeiramente. São dois dólares e cinquenta e cinco e ela me entrega uma nota de cinco dólares, recebe as moedas de troco, deixa um dólar no pequeno prato de porcelana e se vai, "obrigada, tenha uma boa noite". Ela vira-se devagar, caminha até a porta de vidro da entrada, encaixa as mãos nas luvas de couro que tirou antes de comprar o jornal, acena levemente com a mão esquerda e, em vinte e um passos, deixa a padaria, ainda com os lábios açucarados.
Ela atravessa a rua rapidamente, olhando para ambos os lados, depois das carruagens velozes de Nova Iorque, na direção da floricultura. Caminha delicadamente na direção oposta da que veio, vestindo o casaco sobre os ombros, sem fechar os botões, sem reparar muito no que acontece ao seu redor pela calçada cinzenta. Em três minutos desaparece da minha vista, tomando a primeira direita depois da floricultura, agarrada à maleta e à bengala perolada, os saltos delicados sem nunca afundarem no pavimento irregular, o chapéu florido sem se afetar minimamente pelo vento de outono.
E eu continuo um homem invisível.
